quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

ROTEIRO - RIO ITAGUARÉ (SP)






Este rio, que é um dos muitos existentes no litoral paulista, tem todas as características da maioria dos rios do litoral brasileiro, onde a pesca do robalo é bastante produtiva. Vamos juntos navegar em suas águas e pescar.


Estrutura de uma velha ponte
Podemos falar e muito sobre o rio Itaguaré, em Bertioga (SP), já que o mesmo, e assim podemos considera-lo, “é um rio que nos ensina a pescar”. Senão vejamos. Sua foz, considerada móvel, já que constantemente muda de lugar, tem considerável largura e fundura, portanto é ideal para a entrada de peixes do mar. As marés, que em São Paulo, atingem no máximo 1,40/1,70 metros nas chamadas luas grande (cheia e nova), dão ao pescador de praia um ótimo local para seu segmento, ou seja, junto à foz desse rio. Entrando no rio propriamente dito, vamos encontrar um costão de pedra, onde robalos de bom tamanho costumam estar. Mais para dentro do rio, encontraremos uma formação de pedras, que toma de lado a lado a largura do rio. Junto a essas pedras, robalos de 18 quilos (bons tempos) já foram fisgados. A partir dessa formação rochosa começam os manguezais. 

Ponte da Rio-Santos
Continuando a subir o rio, vamos encontrar estruturas de ponte velha, onde junto às suas colunas teremos também bons pesqueiros. Continuando a subir, vamos encontrar à esquerda, junto a um barranco alto de terra firme, três ou quatro galhadas que garantem também a presença de robalos. Logo a seguir vêm as estruturas da ponte sob a estrada Rio-Santos, outro ótimo pesqueiro. Vamos continuar subindo o Itaguaré, sem pressa, já que em suas margens de mangue há várias galhadas pequenas onde deveremos tentar os robalos. Surge então a primeira bifurcação de rio, em forma de “Y”. À esquerda é o Itaguaré, e a direita o Itaguaré Mirim. Vamos continuar no Itaguaré, portanto à esquerda de quem sobe. 

        Robalo 
Novamente, encontraremos outro barranco de rio, com diversas galhadas pequenas e algumas gamboas que devem ser exaustivamente batidas. Aproximadamente a 100 metros acima, temos mais uma estrutura de ponte com colunas à mostra. Há algum tempo atrás esse era o melhor pesqueiro do rio, mas até hoje, na maré certa, costumam sair bons robalos. Dessa ponte segue-se uma reta onde várias galhadas se mostram ao pescador. No fim da reta, uma curva à esquerda e um barranco de terra alto vai mostrar outro bom pesqueiro, com suas galhadas indicando onde pescar. Mais um pouco e vamos encontrar à esquerda uma entrada que parece um rio, mas é somente uma grande gamboa, onde não vale (muito) a pena entrar, pois é fraca de peixe. Continuamos em frente e diversas pequenas galhadas se apresentam – vale a pena se tentar alguns lances nelas. 

A beleza dos praiados de areia
Nova curva para à esquerda e uma entrada larga de uma gamboa à direita. Aqui sim, da gamboa na margem logo abaixo dela existe uma pequena galhada, mas que é um poço profundo (cerca de 5 metros) onde os robalos costumam ficar e teremos muitas ações de peixes pequenos e médios. Continuando a subir, vamos verificar várias galhadas visíveis, todas elas bons pesqueiros. Da citada gamboa para cima, onde estão essas galhadas, poderemos tentar robalos em uma extensão de aproximadamente 300 metros, já que a partir daí o Itaguaré começa a ficar muito raso, o que dificulta a pescaria de robalos, mas que nos dará chances de outras ótimas pescarias. Vamos voltar para o Itaguaré Mirim e depois voltamos a falar dessas pescarias “adicionais”. O nome Mirim já diria que é um pequeno rio.


O mapa do Itaguaré e seus bons pesqueiros
Ledo engano, já que apresenta bons poços e galhadas, como veremos a seguir. Após entrar com cuidado no Mirim, já que na sua foz existe um baixio à esquerda, vamos encontrar uma curva para a direita onde, à esquerda dessa curva, há um poço com relativa profundidade. É esse poço, moradia de robalos. Sobe-se então mais ou menos 100 metros, onde à direita, em um barranco de terra alto, vai estar o melhor pesqueiro do Mirim. Algumas galhadas denunciam sua presença, mas é por baixo da água que se encontram as melhores estruturas. Nesse local deve-se apoitar à direita, bem junto a um pequeno barranco (que é de mangue), e dar os lances então para a outra margem do rio. Continuando a subir, nova curva à esquerda, e à direita outro bom poço com galhadas. Mais uma pequena reta e à esquerda mais um poço exatamente igual ao anterior.


Robalo
Viramos para a direita e aparecerão duas entradas no rio. Podemos ignorá-las, já que se tratam também de gamboas com pequena profundidade. Mais uma reta e um novo poço à esquerda. Outra pequena reta e o poço agora é à direita. A partir daí o Mirim começa a estreitar, mas vamos encontrar ainda algumas galhadas boas de robalos, até que ele se estreita demais, ficando difícil então a sua navegação. Pronto, navegamos nos dois rios, em um percurso aproximado de 6 a 7 km. O leitor deve estar lembrado que no início desta matéria dissemos que o Itaguaré é um rio que nos ensina a pescar. Confirmamos isso, e agora vamos demonstrar porquê.

Pedras, outra boa opção de pesqueiro 
Em todos os rios do litoral brasileiro, não importa em qual estado estejam, se tivermos as mesmas estruturas que existem no Itaguaré, vamos ter sucesso na pesca de robalos e ainda conforme o local, de outros peixes que estarão nas mesmas estruturas, tais como carapaus, caranhas, tarpon, entre outros. Vamos relembrar. As pedras em um rio sempre serão bons pesqueiros, já que no fundo junto a elas, pela ação da correnteza, formar-se-ão poços profundos. Pescando sempre na vazante da maré, deveremos apoitar nosso barco acima delas, a uma distância de 20 metros, e dar os lances em toda volta delas. O certo, até conhecer bem as pedras, é não desprezar nenhuma delas. Outro bom pesqueiro são as pilastras de pontes, sejam de concreto ou de madeira.  


Carapau
Nessas pilastras, como também nas pedras e nas outras estruturas do rio, sempre haverá a presença de microorganismos, tais como ostras, mariscos, cracas e musgos. Junto a esses organismos estará uma variedade enorme de pequenos peixes atrativos aos robalos. As galhadas existem em grande número e devem ser iguais em todos os rios, a não ser em sua forma e tamanho. Todas devem ser tentadas. Uma outra boa dica que nos ensina a pescar são os barrancos de terra firme, já que junto a eles, normalmente em curvas de rio, formam-se poços com boa profundidade onde, na maioria das vezes, existem galhadas submersas que ali pararam pelo desmoronamento do barranco, ou que vieram rodando pela correnteza do rio. Para pescar bem nesses locais ou nas galhadas, devemos parar o barco sempre em frente às estruturas ou então logo acima delas, aproveitando a correnteza da maré descendo, já que essa corrida de maré irá nos auxiliar não só no arremesso, mas também fazendo com que a nossa isca fique mais tempo no lugar, ou seja, trabalhando junto à galhada. 

Pescadores de tainha/parati
Em alguns rios maiores existem ainda os cercos (armadilhas velhas para peixes), que são também bons pesqueiros. Essa dica que aqui estamos dando é principalmente para a pesca de robalos, mas servem também para outros peixes, dependendo do estado brasileiro em que estivermos pescando. No Nordeste, principalmente, é muito comum, nesse tipo de pescarias, acharmos caranhas, xaréus, pampos, roncadores, guaiviras (solteira) e com sorte até um grande tarpon. Uma outra firmação é que podemos usar qualquer tipo de isca, seja ela artificial ou mesmo natural, como o popular camarão vivo, pescando de fundo ou com boia. As iscas naturais podem ainda ser divididas, além do camarão vivo (o mais comum) em amborés e moreias (uma espécie de amboré), e ainda uma infinidade de pequenos peixes habitantes do rio. 
      Galhadas, sinalização de pesqueiros
Na água salobra e doce do rio podemos usar ainda o lambari, que também é uma isca excelente. Aí está. Cabe muito bem a afirmação de que o Itaguaré (como tantos outros) é um pequeno rio que nos ensina a pescar, não é mesmo? Mas nossos rios do litoral ainda nos dão a oportunidade de “pescarias adicionais”. Vamos a elas. Todos os nossos rios de litoral são em suas cabeceiras, de água doce. Todos sabemos que a pesca do robalo é muito mais produtiva quando executada na vazante da maré. O ciclo completo das vazantes costuma demorar entre 5 a 6 horas. Na enchente, com raras exceções, a pescaria de robalos fica prejudicada em 90%, já que a água salgada represa o rio, não acontecendo a corrida da maré e ainda a água entra nos manguezais, levando os peixes a entrar por baixo das árvores do mangue, onde nossas iscas não conseguem chegar. 

Rio Itaguaré
A enchente, por seu turno, demora o mesmo tempo da vazante. Fazer o quê, até passar esse tempo? Parar de pescar não devemos nem pensar. O certo então é subir o rio até encontrar água salobra ou doce. Normalmente o rio fica estreito e mais raso (falamos isso no Itaguaré e no Mirim), mas uma vez por outra vamos encontrar poços profundos, às vezes com galhadas e outras vezes com capim e mesmo com a pequena vegetação das margens. Munidos de varas telescópicas ou mesmo de bambu, de 3 a 3,5 metros de comprimento, com linha do tamanho da vara, chumbo e anzol pequenos, vamos fazer excelentes pescarias de acarás (grandes) e lambaris ou tambiús. Para o acará, use minhoca ou pequenos pedaços de camarão e deixe a isca pousar no fundo do poço. Para o lambari, use massa, queijo, macarrãozinho e mesmo as artificiais com miçangas (falamos disso na edição 69), e não deixe a isca chegar ao fundo, fazendo com que ela fique a meia água. 


        Um belo robalo
Pode se preparar, já que não dará tempo de usar mais de uma vara e mesmo assim é preciso te-la sempre na mão, pois as puxadas dessas duas espécies serão ininterruptas. É uma pescaria sensacional, que deve durar até a vazante da maré, já que aí irá começar a pescaria de robalos novamente. Para quem gosta de pescar com iscas vivas, os lambaris fisgados podem então ser aproveitados. Fica então novamente a pergunta: O Itaguaré não é um rio que nos ensina a pescar? Pois da nossa parte podemos dizer que sim, já que tudo o que sabemos de pesca de robalos nos foi ensinada pescando no rio Itaguaré. 

A beleza dos grandes acarás

Para finalizar, um ensinamento a mais (ou seria dica?): nas estruturas maiores, se estivermos usando iscas artificiais, podemos optar por linhas mais resistentes (o multifilamento ainda não tinha aparecido) e iscas maiores, já nas galhadas menores e acima no rio, as iscas artificiais de tamanho menor serão mais atacadas pelos pequenos robalos, e podemos usar então linhas mais finas para garantir os arremessos. Às vezes podemos “entrar bem” já que ocasionalmente, repetimos, grandes robalos podem estar em pequenas galhadas, e aí sua isca pequena e linha fina não irão segura-lo. 

Tambiús
 Mas isso é pescaria em todos os detalhes e emoções. Boa pescaria, que mesmo não sendo no Itaguaré, poderá ser no seu rio preferido, aí no seu estado, pois guardadas as proporções, tudo será igual. É a chamada “Faculdade da Vida”, que com certeza é a mais bela e melhor de todas. Ah, e não se esqueça ao varrer o rio dando lances, que um bom motor elétrico é peça fundamental.
INFORMAÇÃO: Podemos atingir o rio Itaguaré pela rodovia Rio-Santos, sentido Guarujá-São Sebastião. Passando o trevo da rodovia Mogi-Bertioga, o Itaguaré é o primeiro rio a aproximadamente 5 km do trevo citado. Devemos entrar à direita antes do rio, onde há uma pequena estrada de terra bem conservada. Por essa estrada, vamos chegar ao bar do seu Obidon, onde há alguns barcos para alugar, bem como rampa para descermos a nossa própria embarcação. NR: Há anos não tenho notícias de meu bom amigo Obidon, portanto....  Mas com certeza, as pilastras da ponte, que eram a antiga passagem para a Rio-Santos lá estarão e os robalos, espero que sim também.

Robalo: foto em preto e branco.


Revista Aruanã Ed:70 Publicada em 08/1999

2 comentários:

  1. Por isso que me pego muitas vezes folheando velhas revistas Aruanã. Chega a ser poético a descrição do Rio e seus pesqueiros. Que leitura agradável. Obrigado Antonio Lopes, por compartilhar conosco tão belo artigo.

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  2. Obrigado você Alan Evangelista. Depoimentos como o seu é uma benção de Deus, que nos brinda com nosso trabalho. Um pequeno rio, no entanto um grande Mestre.Fraterno abraço.

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