segunda-feira, 29 de setembro de 2014

ROTEIRO: VALE DO JAGUARIPE: O RETORNO













Na Aruanã 48, publicamos uma ampla matéria sobre o Vale do Jaguaripe, na Bahia. Tivemos na época alguns maravilhosos ”problemas” com os peixes da região. Por isso o nosso retorno. Confira.







Rio da Dona

Como o nosso leitor deve estar lembrado, quando fizemos a matéria sobre o Vale do Jaguaripe, mais precisamente no rio da Dona, nossa pescaria foi bastante tumultuada, já que nas brigas com os grandes robalos, estes levaram a melhor em catorze oportunidades! Foi um tal de perder peixes pelos mais diversos motivos, tais como linhas partidas, varas quebradas, peixes que escapavam facilmente dos nossos anzóis, sem que nos dessem a menor chance. Na verdade, não estávamos preparados na ocasião para esse encontro, já que estávamos usando material leve e médio, e nossa linha de pesca mais forte era de bitola 0.35 milímetros, com um líder de 0.45 milímetros. A pescaria então se restringiu a lances junto às pedras, usando iscas médias, onde fisgamos alguns robalos, digamos, pequenos.
Mas o problema maior estava em um ponto do rio onde, por intermédio do sonar, descobrimos um poço com profundidade de 4 metros. No início desse poço havia um “cabeço” de pedra onde a profundidade era de 2 metros. Apoitamos o barco e cansamos o braço em lances e trabalho de iscas nesse poço, e nenhum robalo subiu à superfície. Resolvemos então corricar, dando mais linha e, por conseguinte, vindo com a isca mais fundo. Deparamo-nos então com o problema, pois não conseguimos tirar nenhum robalo que fisgou. Por nossa experiência, tínhamos a certeza de que eram grandes peixes, tal era a violência da fisgada e a facilidade com que rompiam nossa linha. Na ocasião, descrevi tal fato exatamente como aconteceu, pois essa é a função de um jornalista, apesar de que seriam muitos a duvidar da veracidade desses fatos e até da minha habilidade como pescador, mesmo afirmando que pesco robalos há mais de 25 anos, usando somente iscas artificiais. 

Robalo Flecha

Mas muitos leitores da Aruanã acreditaram em nosso roteiro, e nessa última visita ficamos sabendo, através de informações das autoridades da pequena Jaguaripe, que muitos pescadores amadores foram pescar nessa região, vindos dos mais diversos estados do Brasil, como Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Sergipe e da própria Bahia.
Alguns fizeram ótimas pescarias e outros não foram tão felizes assim. Aliás, nessa última visita, encontramos pescadores do Espírito Santo que estavam lá pela segunda vez.
Pois bem, vamos aos fatos. Nossa equipe era a mesma da outra visita, da qual faziam parte o Leonardo, o Angelo Júnior e o Manolo, e agora contamos com mais um integrante amigo, o deputado federal Jaime Fernandes Filho. O rio escolhido não poderia ser outro, bem como o citado poço, e lá fomos nós pescar no Dona. Em principio, já havia algum coisa errada, pois desde nosso desembarque no aeroporto de Salvador a chuva se fazia presente, sujando um pouco as águas do rio, principalmente no fim da vazante que, de acordo com nossa experiência anterior, era o melhor horário.
Pescamos então sexta e sábado debaixo de chuva, e novidades maiores não aconteceram. Fisgamos alguns robalos com peso máximo de 2 quilos, e o fato novo foi a presença de algumas barracudas pequenas (que na região são chamadas de pescada), espadas e caranhas.
Nosso material agora estava preparado proporcionalmente para enfrentar aqueles peixes que escaparam da primeira vez. Tínhamos então uma vara Fenwick Legacy LG 59 PXH 5,9 – 15 a 40 libras e 1-3 oz, lure, um ABU 6500 com linha 0.50 milímetros, um encastoado de aço de 80 libras (só para corricar) e como isca uma Red Fin 900 com algumas modificações, pois em vez das três garatéias tradicionais usamos somente duas, porém de tamanho 2/0, na categoria cinco vezes forte e com as pontas bem afiadas.

Barracuda

Depois de sexta e sábado sem grandes peixes, chegou o domingo e confesso que já estava um pouco desanimado, pois além da água turva, o rio estava muito “parado”. Por essa expressão “parado” entenda-se pouca ação de peixes.
Começamos a pescar mais ou menos às 7.30 h da manhã, pois era o início da vazante. Fisguei um peixe pequeno que escapou, e nenhuma outra ação se deu nas próximas três horas. Cheguei até a comentar com o Leonardo que o peixe parecia saber que agora estávamos preparados para ele.
Faltava pouco para o fim da vazante quando, sem opção para lances, resolvemos continuar corricando. Nossos companheiros, no outro barco, também se queixavam da pouca ação de peixes. Foi então que, em uma dessas passagens pelo poço, a coisa aconteceu. A distância da minha isca para o barco era de aproximadamente 25 metros. A puxada parecia mais um enrosco, tal foi a violência da ação. Só que o “enrosco” começou a dar cabeçadas e ir para o meio do rio, levando já um bom pedaço de linha. Pedi ao Leonardo que levasse o barco para o meio do rio da Dona, pois com essa ação me livraria de algum possível enrosco real, pois fatalmente a linha não aguentaria.
A força do peixe era incrível: mais de 80 metros de linha já estavam fora da carretilha, e por nenhuma vez o robalo pulou. Só dava para perceber pela força, que era um grande peixe. Em determinado instante esse peixe chegou a mais ou menos 10 metros do barco e repentinamente arrancou em direção à margem, levando cerca de 50 metros de linha em uma só corrida. 

As pedras

Com o dedo polegar, cuidadosamente, fui brecando um pouco essa corrida, já que a fricção do equipamento estava bem leve – o que me causou uma bolha na mão, tal o atrito do monofilamento com a pele. Consegui pará-lo e novamente trazê-lo para perto do barco. Por duas vezes tive que andar no barco, para que a linha não passasse por baixo de nossa chata Levefort.
Finalmente, o robalo rebojou pela primeira vez, a menos de 10 metros do barco, demonstrando seu cansaço. Mais uma ou duas pequenas corridas e pranchou. Agora sim, conseguia ver o seu tamanho, e o que mais nos chamava a atenção eram suas barbatanas de cor amarela. Consegui então trazê-lo para perto do barco e com um bicheiro, introduzido calmamente na boca do peixe, içá-lo para dentro da embarcação.  Neste exato momento, minha vara Fenwick simplesmente quebrou entre o quarto e quinto passador, sem que fosse feito qualquer esforço extra.
Felizmente, o peixe estava cansado e essa quebra não nos prejudicou. Aliás, estamos entrando em contato com a fábrica para obter explicações sobre essa quebra.

O rei do rio

O relógio marcou então 20 minutos de uma sensacional briga. O aperto de mão entre eu e o Leonardo foi inevitável, tal era a satisfação que só pescadores amadores têm nessas ocasiões. Finalmente conseguimos provar que os robalos do poço realmente eram enormes. A “prova” pesou 11,5 quilos! Restou-nos então apontar nossa máquina fotográfica e registar esse peixe para os leitores da Aruanã e para a posteridade.
Quando acabamos a sessão de fotos, a maré já estava enchendo, e devido à nossa experiência anterior, sabíamos não ser mais o melhor horário para continuar em busca dos grandes robalões. Paramos de pescar, e conversando que por muito pouco novamente sairíamos do rio da Dona sem um grande peixe.
Mas por certo, graças à nossa insistência, perseverança e fé de pescadores, conseguimos provar a nós mesmos que da outra vez, quando os grandes robalos nos escaparam, era, como dissemos na ocasião, “o dia do peixe”. Hoje, foi o nosso dia e empatamos... por enquanto.
Finalmente, dedico este peixe a todos nossos leitores que foram ao rio da Dona e não obtiveram sucesso, como aconteceu com a nossa reportagem na primeira vez.

Jaime Fernandes Filho

O local do “encontro” 


                                              INFORMAÇÃO

O poço citado nesta matéria, onde tivemos mais ação de peixes grandes, fica no rio da Dona, à direita de quem sobe, mais ou menos a 3 quilômetros da foz. Nesse local há uma casa de pescadores profissionais, com diversas canoas na margem. O local é de pedras e há um parcel que vem desde a beira do rio até mais ou menos 30 metros de comprimento rio adentro. O “poção” está logo após esse parcel de pedras.

NOTA DA REDAÇÃO: Essa foi uma das muitas matérias que a Revista Aruanã fez no estado da Bahia. E dentre todas, foi a que mais satisfação nos deu, tenho em vista a “surra” que levamos da primeira vez e a desforra concretizada.  Mas hoje, passados tantos anos (dezembro de 1996), a explicação para a surra da primeira vez, com a experiência adquirida, sabemos que nosso material de pesca, usado naquela primeira incursão ao rio da Dona, era totalmente inadequado, prestando-se sim, apesar de sua excelente qualidade, para uma pescaria de robalos menores. Não poderíamos imaginar na ocasião, encontrar um cardume de robalões naquele rio. Com certeza, e isso é uma prova de que com o material correto, nossa pescaria vai ser sempre um sucesso. Para finalizar um exemplo que demonstra isso claramente. Para a pesca de tucunarés, em represas, por exemplo, do sudeste, usamos um tipo de material. Caso formos pescar na Amazônia e a mesma espécie de peixe, nosso material terá que ser muito mais forte. Simples assim, já que nessa regra, há pouquíssimas exceções. 

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