sábado, 29 de outubro de 2016

FOLCLORE BRASILEIRO - O PEIXE DE OLHOS DE FOGO










Em vários pontos do litoral do Brasil acredita-se nesta lenda, e quando as pescarias dos caiçaras tornam-se inexplicavelmente improdutivas, ele é sempre lembrado: “é preciso apagar o fogo dos olhos do peixe de olhos de fogo”.






Diz a lenda que o peixe de olhos de fogo mora há milhares de anos numa caverna próxima do mar, e a população das proximidades, ao ir aumentando e precisar dos peixes e frutos do mar para seu sustento, acaba despertando sua ira. Então o monstro sai da gruta, não deixa o mar dar peixes, vira os barcos e engole os pescadores. Não deixa ninguém entrar no mar. A coisa chega a tal ponto que as pessoas ficam arriscadas a morrer de fome. Certa vez, um rapaz, vendo a fome e o medo assolarem seu povo, resolveu ao encontro do tal peixe encantado, e tratou de encontrar a gruta. Cada vez que o peixe surgia, ele observava a direção tomada pelo monstro ao voltar. Pouco a pouco, foi se aproximando de uns morros não muito longe dali. Certo dia, sentado em um desses morros, o rapaz, que se chamava Pedro, viu o monstro surgir lá longe, com os olhos faiscando. Foi chegando, chegando e sumiu no morro onde Pedro estava. Então era ali o esconderijo! Dentro da caverna havia mais água do que terra. Pedro ficou próximo ao peixe e tratou de ficar o mais quieto possível. Percebeu que o monstro estava dormindo, pois esse peixe pode fechar os olhos. Procurou o lugar mais alto da gruta e ficou à espera. Passado algum tempo, o peixe acordou, e grandes chamas começaram a sair de seus olhos. Quando percebeu que havia um homem na gruta, fez de tudo para engoli-lo. Vendo que não conseguia, pois o rapaz estava num lugar alto, o peixe disse – O que você veio fazer em minha gruta? – Vim pedir para nos deixar em paz? – Em paz? Vocês é que invadem meus domínios e ainda vêm me pedir paz? O mar me pertence, e eu não permito ninguém nele! – Mas vamos morrer de fome? E os velhos, mulheres e crianças? Tenha pena de nós! – Ter pena? Nem sonhando. Pois que morram, e o quanto mais rápido melhor! Pedro não suportando mais o calor provocado pelo fogo dos olhos do peixe, disse que desejava sair. O monstro, furioso aumentou as labaredas dos olhos e disse: - Daqui não sairá mais! Vou assá-lo como um peixe e depois vou engoli-lo. A esta altura, Pedro já se sentia quase desmaiado, mas como não podia desanimar-se e, sendo um grande observador, havia notado que o peixe tomava muito cuidado para evitar que a água molhasse seus olhos, sempre se desviando das ondas. O rapaz então atirou-se na água, fazendo que uma grande onda se formasse e atingisse os olhos do peixe, apagando as chamas. – Você me cegou! – exclamou o monstro furioso – Agora terei que esperar cem anos para que meus olhos se acendam de novo. Pedro, aproveitando a cegueira do monstro, tratou de sair depressa da gruta. No dia seguinte, a pesca foi farta e o povoado estava em festa. Cem anos depois, o peixe voltou e as desgraças voltaram a acontecer. Só que desta vez, ele não aparecia, com medo que apagassem seus olhos. Foi preciso que outro jovem fosse enfrentá-lo na caverna. E assim, de cem em cem anos, ele volta sempre para prejudicar os pescadores e seu povo, até que alguém o enfrente. Porém ele nunca mais se deixou ver...

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