Conheça um pouco mais sobre as frentes frias. Elas podem
significar o fim de suas pescarias.
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Nesta foto de nosso
continente (obtida através do satélite Góes) pode-se notar o agrupamento de
nuvens (manchas brancas) que forma uma frente fria
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A s principais alterações na maior parte do Brasil, sobretudo
nas regiões ao sul do paralelo que passa por Brasília, são provocadas pelas
chamadas frentes frias. Portanto, seria útil ao pescador saber o que é
exatamente uma frente fria (na verdade um termo técnico da meteorologia que se
tornou muito popular no Brasil mas nem sempre é bem interpretado pelo leigo) e,
principalmente, reconhecê-la pelos seus sinais característicos, como a
transformação das nuvens, a mudança do vento e da temperatura, e as variações
da pressão barométrica. Isso aumentaria
muito a sua capacidade natural para fazer prognósticos sobre o tempo. E
conhecendo o mecanismo de funcionamento das frentes frias no Brasil, o pescador
tem condições de aproveitar melhor – corrigindo-as ou atualizando-as – as
previsões de tempo divulgadas pela imprensa, rádio e televisão. Entendendo o
comportamento das frentes, o pescador poderá perceber, por exemplo, que o tempo
que o jornal previa (há 24 horas atrás) para o Paraná, já está acontecendo em
São Paulo, devido à aceleração do movimento de uma frente, o que altera
completamente a situação meteorológica em sua área, quanto à temperatura, chuvas,
etc.
Em termos gerais, frentes frias são vanguardas das massas de
ar polar (isto é, grandes volumes de ar frio originado da região antártica) que
periodicamente invadem o país, procedentes do sul do continente. Mais
tecnicamente, a frente fria é uma superfície
inclinada que separa uma massa de ar frio de um lado, de uma massa de ar
quente do outro. O ar frio é mais denso e portanto mais pesado, e ao avançar
sobre o ar quente, mais leve, penetra por baixo como uma cunha, levantando o ar
quente. É esse levantamento que forma extensas camadas de nuvens, e estas por
sua vez, causam as chuvas que acompanham as frentes frias.
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Pinguins da região
antártica
A figura ilustra a estrutura (vista de perfil) de uma frente
fria típica do Brasil, vendo-se abaixo, a representação utilizada nas chamadas
cartas sinóticas, ou mapas do tempo. A idéia de se representar uma frente fria
por uma linha dentada surgiu durante a 1ª Guerra Mundial (1914-18), por
analogia com as frentes de combate, assim representadas nos jornais. De fato, a
frente fria é a “linha de choque” entre o ar frio e o ar quente, que não se
misturam devido à diferença de densidade. Quando o ar frio ganha terreno sobre
o ar quente, a frente é dita fria; mas quando é o ar quente que leva a melhor,
empurrando o ar frio para trás, aí a frente é uma frente quente. Há ainda um
outro tipo de frente, a frente oclusa, que acontece quando duas cunhas de ar
frio se fecham sobre uma massa de ar quente, uma de cada lado, cortando o contato
deste com o solo.
Neste caso a massa quente é levantada em bloco,
processo que gera chuvas muito extensas, geralmente com inundações e outros
desastres no sul do Brasil. Justamente por ter uma temperatura mais alta, a
massa de ar quente contém maior umidade, que vai se resfriando e condensando à
medida que é obrigada a subir (são leis da física: quanto mais alto, mais baixa
é a pressão, mais o gás se expande, e quanto mais se expande mais se resfria;
quanto mais frio, menos água em estado de vapor pode existir no ar, e o vapor
excedente passa ao estado líquido, formando nuvens e chuva). A teoria das
frentes polares (de cujas oscilações provêm as frentes frias, quentes e
oclusas) e das massas de ar (frias, quentes, tropicais e marítimas) forma a
base da meteorologia moderna e foi criada pelos escandinavos na citada época da
1ª Grande Guerra.
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Representação (vista
de perfil) de uma frente fria típica do Brasil.
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Ela veio tornar mais fácil e racional prever o deslocamento e
as contínuas transformações dos centros de baixa e alta pressão, facilitando
enormemente a previsão do tempo. Segundo esta teoria, as frentes se localizam
necessariamente ao longo de um eixo de baixa pressão atmosférica, para o qual
convergem os ventos: de um lado, os ventos quentes do norte, e de outro, os
ventos frios do sul. A rotação da terra desvia esses ventos, fazendo com que no
Hemisfério Sul, os ventos que precedem a frente soprem de noroeste, e os que
seguem a frente soprem de sudeste. Aliás, é a rotação da Terra a responsável
pela existência de frentes no planeta, na forma de rampa inclinada: se a Terra
não girasse, o ar frio simplesmente se acomodaria horizontalmente sob o ar
quente.
Sendo a frente uma zona (ou eixo) de baixa pressão, é natural
que o nosso já conhecido barômetro acuse com antecedência a aproximação de uma
frente fria, baixando. Mas para interpretar corretamente esta leitura é preciso
primeiro descontar o efeito da “maré barométrica”, de que já falamos no número
1 da ARUANÃ. Depois que passa a frente, o barômetro sobe.
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Iceberg “tabular”
típico da região antártica.
Estágios
Uma sequencia típica de nebulosidade e variações
características de pressão, do vento e da temperatura marcam a aproximação e a
passagem de uma frente fria através da região. Para reconhecer esta sequência o
pescador deve habituar-se a observar seguidamente o céu, para que possa
perceber a gradual transformação na nebulosidade, bem como a direção do vento.
Uma vez ultrapassado o rio da Prata pela frente fria, a evolução do tempo em
nossa região dá-se geralmente em três estágios:
a)Pré-frontal:
ventos de NE girando a N e NW, forte aquecimento, por vezes desencadeando
trovoadas. Aparecem finas nuvens cirros (constituídas de cristais de gelo, com
aparência de filamentos ou véu leitoso, situadas a mais de 5.000 metros de
altitude), que se elevam cada vez mais acima do horizonte no setor oeste e
sudoeste.
b)Frontal: vento
girando rapidamente de NW para W, SW, S e SE, persistindo mais longamente o de
SE. Pancadas de chuvas contínuas ou intermitentes, durante 1 a 3 dias. A
entrada eminente da frente é anunciada pelo aparecimento de nuvens do tipo
altocúmulus, em forma de flocos ou glóbulos, entre 2.000 a 4.000 metros de
altitude. Geralmente elas se transformam numa camada contínua de altoestratos,
cobrindo todo o céu. A entrada da frente é caracterizada por uma camada de
nuvens baixas (estratoscúmulos), rápida mudança do vento para sul, subida do
barômetro, e queda da temperatura.
c)Pós-frontal: o
vento gira de E para NE, o tempo limpa. Mas outra variante, podem voltar as
chuvas, o céu cobrindo com camada de altoestratos, o que geralmente indica um
recuo ou uma ondulação da frente.
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Representação
utilizada nas cartas sinóticas.
Como no noticiário dos jornais ainda se faz uma certa
confusão entre frente fria e massa fria,
o leitor deve se precaver para evitar erros de interpretação. Frente fria é
apenas uma linha divisória entre o ar frio de um lado e o ar quente de outro.
Esta divisão é apenas relativa, pois no verão a diferença de temperatura pode
ser pequena, por exemplo, de 32 graus no lado do ar quente, para 27 graus do
lado do ar “frio”. O ar mais frio costuma vir bem na retaguarda da frente fria,
sob o corpo principal da massa de ar polar (que é também onde ocorrem as
pressões atmosféricas mais altas, devidas à maior densidade do ar frio) que
segue a frente fria. O maior frio em São Paulo, por exemplo, pode vir bem
depois que a frente fria já passou e já se encontra na Bahia, enquanto nosso
Estado fica bem no meio da massa de ar polar, onde tanto o frio é maior, como a
pressão é mais alta, propiciando tempo firme e seco. É claro que nestas
condições sob o sol tropical, a massa polar não resiste por muito tempo,
transformando-se, pelo aquecimento, em massa tropical. Esta por sua vez fará
frente à nova massa polar, repetindo-se o ciclo que caracteriza a evolução do
tempo na maior parte do Brasil.
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NOTA DA REDAÇÃO: O Prof. Rubens Junqueira Villela, foi o
primeiro brasileiro a pisar em solo antártico, em 1961. Fez parte das
expedições brasileiras, como meteorologista na implantação da estação polar
brasileira, a bordo do navio Professor Besnard (navio oceanográfico da USP) e,
na inauguração da Base Comandante Ferraz em 1984.
Eu tive a honra de conviver durante muitos anos na redação do
jornal O Estado de São Paulo, onde o Prof. Villela era meteorologista do
Estadão e eu colunista de pesca do Jornal da Tarde. Muito insisti com o
professor, para tentarmos achar alguma relação entre a meteorologia e a pesca
esportiva. Finalmente (após comparação de datas) cheguei à conclusão de que a
pressão atmosférica influencia e muito a pesca amadora/esportiva. Em minha
coluna no JT eu publicava a princípio um quadro com a previsão do tempo para o
fim de semana. Depois da conclusão que aludi acima, comecei a publicar também a
pressão atmosférica no mesmo quadro. Em matérias posteriores e em diversas
pescarias, tenho a opinião própria de que, com pressão abaixo de 1010
milibares, a pesca é menos produtiva. Acima dessa pressão costumo ter sucesso
em minhas pescarias. Antonio Lopes da Silva.
PS: Para saber mais sobre o Prof. Villela, consulte o Google.
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