sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

UMA PESCARIA DE SALMÃO!











Fazer uma pescaria de salmão era para mim uma inteira novidade, pois não conhecia o peixe e nunca o havia pescado. Mas um pescador amador, antes de tudo, é pescador. Existe o princípio de jogar a isca na água e ver no que vai dar. Venha conosco e veja o que aconteceu.






Saímos de Helsinki eu, o Risto Rapala, o Perti Rautio e o Peka, funcionário da Finnar que estava nos dando apoio, já que usamos sua Companhia para nosso transporte. Fizemos uma escala em Rovaniemi, que tem como principal atração, estar em cima exatamente do Círculo Polar, e logo depois chegamos ao nosso destino: Ivalo, no norte da Finlândia.
Já na descida do avião comecei a sentir o “verão” de lá, pois a temperatura beirava os 8°C. No inverno, essa temperatura baixa para 40°C negativos. Alugamos um Jipe Mitsubishi e nosso destino era então o rio Neiden, a mais ou menos 300 quilômetros já na Noruega e a 30 quilômetros da União Soviética. Pelo caminho, algumas curiosidades, como os banheiros de estrada, públicos e muito limpos, placa sinalizadora avisando da presença de alces, etc. Não conseguimos ver nenhum alce, porém vimos renas, e aos bandos. A viagem é muito tranquila, pois o carro tem ar condicionado quente. A paisagem é muito bonita, com vários rios e lagos, com pedras e pinheiros nas margens. No meu pensamento, vêm velhas imagens de calendários, vistos na minha infância. 



Vez por outra, em um monte mais alto, assusto-me com a visão de neve refletida ao sol. Minha roupa, segundo a informação, é para um verão um pouco “mais fresco”. Finalmente chegamos ao rio Neiden e de imediato vamos a um camping com o mesmo nome e alugamos um chalé. A construção desse chalé é com troncos de pinheiros (pinho de riga) e temos como acomodações uma sala, quarto, cozinha, banheiro e uma pequena varanda. Já na descida do carro, fui obrigado a pegar roupas emprestadas dos companheiros de pescaria. Almoçamos e fomos pescar. A temperatura é de 5°C. Estou vestido da seguinte maneira: três meias, calça de pijama, por cima um jeans e uma bota comprida de borracha, camiseta, camisa, malha de lã, um casaco e uma capa por cima. Na cabeça um boné da Rapala, de veludo. Sinto frio.




O rio Neiden é muito bonito, com uma pequena cachoeira e várias corredeiras em uma extensão de mais ou menos 5 quilômetros. Na cachoeira, há uma ponte, e o passeio dessa ponte é de engradado, de onde, olhando para o chão, podemos ver o rio passando sob nossos pés. Vimos alguns salmões subindo a corredeira. Novamente, voltam velhas imagens ao pensamento. A seguir, fomos à casa de uma autoridade do meio ambiente, para tirarmos nossa licença de pesca. São US$35 por dia de pescaria. Pagamos dois dias e ficamos sabendo das regras para se pescar. Existem na corredeira locais para a pesca com fly e para quem pesca com plugs. É proibido usar qualquer tipo de motor e também é proibido pescar das 4 às 6 horas da tarde (?). E realmente, nesse horário, ninguém pesca.




Começamos nossa pescaria nas margens (o uso de botas é para isso), dando lances e recolhendo as iscas Rapala. Depois de algum tempo, eu e o Perti pegamos um barco e saímos para o meio do rio. O barco é a remo. Segundo o Perti, o jeito de pescar aqui é jogar a linha para a correnteza, a mais ou menos 20 metros de distância e deixar que a corrente faça a isca trabalhar. Vez por outra, com o auxílio dos remos (o barco é muito leve), subimos a correnteza e mudamos de lugar. Enquanto o Perti rema, eu seguro as duas varas, uma para cada lado do barco. Perto de nós, alguém fisga um salmão e eu vejo o peixe pular. E continuamos a pescar. Raciocinando, sei que o salmão pertence à família dos salmonidae, portanto “primo” do dourado. Começo a formular algumas idéias. Vejo várias pedras onde nossa linha e iscas não conseguem chegar. Penso então: será que se eu der lances nessas pedras não vou ter mais chances de fisgar um peixe?




Converso com o Perti e ele dá de ombros, dizendo que se eu quiser tentar, que faça-o. Recolho minha linha, que é de bitola 0.30mm e começo a dar os lances. Após alguns lances, diviso à minha direita uma pedra grande e quase que totalmente coberta pela água. Dou um lance atrás dela e deixo a Rapala descer um pouco para a correnteza. Travei o equipamento e recolhi a isca no máximo dois ou três metros, quando senti então a ferrada do peixe. Comecei a briga e é interessante fisgar um peixe que não se conhece. Eu não sabia como era a briga do salmão, mas passados alguns minutos, descobri que é um peixe que briga “limpo”, não procurando as pedras para se livrar do anzol. Para me comunicar com o Perti, falava uma mistura de inglês, espanhol e italiano. Como piloteiro ele é excelente, já que controla o barco com perfeição apenas com os remos. Mais ou menos após uns 10 minutos de briga, me dá uma vontade grande de fumar. Olho para o Perti e vejo que ele está com o rosto branco e tenso. Eu só ouvia dele, vez por outra, a expressão “big salmon”. 







Pedi a ele que me acendesse um cigarro. A reposta foi não. Aliás, bem taxativa. Pedi mais uma vez e a resposta foi a mesma. Pensei que ele não estava me entendendo. Abri a capa com a mão direita, após passar a vara para a esquerda e peguei meu maço de cigarros. Com dificuldade, tirei um e tentei acender. O Rautio perguntou então se eu realmente queria fumar. Com minha resposta afirmativa, e dizendo que pelo jeito a briga ainda iria demorar muito, fui atendido por ele, que também acendeu um cigarro para si.
O “meu” salmão deu um pulo e vejo a peixe quase por inteiro. De onde o fisguei, já descemos mais ou menos uns 200 metros. Nas margens, os outros pescadores, para não atrapalhar, pararam de pescar e estão assistindo à briga. Mais ou menos 25 minutos da fisgada o salmão começa a pranchar e a distância entre nós começa a diminuir. Finalmente, conseguimos pegar o peixe com as mãos e colocar dentro do barco. Com um pedaço de pau, que muitos conhecem por “lenço”, o Perti dá duas ou três pancadas na cabeça do peixe. Igual ao Pantanal. Remando, o Perti encosta o barco na margem. Começamos a festa com aperto de mão, abraços e alguns gritos. O rosto dele está transfigurado ante a presença do peixe. Ele não se cansa de repetir que é um grande salmão.



Para mim, que não conhecia o peixe e não sabia sobre os tamanhos que pode atingir, não dava tanta emoção. Foi uma bela briga, isso sim. Começaram a chegar perto de nós outros pescadores para ver o peixe. Falam muito rapidamente e em finlandês. Vez por outra, no meio da frase consigo entender apenas “brazilian”. Dão também muita risada. Pergunto ao Perti qual é o assunto e ele me explica que eles acham-me louco, já que com um peixe desses na linha, parei para fumar. É minha hora de rir. Realmente começo a dar importância ao peixe, tal é o número de pescadores que vêm efusivamente me cumprimentar. Pegamos novamente o barco e voltamos ao porto, o Risto e o Peka já estavam nos esperando. Foi aquela festa. Muitas fotografias e vez por outra um gole de conhaque. A propósito: durante a briga eu não senti, mas agora minhas mãos e a ponta do nariz estão geladas e dormentes.




Fomos pesar o peixe, que mediu 1,03 metro e pesou 12,5 quilos. O fiscal é que faz esse serviço. Após a pesagem, ele com uma faca raspa um pouco de escama do peixe e as coloca dentro de um saquinho plástico, que contém informações como o local da pesca, o comprimento, peso, a hora, o nome do pescador e o país de origem. A festa nesse local é grande também, com muitos pescadores me cumprimentando. E tome conhaque. A desculpa é o frio. Após a oficialização, o Risto pega o peixe e vai limpá-lo. Junto, aproveito para fazer várias fotografias. Agora mais calmo, começo a entender a importância de um peixe de tal envergadura. No quadro de recordes, o peixe que mais se aproxima é um exemplar de 12,2 quilos. A média é de 5 a 8 quilos.





A fisgada do peixe se deu às 9 horas da noite, que não é noite, mas sim dia, com sol e tudo. Voltamos para o camping, com o peixe, e nova festa nos esperava. E tome conhaque. Jantamos com muita comemoração e o prato é especial: carne de rena ensopada. Á meia-noite e dez, vou com o Perti até uma elevação do camping para fazer uma fotografia... do sol. Para que o leitor entenda bem, seria mais ou menos como o sol em uma posição de 5 e meia da tarde no Brasil. Lá, o sol não se põe nesta época, e corre pelo horizonte até subir novamente. Durante as 24 horas do dia, ele está presente. No dia seguinte, nova pescaria, só que desta vez, devido ao frio, que estava em torno de 3°C e com vento mais frio ainda, resolvi não pescar, já que minhas mãos e a ponta do nariz ficavam quase dormentes por causa da baixa temperatura. 


No entanto, bem agasalhado, fiz questão de participar com os companheiros da pescaria. O Risto fisgou um salmão de mais ou menos 6 quilos. Na corredeira à nossa frente, era comum ver-se vários salmões pulando para vencer a força das águas. É um espetáculo muito bonito. No dia seguinte, nosso avião para Oslo sairia às 4 da tarde. À noite ficamos sabendo que havíamos ganho um prêmio pelo maior salmão da semana, e que esse prêmio seria entregue às 5 horas da tarde do dia seguinte. Não houve tempo portanto para a premiação, mas o pessoal da Rapala iria receber e nos remeter posteriormente para o Brasil. Foi uma bela pescaria e muito emocionante, por três razões principais: primeiro, por ter fisgado meu primeiro salmão e ser esse peixe um “fora de série”; segundo, por estar pescando junto com Risto Rapala, cujo sobrenome diz tudo; e terceiro, por ver meu nome escrito como um primeiro lugar, e o que é mais importante: estar seguido da palavra “Brasil”.

NOTA DA REDAÇÃO: Ao rescrever esta matéria, percebo de que “algumas coisas ficaram no ar”, ou não foram informadas, na época, nesta matéria. Portanto, vamos a elas.
O “tome conhaque”, que diga-se de passagem era um Napoleon, e as doses foram várias, fez alguns efeitos e naquela noite, mesmo com sol, dormi muitíssimo bem.
Eu me comunicava com o Perti, um pouco em ingles, espanhol e italiano e, agora explico: o nervoso em estar com um grande salmão na linha, fazia com que eu falasse em português e ele em finlandês. Não tinha jeito dele me dar o maldito cigarro.
Finalmente o premio a que fiz jus pelo meu peixe e que vim a saber só muito tempo depois, quando o Perti veio ao Brasil. Eu ganhei nada mais nada menos, do que uma isca artificial e, pasmem, de uma concorrente da Rapala. Demos boas risadas.
E a “parada das 4 às 6 horas” é para dar aos peixes que estão subindo o rio, uma chance a mais para desovar.


7 comentários:

  1. Eu tenho no meu subconsciente algumas matérias, ad eternum. Essas duas, da pescaria e das visitas nas fábricas são algumas delas. Sendo a aruanã, minha 'literatura disponível' a época, e eu no começo da minha juventude, com os neurônios pipocando, e o entusiamo de aprendiz, sorvia cada informação, cada novidade, cada exemplo com vontade. E isso fez com que matérias como a do vale das jatuaranas, os roteiros pelo pantanal, pelo araguaia, a matéria da febre amarela e tantas outras, sirvam até hoje, de causos nas pescarias. É incrível como me lembro, com saudosismo gostoso de grande parte do que li nos anos que segui S. Antonio, a loja, os funcionários da loja (conhecidos por telefone) e o Zimbo, que anos mais tarde, esbarrei com ele nas ruas de Corumbá. Não me lembro do nome da vendedora que me atendia, na loja. Acho que vi uma foto dela no anuário. Salvo emgano, ela era meio parecida com a Marlene Matos da Xuxa. Hehehehehe. Em suma, na parte teórica de pescarias, tudo que eu sei, veio/nasceu da aruanã. Sem demagogia, sem puxação. Minha primeira fita vhs veio da aruanã. Comprei barco, motor e carreta, de anúncio da revista. Aprendi arremessar carretilha, com S Antonio. A dica do balde, eu passo pras crianças, até hoje. É difícil descrever a importância que a revista, a loja e S Antonio têm ATÉ HOJE, quando coloco a mochila e as varas no barquinho e vou tentar pegar alguns tucunas em Juturnaíba. S Antonio, tamo juntos :-)

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  2. Prezado Sandro: São postagens/comentários como o seu, que me mostram cada vez mais o que era a Revista Aruanã enquanto publicada e nas bancas. Eu sinto verdadeiro orgulho em ser o jornalista/editor dela, já que na minha profissão, adicionei a minha paixão pelas pescarias. Acredite, era com muito amor que eu passava a minha experiência de vida e de pescador, em todos os artigos que nela escrevi. Em todas as viagens, minha principal preocupação era poder mostrar um pauta verdadeira, sem exageros e mantendo a máxima do jornalista, que seria mais ou menos isto sobre um narrativa: "porque, onde, como e meios de chegar". Era isto Sandro, que eu fazia e nas informações eu colocava seriedade, corpo e alma. Quanto as matérias, eu as guardo até hoje em minha biblioteca e na minha mente, já que agora as reeditando em formato de blog, me divirto e revivo outra vez os fatos e seu pormenores. Reeditar a Aruanã, foi uma maneira muito bem pensada, para atingir jovens como você (na época) que estavam começando suas pescarias. Este é o meu principal motivo, para o blog e, interessante e curioso é o fato que extrapolamos fronteiras e a Aruanã hoje, é lida em todos os continentes. Graças a Deus. E quanto a estar junto a você no "barquinho" em uma pescaria, acredite, é uma honra para mim. Muito obrigado de coração. E, quanto a funcionária que te atendia em nossa loja, o nome dela era Aristéia e concordo com você a sua citação da Marlene Matos. Grande abraço meu amigo e iscas na água, sejam elas naturais ou artificiais.Dê noticias sempre que quiser.Obrigado por tudo.

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  3. Essa foi minha primeira revista de pesca, minha primeira aquisição de uma série de "Aruanãs". Para melhorar as postagens só falta postar a capa das revistas!

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  4. Wlembi: Essa é uma boa ideia. Vou estudar um jeito de fazer isso. Obrigado pela sugestão. E, segundo o ditado " a primeira ninguém esquece" rs. Abraço

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  5. Beleza de matéria e de peixe, Toninho. Infelizmente nunca pesquei tal peixe , vai ficar faltando...

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    1. Não concordo com o "vai ficar faltando" Marcão. Quem é que sabe o dia de amanhã? No resto, obrigado pelos elogios. E pescar esse peixe, foi "um extra" na emoção, que foi grande. Por exemplo: ver as fábricas da Rapala e da Mustad, que eu só conhecia por catálogos. É isso amigo.

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