sábado, 10 de outubro de 2015

EXCLUSIVO: HISTÓRIA DE PESCADOR












Em junho de 1991 publicamos na Aruanã nossa Aventura no Araguaia. Esta história aconteceu quando no final da aventura, chegamos em São Felix. Seis anos depois, nos lembramos desse fato e o publicamos em abril de 1997. 





A Aventura no Araguaia foi uma reportagem que marcou época, devido à distância percorrida e ao tempo que demoramos para concluí-la. Nossa equipe, mais uma vez, contava com a presença do fotografo Kenji Honda. Para que o leitor saiba quem ele é, mostramos aqui um pequeno “Curriculum” do Kenji. Fotógrafo profissional há muitos anos, presta serviço para a Aruanã principalmente por ser nosso amigo e também um fanático pescador amador. Somos amigos há cerca de 14 anos, desde a época em que ambos trabalhávamos (*) no Jornal da Tarde em São Paulo. Já fizemos várias matérias juntos, convivência que para mim foi excelente, pois o Kenji me ensinou muito em se tratando de fotografias. Como ele diz, é uma troca de interesse, pois quando vai uma informação de pesca, volta informação de fotografia. Uma outra particularidade do Kenji é consertar tudo que está quebrado ou não funcionando. Além disso, nessas viagens, a sua “farmácia” particular é visitada por todos os membros da equipe, já que lá há de tudo para qualquer mal que se sinta. Nos acampamentos também é muito engraçado, pois logo que amanhece, nosso pessoal sai cedo das barracas para o café e agita todo o acampamento para a pescaria do dia. O Kenji não. Ele só abre o zíper da barraca o suficiente para aparecer sua cabeça e fica parecendo um sagui no oco de uma árvore. Tal procedimento é o suficiente para toda a equipe cair matando em cima do japonês. É um tal de imitar o sotaque nipônico, que só acaba quando ele finalmente sai da barraca.

Algum leitor desconfia de quem são essas costas sexy? 

Há muitos fatos engraçados dessa viagem e puxando pela memória, de imediato me lembro da lanterna que não funcionava. Deram para o Kenji consertar e o “defeito” era que tinham colocado só três pilhas e a lanterna tinha capacidade para quatro. Colocada mais uma pilha, a lanterna passou a funcionar. Foi a vez dele dizer: “brasireiro é burrinho, né?” Pois é, esse é o Kenji. Outro fato muito engraçado no Araguaia é que, alérgico a mosquito, o Kenji parecia que estava com catapora, tantas eram as marcas das mordidas dos insetos. À noite, após o jantar ele fazia um monte de areia na praia e ficava com os pés enterrados até a altura onde começava a barra de suas calças. E dizia em voz alta para os mosquitos: Morde agora, desgraçado, morde!”Mas o mais engraçado estava por vir, e aconteceu quando chegamos a São Feliz. Para entender, deve o leitor imaginar como estávamos nós todos bem bronzeados, já que havíamos estado sob o sol por cerca de 14 dias ininterruptos. Bronzeados é o mínimo que podíamos dizer uns dos outros. Quando as aventuras terminam e enfim chegamos à cidade destino, começamos a tomar um banho de civilização, e é uma delícia, por exemplo, comer um salgadinho qualquer com uma bebida bem gelada. Fizemos isso em São Feliz, em um bar da rua do porto. Pegamos o salgadinho e a bebida e sentamos no meio fio, à sombra de uma árvore. Quem conhece essa cidade sabe que ela fica bem próxima a uma aldeia da tribo dos Carajás, em Santa Isabel do Morro, dentro da Ilha do Bananal, ou seja, do outro lado do rio Araguaia. Muitos índios dessa tribo frequentam o comércio da cidade em busca de produtos variados.





Nosso galã.


De repente, percebemos que as índias passavam por nós olhando espantadas, iam logo à frente e retornavam, fazendo esse percurso por várias vezes, enquanto conversavam no seu idioma original, rindo bastante. Aquilo começou a nos intrigar e entre nós tentávamos descobrir o que a “indiarada” tinha cismado. Finalmente descobrimos o motivo de todo aquele alvoroço, já que o Kenji, com o cabelo comprido e queimado do sol, mais parecia um índio, sentado na calçada e bem à vontade. Aliás, observar essa semelhança, depois da descoberta, era incrível! E como não poderia deixar de ser, começaram as gozações. Era um tal de perguntarmos a ele, agora com “sotaque” de índio, qual era a sua tribo, de onde ele tinha vindo, qual era seu nome, etc. Dando boas risadas, ele respondia a tudo e, descaradamente, quando algum índio Carajá o encarava, levantava a mão e cumprimentava seu “parceiro”, dizendo: “mim tribo do japonês”. E assim nasceu o “galã da tribo dos Carajás”, que por certo deixou saudades lá em São Felix quando viemos embora. Essa é uma homenagem que faço ao Kenji Honda, um excelente profissional da fotografia e, além de tudo, um grande amigo. Kenji, um abraço fraterno a você.


*N.R. Até hoje ele continua trabalhando no jornal O Estado de São Paulo.

5 comentários:

  1. Realmente demos muita risada com o Kenji, as índias tentando falar com ele na língua dos carajás e ele respondendo em japonês... esta foi uma aventura e tanto lembranças e aprendizado muito bom , primeira vez que usei uma isca artificial. era o começo e tivemos um grande mestre Toninho Lopes. JA Kuringa

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  2. Realmente demos muita risada com o Kenji, as índias tentando falar com ele na língua dos carajás e ele respondendo em japonês... esta foi uma aventura e tanto lembranças e aprendizado muito bom , primeira vez que usei uma isca artificial. era o começo e tivemos um grande mestre Toninho Lopes. JA Kuringa

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  3. Kuringa: Ainda ontem, falei com o Marcão, que perguntava sobre você, de seu paradeiro. Fico feliz que você tenha se manifestado, através do comentário acima em nosso blog. É um prazer ter notícias suas. Por onde você anda? Entre em conto comigo via email por favor. Anote: toninho.jorn@gmail.com

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  4. S. Antonio, o Sr. relatou sua epopeia contra a malária em algum lugar. Gostaria de lê-la novamente. Foi no livro? Ou foi na revista? Abçs

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  5. "Unkown": A matéria sobre a Malária foi publicada na Revista Aruanã nº 2, em outubro de 1987 página 45..É matéria que está em nossa pauta de publicações. Dentro do possível, estaremos publicando essa postagem no blog. Abraço.

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