sexta-feira, 27 de maio de 2016

ESPECIAL: PACU NA BATIDA














Existem pescadores que não vêem a hora de tirar o peixe da água. Outros preferem demorar o máximo possível, procurando a maior esportividade que o peixe possa proporcionar. Para estes, sem dúvida, a pesca do pacu feita na modalidade de batida será a melhor indicação, pois não há nenhum peixe no Pantanal que brigue como o um pacu.













Tucum maduro iscado corretamente
O material para este tipo de pescaria é bem simples, mas nem por isso deixa de ser o mais esportivo. Basicamente se compõe de uma vara de bambu – a chamada vara caipira – de ponta grossa e resistente; uma linha do tamanho da vara, forte, como a de 0.80 mm, um pequeno encastoado de aço e um anzol especial de haste curta, forte e bastante resistente. A isca é um coquinho chamado tucum, que na época das cheias é a alimentação principal do pacu. Essa modalidade de pesca deve ser realizada embarcada, pois é com o barco que se consegue pescar em locais como os pequenos corixos, baías e campos, onde a permanência do pacu é constante. A primeira dica é conseguir a isca. Normalmente o tucum fica nas margens do rio, onde a vegetação é farta. Descobrindo um pé com frutos, deve-se agir com cuidado, pois no tronco e mesmo na parte do cacho de tucuns, existem espinhos muito perigosos, que ferem com certa gravidade.


                 Cacho de tucum

Outra dica é não cortar o cacho inteiro, pois será mais fácil conservar o coquinho mantendo-o no próprio coqueiro. Tire o necessário, que pode ser uma quantidade de 20 ou 30 caroços. Para iscar firme, coloque a ponta do anzol junto a caule do coquinho e vá virando e enterrando o anzol na fruta. Feito isso, vez por outra verifique se a fisga continua firme, pois poderá cair com a batida da isca na água. A melhor posição do barco é sempre junto às margens. Com um espaço de 2 ou 3 metros, e a batida da isca far-se-á sempre à frente e a favor da correnteza. A técnica de bater a isca é bastante simples e consiste em girar a vara por detrás do corpo, fazendo então a isca bater à frente. Para medir a força da batida, há uma regra a ser seguida: pegue um coquinho e jogue-o para cima, a uma altura de mais ou menos 3 metros, o que seria a altura de um pé de tucum na margem do rio.


Dentes perdidos na hora da briga

Ouça o barulho do tucum jogado e reproduza o mesmo som quando bater sua isca na água. Em edições anteriores, a Aruanã falou sobre os sentidos do peixe, e na ocasião dissemos que a audição é o sentido mais pronunciado em qualquer espécie de peixe. Evidente está que o pacu não é exceção. Muito pelo contrário, pois mesmo estando a diversos metros do local da batida, o pacu vem conferir a “comida fácil” que seria um coquinho recém caído do coqueiro. Para maior atração, dê duas ou três batidas imediatas, deixando então a isca afundar até que a ponta da vara fique mais ou menos 40 centímetros distantes da superfície da água. Deixe a isca até que a linha comece a ficar quase por baixo do barco. Tire a isca rápido e proceda duas ou três batidas novamente à frente. Essa operação deve ser repetida quantas vezes forem necessárias. 

Anzóis usados para pacu 92676 tamanho 5/0 a 8/0

Quando o peixe pegar a isca, perceber-se-á facilmente, pois o pacu abocanha o coquinho e corre. A fisgada deve ser firme e segura. Dificilmente o peixe conseguirá escapar, pois alguns costumam dizer que o “pacu se ferra sozinho”. Do nosso ponto de vista diríamos que isso é “quase verdade”, mas uma ferrada firme e segura será necessário. Um outro cuidado que o pescador deve ter é nunca dar ponta de vara ao peixe, pois se isso acontecer, a linha ou o anzol não resistirão à briga do pacu. Uma outra dica importante é segurar a vara de pesca e fazer com que o cabo, abraçado pela mão, tenha seu comprimento até o cotovelo, formando então uma espécie de alavanca. Nunca segure o cabo da vara só com a mão, já que é frustrante, por mais força que se tenha, ver que o peixe nos obriga a dar ponta de vara. Se quiser fazer a prova, faça, mas de antemão saiba que o resultado será sempre em favor do peixe, que não precisa ser grande, basta apenas que tenha 4 quilos para fazer isso com o pescador.

Corixo ideal para batida de pacu

Imagine agora quando for um pacu dos grandes, tipo 8 ou 9 quilos. Outra dica muito importante é o silêncio na embarcação. Até para o piloteiro remar, deverá ser observado o absoluto silêncio. Batidas no barco, ficar de pé ou usar o motor de popa, então, nem pensar. Todas essas dicas são coisa de pescador, que podem parecer difíceis de serem seguidas a princípio, mas se compreendidas e bem executadas, com certeza darão ao pescador que optar pela pesca de batida uma emoção que nenhum outro peixe pode causar. Em força e esportividade.

NOTA DA REDAÇÃO: Hoje, passado mais de 26 anos da publicação desta matéria na Revista Aruanã, revivo esses ensinamentos que em minha opinião, me foram passados pelo maior de todos os pescadores do Pantanal, que tive a honra e felicidade de conhecer e ser seu amigo: SEU JUJU. E isso não aconteceu somente agora, pois é comum quando o assunto é pacu, eu lembrar-me desse verdadeiro mestre dos mestres, que a muito deve estar pescando no céu. Sua benção MESTRE JUJU, que sabia, só de olhar para o rio Paraguai, onde o pacu estava.

Publicado na R. Aruanã ed. 17  em 08/1990

Nenhum comentário:

Postar um comentário