terça-feira, 3 de março de 2015

DICA: AFIANDO OS ANZÓIS.












É um costume bastante antigo, onde certos pescadores tem como mania, afiar seus anzóis. Segundo eles, a fisgada é melhor e muito mais segura. Será isto verdade? Confira.











                Uma tralha completa

Esta matéria tem como objetivo, aguçar o raciocínio dos pescadores amadores, no que se refere a um dos itens mais importantes da nossa tralha de pescaria: os anzóis. Vamos imaginar então, um pescador preparando sua tralha para a pescaria sensacional que ele irá fazer dentro em breve, talvez no Pantanal, ou na Bacia Amazônica, ou ainda no mar. Verificar tudo é questão de garantir o sucesso dessa pescaria. Varas, linhas, molinetes ou carretilhas, chumbadas, bicheiros, roupas, medicamentos, bonés, encastoados e ... anzóis. Não se sabe de onde, mas é uma mania que muitos possuem de passar o dedo na ponta do anzol, ou ainda para “testar” essa ponta, acham que o anzol deve parar em cima da unha do dedo da mão, já que só assim sabe-se se o anzol está afiado ou não. Pior do que isso, é quando o nosso pescador cisma de que o anzol não está afiado e resolve então “melhorar sua ponta”.
O que se segue então é um amontoado de procedimentos, onde o que se vai conseguir no final, é piorar esse anzol, no que ele tem de mais importante, a ponta. Vamos começar então, pelo pescador que prende o anzol em uma morsa, com a ponta para cima e com uma lima de pedra/ferro, começa a limar as duas laterais do anzol, para fazer a ponta ficar mais fina. 



            Anzóis artesanais feitos com mola de colchão

Outros usam lixas de ferro e envolvem toda a ponta do anzol. Existem ainda os que mais apressados, passam o anzol em um esmeril, a alta velocidade, sem saber que com esse procedimento estão inutilizando a têmpera do aço, que é o sinônimo de segurança do anzol. Se fosse só isso até que dá para consertar ou pelo menos aconselhar e mostrar onde estão os erros. Mas não, existem outras coisas que até Deus duvida. Querem um exemplo? Em uma de nossas viagens ao pantanal, vimos na mão de um piloteiro um anzol de cor preta e seu formato era igual ao anzol específico para a pesca do black bass com minhoca artificial. Ao perguntarmos de onde ele tinha tirado aquele anzol, veio a resposta: é um anzol “fabricado” por um pescador profissional do Mato Grosso, e é o melhor anzol que tem para pescar aqui no pantanal.
Quisemos saber mais e, soubemos. O tal “fabricante de anzóis” tem como matéria prima as molas de colchões velhos, que são colocadas no fogo, para ter a forma final do anzol e depois são esquentados novamente e usam para temperar, a banha da capivara, ou ainda a banha do pacu, que segundos eles é o que dá a melhor têmpera. A farpa desse anzol é conseguida com uma “ferramenta” cortante que após entrar no corpo do aço, é virada para cima, e essa parte que virou para cima é a farpa... Muito bem, para não perder muito tempo, vamos dizer que essa é mais uma das grandes bobagens que temos visto na pescaria. Mola de colchão virar anzol é demais e pior ainda é a banha de capivara ou de pacu, ser o óleo da têmpera. Se a moda pega, vai faltar capivara no pantanal e nenhum pescador vai jogar fora seu colchão velho, já que todo o mundo dorme em colchão o que não garantimos na parte referente a capivara. Ou será que anta, paca, queixada, caititu também serve, em substituição a banha das capivaras? E tem gente que vai ao pantanal pescar e compra tais anzóis, principalmente na região de Cuiabá.



               Afiando o anzol preso em uma morsa com auxílio de uma pedra  lima.

Vamos voltar a seriedade do assunto. Nós da Aruanã, tivemos a oportunidade de visitar várias fábricas de anzóis em todo o mundo e ver seu processo de fabricação, desde o aço bruto, até o anzol ser colocado nas caixas para a venda. Vamos citar o exemplo da Mustad, que fabrica anzóis “só a mais de 120 anos”. Sobre isso muito teríamos que falar, mas com certeza interessa mais dizer que, as máquinas dessa fabrica, são de sua própria autoria, e a têmpera do aço é um segredo guardado a sete chaves. Após o anzol adquirir a sua forma definitiva, ele é então temperado e seguem-se então vários banhos químicos, o que vai assegurar sua ponta, resistência e a durabilidade. São várias etapas na fabricação de um anzol que tanto pode ser o popular “mosquito” como os grandes anzóis. Tudo é altamente estudado e desenvolvido para a segurança do anzol. Um anzol, quando sai de uma fábrica séria, não precisa passar por nenhuma melhoria e ainda mais, nas mãos de quem não entende nada de metalurgia, ou de têmpera, ou de aço etc.
O erro principal está sim em se guardar anzóis usados, sem nenhum cuidado em sua manutenção e querer que o mesmo tenha sempre a mesma qualidade. E o mais engraçado é que se tem essa preocupação apenas com os anzóis “para peixes grandes”, já que esses peixes “precisam” ser muito bem ferrados e a afiação da ponta se faz necessário. Eu nunca vi, por exemplo, alguém afiando anzol para pescar lambari. Ou será que o lambari não merece essa atenção? A bem da verdade, existem alguns tipos anzóis, que tem sua ponta cônica, ou seja redonda e parecem que são mais afiados do que os outros. Ledo engano, já que por experiência própria podemos dizer que se esses anzóis são mais afiados, com certeza sua ponta perderá muito mais rápido essa afiação, devido a um degaste mais rápido também. 


 Afiando anzol em um esmeril.

O importante em um anzol é, principalmente, saber sua origem, usá-lo corretamente, se formos guardá-lo que se tome as medidas necessárias para sua conservação e finalmente, caso ele tenha tido uma vida longa de belas ferradas e brigas sensacionais com os peixes, aposentá-lo, já que ele fez sua parte e merece esse descanso. Pode até ser pior onde o sentimentalismo não entra: jogá-lo simplesmente, no lixo.
Afinal de contas, pelo que o anzol é importante em uma pescaria, pode-se afirmar que é entre todos os itens dessa pescaria, o mais barato. Vale a pena ficar inventando coisas banais como afiar um anzol? A resposta é sua. Boa pescaria e vamos deixar as capivaras em paz, que a bem da verdade, não servem nem para comer, já que sua carne tem um gosto estranho. Quanto aos colchões, faça deles o que quiser, já que eles nos deram muito prazer (dependendo de cada um) por vários anos.  Faz até nos lembrar daquela estrofe de música que diz: “guenta colchão velho”. Quanto a colchão de molas virar anzol é, no mínimo, desrespeito... ao colchão e a inteligência do pescador.

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