Muito se fala na recuperação do Tietê e quase nada ouvimos
sobre o rio Pinheiros. Os dois são similares na finalidade a ambos atribuída. A
Aruanã fez em São Paulo esta reportagem especial, navegando em meio à poluição
dos dois rios, do mesmo modo como fazemos em nossas habituais pescarias.
Confira.
Da esquerda para a direita Kenji e Antonio
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A equipe do
Corpo dos Bombeiros da Policia Militar SP e nossa equipe
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Demos a partida no motor e lentamente começamos a descer o
rio Pinheiros. Ao entrar no rio, a impressão que se tem é muito pior do que
quando o observamos das vias marginais, coisa aliás, à qual todo paulistano
está acostumado. A água do rio é negra e continuamente saem bolhas do fundo
para a superfície. Essas bolhas estão em toda a extensão do rio a estourar
intermitentemente. O cheiro é insuportável, e tranquilamente atravessa as
máscaras de proteção.
A primeira ponte que encontramos é a de Interlagos, e perto
dela uma surpresa: restos de uma perua Kombi repousam semi-submersos nas águas
do Pinheiros. A segunda ponte é a do Socorro, e mais adiante vemos o primeiro
afluente, o rio M’boy Guassu, que sai das comportas da represa de Guarapiranga.
A paisagem não poderia ser pior. Água preta, mal cheirosa e muito lixo, principalmente
garrafas plásticas de água mineral e refrigerantes, pedaços de caixas de isopor
e outras embalagens plásticas, tais como detergentes de cozinha, desodorantes e
mais uma infinidade de frascos não identificáveis.
Usina
Traição em Cidade Jardim – bairro classe “A” de São Paulo
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Próxima ponte: Cidade Jardim. Aqui o primeiro sinal de vida
nas águas do rio Pinheiros. Um marreco estava na margem e com nossa aproximação
saiu nadando tranquilamente para a outra margem. Seria bom que o “pessoal da
ecologia” fizesse uma campanha para salvar o marreco do Pinheiros. Foi o
primeiro e ultimo sinal de vida em todo nosso trajeto nas águas dessa aventura.
Para não ficar monótono, vamos dizer que passamos por uma infinidade de pontes
e não vamos citar mais nomes, pois são velhas conhecidas dos paulistanos e não
há muito interesse nesse detalhe. Cite-se apenas que estão todas
recém-pintadas, a pretexto de uma decoração que não serve para coisa nenhuma
além da “maquiagem” do ambiente, tal é o estado desses dois rios. A propósito,
devemos citar também o “reflorestamento” das margens, com árvores e gramados.
Para nós, dentro do rio; a sensação era a mesma de estar em um penico, com as
bordas muito bem pintadas e decoradas, o que não altera o conteúdo.
Lixo acumulado
nas barragens flutuantes
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E lá fomos nós, rio abaixo. Pelas margens do Pinheiros: pneus
velhos, sacos de lixo devidamente amarrados, aqui e acolá algumas ilhas de mato
recheadas de lixo por todos os lados. Saídas de esgotos, contamos 201 no rio
Pinheiros e 147 no Tietê. Em algumas dessas saídas, garças pousadas. Quem
conhece esses pássaros sabe do branco de suas penas. Pois é, as tristes garças
por nós avistadas são só brancas na parte de cima, pois suas barrigas estão
pretas. Mais uma causa a ser defendida pelos “ecologistas de plantão”: salvar
as garças do complexo Tietê/Pinheiros.
Finalmente atingimos o “Cebolão”. À nossa esquerda uma
eclusa, ou sei lá o nome daquilo, que fecha em várias comportas o rio. Na
ocasião estavam abertas apenas três delas (são várias) para deixar o problema
lá para o pessoal de Carapicuíba, Osasco, Pirapora e outros. Pegamos o Tietê à
direita e lá fomos nós prosseguindo na aventura.
Um dos
muitos esgotos do percurso
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“Rancho de
um morador ribeirinho”
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Logo após a ponte da Anhanguera, um “morador ribeirinho”, em
sua “casa” coberta de plástico preto, acenou amigavelmente para nós. E seguimos
rumo ao nosso destino. Passando a ponte da Freguesia do Ó, outra surpresa, a
rabeta do motor estava raspando no fundo do rio. Incrível, pois passa pela
minha cabeça a “obra de desassoreamento” do rio tão falada em anos anteriores.
Com dificuldade e tentando encontrar o “canal mais fundo” do rio continuamos a
subida do Tietê. Chegamos à confluência com o rio Tamanduateí, que tem algumas
pedras nas margens, causando uma pequena corredeira na água. Se fosse em outro
rio, por certo eu pararia para dar uns lances, já que, à primeira vista, seria
um bom local para se tentar um dourado ou um outro peixe qualquer que goste de
águas rápidas. Seguimos sem outras novidades até chegar à ponte do Tatuapé. Sob
essa ponte a coisa ficou feia, pois a rasura do rio fez com que a rabeta do
motor enroscasse, e a hélice sofreu bastante, desgastando suas pás nas pedras
existentes. Mesmo tentando muito não conseguimos passar e o barco girou
perigosamente em sentido inverso à correnteza. Levantamos a rabeta e com o
auxílio dos remos descemos um pouco o rio. Acostumados a passar em outras
corredeiras, ficamos de longe estudando onde estaria o canal mais fundo do rio.
Descobrimos que seria pela margem esquerda de quem sobe, e com cuidado e uma ou
outra raspada nas pedras, conseguimos passar.
A garça e o
esgoto
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Um detalhe interessante é que vimos várias saídas de esgotos
com os mais variados tons de cores nas águas. Vimos por exemplo águas azuis,
verdes, vermelhas, cor-de-rosa, pretas e até amarelas. Exatamente às 15:30 h,
chegamos à barragem junto ao Parque Ecológico (?) do Tietê e que “espetáculo
bonito”! Uma barragem soltando água, parecendo uma pequena cachoeira e muita
espuma branca, sendo que essa espuma, com mais de meio metro, com as rajadas de
vento dissipava-se em pequenos pedaços voando ao sabor da direção do vento.
Fomos até o meio da espuma para ver de perto essa “maravilha”. Que “fenômeno
interessante”: apesar da água preta, a espuma é branca como neve.
Foz do rio
Tamanduateí
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Uma ilha de
lixo
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Encostamos o barco na margem e demos por encerrada a aventura
no Pinheiros e no Tietê. De nossa parte, a conclusão é de que alguém está
mentindo ou tentando nos enganar. Os dois principais rios que cortam a capital
de todos os paulistas continuam a ser verdadeiros esgotos a céu aberto. Chamar
o Pinheiros e o Tietê de “rios” é uma piada de muito mau gosto. Gostaríamos que
os responsáveis pela publicidade ostensiva nos meios de comunicação nos
provassem que o que vimos nessa aventura não é a pura verdade.
Eclusa sob o
“Cebolão”
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E mais: queremos deixar um recado ao Senhor Governador de São
Paulo Dr. Luiz Antonio Fleury Filho e a seu futuro sucessor: já que parece que
a limpeza desses rios vai demorar muito ainda, estamos dispostos, quando esses
rios estiverem limpos (entenda-se por rio limpo um rio com peixes vivendo
naturalmente), a fazer de novo esse trajeto. Se eu não estiver vivo para
fazê-lo, quem sabe um neto ou um bisneto meu cumpra essa promessa.
Fim da
aventura: Parque Ecológico do Tietê
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Terminamos a aventura no Tietê/pinheiros. Segundo informações
oficiais, até o final do ano 50% desses rios estarão despoluídos, assim sendo,
diremos aos nossos habituais leitores que levamos somente 50% do nosso material
de pesca nessa aventura, com 50% de esperança de pegar 50% de algum peixe, e
que nos proporcionasse 50% de uma boa briga, e, quem sabe, se conseguíssemos
embarcar tal meio peixe saboreá-lo em 50% da sua carne. Como fazemos sempre ao
encerrarmos esse tipo de reportagem, queremos dizer que agora que todos sabem
as dicas de como é navegar no Pinheiros/Tietê, e mais: não aconselhamos a
ninguém a repetição de nossa “façanha”, pois na realidade e literalmente, essa
“aventura” foi uma merda.
NOTA DA REDAÇÃO: No dia 15/03/2015 vimos em todo o
Brasil, a revolta do nosso povo nas ruas de diversas cidades deste país. O
motivo? Simples: protesto contra a corrupção aberta e que em nossa opinião é
endemia e dificilmente vamos conseguir acabar com ela. Fizemos esta matéria,
tendo em vista que na época - (outubro de 1994) – ou um pouco antes, havia uma
maciça publicidade de que estes rios estavam 50% mais limpos, ou menos
poluídos. Nos comerciais, víamos garotos pulando em águas supostamente
límpidas. No fundo, as vozes de Chitãozinho e Xororó, davam mais beleza aos
comerciais. Pior do que tudo isso, era a afirmação de Orestes Quércia ex
governador de São Paulo (1986 a 1990), que afirmava categoricamente que até o
fim de seu mandato, ele iria pescar um
lambari no rio Tietê. O governador na época desta matéria era Luiz Antonio
Fleury Filho, sucessor de Quércia, ambos do PMDB. Pois bem, segundo erros ou
omissões de minha parte, na obra do Tietê foram gastos cerca de US$500 milhões,
e tinha como principal objetivo dragar e tornar esse rio mais profundo, para
com isso evitar enchentes. Como o leitor leu, por duas vezes, a rabeta de nosso
motor raspou em pedras no fundo rio. E até os dias de hoje os rios Pinheiros e
Tietê continuam e estão muito mais poluídos. Não caberia aqui uma frase tipo, “continuamos
na mesma merda?” Ou seja: nos rios citados e em todo o Brasil. Dizer mais o
que?
Antonio Lopes da Silva.
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