quarta-feira, 30 de julho de 2014

ESPECIAL - CHUPARAM O CARANGUEJO!!!






Só ficou a casca  





                                                                         




Na pesca de pacu usando o caranguejo como isca é muito comum o anzol sair só com a casca do mesmo. Quem, neste caso, será o “ladrão de isca”? Confira






Caranguejo vivo e inteiro.

Nós da Aruanã preferimos pescar pacus na batida, usando como isca o tucum ou a massa. Porém neste tipo de pescaria o nível de água tem que estar alto, o que, convenhamos, se dá em período muito pequeno. Esse período (o melhor) é quando a água do rio está nos campos, saindo para o rio principal por meio de pequenos corixos. O pacu tem sua presença garantida nas bocas desses corixos, principalmente nas primeiras horas da manhã ou no entardecer. A explicação é bem simples: com a água nos campos, o pacu se alimenta de coquinhos, tais como o tucum e carandás. Quando o rio volta para o leito, esse peixe não tem mais acesso aos campos, onde o alimento é farto; sua alimentação passa então a ser o que ele normalmente encontra somente nos leitos dos rios.  O caranguejo está sempre no leito dos rios, e nessa época é a melhor isca para o pacu, sem dúvida.

A maneira certa de iscar

A maneira mais comum de se pescar então é com a chamada linha longa. Pode-se usar molinete ou carretilha.
A bitola dessa linha poderá ser por volta de 0.50 milímetros, um pouco mais um pouco menos, levando-se em conta que precisaremos dar boas fisgadas para ferrar o pacu, estando então explicado a bitola da linha.
Os melhores locais serão sempre no leito do rio, preferencialmente em locais retos e que tenham camalotes (aguapés) nas margens. Devemos apoitar o barco junto aos camalotes, podendo mesmo amarrar o barco em suas folhas.
Devemos então dar os lances, em frente e para o meio do rio, e vir “tenteando” a isca, até que ela encoste nos camalotes logo abaixo do barco. Esses lances podem variar entre 20 a 30 metros, e o ato de “tentear” a isca é para se ter a certeza que ela veio para junto dos camalotes e não pegou nenhum enrosco no caminho do meio do rio até a margem. 

Pantanal cheio

Até darmos os lances, algumas regras têm que ser seguidas. Assim sendo temos:
Isque o caranguejo sempre pela parte de trás, ou seja, entre as duas ultimas pernas do mesmo. Devemos passar o  anzol por um lado e fazê-lo com que transpasse todo o corpo da caranguejo, fazendo com que a ponta do anzol saia pelo meio das patas do outro lado do corpo.
O anzol melhor para esse tipo de pesca é o Mustad referência 92247, e seu tamanho 7/0.
Use um encastoado de aço de mais ou menos 20 centímetros para o anzol, com um girador médio (tamanho 2 ou 3) na ponta do encastoado, pois é melhor para amarrar a linha.

Começaram a roubar a isca

Use uma chumbada, tipo oliva e solta na linha, com peso variando de acordo com a correnteza do local (comece a partir de 30 gramas). Pronto, estamos com o material correto para a pesca do pacu.
A fisgada do pacu se traduz por dois ou três trancos na linha e uma corrida pequena. Nesse exato momento devemos fisgar e então brigar à vontade com o peixe. Algumas vezes, porém, verificamos que o peixe dá vários trancos na linha mas não “firma”, ou seja, não corre.
Ao retirarmos a isca da água, vamos verificar que o caranguejo está sem as patas e seu corpo só tem a casca, estando oco por dentro – de onde tiramos o título desta matéria.

      Ficou só a casca

Se isto acontecer na sua pescaria, saiba que o peixe que deu os trancos na linha não era o pacu, mas sim o piavuçu, que a exemplo dos da sua espécie, é um refinado “ladrão de isca”.  Mas há um jeito desses piavuçus se ferrarem, literalmente, em nosso anzol. A primeira providência é diminuir o tamanho do anzol, passando então do 92247 - 7/0, para um 92246 - 4/0 ou 5/0. Devemos a seguir partir o caranguejo ao meio, ou se for dos grandes, em quatro pedaços. Fisgamos então um desses pedaços no anzol menor e fazemos exatamente o mesmo lance para que a isca pare naquele local. Quando o piavuçu começar a dar os trancos, pegue a vara na mão e suspenda um pouco a isca. Quando sentir firmeza, fisgue.  A briga com o piavuçu é também bastante esportiva e esse peixe costuma dar um bom trabalho, dependendo do seu tamanho. 

O ladrão de isca. Se ferrou. Literalmente

As vezes o pacu também pega na metade do caranguejo, e aí é só ter calma e brigar bem, pois o tamanho menor do anzol, se forçado, deixará o peixe ir embora. Boa pescaria.

NOTA DA REDAÇÃO: É comum ouvirmos de diversas pessoas que compram ou pescam o pacu em pesqueiros  tipo pesque pague, que não é um peixe bom para se comer. À essas pessoas temos falado que, os pacus citados acima, são alimentados com ração para peixes e outros tipos de alimentos e será inevitável que o seu gosto nunca será igual a um pacu pego no pantanal.
Se tiver oportunidade de comer um pacu “pantaneiro”, cortado ao meio, assado na brasa e temperado somente com sal e limão, essa opinião com certeza mudará.
Em nossas Aventuras no Pantanal, uma determinação que era lei, era colocar para assar 3 pacus, na fogueira do acampamento e, para o almoço.
Comíamos dois e o terceiro, deixávamos ficar no mesmo lugar na fogueira, sem a alimentar, até apagar.  A tarde, ao voltarmos da pescaria, esse pacu era então saboreado frio,  tirando-se lascas de seu lombo. Ele fica com gosto defumado e, é sensacional.

2 comentários:

  1. Gustavo: Como já escrevi aqui antes, elogios de amigos são suspeitos mas, muito bons de se ler. O texto de "Chuparam o caranguejo", é o original, publicado na Revista Aruanã edição 62 de abril de 1998. Como se pode constatar, e isso sem modéstia, era o que havia de melhor na época. Grande abraço meu amigo pescador

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