sábado, 27 de agosto de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - MACUCO









O macuco é um dos mais belos pássaros de nossas matas, por seu porte e elegância. Devido a essas características está quase em extinção, pelo menos na Mata Atlântica. Vamos conhece-lo um pouco melhor












O popular macuco é uma ave da família Tinamídeos, do gênero Tinamus. Podemos descrever cinco espécies dessa família. Na Amazônia, quatro delas são encontradas e são cientificamente descritas como Tinamus – crypturus, solitarius, serratus e tão. São aves de grande porte, maiores do que uma galinha, e sua coloração, dependendo da espécie varia muito pouco. Predomina então a cor bruno-avermelhada por cima, com algumas faixas pretas transversais. Na cabeça consegue-se notar em cima a cor bruno, com algumas manchas claras e, ao longo do pescoço, de cada lado, uma pequena estria amarela. Saindo-se da Amazônia, vamos encontrar o macuco em todo o nosso litoral, ou seja, onde ainda resta um pouco mata atlântica. Costuma viver nas matas, preferindo serras e grotões. Sua alimentação principal é a base de coquinhos vindo de diversos tipos de palmeiras, além de minhocas, vermes e insetos. Nessa predileção por coquinhos está o grande valor do macuco, já que, ao defecar, elimina as sementes, fazendo então a semeadura de tais palmeiras. Seus ovos são azuis, chegando a medir até 70 por 48 milímetros, e a ninhada pode ser de até 14 ovos. Os filhotes ao nascerem, parecem muitos com os pintinhos comuns, e sua coloração é amarelada com manchas pretas. Sem muito cuidado, faz seu ninho no chão, onde o período do “choco” muito se assemelha com o da galinha, ou seja, por volta de 21 dias. 


É uma ave muito procurada por caçadores pois, além de seu porte, é de excelente sabor. Sua caça é feita através de um piar característico, com o qual o caçador faz com que a ave se aproxime dele. Muito arisca, não se deixa enganar facilmente. O pio do macuco quando está no chão, consta apenas de uma nota prolongada; raras vezes ele varia e emite dois pios. Porém, quando empoleirado ao anoitecer, e isso em árvores altas, costuma repetir o pio três vezes e, depois desse sinal, não desce mais no chão. Infelizmente, caçadores não esportivos aproveitam-se da noite para, com auxilio de lanternas, dar caça ao macuco, que nessa hora é presa fácil e indefesa. A fêmea também emite o mesmo pio e, na época do acasalamento, costuma piar prolongadamente – o chamado chororocar, parecendo com um apito, só que em tom bem baixo. Sua caça é proibida, mas a sua quase extinção, não se deve aos caçadores, mas sim à destruição de seu habitat, que são as grandes matas naturais, principalmente a mata atlântica. É conhecido também, erradamente, pelos sinônimos de inhambu e jaó. Na Amazônia, recebe ainda o nome de “azulona” – este sim, mais perto da realidade tendo em vista seu colorido. O nome macuco deve provavelmente ter sido traduzido de Portugal, pois no país lusitano existe uma espécie da família dos melros que é chamada de macuco, mas não se pode afirmar isso com certeza.

Bibliografia consultada: Dicionário dos Animais do Brasil - R. Von Ihering


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - JAÚ



















Se fosse determinada uma classificação de peixes em relação a seu porte, certamente, o jaú estaria entre os “pesos pesados”. Vamos conhecer um pouco mais aquele que pode ser considerado o maior peixe do Pantanal.











Cientificamente denominado como Paulicea lutkeni, é um dos peixes que habitam tanto a Bacia Amazônica como a Bacia do Prata, da qual depende o Pantanal. Pode ser considerado o maior peixe do Pantanal, entretanto, na Bacia Amazônica tem como competidores a piraíba e o pirarucu. Pode atingir dois metros de comprimento e mais de 100 kg de peso. O jaú habita os poços mais fundos do rio e é aconselhável pescá-lo sempre embarcado, pois como barco solto a briga fica mais fácil. No entanto, quem se aventura nessa modalidade de pesca deve saber que algumas horas serão gastas – dependendo do tamanho do peixe – até que possamos vê-lo e apreciá-lo. O equipamento indicado para se pescar o jaú naturalmente é o de categoria pesada, englobando essa característica tanto a vara como a linha, além do anzol e da carretilha. Existem pescadores que costumam pescar esse peixe com linhadas de mão. Para isso será necessário usar uma “dedeira”, pois sem ela serão inevitáveis os profundos e dolorosos cortes nas mãos. Outro ponto importante: vários metros de linha, que deve ser de bitola 1.00 milímetro, devem estar disponíveis, para serem soltos na hora da luta. Entre as iscas preferidas do jaú estão a piramboia, o minhocoçu, e mais uma infinidade de peixes, tais como o curimbatá, a piaba e o cascudo, entre outros. Seus locais preferidos são os grandes remansos, e apesar de ser um peixe “liso”, ou de couro, as melhores horas para se tentar pesca-lo serão sempre ao alvorecer ou anoitecer, nesses locais. À noite, costuma deixar os “poções”, vindo para lugares mais rasos à procura de alimento. Sua carne é relativamente saborosa, sendo preparada na maioria das vezes em forma de charque ou então fresca, cozida. Em algumas regiões do Brasil, a população ribeirinha acredita que quem comer a carne do jaú terá erupções pelo corpo. Como dica para o pescador, é necessário que observemos que o jaú nunca abocanha a isca de uma só vez, costumando “mamar” antes de engolir. Portanto, a calma é fator essencial para que a fisgada ocorra oportunamente, ou seja, após o peixe engolir a isca.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

D E N U N C I A.










Nosso leitor habitual deve estar estranhando o título desta matéria. Mas apenas queremos provar o quanto é  fácil se tornar um profissional da pesca. Confira.




Publicado Revista Aruanã Ed.46 em 08/1995



Soltando a rede na praia

Na Revista Aruanã edição 46, de agosto de 1995, portanto, há exatos 16 anos -, nós fazíamos uma matéria onde o título era “Falsa Identidade”, que se configura como crime e está previsto no Código Penal em seu artigo 307. Nossa intenção na citada matéria era provar que o número de pescadores profissionais ou artesanais (se assim preferirem) existentes no Brasil era completamente falso. Hoje se fala em 800.000 pescadores. Digamos que esse número de carteiras até possa ser real, mas com certeza, as pessoas são falsas, ou melhor, não tem na pesca sua atividade principal. O Ibama, não sabendo como provar essa denuncia, não sabia o que fazer. Por nossa parte, sugerimos que fosse feita uma comparação entre o numero do CIC (NR: hoje CPF) e a atividade declarada no Imposto de Renda. Feito isso, foi comprovado que, só no estado de São Paulo, cerca de 40% das carteiras eram falsas. Prometeram tomar providências e, mais uma vez, mostraram sua incompetência, já que pouco ou nada mudou.


Puxando e arrastando de volta

Voltamos agora ao assunto, e desde já avisamos que os nomes próprios usados nesta matéria são fictícios, para resguardar a fonte e a integridade das pessoas nela envolvidas. Pedimos a um conhecido nosso, que nunca foi e nem pretende ser pescador profissional, que escolhesse uma “Colônia de Pescadores” e tentasse tirar sua carteira de pescador artesanal. Pois bem, o “Sr. Zé Lambari” escolheu a Colônia de Pescadores Z-21 Balthazar Fernandes, com sede à Rua Balthazar Fernandes, 250 em Sorocaba, no estado de São Paulo. Foi até lá, e de posse de uma foto 3X4 e outra 2X2, mais a taxa de R$40,00 a título de anuidade, e mais R$10,00 que é o custo da carteira, saiu registrado como pescador artesanal. Recebeu o número de matricula DPA e um número como Código da Entidade de Classe, mais o número de seu registro. A propósito, a carteira do Sr. Zé Lambari, está assinada pelo Sr. Hamilton J.V. Campos – Tesoureiro (esse nome é real). Assim sendo, o Sr. Zé Lambari, de posse desse registro, pode pescar em todo o estado de São Paulo, com os seguintes petrechos: linha de mão, caniço simples, molinete, espinhel, anzol de galho, colher, iscas artificiais, joão bobo, anzóis simples ou múltiplos, balão ou cavalinho.




A carteira profissional

Pode pescar ainda com: redes com malha igual ou superior a 120mm, feiticeira ou tresmalho, tarrafas com malha igual ou superior a 80mm. Nos rios da bacia do Rio Paraná (excetuando-se este) poderá usar: redes com malha igual ou superior a 70mm, redes de captura de isca (no máximo uma por pescador) e tarrafas com malha igual ou superior a 80mm. NAS REPRESAS OU LAGOAS ARTIFICIAIS, poderá usar redes com malha igual ou superior a 70 mm, rede para a captura de isca (idem, idem acima), além de tarrafa com malha igual ou superior a 50mm. Pronto, o pescador artesanal “só pode usar esses equipamentos”. Agora, uma verdadeira jóia, impressa em papel com o timbre do Ibama e que leva o título de “Normas gerais para o exercício da pesca profissional no estado de São Paulo”. Diz o texto: “as redes só poderão ser armadas com mais de 100 metros de distância uma da outra, PODENDO SE FAZER EMENDAS DE PANAGENS E MALHAGENS DIFERENTES PERMITIDAS, DESDE QUE NÃO ULTRAPASSEM 1/3 (um terço) DA LARGURA DO AMBIENTE AQUÁTICO”. E mais: “a carteira do pescador profissional emitida pelo Ibama é válida em todo o território nacional, sujeita às normas e leis de cada estado ou bacia hidrográfica”.



A “mensalidade” 

E para encerrar, mais uma pequena jóia do citado impresso: “é permitida a captura de no máximo 10% de exemplares com tamanho inferiores na tabela acima (tabela com o comprimento de cada espécie), sobre o total capturado por espécie.” Ou seja, eles podem, e os amadores não, capturar até 1% de peixes com tamanho inferiores aos permitidos por lei.  Fica a pergunta: quantos foram os pescadores que tiveram seus equipamentos e peixes apreendidos, foram multados, tiveram seus equipamentos e peixes apreendidos por estarem, por exemplo, com um só peixe, digamos um pintado, cuja medida era 1cm menor do que a permitida? Este é o meio ambiente do Brasil. Para encerrar, nós aconselhamos o Sr. Zé Lambari que devolvesse essa carteira de pescador profissional, já que ela foi tirada para provar, mais uma vez, a total falta de responsabilidade do Ibama em nosso país. Nós temos todos esses documentos aqui citados, em cópias autenticadas, para provar a veracidade dessa denúncia. E mais uma vez, ou seja, pela centésima vez, pedimos providências, já que está mais do que provado serem os pescadores profissionais responsáveis por uma "boa parte" da destruição de nossa ictiofauna.






Pescador profissional 

Ou então dane-se o meio ambiente, o Brasil, seus peixes e tudo o mais e vamos todos tirar nossa carteira de pescador profissional, já que para eles, tudo pode e para os amadores, resta os rigores da lei. E viva o Brasil.

NOTA DA REDAÇÃO: Novo século, novo milênio e as coisas melhoraram muito para os pobres pescadores artesanais/profissionais. “Algum tempo depois da data dessa matéria, o Ibama (como sempre) fez uma portaria ‘genial’ e em todo o Brasil” estabelecendo os períodos de defeso de várias espécies de peixes, proibindo a totalidade de pesca de peixes nela contidas e relacionadas. Só que, em uma medida de proteção à família dos pescadores, estabeleceu a quantia de um salário mínimo mensal, por pescador, durante todo o defeso. Mais uma vez indagamos, já que provamos que 40% dos pescadores só no estado de São Paulo eram falsos, quantos bilhões de reais foram gastos nessa medida? O ano passado, a presidente afastada do Brasil, negou alguns defesos e o pagamento de tais salários. Todos nós ouvimos a gritaria pelos direitos humanos e alguns até criticarem, não o defeso, mas sim o salário. 




A tabela de medidas dos peixes

Hoje nós temos as redes sociais onde e como em uma tribuna livre, diversas opiniões são expressadas veementemente. Em moda, o “pesca e solta”, o “cota zero” total e sem restrições e outras idiotices. Fotos mostrando alguns palhaços com “fieiras” enormes de peixes, pescados com anzóis, a demonstrar sua capacidade de pescadores. Denunciados, lá vai a Policia Ambiental e prende e multa os tais idiotas. Paga-se uma fiança e os presos vão para rua. Isso serve apenas de lição, para que não voltem a mostrar suas fotos em redes sociais, mas continuam pescando livremente. Só isso. E, enquanto isso, as redes e outros apetrechos continuam em ação pelos profissionais, autorizados por lei. E a nós, povo brasileiro, resta com o nosso rico dinheirinho, pagar um salário mínimo, a título de beneficio, para os “pobres” pescadores profissionais devidamente cadastrados. Isso, para que eles façam o favor de não pescar durante o “defeso”. O ultimo que sair, por favor, apague a luz.





Revista Aruanã Ed. 75 – Publicada em 08/2000

sábado, 13 de agosto de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - JURUPENCÉM













Não há dúvida alguma de que este peixe é um Pimelomidae, ou seja, da família dos populares “bagres”. Mas é um peixe muito especial. Vamos conferir.






Ao procurar nos livros científicos informações sobre o jurupencém, infelizmente encontramos dados como se seu nome fosse um sinônimo de jurupoca, ou surubim-lima. Na verdade, esses livros não estão corretos, já que nós pescadores, sabemos que tanto a jurupoca como o surubim-lima são peixes diferentes do jurupencém. No entanto, a classificação científica de sua família nos parece correta como um membro dos Pimelodidae. Isto porque quem já pescou qualquer um dos três peixes acima citados sabe que tanto no aspecto, como na coloração e tamanho, são espécies distintas entre si. O jurupencém, também conhecido vulgarmente como boca-de-pato, tem hábitos parecidos com os dois peixes citados. Em tupi-guarani, a tradução para seu nome seria “boca partida ou quebrada”, e isto sim estaria mais próximo do aspecto desse peixe. Sua coloração é parda em todo o corpo, com manchas e listras em cor escura, quase preta. Tem barbilhões como todos da sua família, bem como a barriga branca. Costuma estar no leito dos rios, sendo também seus melhores locais de pesca as praias e os poços mais profundos. Suas iscas principais serão sempre os pequenos peixes, tais como lambaris, sauás, sardinhas-de-água-doce, piaus e até tuviras e minhocoçus. Por vezes, em locais rasos, costuma atacar também as iscas artificiais, desde que essas passem ao alcance de sua boca. Está presente em todos os rios da Bacia do Prata e da Bacia Amazônica, portanto, em todo o território brasileiro. Um outro ponto onde também deve ser tentada a sua pesca são as galhadas de margem, onde haja relativa correnteza e pouca profundidade. O material para sua pesca pode ser o de categoria leve, já que seu peso atinge pouco mais de um quilo. Assim sendo, uma linha e bitola entre 0,25 e 0,35 milímetros está mais do que suficiente para traze-lo com segurança às mãos do pescador. Uma pequena chumbada oliva (30 gramas), um pequeno encastoado de aço (não tanto por ele, mas pelo ataque eventual de piranhas) e um anzol 1/0, e estaremos seguros para uma boa pescaria. Dependendo da região do Brasil, é também conhecido pelos nomes vulgares de jeripoca, braço-de-moça, boca-de-pato, boca-de-colher e mandiaçu.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

FOLCLORE DO BRASIL - A CRIAÇÃO DO MUNDO











Entre muitas lendas dos índios carajás, encontramos esta explicando a criação do mundo, que segundo eles teria se originado do furo das pedras e com a ajuda de um urubu.





Os índios carajás são originários de um mundo subterrâneo, ligado à terra apenas por um furo. Lá moravam os antepassados dos carajás, dos javaés e dos xambioás. Viviam felizes e morriam de velhice só mesmo depois de terem cansado de viver. Um dia, resolveram sair desse mundo subterrâneo para percorrer a terra. Entretanto, um deles não conseguiu passar seu corpo pelo furo da pedra por ser muito robusto. Ficou lá entalado. Os que estavam em terra, ao regressar, trouxeram-lhe frutos, comida e galhos secos de árvore. Ele observou e disse: “Não quero ir para este lugar. Aí as coisas morrem cedo. Vejam os galhos secos das árvores. Voltem para nosso lugar, onde viveremos para sempre”. Mas ele voltou sozinho para o fundo do buraco e os carajás ficaram em terra. Alimentavam-se com raízes e frutos do mato. Casavam, tinham filhos, e assim foram habitando a terra, que era completamente escura: não havia luz nenhuma. Um dia um menino foi colher raízes no mato e machucou a mão nos espinhos. Não enxergava direito naquela escuridão e pegou mandioca brava sem ver. Comeu e passou mal. Os urubus foram se aproximando para beliscar o menino, mas como ele ainda se movia, resolveram esperar. Um urubu-rei, de bico vermelho e cabelo ralo, chegou próximo e disse: “Ele está morto”. Pousou sobre a barriga do menino e ouviu-se um estalo... O menino agarrou o urubu-rei com as mãos. Ele se debateu, esperneou, tentou fugir, mas estava seguro. O menino pediu enfeites e o urubu respondeu: “Vou trazer”. Trouxe as estrelas do céu. O menino não gostou porque continuava escuro: “Quero outro enfeite”. O urubu trouxe a lua. E o menino respondeu: “Também não serve, ainda está escuro”. Então o urubu-rei trouxe o sol. E o menino ficou contente porque tudo ficou claro. Era o dia. O urubu-rei ensinou ao menino a utilidade de todas as coisas da terra, até que o menino o soltou. Nisso, lembrou de perguntar ao urubu qual era o segredo da eterna juventude. O urubu respondeu, mas infelizmente estava voando tão alto que ninguém escutou. É por isso que, segundo os carajás, ainda hoje nós envelhecemos e morremos.

Bibliografia consultada: Brasil – Histórias, costumes e lendas – Alceu Maynard Araújo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

AVENTURA NO RIO PARAGUAI MIRIM











Mais uma vez, nossa equipe vai até o Pantanal viver uma aventura em uma nova rota, que pode, agora, ser percorrida por todos os pescadores amadores. Acompanhe-nos nessa narrativa e divirta-se. Vale a pena!




Nossa equipe da esquerda para a direita: Antonio, Aluísio, Renato e Tonhão
O rio Paraguai Mirim era o ultimo dos desafios para que nossa equipe concluísse, praticamente, todo o Pantanal matogrossense. Somando-se os 350 km desse percurso às quilometragens de todos os roteiros anteriormente publicados, chegamos à marca de mais de 6.000km percorridos em rios pantaneiros, desde a nossa primeira aventura. Em princípio parecia fácil, pois 350 km é um trecho bastante pequeno em comparação a algumas de nossas aventuras. Porém, várias surpresas estavam reservadas para nós. Além de mim, faziam parte da equipe o Renato Decenzo de Corumbá – (NR: filho do Zimbo, que infelizmente está no céu junto com ele), o piloteiro Aluísio e o cozinheiro Tonhão. Antes de sair rumo ao Paraguai Mirim, permita-me dizer como foi minha viagem até Corumbá, ou melhor, em um trecho em particular: os últimos 12 km antes de chegar ao Passo da Lontra.

Os buracos na estrada
Realmente, é uma vergonha o governo de Mato Grosso do Sul permitir que essa “estrada” continue do jeito que está. Dizer que ela tem buracos é muito modesto. O melhor é afirmar que o asfalto, em metros, é mais fácil de medir do que o tamanho dos buracos. Demorei cerca de 1h20 para cumprir esse trecho, sem contar que os barcos que estavam amarrados na carreta quase caíram, tantos foram os trancos. Vai ver que é uma “estratégia inteligente” do governo sulmatogrossense para “preservar” o Pantanal, já que daqui a pouco ninguém mais vai conseguir chegar até esse local através da rodovia. O pior é que quem mora lá também não vai conseguir sair. Fico a imaginar o que devem achar os turistas que fazem esse percurso... Após o Passo da Lontra, a estrada melhora um pouco, mas aí começa outro grande problema. Para quem andou 12km em velocidade que não ultrapassa os 5km/hora, é inevitável aumentar a velocidade quando a estrada melhora. Pois bem. Essa velocidade que beira os 60km/hora é o suficiente para causar um desastre na fauna local.

Animais atropelados
Nessa viagem, tanto na ida como na volta constatamos vários animais atropelados, entre eles: capivaras, tamanduás-bandeira (em extinção), sucuris, jacarés, cachorros-do-mato, lontras (em extinção), além de urubus e gaviões que também são atropelados enquanto devoram as animais mortos. A caça da maneira tradicional está proibida. Matar por atropelamento, não. Não podemos culpar os motoristas, pois os bichos saem do mato de repente e são mortos, já que não há tempo para qualquer reação. Só para constar, lembro-me de viagens ao exterior, mais precisamente à Noruega e Finlândia, onde pude ver as cercas colocadas ao longo de toda a extensão das estradas, induzindo os animais a atravessar onde não haja perigo algum, ou seja, por passagens subterrâneas ou pontes especiais. Exigir do governo sulmatogrossense que providencie cercas desse tipo parece piada. Se a própria estrada já é um exemplo de abandono, que dizer de cercas para proteger animais?

Moradores ribeirinhos
E continua a brincadeira de ecologia, ou melhor, continuam a serem omissas e irresponsáveis, as autoridades responsáveis pelo meio ambiente no Brasil. Pois bem. Às 8.30h, nossos dois barcos Marfin da Levefort, estavam carregados com cerca de 500 kg de carga cada um e prontos para partir. Nas popas, dois motores Tohatsu, respectivamente de 30 e 40 HP. Nossa intenção era, saindo de Corumbá, descer o Paraguai, entrar no Paraguai Mirim, percorrer toda a sua extensão, sair novamente na boca de cima no rio Paraguai e descer por este até Corumbá novamente, completando assim os 350 km desse percurso. Mas havia um problema: seria praticamente impossível realizar pescarias nesse trecho, pois havíamos recebido notícias de que nesses dois rios havia a “decoada” (veja quadro específico sobre esse problema). Começamos a aventura e, após 40 minutos de navegação, avistamos a foz do Paraguai Mirim. Entramos por ele e depois de mais uma hora de navegação, encontramos o rio Negro.


O acampamento
Navegamos ainda mais 40 minutos por esse rio até chegarmos ao nosso primeiro acampamento. Devido às cheias, havia poucas opções de acampamento, pois os barrancos estavam quase todos submersos. Finalmente achamos um ponto alto e seco e montamos o acampamento. Quem conhece o rio Negro como nós o conhecemos há alguns anos atrás, com suas águas completamente cristalinas, estranha um pouco... agora, suas águas são barrentas e a correnteza é bem mais forte. A explicação é simples: em outra aventura percorremos todo o Taquari, e naquela ocasião denunciávamos que o rio estava sendo assoreado.  Pois bem, essa terra veio descendo e a saída do Taquari no rio Paraguai, perto do Porto da Manga, foi bloqueada. Restou então ao Taquari abrir uma nova passagem para suas águas, que correm agora em direção ao rio Negro, alagando grande parte de terreno outrora bom e seco.

Rio Negro
Com esse alagamento, milhões de árvores morreram, estando hoje seus “esqueletos” de galhos secos a apontar para o céu. É uma visão aterradora, parece que aquelas tristes estruturas estão a invocar o céu pedindo proteção, denunciando e confirmando que as autoridades do meio ambiente em nosso país são uma piada de muito mau gosto. As fotos desta edição dizem mais do que mil palavras. Vamos em frente. Montamos nossas barracas Coleman tipo Iglu, e desta feita contamos com mais uma comodidade: os colchonetes infláveis Coleman, que tornaram nossas noites muito mais confortáveis. Às 4h00 da tarde estava tudo pronto e restou-nos apenas começar aquela “vida dura” de pescaria. Sabíamos de antemão que Pantanal “subindo” (e o nível das águas esteve subindo muito) não é o ideal para a pesca. Mas uma revista séria e honesta como é a Aruanã tem a obrigação de realizar seus roteiros com antecedência suficiente para possibilitar que a publicação da matéria coincida com a época boa, que será a partir do mês de abril.

Foz do rio Paraguai Mirim
Afinal, de que adiantaria irmos para lá na melhor época e publicar a matéria depois que ela tivesse passado? O importante é oferecer ao nosso leitor a melhor oportunidade de ir pescar no Pantanal. Restava-nos ir atrás do peixe mais “fácil” da ocasião: o pacu. E ele se fez presente. Nos quatro dias em que estivemos no rio Negro, fisgamos vários pacus na modalidade de batida com isca de tucum, todos dentro do limite de captura. No segundo dia aconteceu uma coisa inédita, que confirma a sina de pescador, pois se contada, todos vão dizer que é mentira. Mas já que tenho os companheiros de equipe como testemunhas, vamos ao fato. Descíamos batendo nossas iscas no rio Negro quando, perto de um corixo de águas limpas, um peixe fisgou e após uma breve briga ele saltou e se mostrou: um dourado. Pois é, prezado leitor, acredite se quiser, mas afirmo que em mais de 30 anos de pescaria no Pantanal, pela primeira vez fisguei um dourado em isca de tucum na modalidade de batida.


Barco em movimento 
Esse foi o único. Outra coisa nessa viagem que nos chamou a atenção aconteceu quando o Aluísio sugeriu que entrássemos nos corixos rasos atrás dos pacus. Para se ter uma idéia, a profundidade desses corixos era de pouco mais de um metro. Nesse caso, a batida da isca tem que ser diferente, pois assim que ela toca no fundo – e isso é rápido – deve-se tira-la e bater novamente. É diferente do rio, onde após a batida deixa-se a isca afundar para só depois tira-la para nova batida quando a linha da vara de bambu começa a entrar por baixo do barco. No raso, apesar de ser muito mais trabalhoso, quando o pacu ferra é sensacional, já que ele briga mais para os lados. Graças ao Aluísio aprendi mais essa dica, o que vem confirmar que, em matéria de pescarias, quanto mais se vive, mais se aprende. Passamos nesse acampamento quatro dias maravilhosos e tomávamos banho nos corixos, onde a água ainda é cristalina. Muitos pescadores conhecem as cenas exibidas na televisão sobre a região de Bonito.


Palmito
Pois bem, os corixos do rio Negro têm suas águas tão limpas quanto os de Bonito. Do barco, basta olhar para a água para avistar várias espécies de peixes em profundidade que chegam a mais de cinco metros. É mesmo um aquário natural com plantas subaquáticas de várias cores, num espetáculo de rara beleza. A partir de abril, recomendamos aos pescadores que forem ao rio Negro que pesquem, principalmente, nas corredeiras (existem muitas), pois a presença de dourados e pintados é maciça. Restarão também os pacus que, nessa época além da pesca de batida, poderão ser fisgados com o barco apoitado usando-se o caranguejo como isca. Para o dourado e o pintado, três iscas são recomendáveis: jeju, tuvira e iscas brancas (sardinha, lambari, piau, etc), além lógico, das artificiais com barbela. Feito o acampamento, restava-nos seguir viagem para mostrar o percurso total do Paraguai Mirim, que é um rio de excelente piscosidade. Nessa viagem, como já havíamos dito a “decoada” atrapalhou totalmente a pescaria.

Destruição da floresta

Pacu

Encontro das águas dos rios Negro e Taquari 
Segundo nossos piloteiros, de onde estávamos até a entrada do Mirim no Paraguai gastaríamos cerca de 3 horas. Mal sabíamos o que nos esperava. Seguimos tranquilamente, quando de repente o rio fechou. Moitas e moitas de camalotes trancavam totalmente o leito do rio. Confiantes na própria experiência, os piloteiros afirmavam que conseguiríamos passar. Restou-nos ficar calados e esperar para ver no que aquilo ia dar. A “operação rio limpo” começou. No Marfin da frente estavam o Aluísio e o Tonhão, enquanto eu e o Renato ficamos no barco de trás. Os piloteiros colocavam os remos em cima do camalote, pisavam neles para maior sustentação e empurravam o barco pelo meio das moitas. Quando venciam mais ou menos dez metros, uma corda que unia os dois barcos era puxada por nós para alcança-los na distância percorrida. O calor era insuportável e tudo ficava ainda mais difícil por estarmos fazendo força. Não pretendo me alongar demais nessa narrativa, basta apenas dizer que “achamos” cinco pontos do rio trancados.

Tucum

O dourado do tucum

O beco sem saída
Os dois primeiros foram vencidos da maneira descrita, mas os três restantes só foram vencidos graças à potência dos motores Tohatsu, que foram submetidos a essa dura prova e saíram-se muito bem. A única preocupação era verificar se a bomba de água estava resfriando o motor e limpar as hélices, o que fazíamos a cada 5 metros, devido ao acúmulo de aguapés nas mesmas. Nesse ponto, é importante dar um crédito a essa nova marca de motor de popa. Nunca, em tempo algum, forçamos motores de popa como fizemos com esses dois Tohatsu. O caso era que o cansaço já nos dominava a todos, e o jeito foi apelar para a força dos motores, que suportaram tudo tranquilamente, e se isso servir como teste de campo, os Tohatsu foram aprovados sem qualquer restrição. Para fazer o percurso que normalmente levaria três horas, acabamos gastando o dobro de tempo. Finalmente, com o rio limpo à frente, era só acelerar e ganhar distância. Faltava pouco mais de meia hora para sairmos no rio Paraguai, quando tranquilamente uma sucuri atravessou o rio à nossa frente.

Onde esta o rio? 
Entreolhamo-nos e a decisão foi unânime: vamos pega-la para fotografar. Dito e feito. Só que a sucuri, que tinha cerca de cinco metros, já havia chegado perto da margem e estava enroscada nos galhos de uma árvore caída. Três de nós a agarramos pelo rabo e tentamos arrasta-la para o rio. Esse “braço de ferro” durou cerca de dez minutos, atestando a força descomunal da cobra. Fora da água, desde que se segure muito bem sua cabeça, a sucuri não oferece perigo algum. Fizemos as fotos e liberamos a cobra, que seguiu sua viagem, assim como nós. Deixamos o Paraguai Mirim às 14h20 e exatamente às 17h30 chegávamos a Corumbá, finalizando o percurso. Aqui vão alguns detalhes da viagem: gastamos cerca de 250 litros de combustível no trajeto e nas pescarias. Para os futuros aventureiros, recomendamos que se informem antes sobre as condições do rio Paraguai Mirim, pois se ele estiver fechado a melhor opção é mesmo adiar a viagem, evitando assim grandes problemas.


Sucuri
Por outro lado, recomendamos o rio Negro como um excelente local de pescaria, principalmente devido à sua proximidade de Corumbá. Finalmente nossos agradecimentos ao Aluísio e ao Tonhão que podem ser contatados através da Igaratá Turismo, em São Paulo, pelo telefone (011) 62-7810. (NR: A Igaratá Turismo, segundo nossas fontes ainda opera no Pantanal, no entanto, o telefone de S.Paulo, deve ser confirmado). Agradeço também ao Renato Decenzo, nosso companheiro de outras aventuras. Um agradecimento ao Edgar da Igaratá, sempre presente nas páginas da Aruanã, através dos anúncios de seu barco hotel. Se não pudéssemos ter contado com a valiosa ajuda dele, certamente nossa viagem teria sido muito mais difícil. Concluindo, dedico um agradecimento especial à Levefort pela cessão dos dois barcos modelo Marfim; à Abrasu pela cessão dos dois motores Tohatsu; à Motul Óleos Lubrificantes pelo fornecimento do óleo dois tempos e à Coleman pela cessão das barracas e colchões infláveis. São todos produtos de primeira linha e satisfizeram completamente nossas exigências, sendo que podemos seguramente recomenda-los a nossos leitores.




Publicado na Revista Aruanã ed. 56 em 04/1997




terça-feira, 2 de agosto de 2016

ESPECIAL: UMA LINDA HISTÓRIA DE AMOR



















Contamos aqui uma linda história de amor, na vida de um pescador amador. Pelos motivos que se seguem, deixamos de identificar o pescador. Mas ele ainda pesca e é um membro muito ativo de nossa comunidade. Salve o amor e plagiando o poeta “que seja eterno enquanto dure”.
                                                                                     






     Lua cheia – A lua dos namorados  -  Foto Kenji Honda
Que atire a primeira pedra àquele que nunca sentiu um grande amor. E o sentir no caso, é quase ter a certeza de que é o amor de sua vida. As vezes, o destino não quer que isso seja o futuro do casal e então, como começou, pode se dissipar calmamente, ou não, no decorrer do tempo. Nesse caso em específico, a Revista Aruanã teve uma pequena participação, mas bastante peculiar. Em principio engraçada e romântica, com o tempo tornou-se um pequeno problema, que foi facilmente solucionado pelo nosso personagem pescador, que saiu desse “enrosco” magistralmente, como todo bom pescador amador. Para que o personagem crie uma identidade fictícia, apesar de real sua participação, vamos passar a chama-lo de ROMEU. Pois bem, tudo começou em uma festa na cidade onde os dois moravam. Essa cidade fica bem perto das barrancas do grande rio Grande. O leitor imagine qual possa ser. Não é importante essa identificação. Do primeiro olhar, ao namoro e ao primeiro beijo, corações palpitavam mais rapidamente em nosso casal. Descobriam pouco a pouco seus segredos de uso e de costumes. Ficou ela sabendo que Romeu tinha na pesca amadora uma de suas outras paixões.
                                                                          

Por do sol – Amar é muito bom

A data desse namoro era em meados do ano de 1999. Outra paixão de Romeu era colecionar a Revista Aruanã desde os primeiros números. Tinha todos. Sua amada, sabedora disso, ao passar por uma banca de jornal viu nas prateleiras o mais novo exemplar da Aruanã, no caso a edição 67 de fevereiro de 1999. Não teve dúvidas, comprou uma revista para presentear seu amado, só que com algumas coisinhas a mais, que lógico não faziam parte das matérias impressas: recheou as páginas daquela edição com frases e declarações de amor escritas do próprio punho. Era tanto amor, que poucas páginas passaram sem uma intervenção, de maior ou menor intensidade amorosa, tal era sua paixão por Romeu. Deu a revista de presente ao nosso “herói”. Isso para Romeu mostrava mais uma forma afirmativa do amor que os unia e, quantas noites longe de sua amada, matava as saudades vendo os “escritos” por ela rabiscados na revista com tanto amor e carinho. Como os opostos se atraem, sua amada não era uma pescadora e também não o acompanhava em suas incursões nas represas do rio Grande e em outros locais.




As “provas do crime” 

Preferia ela sim, espera-lo de volta, cansado, mas satisfeito pela pescaria, para cair em seus braços ansiosos e marcados pela sua ausência temporária. Fato que pode ser comum mas não corriqueiro, este nosso casal, por motivos que não vem ao caso, se separaram. Para se esquecer um grande amor, nada mais efetivo que cansar o corpo e a mente, o que Romeu seguiu a risca – pescou e muito nos meses subsequentes. Passado algum tempo, voltou a namorar e agora sim com o verdadeiro amor de sua vida, que após namoro e noivado, casaram e estão muitos felizes até hoje e já planejando aumentar a família. Como é comum, além dos móveis e mobília nova, cada um levou para o novo lar, suas coisas pessoais, inclusive da parte de Romeu, sua coleção da Aruanã. Mas de repente, nosso herói imaginou se casualmente aquela edição 67 de Revista Aruanã caísse em mãos de sua esposa. Aflito, já que a Aruanã tinha encerrado sua publicação em 2001/2002, ficou difícil achar essa edição novamente, mesmo tentando por diversos meios, sem o conseguir. Pescador que é, "achou” a solução que o nosso leitor de agora pode verificar nas fotos que ilustram esta postagem. 
                                               
                                                   FIM  -   THE END