Com seu aspecto todo especial, o Curupira mora na mata e é o
defensor dos animais da floresta.
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O Curupira é um menino de cabelos avermelhados, tem o corpo
peludo, dentes verdes e seus pés são virados para trás. É ele quem cuida dos
animais da floresta. Dizem que os ruídos misteriosos que às vezes ouvimos nas
matas são causados por ele. Não tem pena dos caçadores maldosos, principalmente
dos que matam os filhotes. Quando vê um caçador deste tipo, o Curupira judia
tanto dele que o pobre ou morre ou fica meio louco para sempre. Para confundir
o caçador, pensando que é uma ave, vai atrás do Curupira e de repente percebe
que ficou perdido na floresta.
Ao aproximar-se uma tempestade, o Curupira corre toda a
floresta e vai batendo nos troncos das árvores. Assim ele vê se elas estão
fortes para aguentar a ventania. Se percebe que alguma árvore poderá ser
derrubada pelo vento, ele avisa os animais para não se abrigarem perto da
árvore condenada. Segundo uma lenda indígena, certa vez um índio caçador estava
descansando na floresta, à sombra de uma árvore, quando o Curupira chegou, e
estando este com muita fome, pensou em comer o coração do índio. Resolveu então
acordá-lo:
- Ei índio. Estou com muita fome. Dê-me um pedaço do seu
coração.
O índio acordou, e assustado com o que via e ouvia, pensou
rapidamente e resolveu ofertar ao Curupira um pedaço do coração de um macaco
que ele havia acabado de caçar. O Curupira não percebeu a fraude, comeu o
pedaço e gostou.
- Quero mais, quero seu coração inteiro.
O índio então lhe deu o resto do coração do macaco, que foi
também saboreado com muito gosto pelo Curupira.
Porém, agora, exigiu em troca da oferta um pedaço do coração
do Curupira. – Fiz sua vontade, não fiz? Agora você deve me dar em pagamento um
pedaço de seu coração. O Curupira não era muito esperto e acreditou que o
caçador havia arrancado o próprio coração sem ter sofrido nenhuma dor e sem ter
morrido. Pediu então a faca do caçador e a enterrou no próprio peito, tombando
sem vida em seguida. O caçador não esperou mais. Disparou pela floresta e
pensou em nunca mais voltar lá.
Assim passou um ano, e todos estranhavam o fato do índio
nunca mais ter saído da aldeia. Ele respondia que não ia à mata por estar
doente, mas na verdade, estava era com medo. Até que um dia, a filha do índio
pediu a ele que lhe desse de presente um colar, que fosse bonito, diferente de
tudo que já havia visto. O caçador lembrou-se imediatamente dos dentes verdes
do Curupira e resolveu ir até a mata, onde encontrou a carcaça do Curupira, com
os dentes reluzindo ao sol. Pegou então o crânio e começou a batê-lo numa
árvore para que se soltassem os dentes. Qual não foi a surpresa do índio quando
de repente o Curupira ressuscitou, e julgando que o caçador lhe havia salvado a
vida intencionalmente, ficou muito grato e lhe presentou com um arco e uma
flecha encantados, com os quais nunca perderia caça nenhuma, porém recomendou
que nunca atirasse em animal que estivesse em bando.
O índio ficou então famoso na aldeia por ser um grande
caçador; bastava apontar a flecha e zás!, já caía a presa abatida, para a
alegria dos companheiros que iam com ele às caçadas. Um dia, querendo exibir
seus dotes para os companheiros, pensou em tentar, com uma só flechada, acertar
diversas aves que voavam em um bando, bem próximo de onde estavam. E foi assim
que, esquecendo a recomendação do Curupira, o índio atirou contra o bando de
pássaros, atingindo um deles, que caiu fulminado na hora. Os outros pássaros,
enlouquecidos pela perda do companheiro, principiaram a atacar o índio, que
ficou sozinho à mercê das aves, pois seus amigos, ao avistarem o perigo
iminente, o abandonaram à própria sorte.
O pobre índio foi então dilacerado, despedaçado e devorado
pelos pássaros, só por ter desrespeitado a recomendação do Curupira.
REVISTA ARUANÃ - FOLCLORE DO BRASIL
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