sábado, 28 de maio de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - VERMELHO CIOBA








Levando em conta o seu tamanho e a briga que proporciona ao pescador amador, o vermelho-cioba merece destaque. Conheça-o melhor.


O vermelho-cioba, cientificamente chamado de Lutjanus analis, também é conhecido como ariocó, caranho, caranho-vermelho, cioba, ciobinha e cioquira, conforme a região do Brasil. Possui coloração esverdeada no dorso e ventre rosado. Quando jovem apresenta algumas barras transversais indistintas. Pode atingir até 70 cm de comprimento e 18 quilos de peso, estando registrado o recorde brasileiro de 13 quilos em pesca submarina. Anda em cardumes, sendo por isso comum fisgarem-se diversos peixes ao mesmo tempo. Pode ser encontrado na costa do Brasil, desde o Norte até o Rio de Janeiro. Mais ao sul sua presença é menos abundante. Seus locais de preferência são os lugares pedregosos, como as lajes (conhecidas também como “parcéis”) e os bancos de areia. Sua pesca só pode ser praticada em alto mar, pois o vermelho-cioba só se encontra em grandes profundidades. Para se ter uma idéia, no Nordeste do Brasil chega a uma profundidade de 200 metros e mais ao sul a 55 metros. Para sua pesca deve-se usar material considerado de categoria média, molinete ou carretilha de tamanho regular e linha 0.50 milímetros. Usando linha de fundo ou de mão, esta deverá ser de bitola e ter no mínimo 0.80 milímetros, o que evita ferir as mãos. Neste tipo de pesca normalmente o pescador usa dois anzóis acima da chumbada. Uma dica: ao invés de dar-se lances com as linhas, deve-se soltá-la verticalmente, junto à borda da embarcação. Ao sentir o chumbo bater no fundo, recolhe-se meio metro, deixando desta forma a isca solta. Assim fica mais fácil sentir a fisgada do peixe. Se houver mais pescadores, evita também que as linhas se enrosquem. As iscas mais indicadas para a pesca do vermelho-cioba são a sardinha, a cavalinha, o parati e pequenos peixes. Podem ser iscados inteiros ou em pedaços. Também são bem aceitos o camarão, a lula e até mesmo o siri. O vermelho-cioba é bem versátil na sua preparação, sendo sua carne de excelente qualidade.                                                        

sexta-feira, 27 de maio de 2016

ESPECIAL: PACU NA BATIDA














Existem pescadores que não vêem a hora de tirar o peixe da água. Outros preferem demorar o máximo possível, procurando a maior esportividade que o peixe possa proporcionar. Para estes, sem dúvida, a pesca do pacu feita na modalidade de batida será a melhor indicação, pois não há nenhum peixe no Pantanal que brigue como o um pacu.













Tucum maduro iscado corretamente
O material para este tipo de pescaria é bem simples, mas nem por isso deixa de ser o mais esportivo. Basicamente se compõe de uma vara de bambu – a chamada vara caipira – de ponta grossa e resistente; uma linha do tamanho da vara, forte, como a de 0.80 mm, um pequeno encastoado de aço e um anzol especial de haste curta, forte e bastante resistente. A isca é um coquinho chamado tucum, que na época das cheias é a alimentação principal do pacu. Essa modalidade de pesca deve ser realizada embarcada, pois é com o barco que se consegue pescar em locais como os pequenos corixos, baías e campos, onde a permanência do pacu é constante. A primeira dica é conseguir a isca. Normalmente o tucum fica nas margens do rio, onde a vegetação é farta. Descobrindo um pé com frutos, deve-se agir com cuidado, pois no tronco e mesmo na parte do cacho de tucuns, existem espinhos muito perigosos, que ferem com certa gravidade.


                 Cacho de tucum

Outra dica é não cortar o cacho inteiro, pois será mais fácil conservar o coquinho mantendo-o no próprio coqueiro. Tire o necessário, que pode ser uma quantidade de 20 ou 30 caroços. Para iscar firme, coloque a ponta do anzol junto a caule do coquinho e vá virando e enterrando o anzol na fruta. Feito isso, vez por outra verifique se a fisga continua firme, pois poderá cair com a batida da isca na água. A melhor posição do barco é sempre junto às margens. Com um espaço de 2 ou 3 metros, e a batida da isca far-se-á sempre à frente e a favor da correnteza. A técnica de bater a isca é bastante simples e consiste em girar a vara por detrás do corpo, fazendo então a isca bater à frente. Para medir a força da batida, há uma regra a ser seguida: pegue um coquinho e jogue-o para cima, a uma altura de mais ou menos 3 metros, o que seria a altura de um pé de tucum na margem do rio.


Dentes perdidos na hora da briga

Ouça o barulho do tucum jogado e reproduza o mesmo som quando bater sua isca na água. Em edições anteriores, a Aruanã falou sobre os sentidos do peixe, e na ocasião dissemos que a audição é o sentido mais pronunciado em qualquer espécie de peixe. Evidente está que o pacu não é exceção. Muito pelo contrário, pois mesmo estando a diversos metros do local da batida, o pacu vem conferir a “comida fácil” que seria um coquinho recém caído do coqueiro. Para maior atração, dê duas ou três batidas imediatas, deixando então a isca afundar até que a ponta da vara fique mais ou menos 40 centímetros distantes da superfície da água. Deixe a isca até que a linha comece a ficar quase por baixo do barco. Tire a isca rápido e proceda duas ou três batidas novamente à frente. Essa operação deve ser repetida quantas vezes forem necessárias. 

Anzóis usados para pacu 92676 tamanho 5/0 a 8/0

Quando o peixe pegar a isca, perceber-se-á facilmente, pois o pacu abocanha o coquinho e corre. A fisgada deve ser firme e segura. Dificilmente o peixe conseguirá escapar, pois alguns costumam dizer que o “pacu se ferra sozinho”. Do nosso ponto de vista diríamos que isso é “quase verdade”, mas uma ferrada firme e segura será necessário. Um outro cuidado que o pescador deve ter é nunca dar ponta de vara ao peixe, pois se isso acontecer, a linha ou o anzol não resistirão à briga do pacu. Uma outra dica importante é segurar a vara de pesca e fazer com que o cabo, abraçado pela mão, tenha seu comprimento até o cotovelo, formando então uma espécie de alavanca. Nunca segure o cabo da vara só com a mão, já que é frustrante, por mais força que se tenha, ver que o peixe nos obriga a dar ponta de vara. Se quiser fazer a prova, faça, mas de antemão saiba que o resultado será sempre em favor do peixe, que não precisa ser grande, basta apenas que tenha 4 quilos para fazer isso com o pescador.

Corixo ideal para batida de pacu

Imagine agora quando for um pacu dos grandes, tipo 8 ou 9 quilos. Outra dica muito importante é o silêncio na embarcação. Até para o piloteiro remar, deverá ser observado o absoluto silêncio. Batidas no barco, ficar de pé ou usar o motor de popa, então, nem pensar. Todas essas dicas são coisa de pescador, que podem parecer difíceis de serem seguidas a princípio, mas se compreendidas e bem executadas, com certeza darão ao pescador que optar pela pesca de batida uma emoção que nenhum outro peixe pode causar. Em força e esportividade.

NOTA DA REDAÇÃO: Hoje, passado mais de 26 anos da publicação desta matéria na Revista Aruanã, revivo esses ensinamentos que em minha opinião, me foram passados pelo maior de todos os pescadores do Pantanal, que tive a honra e felicidade de conhecer e ser seu amigo: SEU JUJU. E isso não aconteceu somente agora, pois é comum quando o assunto é pacu, eu lembrar-me desse verdadeiro mestre dos mestres, que a muito deve estar pescando no céu. Sua benção MESTRE JUJU, que sabia, só de olhar para o rio Paraguai, onde o pacu estava.

Publicado na R. Aruanã ed. 17  em 08/1990

sábado, 21 de maio de 2016

"CAUSOS": UM INVERNO RIGOROSO NO PANTANAL.






                  PANTANAL NO INVERNO

                            (QUE FRIO!!!!!)
           



                                         Rio São Lourenço




São participantes desta história de pescador, dois amigos de real importância para o que vamos contar, já que a primeira parte da história é algo muito sério e que ajudou e muito os pescadores amadores do Brasil. São eles: o Pertti Rautio diretor comercial da Rapala (aquele do salmão na Noruega) e o Anders H. Thomassen, diretor da Mustad, que inclusive ficou muitos anos nessa empresa em sua filial do Rio Grande do Sul.



A chegada ao Aeroporto - (Perti a esquerda)

                                       FALANDO SÉRIO AGORA


Os dois estavam no Brasil já que tinham vindo participar da Feipesca e o ano era 1994 mais precisamente agosto. Convidei a ambos para uma pescaria no Pantanal Norte e o local escolhido foi Porto Jofre, na Pousada Santa Maria do Wilson Feitosa. Já devidamente instalados fomos ao Piqueri atrás dos tucunarés. Ao montar nosso equipamento, o Perti tinha trazido várias iscas da Rapala e me ofertou algumas para escolher. Minha resposta o deixou sem graça, já que eu disse que preferiria pescar com outras marcas. Ele então pegou uma isca sua e começamos a pescaria. Não lembro qual era a isca, mas lembro bem que tinha aquelas garatéias de anzóis bronze que eram as que tínhamos para comprar. Mandei-o fechar bem a embreagem do equipamento (por causa das galhadas) e o primeiro tucunaré grande fisgou. Depois de uma pequena briga, escapou. Pedi a ele que recolhesse a isca e a peguei na mão. Dois anzóis de uma garatéia estavam abertos. A noite, em uma reunião na Pousada, disse aos dois, porque a Rapala original com anzóis bronze, tinham que ser trocados por anzóis mais fortes. Ficou decidido que, “todas as iscas Rapala que fossem mandadas para o Brasil, a partir daquele data, viriam com anzóis da Mustad e mais fortes”. Foi uma vitória para nós pescadores amadores brasileiros.


Tucunarés fisgados com iscas Rapala.  
                                                                                                                                                                                COMO ACONTECEU O “CAUSO”


Acabou a Feipesca. Os dois ficaram em São Paulo, pois iríamos pescar. Uma preocupação minha: saber qual o lugar onde estava com a temperatura mais quente possível. Depois de algumas ligações, o “destino foi traçado”: Porto Jofre tinha durante o dia 40 graus. Explico. Em Kirkenes, na pescaria de salmão, era verão e com temperatura média de 5 graus positivos. Enquanto eles tomavam banho no rio, após uma sauna, eu ficava sentado na varanda do chalé onde estávamos hospedados, com toda a roupa que eu tinha e podia vestir, tremendo de frio. Eles, Perti e o Risto Rapala, me gozavam dizendo que estava calor e pediam para ir nadar também. Assim foi durante dois ou três dias que fiquei naquela região que além de frio, tinha também o “sol da meia-noite” que me perturbava o sono, pois não anoitecia nunca. Vamos pegar um atalho e já estamos dentro do avião, com destino à Cuiabá. Tudo normal, ar condicionado do avião com 23 graus. No aeroporto de Várzea Grande descíamos, na época, direto na pista (foto). “Assim que chegamos na porta de descida do avião, foi como uma porrada” na cara com o calor que estava. Calculo uns 38 graus. O Wilson nos esperava com uma Kombi, digamos, “meio usada” e cheia de isopores que serviram para trazer peixes de uma turma de pescadores que iriam embarcar no aeroporto, portanto agora vazios. A Kombi só tinha dois bancos, o da frente e o outro logo atrás. O resto da carroceria era só isopor vazio e tínhamos pela frente 164 km de estrada de terra. O Anders falava bem o português. Já o Perti arranhava um pouco espanhol e inglês. O Wilson, um gozador nato perguntou-me se era prá ir dirigindo com emoção ou não pela estrada. 


Pacus.

Perguntei ao Perti: “with emotion or not?” A resposta dele foi com o sinal de positivo. Falei para o Wilson que começou então a andar à 70 km por hora, em uma estrada que no máximo seria recomendável uns 20 km. Depois de uns cinco quilômetros os “gringos” começaram a gritar para parar. Paramos o carro e ao olhar para trás, mal se via os dois em meio aos isopores. Foi muito engraçado. Continuamos a viagem, agora em velocidade normal até Porto Jofre. Era noitinha quando entramos na Pousada. Jantar e dormir numa boa, em um apto com ar condicionado. No dia seguinte logo cedo, rio Piqueri. Enquanto o barco andava tudo bem, vento a vontade. Na pescaria, com o motor elétrico batendo as tranqueiras, vi que o Perti, que estava no meu barco, vez por outra molhava a cabeça e pescoço com a água do rio. Na hora do lanche, em uma sombra,  devidamente pelados eu e o Wilson mergulhamos nas águas refrescantes do Piqueri. Convidamos o Perti a nos imitar. Resposta: “no, pirrrrranhas”. O banho dele foi com um copo de água e só na cabeça. Depois da pescaria, voltamos a Pousada. Imagine leitor, quando o Perti tirou a camisa de mangas curtas. Parecia que continuava vestido, só que agora, com “mangas” vermelhas nos braços e no decote, tal era a ação do sol na sua pele de europeu. Vou encurtar o “causo”. No dia seguinte ele já estava usando camisa de manga comprida e eu peguei um agasalho e ofertei a ele, dizendo que estava meio frio naquela manhã. A temperatura tinha estado por volta de 30 graus à noite e tinha subido um pouco mais pela manhã. Pronto, eu estava vingado. Para terminar algumas frases soltas. Paramos para um xixi em um lugar na beira do rio. Ele me perguntou: Antonio “acá anacondas”? Eu respondi: si, jo tiengo uma em las manos rs. Ele respondeu e falou alguma coisa, só que em finlandês rs. Não perguntei qual era a tradução da fala rs. Outra, ele fisgou uma cachorra e perguntou o nome do peixe. Informei que era “caralho..”. Foi engraçado ele contar ao Anders que tinha fisgado um “caralho”. O Anders olhou para mim e perguntou a ele em inglês se era grande. A resposta foi com as duas mãos, no gesto normal do pescador para descrever o tamanho dos peixes. Foi muito engraçado. Só dissemos a ele o real significado do nome do peixe, quando estávamos em Guarulhos, onde eles iriam pegar seu avião de volta. Deixaram saudades. Valeu.


    Publicado na Revista Aruanã ed. 40  em 08/1994

sexta-feira, 20 de maio de 2016

FOLCLORE DO BRASIL - FAMALIÁ












Bastante conhecido do povo do sertão mineiro, o Famaliá é um diabinho caseiro que se diz pertencer a alguns fazendeiros da região. Antes chamado de Familiar, seu nome mudou na viagem do tempo e dos lugares onde é contada esta lenda.



Usar um pé de coelho para dar sorte, ter em casa uma ferradura atrás da porta, pendurar uma figa numa correntinha para afastar os maus olhados. Cada qual com seu amuleto. Mas existe um para se conseguir riqueza e tudo o que se queira chamado Famaliá, muito difícil de ser conseguido. Primeiro porque se trata de um diabinho, e segundo porque ele nasce de um ovo de galo e os galos quase nunca botam ovos. Às vezes, demora-se anos para se conseguir o Famaliá e é necessária muita luta e perseverança. Quem deseja ter o seu, precisa primeiro fazer um pacto com o diabo e lhe dirigir algumas palavras que muito poucos sabem quais são. Só então se vai procurar nos galinheiros o ovo do galo. É um ovo bem pequeno, do tamanho de um ovo de pomba juriti. Todo cuidado é pouco. Quando encontrado, leva-se então para casa e espera-se a quaresma chegar. Na primeira sexta feira da quaresma vai-se a uma encruzilhada de caminhos sem nenhuma luz por perto. Já bem à noite, quando bater a hora da viração, coloca-se cuidadosamente o ovo debaixo do braço esquerdo, na axila. Volta-se então para casa e deita-se, porque uma febre ataca. A febre serve para ajudar a chocar o ovo. Fica-se deitado durante quarenta dias e à meia noite, no final da quarentena, o ovo picará. Mas não espere que venha um pintinho, pois o que nasce é um diabinho de mais ou menos um palmo de tamanho. Coloca-se o diabinho numa garrafa preta, arrolha-se bem e guarda-se em segredo absoluto, de preferência num oratório velho onde ninguém mexa, a não ser o dono da casa. O Famaliá faz tudo que se queira: traz riqueza e boa posição social. Basta que seu dono o coloque na palma da mão e lhe faça o pedido. Imediatamente será atendido. Depois guarda-se o diabinho novamente na garrafa preta. Só não se sabe se o Famaliá traz felicidade, pois o diabo com o qual se faz o pacto, sempre sai ganhando.
Obra consultada – Histórias, costumes e Lendas – Alceu Maynard Araújo.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

AVENTURA NO RIO MIRANDA - MS.






Nesta edição, a equipe Aruanã percorreu os 650 km de extensão do rio Miranda, no Pantanal. Confira mais esta maravilhosa aventura.







A equipe Aruanã. 

Saímos de São Paulo no dia primeiro de abril e em nossa companhia estava, além do Kenji, nosso fotografo, o Valdecir José Luís, diretor da Metalglass, cujos barcos iríamos usar nesse novo trajeto. Havíamos marcado com o Orozimbo, da Pantanal Tours, um encontro em uma churrascaria na cidade de Anastácio, junto a Aquidauana, onde três companheiros iriam fazer parte desta aventura. Chegamos à cidade às 19:00 h, após percorrer 1.230 km desde São Paulo. Cansados, só nos restou jantar e aguardar os companheiros, que haviam saído de Corumbá após o almoço. Não demorou muito e eles se juntaram a nós no churrasco. A primeira providência, após o jantar, era procurar um hotel para “descansar o esqueleto”, já que no dia seguinte iríamos começar a aventura. Como a pressa é inimiga da perfeição, e a procura pelo hotel foi rápida e rasteira, o primeiro que apareceu foi onde nos hospedamos. Era um hotel de seis estrelas, já que podíamos apreciá-las pela janela do “apartamento”. As aspas são propositais, pelo que vamos descrever a seguir. Comecemos pelo ar condicionado, que não tinha a tela da frente e fazia um barulho que mais parecia um Boeing em plena decolagem. Mas a parte mais engraçada estava reservada ao banheiro da “suíte”.




O equipamento utilizado na aventura.

Em se estando na bacia, recebíamos nas costas um jato de água, proveniente de um furo na caixa de descarga logo acima da mesma bacia. Ou seja, era a mistura de privada com bidê. Como o jeito era improvisar, usamos a o assento para sentar e a tampa para proteger as costas do jato de água que jorrava continuamente. Comentei que estávamos começando bem essa nova aventura. Na cama, um colchão que, a julgar pelo relevo, já havia enfrentado muitas batalhas, tais eram os calombos espalhados em sua superfície. E assim passamos a noite. Pela manhã (não vou nem comentar como era o café) saímos para as compras em geral. Com tudo comprado fomos para um local conhecido como Vinte e Um, que fica na estrada que liga Anastácio a Porto Murtinho, exatamente no km 21. Dali se pega uma estrada de terra que leva à cidade de Bonito. Após 30 km, chegamos à ponte sobre o rio Miranda. Descemos os barcos e após carrega-los iríamos definitivamente começar a aventura.  Integravam agora nossa equipe o Renato (filho do Orozimbo), o piloteiro Damião e o cozinheiro Agnaldo, ambos residentes em Miranda.

Tranqueiras do rio Miranda. 

O Orozimbo não foi, já que estava cheio de problemas para resolver, mas mandou seu filho para representar a Pantanal Tours. Despedimo-nos dele, que ficou na margem a acenar enquanto nos afastávamos. Eram 11 horas da manhã do dia 2 de abril. Além dos dois Karib 500, estávamos usando dois motores Suzuki 30 HP, sendo um de partida elétrica e outro de partida manual. Motores roncando, começamos a descida. Esse trecho do Miranda, senão perigoso, pode ser classificado como problemático, já que há muitas pedras, muitos baixios, galhadas no meio do rio e deve ser navegado com muito cuidado e devagar. Sua topografia em nada lembra o Pantanal, já que é um trecho de rio com barrancos altos de terra firme, onde a vegetação principal é formada de bambus. Navegamos por cerca de 40 Km e resolvemos parar em uma praia de barranco de areia, onde montamos o primeiro acampamento. Montamos nossas barracas tipo Iglu, da Coleman e descarregamos a tralha toda de um dos barcos (que iria servir para as pescarias), além de montar a barraca de cozinha e instalar o gerador da Suzuki.

Barrancos com bambu.

Em frente ao nosso acampamento, algumas galhadas de bambu dentro da água evidenciavam a toda hora o barulho dos peixes. Enquanto o cozinheiro começa a preparar o jantar, saímos para pescar, usando minhocoçu como isca. Até ao anoitecer, havíamos fisgados vários peixes, tais como pintados, jurupocas, jaús pequenos, palmitos, mandis e uma esmagadora maioria de armaus, ou se preferirem, abotoados. Vez por outra víamos evoluções de pacus e dourados. Veio a noite e após o jantar, foi hora de nos recolhermos às barracas para um merecido descanso. Havíamos levado uma barraca para cada membro da equipe, mas estranhamente o Damião e o Agnaldo preferiram dormir na mesma barraca, já que além de amigos são cunhados. Desligamos o gerador e o silêncio tomou conta do acampamento. Pelo menos por um breve período, já que da barraca dos dois vinha uma conversa animada, onde o assunto principal era sobre as “moçoilas” da cidade de Miranda.


Jurupoca. 

A princípio, o volume da conversa estava baixo, mas com a animação do assunto e a empolgação, foi aumentando até que ninguém mais conseguia dormir naquele acampamento. Essa conversa se prolongou por cerca de uma hora, tendo agora nossa participação, para saber de algum detalhe mais interessante ou algo que nos chamasse a atenção. Apelidamos a barraca dos dois de “gaiola das maritacas”, tal era algazarra que faziam. Finalmente, após falaram mal e bem da mulherada toda, pegaram no sono.
                                       SEGUNDO DIA: 3 DE ABRIL

Amanheceu e precisamos acordar o cozinheiro para fazer café. Este, muito sem graça, disse que estava muito cansado e que havia perdido a hora. Após o café, saímos para pescar e mais uma vez fisgamos jaús pequenos, pintados, jurupocas e alguns pacus prata. A nota maior fica por conta de um jaú grande que escapou (o maior sempre escapa), já que uma linha de bitola 0.60 mm não foi suficiente para segurá-lo. O sol era intenso e antes do almoço o jeito foi ficar dentro do rio, em um banho que demorou mais de duas horas. 

O primeiro acampamento.

Felizmente, veio uma bela trovoada, que serviu para refrescar um pouco. Calculamos cerca de 40 graus à sombra. No almoço, churrasco de costela, arroz e salada. À tarde, saímos para pescar e fisgamos as mesmas espécies de peixes. Veio a noite e a novidade maior foi um eclipse da lua muito bonito. Dormimos cedo, já que no dia seguinte iríamos seguir viagem pela manhã. Nessa noite, felizmente, a “gaiola das maritacas” permaneceu em silêncio.


                                        TERCEIRO DIA: 4 DE ABRIL

Amanhece um dia muito bonito e com muito sol. Após a secagem do sereno nas barracas, desmontamos tudo e carregamos os barcos, sendo que o café nesse dia saiu cedo. Exatamente às 09h30, os Suzukis foram ligados e começamos a descida. Nosso destino agora era a cidade de Miranda. Navegamos direto até as 15h00, quando chegamos ao Hotel Beira Rio. Nesse trajeto, o rio ainda mantém os mesmos barrancos altos com bambus. Passamos por alguns afluentes do Miranda, todos na margem esquerda de quem desce. São eles: rios Espirito Santo, Chapena e Betione. Depois do rio Betione, a vegetação começa a mudar um pouco e começam a aparecer algumas árvores. 

A beleza da fauna da região – Baguari.

Hotel Beira Rio.

Chamou-nos a atenção em especial o lixo existente no rio, composto principalmente por garrafas plásticas, latinhas de cerveja e detritos em geral. Descemos nesse trajeto aproximadamente 150 km e gastamos até aqui cerca de 120 litros de combustível. De acordo com nossa experiência, conseguimos perceber que esse trecho do rio é excelente para quem quer pescar peixes de couro (enquanto a água está turva, como estava) e quando a água fica limpa (isso acontece por volta de maio e junho), torna-se excelente para pacus e dourados. No Beira-Rio, o Roberto nos esperava. Logo depois chegou o Toninho do Beira-Rio, seu pai. A bem da verdade, deve ser dito que ele é o pioneiro na implantação de hotéis pesqueiros na região do Miranda. Pernoitamos no hotel e sentimos como é bom comer em um restaurante, tomar um banho de chuveiro e dormir numa cama macia e em um quarto com ar condicionado. Da parte do Toninho e do Roberto, tivemos autorização para mencionar que aos futuros aventureiros, o hotel fornece itens de infraestrutura como gasolina e gelo, além da hospedagem, se houver vaga.


Pintado.

Reabastecemo-nos dessas comodidades no hotel. Só para citar, o Beira-Rio fica em Miranda, na beira do rio, conta com quinze apartamentos completos e seus telefones para reservas são (067) 242-1262 e 242-1476 (NR: Devemos atualizar tais números). Esse hotel conta ainda com um posto avançado chamado de “flutuante”, na junção do rio Aquidauana com o Miranda, o qual por certo iríamos encontrar pois estava em nosso percurso.
                                         QUARTO DIA: 5 DE ABRIL

Exatamente às 8h30, despedimo-nos do pessoal do Beira-Rio e reiniciamos nossa viagem. Após meia hora da saída do hotel, cruzamos no rio com um enorme cardume de lambaris que, à nossa passagem, davam saltos para o ar, sendo que vários peixinhos caíram dentro do barco. Mais 15 minutos de descida e cruzamos por baixo da ponte da Estrada de Corumbá/Miranda. Lentamente a paisagem começa a mudar e após hora e meia, já se pode ter certeza de que se está em pleno Pantanal. Começam a aparecer os primeiros camalotes e muitos pássaros, tais como biguás, baguaris, garças, socós e até um isolado tuiuiu. 


Piraputanga.

À esquerda passamos pela foz do rio Salobra e à direita chegamos finalmente ao Aquidauana. Do Beira-Rio até à foz do Aquidauana foram seis horas de navegação. Na confluência desses dois rios há um posto da Polícia Florestal de Mato Grosso do Sul, onde dois policiais são os únicos responsáveis pela fiscalização. Subimos mais ou menos 500 metros no Aquidauana e encontramos um belo local para nosso segundo acampamento, em meio a uma mata de acuris (espécie de coqueiro nativo). Novamente montamos o acampamento, deixando barcos livres para podermos pescar. Fisgamos nessa etapa alguns dourados, piraputangas e até uma raia. Mas a grande maioria de peixes era de pacus, que fisgamos na modalidade de batida, usando tucum como isca. Por baixo, devemos ter fisgado mais de cem peixes dessa espécie, que foram todos liberados de volta às águas, com exceção de quatro que serviram para nossa alimentação. Tudo isso aconteceu no fim de tarde que nos restava. Até aqui havíamos gasto mais de 120 litros de combustível no percurso e mais 20 litros com as pescarias. Veio a noite tranquila e mais uma vez a “gaiola das maritacas” permaneceu em silêncio.

Jaú.                                            

                                     QUINTO DIA: 6 DE ABRIL


Após uma noite sob a maravilhosa lua cheia, acordamos cedo, já que nossa intenção agora é subir o Aquidauana até a barra do Touro Morto. Fizemos isso e após meia hora de barco, chegamos à barra desse belíssimo rio. Ao contrário do Aquidauana, que ainda estava com a água um pouco turva, o Touro Morto tinha suas águas completamente limpas e transparentes. Foi aí que tivemos uma visão surpreendente: o “ranchinho” de pesca do ex-governador de Mato Grosso do Sul, Pedro Pedrossian. Sua Excia. deve estar pescando muito bem por ali. Na barra, cardumes de piraputangas fazem a maior algazarra na água, dando caça aos lambaris e sauás. Fisgamos algumas e há muito tempo não víamos peixes dessa espécie e com esse tamanho, já que alguns pesavam perto de 1,5 kg. Com o Damião pilotando nosso barco, descemos eu e o Kenji batendo pacus. No outro barco, o Renato e o Valdecir faziam a mesma coisa. Pois bem, em uma descida de aproximadamente um quilômetro, fisgamos mais de 40 pacus nos dois barcos, sendo alguns de bom tamanho, mas a grande maioria abaixo do tamanho permitido.



O segundo acampamento. 

Todos os peixes foram soltos. No trajeto de volta fisgamos ainda alguns dourados, junto a paus caídos que formam pequena corredeiras (uma boa dica), onde jogávamos nossas iscas artificiais. Voltamos ao acampamento e após o almoço a diversão era, com varas telescópicas, ficar fisgando iscas. Sauás, piaus-três-pintas, piranhas, pirambebas, lambaris e piraputangas não dão tempo nem para a isca afundar. À tarde saímos novamente para pescar e os peixes foram os mesmos, tanto na quantidade, como no tamanho e nas espécies. Desta feita, seguramos um pacu e um dourado, já que o Damião disse que ia assar um peixe na folha de bananeira pantaneira. A receita é simples e vale a pena experimentar, já que o dourado ficou simplesmente sensacional. Abre-se e limpa-se o peixe somente tirando as vísceras. Faz-se um tempero com sal e limão e coloca-se um pouco de tomate e cebola a título de recheio. Embrulha-se o peixes nas folhas de bananeira (que na verdade não são de bananeira, mas de uma vegetação muito semelhante) e põe-se direto sobre a grelha. Sabe-se quando um lado está assado, já que o rabo do peixe vira para cima.

Rio Touro Morto.

Vira-se o peixe e aguarda-se o rabo fazer a mesma coisa do outro lado. Pronto: está assado. Tira-se o peixe do fogo e agora com uma faca, tira-se as folhas queimadas pela brasa e o couro do peixe. Assim está pronto para ser consumido. Veio a noite e só nos restava dormir. A “gaiola das maritacas” fez um pouco menos de silêncio, mas foi coisa passageira. O cansaço estava falando mais alto.


                                           SEXTO DIA: 7 DE ABRIL

Lembramos logo cedo que era domingo de Páscoa. Bem diferente de outros anos, já que por certo o coelhinho não iria nos encontrar perdidos naquele mundão. Mesma rotina, café e depois saída para a pescaria. Êta, vidinha dura! Resolvemos subir o Touro Morto e o fizemos por cerca de uma hora aproximadamente. No rio nota-se a presença de pacus, dourados e piraputangas. Voltamos batendo pacu e vez por outra lançamos mão da vara de carretilha com isca artificial quando algum lugar de corredeira nos chamava a atenção. Fisgamos vários peixes das três espécies. 



O “ranchinho”.

Voltamos para o acampamento, almoçamos e ficamos brincando com as iscas. À tarde resolvemos entrar nos campos atrás dos pacus. Não deu outra. Como desconfiávamos, os peixes maiores estavam lá. Fisgamos alguns pacus com mais de 5 kg, no sistema de batida e usando o tucum como isca. No horizonte, uma grande nuvem negra, vários raios e trovões faziam ameaças, sendo que a princípio não nos incomodamos já que a nuvem estava longe. E continuamos naquela vidinha de bater pacu. A nuvem vinha se aproximando e vez por outra dávamos uma olhadinha na cor do céu, até que alguém falou: “ô gente, não é melhor irmos embora?”. Dito e feito. Recolhemos as varas e tome motor roncando. Como o rio tem muitas curvas, às vezes a chuva dava a impressão de que ia desviar e em outras vezes parece que estamos entrando direto nela. Não deu outra: quando faltava mais ou menos um quilômetros para chegarmos ao acampamento, o mundo desabou. Quando o barco parou, estávamos molhados até os ossos e aí, mais uma vez, a exemplo de outros acampamentos, vem a frase da velha música: “nossas roupas comuns dependuradas na corda, qual bandeiras agitadas, parecia um estranho festival...”.

Dourado e pacu.



Sequência da pesca do pacu.

A noite, chegou e o cardápio desse jantar foi um belo churrasco. Antes de dormir arrumamos tudo já que logo cedo iríamos partir para a última etapa da viagem rumo a Corumbá.
                                            SÉTIMO DIA: 8 DE ABRIL

Amanheceu e a tarefa agora era desmontar as barracas, carregar os barcos e partir. Fizemos isso às 7 horas da manhã. No caminho passamos pelo flutuante do Beira-Rio, onde o Sr. Reginaldo nos brindou com um café. Seguimos viagem e por volta das 9 horas estávamos no Passo da Lontra. Nossa base agora era o Pesqueiro do Tadashi. Nesse trajeto, passamos os rios Negrinho e Vermelho, todos à direita de quem desce. Passamos também a ponte que liga Miranda a Corumbá. Gastamos cerca de 45 litros de gasolina nesse percurso. O Tadashi estava nos esperando e nos reabasteceu de gasolina. Com sua autorização citamos também o seu pesqueiro como base para gasolina, gelo e hospedagem (se houver vagas). Para os futuros aventureiros aqui vai a dica: o pesqueiro é de propriedade do Tadashi Kaminice Jr. 

Piau-três-pintas.

E fica situado 50 metros antes da ponte que liga Miranda ao Porto da Manga e seu telefone para contatos é (067) 422-3194. (NR: esse número deve ser atualizado). Despedimo-nos do Tadashi após um gostoso suco de laranja, café, pão de queijo e continuamos a descer o rio Miranda. Exatamente às 13h00 estávamos em sua foz com o rio Paraguai. Pegamos à direita e às 15h00 chegamos a Corumbá, fim de mais esta aventura. Nesse ultimo trecho gastamos cerca de 115 litros de combustível.
                                              
                                                     AGRADECIMENTOS

Queremos agradecer ao Orozimbo Decenzo da Pantanal Tours, ao Antonio Pereira Lima (Toninho) e seu filho Roberto, do Hotel Beira-Rio, ao Tadashi Kaminice Júnior, do Pesqueiro Tadashi, à Metalglass Industria e Comercio Ltda, à Suzuki Outboards, à Motul Óleos lubrificantes e principalmente aos amigos Valdecir, Renato, Kenji, Damião e Agnaldo que foram nossos companheiros em mais essa aventura. Por certo, sem a ajuda dessas pessoas, esse roteiro não teria tido o mesmo sucesso. Muito obrigado a todos.



Publicado na Revista Aruanã ed.51 em 06/1996.

sábado, 7 de maio de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL --- BEIJUPIRÁ












Nesta edição vamos conhecer o beijupirá, peixe marinho de características muito interessantes, prometendo uma pescaria que pode se transformar em uma verdadeira aventura.






Dependendo da região do Brasil onde é encontrado, este peixe é conhecido por vários nomes diferentes, sendo que o mais comum, porém, é “beijupirá” mesmo, e é como vamos chamá-lo aqui. A denominação científica da espécie a que nos referimos é Rachycentron canadus. Sua área de atuação estende-se desde os Estados Unidos até a Argentina, estando persente também em toda a costa brasileira. Comumente, esta espécie é habituada a viver em águas cuja profundida atinge até 20 metros, vindo, no entanto, buscar alimento na superfície. Esta particularidade já dá ao pescador a primeira dica, pois é na superfície que devemos tentar pescar o beijupirá, usando preferencialmente como isca pequenos peixes vivos, tais como sardinhas, manjubas, baiacus e até mesmo pequenos cações. A pesca com iscas artificiais dá bons resultados, principalmente quando a utilizamos na modalidade de corrico, sendo que para este peixe os modelos mais indicados são os plugs de tamanho grande, providos de barbelas. Quando fisgado, o beijupirá dá muito trabalho ao pescador até que esteja cansado suficiente para se entregar, sendo que o material mais recomendado é o de categoria pesada, ou seja: molinete ou carretilha de bom tamanho e linha de bitola 0,70mm. Quanto ao aspecto dessa espécie, podemos dizer que a cor predominante no dorso é marrom escuro, enquanto o ventre é esbranquiçado. Uma curiosidade com relação a estes peixes é o fato de gostarem de ficar próximos às arraias, principalmente as jamantas, já que elas têm o hábito de nadar perto do fundo para caçar moluscos e para isto revolvem a areia. Então, o beijupirá aproveita a vantagem de obter para si parte dos alimentos conseguidos pelas arraias neste processo. Um dos pesqueiros mais famosos deste peixe, fica em Conceição da Barra, no estado do Espírito Santo, onde há registros de captura de exemplares de 30kg. O recorde brasileiro para o beijupirá pertence a um exemplar que pesou 41,7kg e atingiu 2m de comprimento. Um outro hábito desta espécie é adentrar a boca dos canais e rios à beira-mar para vir de alimentar dos pequenos peixes que lá estão. Esses locais são excelentes pesqueiros de beijupirá, principalmente nos meses de novembro a maio. A carne do beijupirá é de excelente sabor, sendo que o podemos considerá-lo de um peixe de carne gorda. Conforme a região do Brasil, recebe ainda os seguintes nomes: beijo-pirá, biupirá, cação-de-escamas, peixe-rei, pirambiju e pirabiju. 

sexta-feira, 6 de maio de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - UIRAPURU




    UIRAPURU




Passarinho da Amazônia, e muito conhecido sob esta denominação, pois são várias lendas e superstições, aliás bastantes generalizadas, prendem-se  ao uirapuru. Assim o caçador faz questão de levar em sua patrona uma pele seca deste pássaro, para servir de mascote. Por isso: “ter um uirapuru”, significa ter sorte.




Diz J. Veríssimo “que o uirapuru é considerado como eficaz talismã para acarretar venturas a quem o possui. Não há muitos anos, rara era a taberna do interior que não tinha um destes pássaros enterrado à entrada ou suspenso dos umbrais das portas”. Cumpre notar que a maior parte desses taberneiros era europeus, portugueses. A procura deste pássaro é grande, principalmente porque é muito difícil apanha-lo vivo, como é mais estimado, e o sr. Couto de Magalhães refere que comprou um uirapuru morto, aqui no Pará, por 30$000. Qual é porém, zoologicamente, o verdadeiro uirapuru? Designa tal nome várias espécies de Piprídeos, dos gêneros Pipra e Chiroxphia, mais ou menos do feitio do “tangará” e de lindíssima plumagem, em parte preta, o que dá ainda maior realce ao vermelho escarlate ou amarelo intenso da cabeça e do peito; Pipra opalizans e caelestipileatus são nomes que demonstram quanto sua beleza empolgou os zoólogos ao crismarem tais espécies; são verdadeiras joias de penas refulgentes. Mas outros autores afirmam que o verdadeiro uirapuru, aquele que traz sorte, é um passarinho de roupagem simples, todo ele semelhante às corruíras. Tivemos em mãos um exemplar autêntico de uirapuru do alto Amazonas e o identificamos como Leucolepia modulator. Parece-nos que o mesmo nome muda de acepção conforme a região amazônica em que é empregado: no Pará são os Piprídios e no alto Amazonas as espécies do gênero Leucolepia. O poeta Humberto de Campos, ao compor o soneto “Irapuru”, referiu-se unicamente às faculdades musicais desse pássaro, o “Orfeu do seringal tranquilo”. Aludindo pois à Leucolepia musica, mais conhecida pelos nomes “Realejo” ou Músico”, o literato aplicou a esse pássaro e denominação “Uirapuru” em sua acepção mais ampla, numérica, que abrange de fato um variado número de espécies heterogêneas.
Bibliografia consultada:

Dicionário dos Animais do Brasil – Rodolpho Von Ihering
Foto e texto original e adaptado.