sábado, 6 de junho de 2015

O TEMPO E AS PESCARIAS - NO MAR OU ÁGUA DOCE.













Conheça um pouco mais sobre as frentes frias. Elas podem significar o fim de suas pescarias.





Nesta foto de nosso continente (obtida através do satélite Góes) pode-se notar o agrupamento de nuvens (manchas brancas) que forma uma frente fria


A s principais alterações na maior parte do Brasil, sobretudo nas regiões ao sul do paralelo que passa por Brasília, são provocadas pelas chamadas frentes frias. Portanto, seria útil ao pescador saber o que é exatamente uma frente fria (na verdade um termo técnico da meteorologia que se tornou muito popular no Brasil mas nem sempre é bem interpretado pelo leigo) e, principalmente, reconhecê-la pelos seus sinais característicos, como a transformação das nuvens, a mudança do vento e da temperatura, e as variações da pressão barométrica.  Isso aumentaria muito a sua capacidade natural para fazer prognósticos sobre o tempo. E conhecendo o mecanismo de funcionamento das frentes frias no Brasil, o pescador tem condições de aproveitar melhor – corrigindo-as ou atualizando-as – as previsões de tempo divulgadas pela imprensa, rádio e televisão. Entendendo o comportamento das frentes, o pescador poderá perceber, por exemplo, que o tempo que o jornal previa (há 24 horas atrás) para o Paraná, já está acontecendo em São Paulo, devido à aceleração do movimento de uma frente, o que altera completamente a situação meteorológica em sua área, quanto à temperatura, chuvas, etc.

Em termos gerais, frentes frias são vanguardas das massas de ar polar (isto é, grandes volumes de ar frio originado da região antártica) que periodicamente invadem o país, procedentes do sul do continente. Mais tecnicamente, a frente fria é uma superfície inclinada que separa uma massa de ar frio de um lado, de uma massa de ar quente do outro. O ar frio é mais denso e portanto mais pesado, e ao avançar sobre o ar quente, mais leve, penetra por baixo como uma cunha, levantando o ar quente. É esse levantamento que forma extensas camadas de nuvens, e estas por sua vez, causam as chuvas que acompanham as frentes frias.

Pinguins da região antártica                                                                                                                                                                    
                                                                                                                                                               
  A figura ilustra a estrutura (vista de perfil) de uma frente fria típica do Brasil, vendo-se abaixo, a representação utilizada nas chamadas cartas sinóticas, ou mapas do tempo. A idéia de se representar uma frente fria por uma linha dentada surgiu durante a 1ª Guerra Mundial (1914-18), por analogia com as frentes de combate, assim representadas nos jornais. De fato, a frente fria é a “linha de choque” entre o ar frio e o ar quente, que não se misturam devido à diferença de densidade. Quando o ar frio ganha terreno sobre o ar quente, a frente é dita fria; mas quando é o ar quente que leva a melhor, empurrando o ar frio para trás, aí a frente é uma frente quente. Há ainda um outro tipo de frente, a frente oclusa, que acontece quando duas cunhas de ar frio se fecham sobre uma massa de ar quente, uma de cada lado, cortando o contato deste com o solo.
Neste caso a massa quente é levantada em bloco, processo que gera chuvas muito extensas, geralmente com inundações e outros desastres no sul do Brasil. Justamente por ter uma temperatura mais alta, a massa de ar quente contém maior umidade, que vai se resfriando e condensando à medida que é obrigada a subir (são leis da física: quanto mais alto, mais baixa é a pressão, mais o gás se expande, e quanto mais se expande mais se resfria; quanto mais frio, menos água em estado de vapor pode existir no ar, e o vapor excedente passa ao estado líquido, formando nuvens e chuva). A teoria das frentes polares (de cujas oscilações provêm as frentes frias, quentes e oclusas) e das massas de ar (frias, quentes, tropicais e marítimas) forma a base da meteorologia moderna e foi criada pelos escandinavos na citada época da 1ª Grande Guerra.                                                                                                                                            

Representação (vista de perfil) de uma frente fria típica do Brasil.                                                                                                    
Ela veio tornar mais fácil e racional prever o deslocamento e as contínuas transformações dos centros de baixa e alta pressão, facilitando enormemente a previsão do tempo. Segundo esta teoria, as frentes se localizam necessariamente ao longo de um eixo de baixa pressão atmosférica, para o qual convergem os ventos: de um lado, os ventos quentes do norte, e de outro, os ventos frios do sul. A rotação da terra desvia esses ventos, fazendo com que no Hemisfério Sul, os ventos que precedem a frente soprem de noroeste, e os que seguem a frente soprem de sudeste. Aliás, é a rotação da Terra a responsável pela existência de frentes no planeta, na forma de rampa inclinada: se a Terra não girasse, o ar frio simplesmente se acomodaria horizontalmente sob o ar quente.

Sendo a frente uma zona (ou eixo) de baixa pressão, é natural que o nosso já conhecido barômetro acuse com antecedência a aproximação de uma frente fria, baixando. Mas para interpretar corretamente esta leitura é preciso primeiro descontar o efeito da “maré barométrica”, de que já falamos no número 1 da ARUANÃ. Depois que passa a frente, o barômetro sobe.

Iceberg “tabular” típico da região antártica.                                                                                                                                       
                                                          Estágios
Uma sequencia típica de nebulosidade e variações características de pressão, do vento e da temperatura marcam a aproximação e a passagem de uma frente fria através da região. Para reconhecer esta sequência o pescador deve habituar-se a observar seguidamente o céu, para que possa perceber a gradual transformação na nebulosidade, bem como a direção do vento. Uma vez ultrapassado o rio da Prata pela frente fria, a evolução do tempo em nossa região dá-se geralmente em três estágios:
a)Pré-frontal: ventos de NE girando a N e NW, forte aquecimento, por vezes desencadeando trovoadas. Aparecem finas nuvens cirros (constituídas de cristais de gelo, com aparência de filamentos ou véu leitoso, situadas a mais de 5.000 metros de altitude), que se elevam cada vez mais acima do horizonte no setor oeste e sudoeste.
b)Frontal: vento girando rapidamente de NW para W, SW, S e SE, persistindo mais longamente o de SE. Pancadas de chuvas contínuas ou intermitentes, durante 1 a 3 dias. A entrada eminente da frente é anunciada pelo aparecimento de nuvens do tipo altocúmulus, em forma de flocos ou glóbulos, entre 2.000 a 4.000 metros de altitude. Geralmente elas se transformam numa camada contínua de altoestratos, cobrindo todo o céu. A entrada da frente é caracterizada por uma camada de nuvens baixas (estratoscúmulos), rápida mudança do vento para sul, subida do barômetro, e queda da temperatura.
c)Pós-frontal: o vento gira de E para NE, o tempo limpa. Mas outra variante, podem voltar as chuvas, o céu cobrindo com camada de altoestratos, o que geralmente indica um recuo ou uma ondulação da frente.
Representação utilizada nas cartas sinóticas.                                                                                                                                    
                                                                                                                                                                                                                Como no noticiário dos jornais ainda se faz uma certa confusão entre frente fria e massa fria, o leitor deve se precaver para evitar erros de interpretação. Frente fria é apenas uma linha divisória entre o ar frio de um lado e o ar quente de outro. Esta divisão é apenas relativa, pois no verão a diferença de temperatura pode ser pequena, por exemplo, de 32 graus no lado do ar quente, para 27 graus do lado do ar “frio”. O ar mais frio costuma vir bem na retaguarda da frente fria, sob o corpo principal da massa de ar polar (que é também onde ocorrem as pressões atmosféricas mais altas, devidas à maior densidade do ar frio) que segue a frente fria. O maior frio em São Paulo, por exemplo, pode vir bem depois que a frente fria já passou e já se encontra na Bahia, enquanto nosso Estado fica bem no meio da massa de ar polar, onde tanto o frio é maior, como a pressão é mais alta, propiciando tempo firme e seco. É claro que nestas condições sob o sol tropical, a massa polar não resiste por muito tempo, transformando-se, pelo aquecimento, em massa tropical. Esta por sua vez fará frente à nova massa polar, repetindo-se o ciclo que caracteriza a evolução do tempo na maior parte do Brasil.



NOTA DA REDAÇÃO: O Prof. Rubens Junqueira Villela, foi o primeiro brasileiro a pisar em solo antártico, em 1961. Fez parte das expedições brasileiras, como meteorologista na implantação da estação polar brasileira, a bordo do navio Professor Besnard (navio oceanográfico da USP) e, na inauguração da Base Comandante Ferraz em 1984.
Eu tive a honra de conviver durante muitos anos na redação do jornal O Estado de São Paulo, onde o Prof. Villela era meteorologista do Estadão e eu colunista de pesca do Jornal da Tarde. Muito insisti com o professor, para tentarmos achar alguma relação entre a meteorologia e a pesca esportiva. Finalmente (após comparação de datas) cheguei à conclusão de que a pressão atmosférica influencia e muito a pesca amadora/esportiva. Em minha coluna no JT eu publicava a princípio um quadro com a previsão do tempo para o fim de semana. Depois da conclusão que aludi acima, comecei a publicar também a pressão atmosférica no mesmo quadro. Em matérias posteriores e em diversas pescarias, tenho a opinião própria de que, com pressão abaixo de 1010 milibares, a pesca é menos produtiva. Acima dessa pressão costumo ter sucesso em minhas pescarias. Antonio Lopes da Silva.
PS: Para saber mais sobre o Prof. Villela, consulte o Google.

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