O urubu era um afamado violeiro. A festa não começaria sem o
som de sua viola. Antes de seguir para o céu, foi até a lagoa, lavar os pés sempre sujos.
Sapo-cururu, já na espreita, iniciou o diálogo:
E então, compadre
urubu! A festa só vai ficar alegre com sua presença. Mas veja, você é um bicho
de asas, pode voar. Como eu farei para ir?
O urubu, com sarcasmo, respondeu:
Ah seu cururu! Seu peso e tamanho não lhe ajudam. Acho que
terá de ficar por aqui mesmo, como um bom bicho da terra...
O sapo, aproveitando-se do momento em que o urubu abaixou-se
para tomar água, enfiou-se dentro da viola. O urubu apanha a viola e voa até o
céu.
Foi recebido com muita alegria pela bicharada. Era esperado
para dar início ao forró. Antes, foi convidado para tomar um “lava goela”.
Deixou a viola num canto do salão. Enquanto todos estavam distraídos com a recepção
ao violeiro, o sapo safou-se da viola sem ser visto por ninguém. Foi o primeiro
a chegar na barraquinha dos comes e bebes. O urubu indo tomar algo, estranhou:
Ué, cururu, já por aqui?
Para lhe servir, compadre urubu!
Tome esta, que já faz tempo que estamos esperando pelos
baiões bem marcados que só meu compadre sabe tocar...
O urubu beliscou de tudo e foi tocar viola, acompanhando o
sanfoneiro.
E assim foi até o dia amanhecer. O sapo fingiu-se de cansado,
passando em frente ao compadre, bocejando e dizendo que ia dormir mais cedo. E
sumiu o fingido.
O urubu, sempre esfaimado, ao fim da festa passou pela
barraca de comidas para ver se ainda havia algo. O sapo aproveitou-se da
oportunidade e zás... enfiou-se novamente na viola. O urubu despediu-se dos
outros bichos, apanhou a viola e regressou para a terra.
No meio do caminho comenta: toquei a noite toda e a viola não
estava tão pesada assim. Será que estou muito cansado?
Voou mais um pouco e deu uma sacudidela na viola. Ouviu um
barulho surdo e resolveu olhar. Eis que vê lá dentro o sapo-cururu,
refestelado.
É você que está aí, seu malandro? Pois de agora em diante não
me logrará mais! Vou lhe pregar uma peça.
Vira a boca da viola para baixo, balançando-a para que o
intruso caia. O sapo, com os olhos arregalados de medo, vendo que ia se
esborrachar no solo, grita:
Compadre urubu, você está certo, eu mereço uma lição. Mas não
precisa me matar! Me jogue em cima de uma pedra, não na lagoa, senão eu morro
afogado.
O urubu, branco de raiva, olha adiante e vê uma lagoa. Pensa:
- Este trapaceiro sem vergonha me paga.
Voa até sobre a lagoa e zás, derruba seu compadre sapo.
“Aprende, seu cara feia, a não enganar mais ninguém!”
E assim atirou o cururu na lagoa. Pensou que tinha se vingado
do sapo. E os espertalhão do cururu, lá do fundo da lagoa, saiu rindo e
cantarolando.
Não presta ser vingativo. O urubu não conseguiu o que desejava.
E foi assim que o sapo foi à festa no céu.
NOTA DA REDAÇÃO: Bibliografia consultada: BRASIL – Histórias,
costume e lendas – Alceu Maynard Araújo.
COLEÇÃO ARUANÃ
- FOLCLORE
DO BRASIL
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