quinta-feira, 27 de agosto de 2020

DICA 2 - A HORA DA FISGADA










Fisgar um peixe é questão primordial na pescaria. Mas o ato de fisgar, dependendo da espécie, muitas vezes independe do pescador, o que nos leva a afirmar que, em certas ocasiões, o peixe se fisga sozinho.

Fisgando o dourado
Por diversas vezes temos visto em nossas andanças pescadores amadores empregando tamanha violência para fisgar os peixes, que o que presenciamos mais parece uma briga, literalmente falando, do que o ato de fisgar. Aliás, a expressão “vai arrancar a boca do peixe” cabe muito bem para esses casos. São fisgadas tão violentas e sucessivas, que das duas uma: ou a boca do peixe é de aço ou o anzol usado não tem ponta. E tem mais: as tão comuns “confirmadas” no ato de fisgar também não ficam atrás em força e brutalidade. Como ninguém é dono da verdade, vamos pedir ao leitor que raciocine conosco para ver de que lado está a razão.  A primeira afirmação de quem fisga desse jeito é que tal prática é necessária porque determinadas espécies têm a “boca dura”, com placas ósseas enormes, e para cravar o anzol nesse tipo de boca é preciso fisgar com força. Normalmente os peixes citados como “boca dura” são o dourado, o pintado, o jaú, a piraíba, etc. Será verdade? Com certeza podemos afirmar que não, e para comprovar isso citamos um fato que joga por terra essa afirmativa. Existem duas práticas, a bem da verdade proibidas ao pescador amador, chamadas de “anzol de galho” e “João bobo”.  A prática da pescaria com anzol de galho, que nada tem de esportividade, consiste em deixar uma linha com isca natural presa a um galho de árvore. 

Fisgando o sailfish
São armadas várias dessas linhadas anti-esportivas, que vez por outra são vistoriadas e os peixes recolhidos. Os peixes mais visados são o pintado, jaús, piraíbas e até dourados, ou seja, os “bocas duras”. Ora, uma linhada em galho de árvore não dá nenhuma fisgada violenta e mesmo assim o peixe fica preso no anzol. Como explicar tal fato? Já na pescaria joão-bobo, praticado por muito bobo que se julga pescador e igualmente proibida ao amador, é usada uma bóia de plástico ou lata com uma linha de aproximadamente um metro de comprimento. São feitas várias bóias, soltas espaçadamente ao sabor da correnteza. O pescador fica de longe no seu barquinho olhando as bóias. Quando um peixe ataca a isca, se fisga sozinho e o sinal é o afundamento contínuo da bóia. O único trabalho “esportivo” de quem assim pesca, é ir até a bóia e recolher o peixe, que mais uma vez se fisgou sozinho. As maiores vítimas de tal prática são o pacu (outro “boca dura”), a piraíba, o filhote, etc. Como o leitor pode perceber, em nenhum dos dois casos houve a participação do pescador para fisgar o peixe. Quem será então que tem razão? Devemos ou não dar fisgadas violentas? Para melhor compreensão, damos ainda um outro exemplo de procedimento que inclusive pode ser executado por qualquer pessoa a título de teste. Procure esticar um carretel de linha com 100m de comprimento, não sendo muito importante a bitola, com um pescador segurando cada ponta da linha. 

Fisgando o pacu 
Por intermédio da vara de pesca (que deve ser presa a uma das pontas da linha), dê fisgadas violentas e pergunte o que sente o pescador que está na outra ponta. Resposta óbvia: quase nada. Como se vê, a fisgada violenta não tem utilidade e as posteriores “confirmações” (fisgadas sucessivas) também não. O peixe já está na ponta da linha, fisgado. Evidente está que existem exceções e a única de que conseguimos recordar de imediato é a pesca de black bass, mesmo assim, só quando se utiliza minhoca artificial. Nesse caso, a fisgada deve ser relativamente violenta porque o anzol tem, que atravessar a minhoca de plástico para então fixar-se na boca do peixe. E assim vai se pescando e mal. Um exemplo? No Pantanal é comum, durante o corrico e usando-se colher, o piloteiro ao perceber que o dourado fisgou, dar uma arrancada brusca com o motor de popa, na maioria das vezes um 25 HP, para garantir a fisgada. É uma barbaridade. Outro, pescando de rodada, quando sentem o peixe, começam a dar fisgadas violentas e sucessivas para “cravar o anzol na boca dele”, outra barbaridade desnecessária. Vamos citar algumas regrinhas que podem ser seguidas, ou pelo menos analisadas para verificar onde está a verdade. ISCA ARTIFICIAL: de maneira nenhuma dê fisgadas violentas. Tal atitude não vai garantir a fisgada.

Fisgando o cação 
O Importante é manter a linha bem esticada e não afrouxá-la em hipótese nenhuma quando o peixe for sentido. No caso de peixes que pulam para fora da água, isto é mais importante do que apropria fisgada. ISCA NATURAL: Uma fisgada firme é o suficiente. Lembre-se de que o peixe veio comer a isca. Manter a linha esticada é essencial. Não é necessário ficar dando “confirmadas”. Se o peixe escapar, com certeza terá sido por qualquer outro motivo, menos por não se ter fisgado com força. Para os incrédulos, damos mais um exemplo. Como se sabe, o espírito esportivo a cada dia que passa ganha mais adeptos. Essa esportividade culmina no ponto onde o pescador procura fisgar peixes cada vez maiores com linhas cada vez mais finas. Se ficarmos dando fisgadas e confirmadas violentas, a linha não aguentará. Então como explicar que esses pescadores fisgam peixes enormes com linhas bem abaixo da resistência ao peso do peixe? Pois é pescador. Como se vê, tem gente fazendo bobagem e se cansando à toa, e o que é pior, perdendo a chance da briga com o peixe, principalmente na primeira corrida, que é a melhor de todas, E isto independe da espécie fisgada. Em vez de vibrar com a força do peixe, fica-se dando verdadeiras bordoadas com a vara, como se isso fosse preciso. A melhor de todas as dicas para a hora da fisgada, é saber como está a ponta do anzol. 

Fisgando a anchova
Se ela estiver bem afiada o peixe se fisga sozinho, tanto com isca natural como artificial. Só para se ter uma idéia, podemos dizer que as melhores fábricas de anzol se preocupam muito com a ponta de seus anzóis. Hoje, já se fala em ponta a laser, ponta de diamante e outras mais. Por que será? Ia me esquecendo. Uma outra prática também proibida e anti-esportiva é o chamado espinhel, que nada mais é do que uma corda com vários anzóis pendurados. Nesse tipo de “pesca” também não há a participação do pescador e os peixes também são fisgados. E o que dizer também da velha “linhada de espera”? Quem é que na represa (principalmente) já não armou sua linhada de espera, algumas até com sininhos para acusar a fisgada dos peixes, na maioria das vezes traíras e carpas? E aquele que, quando cansado, coloca a vara de pesca na espera? Como se vê, o peixe se fisga sozinho na maioria das vezes. O importante é ter um bom anzol, sempre com a ponta bem afiada. Para isso existem limas apropriadas para anzóis, mas nada muda em qualidade, como o anzol novo. Agora, se você é dos que não acreditam na ponta do anzol, continue dando fisgadas e confirmadas, encenando o que mais parece uma luta de karatê do que uma boa e gostosa pescaria. Somos levados então a concluir que fisgadas e confirmadas violentas são sinônimos de falta de capacidade. Ou seja: comportamento típico de quem não sabe pescar. Concorda?

Revista Aruanã Ed:38 Publicada em 02/1994

2 comentários:

  1. Bem legal essa matéria, Toninho, você está com a razão, como sempre. Abs...

    ResponderExcluir
  2. Obrigado. Uma pena que você não se identificou com seu nome mas, mesmo assim valeu pela postagem. Receber elogios é sempre muito bom.

    ResponderExcluir