Em vários pontos do litoral do Brasil acredita-se nesta
lenda, e quando as pescarias dos caiçaras tornam-se inexplicavelmente
improdutivas, ele é sempre lembrado: “é preciso apagar o fogo dos olhos do
peixe de olhos de fogo”.
Diz a lenda que o peixe de olhos de fogo mora há milhares de
anos numa caverna próxima do mar, e a população das proximidades, ao ir
aumentando e precisar dos peixes e frutos do mar para seu sustento, acaba
despertando sua ira. Então o monstro sai da gruta, não deixa o mar dar peixes,
vira os barcos e engole os pescadores. Não deixa ninguém entrar no mar. A coisa
chega a tal ponto que as pessoas ficam arriscadas a morrer de fome. Certa vez,
um rapaz, vendo a fome e o medo assolarem seu povo, resolveu ao encontro do tal
peixe encantado, e tratou de encontrar a gruta. Cada vez que o peixe surgia,
ele observava a direção tomada pelo monstro ao voltar. Pouco a pouco, foi se
aproximando de uns morros não muito longe dali. Certo dia, sentado em um desses
morros, o rapaz, que se chamava Pedro, viu o monstro surgir lá longe, com os
olhos faiscando. Foi chegando, chegando e sumiu no morro onde Pedro estava.
Então era ali o esconderijo! Dentro da caverna havia mais água do que terra.
Pedro ficou próximo ao peixe e tratou de ficar o mais quieto possível. Percebeu
que o monstro estava dormindo, pois esse peixe pode fechar os olhos. Procurou o
lugar mais alto da gruta e ficou à espera. Passado algum tempo, o peixe
acordou, e grandes chamas começaram a sair de seus olhos. Quando percebeu que
havia um homem na gruta, fez de tudo para engoli-lo. Vendo que não conseguia,
pois o rapaz estava num lugar alto, o peixe disse – O que você veio fazer em
minha gruta? – Vim pedir para nos deixar em paz? – Em paz? Vocês é que invadem
meus domínios e ainda vêm me pedir paz? O mar me pertence, e eu não permito
ninguém nele! – Mas vamos morrer de fome? E os velhos, mulheres e crianças?
Tenha pena de nós! – Ter pena? Nem sonhando. Pois que morram, e o quanto mais
rápido melhor! Pedro não suportando mais o calor provocado pelo fogo dos olhos
do peixe, disse que desejava sair. O monstro, furioso aumentou as labaredas dos
olhos e disse: - Daqui não sairá mais! Vou assá-lo como um peixe e depois vou engoli-lo.
A esta altura, Pedro já se sentia quase desmaiado, mas como não podia
desanimar-se e, sendo um grande observador, havia notado que o peixe tomava
muito cuidado para evitar que a água molhasse seus olhos, sempre se desviando
das ondas. O rapaz então atirou-se na água, fazendo que uma grande onda se
formasse e atingisse os olhos do peixe, apagando as chamas. – Você me cegou! –
exclamou o monstro furioso – Agora terei que esperar cem anos para que meus
olhos se acendam de novo. Pedro, aproveitando a cegueira do monstro, tratou de
sair depressa da gruta. No dia seguinte, a pesca foi farta e o povoado estava
em festa. Cem anos depois, o peixe voltou e as desgraças voltaram a acontecer.
Só que desta vez, ele não aparecia, com medo que apagassem seus olhos. Foi
preciso que outro jovem fosse enfrentá-lo na caverna. E
assim, de cem em cem anos, ele volta sempre para prejudicar os pescadores e seu
povo, até que alguém o enfrente. Porém ele nunca mais se deixou ver...
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