domingo, 28 de fevereiro de 2016

FOLCLORE DO BRASIL - BEIJA FLOR















Muitas são as histórias folclóricas que trazem como protagonista esta pequena e encantadora ave. Uma delas é esta lenda em guarani, bela por sua singeleza e inocência.







Celebrava-se a festa da primavera no mundo das aves. Acorreram ao jardim do palácio dos beija-flores, onde se realizaria, com pompa, o festival, todos os representantes do reino alado. Como festa popular, lá estavam desde o Ferreiro, o Alfaiate, o Médico, o Forneiro, até altos personagens, como o Cardeal, o Juiz do Mato, o Juiz de Paz, o Capitão dos Bigodes e o Capitão da Porcaria. Os cantadores mais notabilizados lá compareceram com suas vozes, prontos a abrilhantar a grande festança racial que os jardins suspensos em frente ao palácio de residência dos beija-flores dariam desusado brilho. Viam-se já afinando gorjeios o Sabiá, o Gaturamo, a Cigarra e o Azulão. Lá estavam, muito festeiras, a Maria Branca, a Maria Cavaleira, a Maria Faceira, a Maria Mole, a Maria Mulata e a Maria Preta. O Dançador já ensaiava passos; a Viuvinha, muito circunspecta, espiava de soslaio; o Casaca de Couro mostrava ufano sua casaca nova. O Tico-Tico, a Cigarra, o Dorminhoco, entram todos juntos e mais o João Barbudo, o João Bobo, a Mariquita. Vovô chegou junto ao Urubu todo de luto. O feiticeiro do Picapau e o Caboré misterioso conversavam cabalisticamente. Papagaios faladores já haviam iniciado animada conversa, quando o brigão do Bem-Te-Vi, com aquele ar de espadachim, pediu silêncio. Chegava o Urubu-Rei, majestoso, com a imponência de um diplomata, em companhia do Cardeal, seguido pelos passos medidos do Tuiuiu, solene e calado como um túmulo. O moleque do Assoviador e o Cara Suja, cá fora, no sereno, espiavam. Fazendo as honras da casa a esposa do Beija-Flor, com sua clâmide multicolor, a todos recebia alegremente. Nenhuma ave deixou de trazer um tributo para a festa: goiabas, maracujás, pitangas, todas as frutas de todas as regiões vizinhas; as mais belas flores da estação evolavam perfumes, destilando néctar. Corria animada a festa com um lindo programa de canções populares que traziam enlevado o auditório, menos os filhinhos da senhora Beija-Flor. Esses pirralhinhos muito gulosos aproveitaram-se das distrações gerais e lá se foram à mesa do banquete e comeram toda a sobremesa. Entretanto, a mamãe, que os tinha de olho, em lhes dando pela ausência, foi pé ante pé, e os pilhou com o bico na botija. Severa, impôs-lhe imediato castigo: - Vão já, imediatamente, corrigir a falta. Eles saíram, como um raio e por isso ainda hoje os vemos, em busca de néctar, rápidos, apressados, em sua eterna correria.

Extraído do livro: Da Ema ao Beija-flor, de Eurico Santos.






sábado, 27 de fevereiro de 2016

"CAUSOS" - HISTÓRIAS DE PESCADOR












São muitas as situações, nas pescarias, vividas pelos pescadores amadores. De todos os tipos, passamos por algumas como, embaraçosas, perigosas, constrangedoras, de revolta, mas, em sua grande maioria engraçadas. Esta aconteceu no Pantanal de MS.

                                                                           MAIO DE 1990


Havíamos marcado uma pescaria no Pantanal para levar os quatro pescadores sorteados entre nossos assinantes na promoção “Cabexy de Graça”. O patrocínio dessa promoção estava a cargo do Orozimbo Decenzo, da Pantanal Tours, e de seu barco hotel Cabexy. Fomos de avião até Corumbá (MS) e no aeroporto da cidade o Zimbo nos esperava. Embarcamos na Cabexy e viajamos a noite toda. Subindo o rio Paraguai, nosso rumo era o norte, mais precisamente em um local conhecido como Campo Dania. Pela manhã, colocamos os pescadores sorteados em dois barcos de alumínio com os melhores piloteiros e os “soltamos” para pescar. Afinal de contas, a pescaria era deles. Após a saída do pessoal, o Zimbo e eu pegamos outro barco e fomos pescar também. Havia uns dois ou três corixos mais acima de onde estávamos que já eram nossos velhos conhecidos e onde já havíamos fisgado alguns dourados. Chegando ao corixo, paramos na borda e demos alguns lances com iscas artificiais. Após algum tempo percebemos que os peixes não estavam por ali, mas sim no rio principal, beirando suas margens. O jeito então foi sair corricando rio acima. Nesse ponto, o leitor sabe que quando se está pescando, estamos à vontade, naquela “vidinha dura”. Enquanto o peixe não fisga, vão passando em nossa cabeça mil pensamentos. O nosso olhar fica perdido naquela beleza imensa de água, vegetação e muita vida animal. Foi quando, de repente, meus olhos pararam em cima daquela “coisa”. Demorou um tempo para o cérebro registar o que meus olhos viam. A única coisa que consegui dizer naquele momento foram alguns longos e demorados “ih”... Finalmente paramos o barco e descemos para ver a “coisa” de perto, e agora sim: era mesmo um crânio humano. Receosos a princípio, ficamos olhando a meia distância e percebendo os detalhes. No lado direito do crânio havia um pequeno orifício, bem redondinho... O que mais nos chamou a atenção foi o fato desse crânio estar colocado sobre um mourão de cerca, provavelmente posto ali por gozação. Passada a surpresa, nos aproximamos mais. Foi quando o Zimbo se posicionou ao lado do crânio e arreganhou os dentes, querendo imitar seu “sorriso” estampado. A cena foi muito engraçada e depois da gozação, foi só pegar a máquina fotográfica e registar o fato. Após revelar o slide e mostra-lo para algumas pessoas é que percebemos realmente a surpresa que a foto causa. Depois do primeiro impacto, o riso é geral.

NR: Em maio próximo, fará cinco anos que Orozimbo Decenzo, sem combinar, passou para o andar de cima. Grande amigo, colaborador da Revista Aruanã, defensor ferrenho do Pantanal e pioneiro em barco hotel em Corumbá - Mato Grosso do Sul, com sua Cabexy – A Nave Mãe do Pantanal. Saudades eternas.  


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - ESPADA












No início do outono, muitos pescadores começam a se dedicar a um tipo de pesca que costuma ser muito produtiva, além de poder ser feita desembarcada. Trata-se da pesca do espada. Vamos saber mais sobre este peixe.





Popularmente conhecido como espada, em virtude de seu formato, seu nome científico é Trichiurus lepturus. Possui a coloração prateada e boca guarnecida de fortes e pontiagudos dentes, mas sua principal e mais marcante característica é mesmo a forma de seu corpo, que se assemelha muito a uma espada. Sua nadadeira dorsal vai da cabeça até a cauda e é um peixe desprovido de nadadeira caudal e ventral. Habita o fundo do mar até uma profundidade de 30 metros aproximadamente e se distribui por todo o litoral brasileiro. Pode atingir 1,5 m de comprimento e pesar até 2,5 kg. Alimenta-se de crustáceos e pequenos peixes. Sua carne é de bom sabor, principalmente a dos exemplares com mais de um metro de comprimento. Os melhores locais para sua pesca são os canais, os rios e enseadas à beira-mar. Em algumas regiões, o espada costuma também frequentar os costões e até mesmo alto mar. Sua pesca é possível durante o todo ano, e suas iscas preferidas são a sardinha, que tanto poderá ser iscada inteira como em pedaços, camarões, crustáceos e pequenos peixes. Um dos métodos para a pesca do espada consiste no uso de anzol simples ou garatéia, empate de aço, chumbada de correr e bóia de isopor. Essa bóia deve ficar solta na linha, permitindo que a isca fique aproximadamente de um a três metros de profundidade. Para se conseguir isso, dá-se um nó na linhada, fazendo com que a bóia pare nesse ponto. Os lances são dados ao sabor de uma maré, a uma distância considerável da margem e deve-se deixar a isca correr junto com a maré, livremente. A melhor maré é a vazante. Quando se dá o lance, a chumbada leva a isca para baixo, ficando suspensa pela bóia na altura desejada. Como o espada costuma se fisgar sozinho, a linha deve permanecer solta. Quando o peixe der o sinal, afundando a bóia, um arranco firme ajuda a fisga-lo definitivamente. Recomenda-se cuidado ao retirá-lo do anzol em função da característica de seus dentes, que podem provocar ferimentos. São seus sinônimos: peixe-espada, espada-branca de olhos vermelhos, espada-montezuma e cutlass-fish.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

DICA: --- OS PEIXES DO PANTANAL

















Dourado na Isca artificial de barbela                                                                                                                                                   
Quando se trata de Pantanal, nós da Aruanã estamos cansados de afirmar que o sucesso em uma pescaria, seja no norte ou no sul, depende da altura das águas. E dessa afirmação surge uma pequena regra onde não cabe qualquer exceção: quanto maior for a enchente, mais peixes estarão presentes. No entanto, talvez por falta de informação ou por informação errada, alguns pescadores continuam a cometer erros primários que influem muito no resultado de sua pescaria. Vamos, então, abordar separadamente os hábitos e costumes das principais espécies e, principalmente onde localizá-los e com que isca pescá-los.
                                                    OS PEIXES

                                    DOURADO


Muito procurado pelos pescadores amadores por sua esportividade e beleza, este peixe, quando fisgado, pula e briga muito, mostrando toda a sua majestade.


Corixo                                                                                                                                                                                                          
Pescá-lo é fácil, principalmente quando o Pantanal começa a vazar e os dourados, em cardumes, mostram-se atacando as iscas brancas que saem dos campos para os rios principais. Normalmente, isso acontece nos chamados corixos. É só parar o barco em um desses pontos e jogar qualquer tipo de isca, natural ou artificial, que o ataque é imediato. E quando o rio está com o nível mais baixo? Por certo a pescaria não será a mesma, já que os dourados não se mostram tanto e, portanto, são mais difíceis de serem localizados, apesar de estarem presentes no rio. Se quisermos dourados, vamos ter que procurá-los e a melhor dica para um rápido encontro é saber de alguns detalhes. Localize, por exemplo, um praiado de areia. A correnteza deve passar por ele e abrir para o meio do rio. Ao fazer isso, essa correnteza torna-se mais forte e mostra ondulações na superfície da água. Apoite o barco no começo da correnteza ou, então, logo acima do praiado e use como isca a tuvira ou o jeju. Dê o lance para o meio do rio, sempre acima da correnteza e vá soltando linha, fazendo com que a isca vá “lambendo” o fundo do rio que, por certo, será de areia, praticamente eliminando o risco de enroscos. 


Galhadas que formam corredeiras                                                                                                          

Nesses locais, o dourado costuma passar alguns dias, desde que haja disponibilidade de alimentação. Mas, de repente eles somem e não se consegue fisgar um só exemplar. Se isso acontecer, basta mudar o tipo de pescaria e passar a procurá-lo em outro local. Procure galhadas, que tanto podem estar nas margens como no meio do rio. O importante nessas galhadas é que as mesmas formem pequenas corredeiras, facilmente visíveis. Pare o barco logo acima, sendo a melhor distância até onde o pescador conseguir arremessar com precisão. Presume-se que a distância mínima seja de 20 metros. Use como isca natural jeju ou tuvira, e como isca artificial use plugs de barbela. Quando usar isca natural, deixe-a correr junto à galhada, dando pequenos toques com a vara de pesca, para que a isca fique na superfície. No caso de isca artificial, jogue-a no meio ou do lado da galhada, dê um puxão para produzir barulho na água e corrique com a ajuda do equipamento. 


    Piau: boa isca para pintado                                     



     Pintado                                                                          



Praiado com areia                                                                                                                                   
Se você não conseguir achar nenhum local ao ler as dicas acima, seu erro está na escolha da época, pois o Pantanal vazou e agora começa a encher novamente. No começo da enchente não haverá ataque às iscas, nem corredeiras e muito menos corixos.

                                 PINTADO


Onde tem dourado, tem pintado. Portanto, a melhor opção é pescar com o Pantanal cheio de corixos, porém com pequenas modificações. Enquanto o dourado prefere águas mais rápidas o pintado as prefere mais calmas. Assim sendo, pesque um pouco antes ou após as corredeiras. Importante também é mudar o equipamento. Use um chumbo um pouco mais pesado, enquanto a linha e os anzóis podem ser os mesmo. As iscas podem ser também a tuvira e o jeju, mas acrescente a essa lista as chamadas iscas brancas, tais como sauás, lambaris, piaus, piabas, sardinhas, etc. Se apoitar no meio do rio, dê lances para as margens, e se apoitar na margem, dê lances para o meio do rio. O segredo é ir dando linha, fazendo a isca vir “lambendo” o fundo. 


Pacu                                                                                                                                                       


Se houver praiados de areia, os pintados poderão estar no meio do rio ou, se a profundidade for boa nestes praiados, eles também estarão em toda a sua extensão.  Com o rio mais baixo, os pintados estarão nos chamados poções e, nessa época, o melhor mesmo é pescar de rodada. As iscas podem ser as mesmas.

                                   PACU

É um peixe cujo sinônimo poderia ser água alta. Durante o dia, podemos pescá-lo nos campos. À noite, porém, o pacu dorme no rio e, sabendo disso, o pescador deverá procurar uma saída ou entrada de água nos campos e pescar nesses locais, sempre nas duas horas do amanhecer e na ultima do entardecer As melhores iscas serão o tucum e as bolotas de massa, pescando-se de batida. Se o rio perdeu a ligação com os campos, ou seja, a água já saiu totalmente, o melhor é pescar juntos às grandes extensões de camalotes. Amarre seu barco em uma moita de camalotes nas margens e dê lances para o meio do rio, fazendo com que a isca venha “lambendo” o leito do rio. 

Massa para pacu                                                                                                                                    

Essa operação que é conseguida com o continuo movimento de levantar e abaixar a vara de pesca, é para que a isca não enrosque e fique livre de enroscos soltos. Quando a linha esticar, deixe a isca parada. As melhores iscas? Vamos lá: laranjinhas de pacu e melancias de pacu, que são iscas do próprio local ou, ainda, caramujos e caranguejos. A outra opção é pescar de batida, de rodada, sempre dando os lances à frente do barco. A distância ideal do barco para as margens com camalotes, será de dois ou três metros, fazendo o possível para o barco ficar sempre atravessado com a correnteza.  Se o rio estiver bem seco, vai ser difícil encontrar o pacu pois, mais uma vez, você terá ido pescar na época errada.

                                   JAÚ


É um peixe que só pode estar em um local, seja lá qual for a altura das águas do rio: os grandes e profundos poções. Isso acontece nas cheias e na média vazante. Com o rio bem baixo podemos pescar alguns, mas a pescaria não será farta.


Jaú                                                                                                                                                          


 Use material pesado e iscas como a tuvira, o jeju, o minhocoçu, o muçum, cascudos e pedaços de peixes, como a traíra, piaus e piabas, entre outros. Se esses peixes foram pequenos, use-os inteiros e, de preferência, vivos. Estas são as principais espécies. Para terminar, vamos falar rapidamente de algumas outras:

                               PIRAPUTANGA

Gostam de rio cheio e são encontradas nas corredeiras mais mansas. Para pescá-las, recomendamos usar iscas de pequenos peixes ou, como artificial, o spinner. Essa espécie costuma mostrar sua presença, pois fica atacando cardumes de pequenos peixes. Gosta também de frequentar cevas ou locais onde se limpam peixes.

                              PIAVUÇU



Pescando pacus nos camalotes, esse peixe costuma roubar muitas iscas do pescador. Quanto ao material, diminua o tamanho das iscas (caranguejo e caramujo) e dos anzóis. Uma boa dica é fazer cevas com milho seco, usando o milho também como isca. Faça a ceva e em dois dias já haverá peixes à sua disposição. 


Piraputanga                                                                                                                                            

                             JURUPOCA

A melhor isca para essa espécie é o lambari ou pequenos peixes como o sauá, a sardinha, entre outros. Costuma ficar nos praiados onde o fundo é de areia e a melhor hora para pescá-las é ao entardecer/amanhecer e durante as primeiras três horas da noite. Recomendamos o uso de material médio, bem como anzóis médios e pequenos chumbos.

                             BARBADO

Será inevitável fisgar alguns barbados durante as pescarias de pintado feitas de rodada. Palmitos e jurupensens também pegarão do mesmo jeito e com a mesma isca de jurupocas, porém em locais diferente e durante o dia. Esses dois últimos peixes gostam de corredeiras, principalmente em seu final, quando houver um pequeno poço junto às margens.

Falamos das principais espécies ou, pelo menos, das que mais interessam ao pescador amador. A dica final é quanto à altura das águas do Pantanal. Como se vê, esse é um item muito importante e, observando-se isso, o sucesso é garantido para várias espécies. 


Piavuçus                                                                                                                                                

Observe principalmente as dicas dos locais e iscas e traga na sua cota várias espécies de peixes. Ou melhor: traga apenas o suficiente para sua família e pratique o pesca-e-solte, já que, com sua experiência você ira agora pescar o peixe da espécie que desejar. Portanto, nada mais justo para se divertir do que soltar os peixes extras. Não se preocupe em fisgar uma só espécie, ou seja, a mais fácil e que está dando em maior quantidade. O gostoso da coisa é fisgar o peixe da espécie que você decidir – afinal de contas, durante a época certa todas as espécies estarão lá à sua disposição. Basta apenas observar os “sinais da natureza”, que nada mais são do que as dicas que relatamos acima. Boa pescaria.




Nota da Redação: A pesca no Pantanal reabre dia 1º de março próximo, pois acaba o período de defeso da piracema. Nada mais justo e protetor. Se você for pescar no Pantanal, seja ele norte ou sul, tenha a preocupação de ver as leis que regem a pesca por lá e por obrigação, segui-las. Mas uma recomendação para que você pondere: caso a “cota” de pescado seja de 10 quilos mais um exemplar de qualquer peso e, você goste de saborear, junto a sua família, o pescado que você capturou esportivamente, com sua técnica e material, não tenha receio de trazer esse pescado para sua casa.

     Barbado                                                                                                 



Jurupoca                                                                                                                                                 
Evidente está que alguns “defensores” do meio ambiente, vão te criticar, dizendo que você devia praticar o pesca e solta. Ignore-os. Simples assim. Você está nos seus direitos de pescador e cidadão. E mais uma coisa, ao tirar fotos e depois posta-las, não cite onde esteve pescando, onde se hospedou, qual material usou ou onde o comprou, visto que lugar de propaganda é nos veículos próprios do segmento e não no Facebook. Porque isso? Tem gente lucrando muito e, sem merecer, por tal “propaganda” grátis. Mais uma vez, boa pescaria.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - CUTIA




             CUTIA




Foto: Kenji Honda                                                                                                       


Roedores da família Caviídeos seu nome científico é Dasyprocta aguti e D.azarae, que são as espécies mais comuns no Brasil meridional. Atingem 50 cm de comprimento: o pelo é áspero e de cor meio parda, meio amarelada, misturada nos pelos, tornando-se, porém, mais avermelhada no traseiro. O corpo é grosso e as pernas finas são relativamente altas para um roedor. Os principais distintivos da ordem a que pertencem, os dois dentes roedores, longos e curvos, são vermelhos. Vive só nas matas, onde faz sua toca e o caçador facilmente a descobre, seguindo o trilho que conduz a ela. É animal de hábitos quase noturnos, pois, tendo passado a maior parte do dia no esconderijo, somente à tarde sai em busca de alimento, que consiste em toda sorte de vegetais, tanto sob forma de frutos, como raízes e, podendo ser, o milho, a cana e a mandioca lhe sabem bem. É muito apreciada, não só pelo prazer venatório que proporciona, como pelo excelente sabor de sua carne. Quase sempre a cutia se entoca quando perseguida pelos cães e o caçador a obriga facilmente a sair, fazendo entrar fumaça pelo buraco. São sinônimos de seu nome: cutia de rabo, cutiaiá. 



Bibliografia Consultada:
Dicionário dos Animais do Brasil – Rodolpho Von Ihering

Texto e desenho.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - ACARÁ















Não há um só pescador que não conheça o acará, pois sem dúvida ele é o primeiro peixe que encontramos quando nos iniciamos na prática da pesca amadora. Conheça mais sobre esta popular espécie.






Também conhecido por acará-diadema, acará-ferreira, acaraí, acará-topete, cará e papa-terra, seu nome científico é Geophagus brasiliensis, pertencente à família Cichlidae. O acará está presente em praticamente todos os cursos d’água do território nacional, sendo encontrado também em represas e lagos. Sua coloração é muito bonita, com dorso azul esverdeado, manchas e riscos na cor preta, e quando adulto adquire outra cor que lhe domina o corpo: o vermelho. Durante a época de reprodução, o macho adquire uma protuberância na cabeça, que desaparece após a fase sexual. Outra característica dessa espécie é que os pais acolhem os filhotes na cavidade bucal tanto para defendê-los do ataque de outros peixes, como para transportá-los de um lugar para outro, até atingirem desenvoltura suficiente para se defenderem sozinhos. O macho se desenvolve mais rapidamente do que a fêmea, atingindo em média um palmo de comprimento e um quilo de peso. O acará é espécie onívora, alimentando-se de crustáceos, insetos, algas e do lodo do fundo dos rios. Sua carne tem bom sabor, principalmente no lombo na forma de filés, e não são poucos os seus apreciadores. Pode-se pesca-lo durante todo o ano e os melhores locais para sua captura são as margens das represas, açudes e remansos dos rios onde haja galhadas, vegetação aquática, tranqueiras ou pedras submersas. Em algumas represas só se consegue pegar peixes maiores com longos lances ou pescando-se de barco, em locais de maior profundidade e com águas mais calmas. Uma linha de bitola 0.30 mm, anzol médio, uma pequena chumbada tipo oliva solta na linha e vara de bambu fazem o equipamento suficiente para a pesca do acará. Caso se queira pescar com linhadas de fundo, é aconselhável usar a chumbada embaixo e os anzóis, que podem ser dois, logo acima. Suas iscas preferidas são as minhocas e os pitus, mas para rios de litoral usam-se pequenos camarões descascados.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

TAQUARI: AGONIA E MORTE DE UM RIO











A ação do homem contra o indefeso meio ambiente é de uma violência sem par. O Brasil tem em sua vasta extensão, muitos exemplos dessa ação criminosa e covarde. O rio Taquari demonstra bem o que queremos mostrar. Mesmo avisando e alertando autoridades de meio ambiente, nada foi feito. Mas ele reagiu. E como. Acompanhe sua saga.


Ao chegar em Coxim, no Mato Grosso do Sul, vê-se logo o rio Taquari, portal dessa cidade. Passando pela ponte, temos a impressão de que estamos em pleno período das cheias, pois o rio apresenta águas barrentas e escuras, com um feio aspecto de enxurrada. Mas essa impressão é falsa, já que durante todo o ano será esta a aparência desse rio, que já foi famoso por sua piscosidade e beleza natural. Navegando em seu curso, que é de aproximadamente 520 quilômetros desde Coxim até o rio Paraguai, vamos perceber que em toda a sua extensão a cor das águas permanece a mesma, e em alguns trechos a situação é ainda pior. O pescador que lá estiver verá também que em muitos locais o rio não tem mais do que alguns centímetros de profundidade, e o canal, que teimosamente continua a existir, mudando diariamente de curso, terá poucos metros de água ainda livre. Os famosos poções, outrora moradia constantes de jaú e pintados, não existem mais. Segundo informações que obtivemos, a lenta agonia do rio Taquari começou há alguns anos, quando alguma “cabeça pensante” achou ter descoberto um novo “eldorado” para o plantio de soja. Vários agricultores desse grão instalaram-se em São Miguel do Oeste e sem nenhuma orientação passaram a arar e plantar soja indiscriminadamente. O desmatamento foi grande e nos campos logo floresceu a semente em vasta quantidade. 






Sem as árvores, que foram cortadas em sua totalidade, a erosão começou a tomar conta. Com as chuvas, grande quantidade de terra passou a ser despejada no rio Coxim, e, por conseguinte, no rio Taquari. Lentamente, a própria correnteza do rio foi acumulando em certos locais a terra trazida, formando praias e baixios. Por ocasião de uma chuva mais forte, as águas ganham uma correnteza mais veloz por causa da pouca profundidade, indo ao encontro da outra margem, passando a derrubar parte dos barrancos, e com estes toda a sua vegetação para dentro do rio. Progressivamente, o Taquari foi se auto assoreando, causando a destruição completa de suas margens em uma extensão que calculamos ser de aproximadamente 250 quilômetros desde Coxim. Com essa destruição, a paisagem e o próprio rio foram mudando de aparência e curso. É comum ver-se hoje locais secos que abrigavam o leito do rio há alguns anos. Há casos ainda de construções ribeirinhas que caíram e outras que estão por cair, aumentando cada vez mais o assoreamento do rio Taquari. A desgraça não para por aí. Vários fazendeiros, vendo suas propriedades ameaçadas, optaram pela solução mais rápida (e menos inteligente) de sanar seu problema.










Montaram dragas no rio e com o auxílio delas, simplesmente fecharam as entradas das baías e corixos com a areia do próprio rio. O resultado desse fechamento fez-se logo sentir, pois a mortandade imediata de peixes nos corixos e baías foi tão grande que quase era impossível viver com o mau cheiro exalado por toneladas de peixes das mais variadas espécies mortos nos vãos secos. É fácil hoje, para quem navega no Taquari, ver-se quantas baías e corixos foram fechados, pois a denunciar esse ato criminoso, está lá nas margens uma areia branca contrastando com as margens originais. Em nossa estadia no rio Taquari vimos mais de oito balsas “trabalhando” no fechamento das poucas baías e corixos que ainda restam. Misteriosamente, se alguma providência é tomada por alguma autoridade para impedir esse fechamento, de imediato surge um advogado com um mandato qualquer provando que tem autorização para continuar a “obra”. E assim vamos vivendo e o Taquari morrendo. A literatura é bem explicita a respeito, e traduzida em miúdos fala que os peixes de piracema, como as várias espécies do Pantanal, necessitam de corixos e das lagoas marginais, pois é exatamente nesses locais que se dá a desova. Diante desse terrível quadro e de nossas observações quando lá estivemos recentemente, podemos afirmar sem margem de erro que o pescador amador deve e pode futuramente esquecer o rio Taquari para sua incursões pesqueiras, pelo menos nos seus 250 quilômetros iniciais, a partir de Coxim rio abaixo. 






Permanecemos mais de 5 dias navegando no rio Taquari e foi esse o quadro que vimos. No final desse rio ainda há muita vida, mas hoje já se pode contar quatro saídas na junção com o rio Paraguai, onde antigamente só existia uma. Em um de nossos acampamentos fizemos inclusive um teste: pegamos um litro de água do rio e deixamos descansar por dois dias. Ao final desse prazo, a água ainda estava turva e com cerca de um milímetro de areia no fundo do litro. Se há dez anos atrás alguém me dissesse que iria existir um rio no Pantanal cuja água não serviria para beber ou cozinhar, eu diria que essa pessoa era louca. Hoje, pude ver com meus próprios olhos que a água do rio Taquari já não serve nem para uma coisa nem para outra. Há, com certeza, solução para esse problema. Acreditamos que existam técnicos capazes de reverter essa situação. Ou então podemos ficar aguardando que um político mais inteligente lance mais dia menos dia uma campanha do tipo “vamos salvar o rio Taquari”. Certamente essa campanha será patrocinada por um país mais rico, com empréstimo de alguns milhões de dólares para ser executada. Até lá, a agonia e morte do Taquari são certas, como se alguém neste país tivesse o direito de deixar que as coisas assim aconteçam. É lamentável.





NOTA DA REDAÇÃO: Este artigo foi escrito em junho de 1993, logo após nossa Aventura no Taquari, matéria que publicamos na Revista Aruanã e, em breve, aqui no blog. Hoje, ao reeditar este artigo em fevereiro de 2016 para nosso blog, mostramos como tínhamos razão para clamar por providências com os responsáveis pelo nosso meio ambiente. Não tivemos resposta de órgão nenhum, mesmo mostrando o que aqui publicamos com texto, contexto e fotos. Aliás, desculpem, mas tivemos sim uma resposta e, essa se traduziu em um oficio da Câmara dos Vereadores de São Miguel do Oeste, onde, por unanimidade, fomos declarados persona non grata na cidade. Por outro lado, dizíamos que o rio iria reagir e isso aconteceu. As quatro saídas do Taquari no rio Paraguai que citamos, mudou seu curso pois, - ele saía em um local denominado de Figueirinha (aliás um pesqueiro de dourados sensacional) - aos poucos essas saídas foram se fechando e as águas do Taquari, “abriram uma passagem” em direção ao rio Paraguai Mirim, alagando milhares de alqueires de campos e matas destruindo com isso toda a vegetação nativa do local. Houve lucro com isso? Perdas houveram sim e muitas, já que diversos fazendeiros, por onde o Taquari abriu passagem, tiveram suas fazendas tomadas totalmente pelas águas. E para o meio ambiente? Nada foi acrescentado, já que a reação do Taquari era esperada. Ele reagiu mudando sua foz mas, os primeiros 250 quilômetros do rio, continuam os mesmos. Isto é Brasil em questões de meio ambiente.