sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

EQUIPAMENTO - FREIO: REGULE-O











Na ânsia de começar a pescar, muitas vezes o pescador amador esquece de um detalhe muito importante: a regulagem do freio de seu equipamento. Este simples detalhe pode causar ao pescador a pior coisa que pode acontecer em sua pescaria: o peixe rompe a linha e está definitivamente perdido.


O detalhe acima na foto à esquerda: a origem. Bons tempos.


Qualquer que seja o equipamento de pesca, molinete ou carretilha, este estará provido de um detalhe muito importante para a pescaria: o freio, também chamado de fricção, ou, se preferirem, embreagem. Vários são os tipos e modelos deste importante detalhe. Sua forma de ação depende do equipamento ou de sua marca. Normalmente, são parafusos ou discos de aperto que regulam a compressão do carretel, para que a linha de pesca saia com determinada pressão escolhida pelo pescador, sempre tendo em vista a resistência da linha, ou o tipo de pesca que se estiver realizando. Qualquer que seja a marca da linha que usarmos, no carretel onde ela está acondicionada estarão marcadas as especificações do fabricante para a resistência da mesma, seja em libras ou em quilos. No caso de linhas nacionais, essa marcação quase sempre estará em quilos e libras. Já nas linhas importadas, a resistência da linha estará marcada somente em libras. Para entender perfeitamente este artigo, aqui está a regra de conversão de libras para quilos: 1 libra equivale a 453,59 gramas. Exemplo: para uma linha importada, cuja marcação seja de 6 libras de resistência, é só fazer a multiplicação de 6 por 453, 59, onde obteremos o resultado de 2 quilos e 721 gramas. Pois bem, escolhida a linha adequada ao tipo de pescaria que vamos fazer, restará então regular o freio, para que ela resista a essa pressão sem se partir, e quando o peixe estiver lutando, que o freio dê linha ao peixe automaticamente. Para proceder corretamente à regulagem da fricção, deverá o pescador obter uma balança pequena, que marque o peso sob pressão suspensa. 


Essa balança deverá ser fixada em um ponto firme, de preferência com uma fita ou corda que não laceie. Com o equipamento montado, ou seja, vara, molinete ou carretilha e linha passando por todos os passadores e ponteira, daremos uma distância da balança de 1 metro aproximadamente. Na ponta da linha do equipamento, faremos uma laçada que será engatada na balança. Fecha-se toda a fricção, enverga-se a vara ao máximo possível e lentamente iremos afrouxando o parafuso da fricção. A marcação ideal para a regulagem certa com a linha que estiver pescando, deverá sempre obedecer a 1/5 (um quinto) do peso de resistência marcado. Exemplo: para uma linha cuja resistência seja de 10 quilos, regula-se a fricção para 2 quilos (10 divididos por 5 igual a 2). Novamente iremos fechar a fricção e envergar a vara. Agora sim, como sabemos que a regulagem deverá ser de 2 quilos, a força para a envergadura da vara será aquela em que o marcador da balança acusar a marca de 2 quilos. Solta-se o parafuso da fricção lentamente e quando ela sozinha der linha, estará então regulada para os dois quilos desejados. Faça um teste. Deixe a vara na posição normal e vá lentamente fazendo força com a mesma, como se estivesse brigando com um peixe. Se a regulagem foi bem feita, quando o parafuso da balança atingir a marca, neste caso de 2 quilos, a fricção soltará a linha automaticamente. Com uma regulagem como essa, jamais um peixe, seja ele qual for, irá romper a sua linha de pesca. 



      Alguns equipamentos mostram este desenho

Como dica final, recomenda-se sempre após uma pescaria, lubrificar a engrenagem da fricção e, importante, antes de guardar o molinete ou a carretilha, deixar a fricção completamente solta ou aberta. Esse procedimento fará com que os discos que compõe a fricção fiquem sempre livres e soltos, aumentando com isso a durabilidade dos mesmos. Como cada pescaria é uma pescaria, regule a fricção de seu equipamento toda a vez que for pescar. Afinal de contas, apesar desse trabalho, o prêmio maior será o peixe bem trabalhado e devidamente embarcado. Para a alegria de todos nós.
Nota da Redação: Antes que algum “mestre” se pronuncie, na data da publicação desta postagem, era evidente que mostrávamos com regular uma fricção de um equipamento de uma maneira certa e correta. Evidente está que após muita pratica, a “regulagem” do equipamento será feita com um puxão na linha, o que nos dirá se ela, a fricção, está regulada ao nosso gosto. Mais um detalhe: na pesca de peixes que vão para obstáculos para tentar se livrar do anzol, podemos então, com o auxilio da mão tentar brecar a corrida do peixe, segurando o carretel. Mas isso é uma outra história que fica para uma outra vez.




Revista Aruanã Ed: nº9 – Fevereiro de 1989

sábado, 24 de dezembro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - SUCURI











Em tupi guarani, sucuri significa “a que morde rápido, atira o bote”. Cientificamente, essa serpente é classificada como Ennectes murinus.





Em seu livro, Dicionário Animais do Brasil, Von Ihering dá uma descrição ampla desse réptil. Diz ele: “É a maior serpente do mundo, pois só tem como rival em tamanho a Python reticulatus das ilhas em Sumatra e Bornéo, que atinge 10 m de comprimento”. O maior espécime autenticado de sucuri, guardado no museu de Londres, mede 20 pés (8,7 m). temos notícia exata de um sucuri de 11,28 m de comprimento, (infelizmente foi apenas contado por “caçador”, que os maiores exemplares atingem 12 a 15 m). Peles com 8 m de comprimento não são raras e então medem 75 cm de largura. O colorido é pardo-azeitona, com uma série dupla de grandes manchas pretas. A cabeça é revestida por numerosas escamas pequenas, como nas “serpentes venenosas” e não como nas cobras comuns que tem seus escudos simétricos. A sucuri não é venenosa, mas, utilizando-se de incrível força muscular, mata qualquer presa que consiga enroscar; arrochando os laços e as voltas com que enlaça o corpo da vítima, quebra-lhe os ossos e assim, só mesmo o tempo para preparar o bocado para deglutição. Alimenta-se principalmente de peixes, aves aquáticas e grandes mamíferos, que frequentam as águas onde ela própria passa a maior parte da vida; capivaras. antas, bem como veados e outros animais que surpreende nos bebedouros. Vive só nas matas que margeiam os grandes rios; não existe no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, nem no litoral paulista; mas do interior deste estado ela se estende para o norte até o Orinoco. Ao homem acostumado às grandes caçadas, a sucuri, mesmo sendo de porte avantajado, não atemoriza. Um tiro certeiro na cabeça ou na espinha põe o monstro fora de combate. Há casos verídicos de lutas em que, errada a pontaria, a sucuri consegue enroscar-se no caçador, porém, os companheiros o salvaram prontamente. Em geral ela não ataca crianças; Bates nota dois casos em que os pais acudiram em tempo para livrar os filhos de estrangulamento.




No tempo de procriação ouve-se um bramido intenso; contudo a descrição que a respeito faz o general Couto de Magalhães, é certamente exagerada. No cativeiro, nos primeiros tempos não aceita alimento algum e um espécime persistiu nessa teima durante 19 meses, sem com isso ter emagrecido. Bastante generalizada, apesar de tão pouco verossímil, é a fábula que explica como a sucuri consegue deglutir um boi – a serpente devora o corpo e deixa apodrecer o crânio com os chifres, que lhe ficam atravessados entre os maxilares. O maior animal que, segundo observação bem documentada, foi encontrado na barriga da sucuri, era um suçuapara, veado do tamanho de uma novilha, como documenta o general Couto de Magalhães. Medido a maior circunferência dessa sucuri, o mesmo autor indica 7 palmos, o que atribui estar o corpo muito distendido pelos gases provenientes da putrefação do animal contido no estômago. A cabeça desse exemplar não era, no entretanto, maior que a mão de um homem e assim a deglutição da presa só se realiza graças a enorme distensibilidade dos tecidos, à qual os ossos, que se desarticulam, não opõem embaraço. Rodolpho Von Ihering conclui: “Apenas a título de curiosidade, para documentar o exagero a que muitas vezes se deixam arrastar os escritores, quando se referem aos répteis avantajados, transcrevemos um trecho das famosas Cartas do Padre Anchieta” e, será quase inútil prevenirmos o leitor contra o desfecho arqui sereno. ‘As sucuriubas engolem, como disse, alguns animais grandes, que os índios chamam de tapiaras (anta); e como o estômago não os possa digerir, ficam estendidas no chão, como se estivessem mortas, não se podendo mover, até que o ventre apodreça juntamente com o alimento; então as aves de rapina lhes dilaceram o ventre e o devoram, ao mesmo tempo que seu repasto; depois, informe e semidevorada, a serpente começa a se reformar: crescem-lhe as carnes, estende-se-lhe a pele e volta à sua antiga forma’.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - PINTADO











Característico dos grandes brasileiros, o pintado, devido às grandes dimensões que atinge, é considerado um verdadeiro prêmio para o
pescador amador. Vamos conhece-lo.                         






Para se começar a falar do pintado, antes é necessário tirar uma dúvida, aliás bastante simples: pintado ou cachara? Pois bem, a melhor maneira de seu conhecer o pintado é pela coloração, ou seja, o pintado Pseudoplatystoma corruscans é o peixe, conforme o nome diz, todo pintado. Já o cachara, Pseudoplatystoma fasciatus, é aquele peixe que apresenta grossas riscas pretas transversais, algumas mais compridas que as outras. A grande confusão é que, em diversas regiões do Brasil, tanto um como o outro são conhecidos como “surubim”, o que praticamente não está errado, visto que assim são denominados pelos grandes mestres. Todavia, para que não exista essa confusão, seria necessário acrescentar ao primeiro nome, o segundo nome que lhes identifica a espécie. Exemplo: surubim pintado ou surubim cachara. Tais explicações são necessárias apenas para se conhecer melhor o peixe, o que não lhe tira o mérito de ser um dos peixes mais procurados pelo pescador amador, não só pela esportividade de sua pesca, como também pelo sabor de sua carne que é excelente. Sua área de atuação estende-se por todo o Brasil, mas os grandes espécimes estão, sem dúvida, no Pantanal de Mato Grosso, tanto do norte como do sul. Alguns cientistas chegam a afirmar que o pintado atinge 3,3 m de comprimento. Sua pesca pode ser praticada durante todo ano, no entanto, pode-se afirmar que ela é mais rentável no meses de julho a outubro. Quanto a iscas, esse peixe não é muito exigente, pois pega bem em tuvira, piramboia, lambari, piavas, filés de curimbatá e outros peixes e, quando o rio é espraiado, não é difícil fisgar-se alguns exemplares em iscas artificiais, como colheres ou plugs, usados na modalidade de corrico. A bitola da linha a ser usada varia, e muito, de região para região, mas as mais recomendadas são as linhas a partir de 0,60mm. As varas devem ser de categoria pesada, assim como a carretilha ou molinete. É costume usar-se um empate de aço de mais ou menos 30 cm e anzóis de bom tamanho. Seus melhores pesqueiros são os poções fundos, onde haja remansos de rio. No entanto, um outro lugar muito bom são as entradas de corixo, onde a água é um pouco mais rápida. Se na entrada desses corixos houver praias de areia, a possibilidade de se encontrar essa espécie duplica. Sua pesca pode ser praticada de dia ou de noite, porém uma afirmação pode ser feita: os melhores horários são ao amanhecer e ao anoitecer. Nesses horários os surubins estão mais ativos para atacar as iscas. Apesar de se pescar de caceio e de corrico (quando se está pescando dourados), grande parte dos pescadores prefere faze-lo com o barco apoitado. Devido ao porte de alguns peixes, é conveniente o uso de um bom bicheiro para embarca-los. As chumbadas devem variar em peso e tamanho de acordo com a correnteza do rio, porém, o formato mais recomendado é o da “oliva”, e solta na linha.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

ESPECIAL - O PAI DA TRUTA













Trutas no Brasil: hoje, uma realidade, mas há alguns anos, esse peixe só podia ser visto em filmes e revistas estrangeiras. Até que um dia, Luiz Jorge de Karolyi resolveu tornar o sonho em realidade brasileira. Tudo aconteceu assim, como ele mesmo nos conta.





Era o fim da década de 40 – 47, para ser mais exato – quando um navio italiano, de nome SS Brasil, atracou no cais da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Trazia a bordo, além dos viajantes da luxuosa primeira classe, um das inúmeras famílias refugiadas da guerra, todos na esperança de uma nova vida em uma terra nova, tentando esquecer os horrores que haviam presenciado, como os bombardeios, as cidades arrasadas e a fome constante. A família de nossa história era formada pelo pai – um engenheiro agrônomo -, sua esposa – esperando a segunda criança – e um filhinho de um ano e meio. Além da esperança, só tinham 39 dólares e roupas, na maioria inadequadas para o clima brasileiro e a vida no interior. Não falavam português e não conheciam ninguém. Parece estranho, mas o governo de então – Getulio Vargas – obrigava um segmento dos imigrantes a passar os dois primeiros anos após a chegada, no interior do país. A imaginação do leitor não será talvez suficiente para pensar nas dificuldades que um jovem imigrante – eu – enfrentou para fazer medições de terra sem falar o idioma nacional. Passou o tempo e os problemas começaram a serem resolvidos, e um novo emprego como administrador de uma fazenda na Serra da Mantiqueira, abriu não só novos caminhos como inesperadas possibilidades também. Certa vez, ao ser apresentado ao então governador Adhemar de Barros, em uma festa em Campos do Jordão, sugeri-lhe que fossem aproveitadas as águas frias e limpas da serra para a criação de trutas, ou pelo menos para introduzi-las. 

Trutas Arco-Íris

A partir de então, com o apoio oficial, não foi difícil obter as licenças necessárias, e a primeira remessa de alevinos da “arco-íris” chegou ao Rio de Janeiro durante o verão de 1948. Foi realmente uma coincidência feliz ter conhecido o Dr. Adhemar e saber que ele havia conhecido alguém de minha família quando estudou na Alemanha. Ele arcou com a opinião deste jovem húngaro, que por coincidência era um fly-caster apaixonado. Com a ajuda do então secretário da agricultura, se não me falha a memória seu nome era Afrânio, encomendamos milhares de alevinos arco-íris da Dinamarca, peixes estes que suportam temperaturas de água até 24°C, ao contrário da truta fontinalis, que só prolifera em temperatura mais baixas. Os aviões Constelation levavam, na era do pré-jato, 30 ou mais horas para chegarem ao Rio. Quando fui receber a remessa, percebi que uma boa parte dos filhotes não suportara a viagem, e para os que haviam sobrevivido, a expectativa de vida era mínima. O conferente da Alfândega havia saído para “tomar um cafezinho” e parecia ter tomado litros, dado ao tempo que demorou para retornar. Eu precisava de uma mangueira com água corrente e gelo para manter a temperatura da água abaixo de 24 graus, e os funcionários da alfândega consideravam tal coisa como “loucura de um gringo”. Sabia que os alevinos não poderiam suportar outra viagem, desta vez em um jipe do Rio para Campos do Jordão. A Via Dutra estava interrompida com atoladouros frequentes, e eu me lembrava da viagem que fizera num caminhão, de Barra Mansa até o Rio, que havia durado 70 horas. A solução era encontrar águas adequadas mais perto. Com a ajuda de amigos, consegui uma autorização para levar os alevinos para uma fazenda na Serra da Bocaina, bem mais próximo que Campos de Jordão. Lá, os peixes recuperaram-se dos rigores das viagens precárias. Três ou quatro meses depois, levei algumas centenas para Campos de Jordão, dividindo a quantidade entre o Parque Horto Florestal e o rio Sapucaí Iguaçu.

O autor pescando com fly

Afazeres profissionais impediram-me de seguir o desenvolvimento das trutas na Bocaina e em Campos do Jordão, porém, fiquei um tanto preocupado com os hábitos predatórios da população rural, que pesca e caça 365 dias por ano, seja na desova, na choca, na época de cria, e sem atentar para o fato de que isso é prejudicial para eles também. Quinze anos mais tarde, quando visitei novamente a Serra da Bocaina, foi com muita satisfação que recebi a notícia de que vários rios já abrigavam os descendentes daquelas trutas que eu havia trazido em 1948. Além das anomalias ictiologias do período de adaptação das trutas aqui – um ambiente diferente e também mais hostil – fiquei surpreso com a mortandade causada pelo consumo excessivo de formigas intoxicadas pelo ácido fórmico. Era interessante verificar as consequências da introdução de uma nova espécie e de que forma o “circulo” se fechou: aumentou por exemplo o número de lontras e seus inimigos naturais – as onças – antes quase extintos da região. Ocorreu entrar em contato com a Aruanã quando li no nº 10 da publicação, a matéria sobre a pesca com fly. Pratico essa modalidade desde a infância. Na planície da Hungria é muito mais quente do que as águas dos Karpatos, e portanto lá não havia trutas. Assim, praticar esse tipo de pesca era limitado às temporadas que passávamos em uma propriedade nas montanhas. Creio que valha a pena mencionar algumas particularidades. Há cerca de meio século atrás na havia nylon. Usava-se então como “cast” ou “leader” um fio feito de tripas. O nome era “cat-gut”. Não sei dizer se realmente eram feitos de tripa de gatos, mas o nome era esse. Este fio era usado também nas cirurgias. Seu estado seco era extremamente quebradiço, e por essa razão devia ser colocado, antes das pescarias, entre folhas de feltro molhadas. Agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de praticar esse esporte da Groenlândia até a África do Sul, da Noruega até a Terra do Fogo, além de muitos outros lugares, e espero que no futuro não seja eu ainda um dos poucos que pescam nosso Salminus maxillosus – o dourado – com mosca e a reação dos colegas não seja como no Pantanal, anos atrás, quando alguém apontou para mim e disse: “Olha lá o doutor chicoteando a água!”




Luiz Jorge Karolyi

Luiz Jorge de Karolyi, o “pai da truta” é herdeiro de uma vasta fortuna e filho de uma das famílias mais tradicionais do Hungria. Portador de um título de nobreza hereditário e falando vários idiomas, está radicado no Brasil e atualmente reside em um sítio em Itapecerica da Serra (SP).


Revista Aruanã Ed: 12 - outubro de 1989

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

ESPECIAL - ASSIM NASCEU A REVISTA ARUANÃ







Já que alguns amigos postaram a capa da Revista Aruanã nº1, acho que chegou a hora de contar como ela nasceu – salvo enganos ou omissões – para os amigos que postaram essa capa e aos que a visualizaram. Dentre eles Gilmar Arruda, Afonso Gomes Gomes, Alexandre Cardoso Pesca e Manolo Heraclito Fernandez, Alejandro Garcia Pousadas. Foi assim:



O Editorial do nº 1



A primeira capa




Desde muito cedo eu comecei a trabalhar com futebol, na Rádio Panamericana (hoje Jovem Pan), na Rádio e TV Record , as três faziam parte das Emissoras Unidas de Rádio e Televisão. Trabalhei pouco na Rádio Bandeirantes, fiz alguns programas de pesca na TV e Rádio Gazeta, TV Manchete e por ultimo Rede Globo de rádio. Após essa “fase rádio” fui convidado por Rodrigo Mesquita – Editor Chefe do Jornal da Tarde, para fazer uma coluna de pesca. Na minha cabeça era uma grande mudança já que eu só havia feito jornalismo falado e nunca escrito. Essa foi a grande mudança, pois no querido JT, aprendi com grandes mestres de como escrever. A coluna de pesca do JT era um grande sucesso, pois eu escrevia de um jeito que agradava o pescador amador leitor. No JT havia um departamento de vendas de publicidade e nele eu entrei e fiz vários cursos de publicidade e vendas. Aprendi muito e vendi muitos anúncios de publicidade nesse mercado que ladeavam a coluna de pesca. Paralelamente trabalhava também em um segundo emprego em grande gráficas, fazendo também diversos cursos do “linotipo ao laser”, era esse o nome do curso. Pronto, já dá para somar um mais um. Mais “coincidências”? Vamos lá. Minha filha mais velha fazia uma Faculdade de Artes. Fazia também um curso de desenho particular. A filha do meio fazia Faculdade de Letras - português- Eu tinha uma sócia (Zenaide) cujo marido foi o grande incentivador de eu fazer a revista de pesca. Infelizmente faleceu antes do número 2, mas tive o prazer de apresentar a ele, as iscas artificiais na velha Represa de Mairiporã, pescando bass e em Água Vermelha atrás do tucunas. Em um pequeno sobrado, na Rua Vitorino de Moraes em Santo Amaro, foi a primeira sede da revista.



O logotipo definitivo da Revista Aruanã 
 Éramos três: duas filhas, eu e um boy, além de alguns colaboradores. Lançamos o número 1 cuja capa foi essa publicada, mas acho que o editorial dessa nº1 também mostrava ao que vínhamos no segmento pesca amadora. Um jornalista/pescador, uma produtora de arte, uma copy desk formada em português. Coincidência? Talvez, mas acredito mais em destino. O resto o nosso leitor que nos leu sabe no que deu. Brigas com autoridades de meio ambiente, fiscalização de pesca, pesca profissional, pesca predatória etc. Montamos uma loja de pesca já em nossa sede própria. Visitamos as principais fábricas de artigos de pesca no mundo: Noruega, Finlândia, Suécia, Estados Unidos, Japão, que fabricavam as verdadeiras joias de equipamentos e “ainda”, originais. Viagens por todos os rios do Pantanal, Araguaia em mais de 1.300 km, cursos de pesca amadora, vídeos de pesca. Os principais roteiros de pesca no Brasil acampando e dando todo o roteiro com os serviços para sua execução (lições do JT). A primeira Portaria para o tamanho dos robalos e sua época de defeso. Enfim, fizemos sucesso, principalmente por valorizarmos nossa gente e nossas coisas. Jamais aceitei fazer um roteiro fora de águas brasileiras, como também na época, os chamados de pesque e pague, pois éramos e ainda sou contra pescar em ambientes fechados. Enfim difícil é listar 78 edições, bem como citar os grandes mestres de jornalismo e pesca com quem convivi. Abro apenas uma, MESTRE JUJU no Pantanal. Parei na edição 78 por ver que o mercado estava ficando, digamos, “diferente” e por um grande stress, diagnosticado por um médico pescador e amigo. Peço desculpas de não mencionar toda a existência da Revista Aruanã, mas acho que dá para fazer uma ideia de nosso – sem modéstia – sucesso. Abraço a todos.                                  

sábado, 10 de dezembro de 2016

FOLCLORE BRASILEIRO - NEGRINHO DO PASTOREIO









Quem quiser encontrar um objeto perdido, é só pedir ao Negrinho e acender uma vela, cuja luz ele leva ao altar de Nossa Senhora e depois atende o pedido.






Ele era um pretinho muito obediente, escravo de um senhor de grandes terras e muitos animais, que era muito rico e muito malvado. Além do dinheiro, as duas únicas coisas de que ele gostava na vida eram seu filho, também muito malvado, e um cavalo baio, que ele dizia não existir igual. Negrinho, sofria muito, pois comia e dormia mal, além de ser constantemente judiado pelo filho do estancieiro, que não o deixava em paz. Certa vez, um vizinho do estancieiro foi negociar com ele na estância, viu Negrinho montado no cavalo baio, ao qual elogiou muito e dizendo ter um cavalo tão bom quanto aquele, propôs ao estancieiro que fosse feita uma corrida para ver qual era melhor. A principio o estancieiro não quis aceitar o desafio, mas ao ser alertado pelo visitante de que haveriam apostas e isso lhe renderia um bom dinheiro caso fosse o vencedor, concordou de imediato. Os dois também apostaram grande quantias em dinheiro, só que o visitante destinaria o prêmio, caso vencesse, aos pobres, ao contrário do estancieiro, que queria o dinheiro todo para si. No dia da corrida, o povo se acotovelava para ver o que aconteceria. Negrinho iria montar o baio, e mostrava-se muito esforçado para dar o melhor de si, pois sabia que se perdesse, o estancieiro não o perdoaria. A corrida começou, e os dois cavalos corriam lado a lado, não sendo suficiente os esforços dos cavaleiros para que houvesse uma ultrapassagem. De repente o cavalo baio assustou-se com alguma coisa, deu um pulo, quase derrubou o pretinho e não quis mais correr. O outro acabou ganhando a corrida e o estancieiro teve que pagar a aposta ao outro, que conforme havia prometido doou o dinheiro aos pobres. Assim que chegaram à estância, após a festa, Negrinho tratou de ir guardar o baio, mas o estancieiro não deixou. Você vai ficar 30 dias e 30 noites no pasto, tomando conta, junto com o baio, da minha tropilha de 30 cavalos negros. E bateu de chicote no Negrinho, até se cansar. Logo que chegou ao pasto, o Negrinho dormiu. As corujas voaram e pararam no ar. Os cavalos assustados, fugiram todos, fazendo barulho. Negrinho despertou, mas já era tarde: os animais haviam desaparecido. O filho do estancieiro, que havia seguido Negrinho para pega-lo em alguma falta, foi contar ao pai que os cavalos haviam fugido. Negrinho foi arrastado para casa, e depois de outra surra de chicote, deveria voltar ao lugar do pastoreio para reunir os cavalos. Antes de ir, pensou em Nossa Senhora e apanhou um toco de vela que estava no oratório, aceso, e o levou consigo. Como cada pingo da vela se transformava numa luz muito brilhante, a noite virou dia e negrinho pode reunir os cavalos. Depois disso a vela se apagou e ele adormeceu. No dia seguinte, o filho do estancieiro foi ao pastoreio pensando pegar o Negrinho em falta. Quando viu que a tropilha estava reunida, tratou logo de espantar os cavalos e correu avisar o pai que os cavalos haviam fugido de novo. Desta vez, a surra que o negrinho levou foi violenta, e o pequeno escravo caiu no chão, como se estivesse morto. O estancieiro então sentou-se para descansar e depois mandou que dois escravos levassem Negrinho dali, indo atrás deles com o filho, que não parava de pular de contentamento. No caminho, passaram por um enorme formigueiro, e o estancieiro ordenou que o negrinho fosse jogado ali, sendo imediatamente atacado pelas formigas. No dia seguinte, todos foram ver como estava Negrinho, e levaram grande susto: Negrinho encontrava-se de pé, muito alegre, junto de Nossa Senhora. Perto deles, o cavalo baio e os outros trinta cavalos. Negrinho saltou para o baio e saiu galopando, seguido pelos outros cavalos. Muitas pessoas dizem que já viram Negrinho passar, montado no baio e pastoreando a tropilha de cavalos negros. Passam em disparada e desaparecem num instante, dentro de uma nuvem de poeira dourada.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - TRAÍRA











Procurada por suas virtudes esportivas e pelo ótimo sabor de sua carne, a traíra é um peixe que emociona o pescador amador quando fisgada. Conheça seus segredos.




,
Como peixe predador, a traíra pode ser considerada um dos mais tradicionais dos nossos rios, lagos e represas. A espécie mais comum é a Hoplias malabaricus e pode ser encontrada desde a Argentina até a América Central. Esta espécie atinge 50 centímetros de comprimento e aproximadamente 5 quilos de peso. Outra traíra, a  Hoplias lacerdae, encontrada principalmente no Rio Teles Pires e seus afluentes, na Bacia Amazônica, atinge mais de um metro de comprimento e 15 quilos de peso, e é conhecida como “trairão”. Mesmo habitando os rios, prefere os remansos, pois é um peixe de águas paradas. Devido ao hábito da traíra  de alimentar-se de pequenos peixes, o lambari é a isca mais indicada para sua pesca. Também pode ser utilizados acarás, tilápias e outros peixes miúdos. De hábitos noturnos, a melhor hora para fisga-la é durante o entardecer e a noite. Usa-se comumente diversas linhadas e há quem use guizos que tilintam quando o peixe fisga, uma vez que não se pode contar com a luz do dia e o guizo serve como referencial auditivo. Para pescar a traíra de forma mais emocionante, pode-se utilizar o recurso da pesca na modalidade de batida, ou seja, com  vara de ponta grossa, linha do mesmo comprimento da vara ou um pouco menor, anzol grande e pequena chumbada. Com este material, vai-se batendo a isca na flor d’água, produzindo um barulho que chama a atenção do peixe, que não resiste. Alguns lugares são particularmente preferidos pela traíra, principalmente onde haja na água tocos de árvores, aguapés, capim e pedras. É conveniente usar um pequeno empate de arame ou aço no anzol, pois os dentes da traíra costumam romper o nylon das linhas. Recomenda-se também cuidado na hora de tira-la do anzol, já que sua mordida é bastante dolorida. O material adequado para sua pesca é vara de bambu, ou molinete ou carretilha, sendo a linha de 0,50 mm no molinete ou carretilha, 0,60 mm para a linhada e 0,70 mm para a batida. Apesar de ser um peixe com grande quantidade de espinhas e por isso exigir cuidados especiais no preparo, o sabor de sua carne é muito bom, chegando mesmo a ser considerado como de primeira qualidade.

NOTA DA REDAÇÃO: Este texto foi reproduzido em seu original em 1992. Para os mais observadores recomendamos ver aqui no blog, matérias especiais publicadas como “traíras e trairões em abril de 2014” e “filé de traíras sem espinhas em maio de 2015”.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ROTEIRO - TUCURUÍ







Formado há mais de 10 anos, o lago de Tucuruí tornou-se um excelente local para a pesca esportiva, principalmente do tucunaré, que nessa represa atinge grandes proporções. A Aruanã esteve lá, conferindo sua piscosidade. Vamos juntos neste novo roteiro.


Aspectos da Represa

Quando se chega a Tucuruí a primeira visão impressiona, devido à sua gigantesca obra de sua hidroelétrica. A profundidade do lago junto à barragem é de mais de 70 metros. Sua água é muito limpa e a barragem pode ser percorrida pela parte de cima por vários quilômetros. Aliás, em uma ponta de pedra no fim da barragem já se percebe o primeiro bom sinal de pesca, pois existe aflorando a superfície uma espécie de capim, onde o tucunaré dá caça aos pequenos peixes que são a base de sua alimentação. Nesse local são muitos os pescadores que pescam da própria margem, fisgando alguns peixes do bom tamanho. Fizemos uma incursão a esse local, acompanhados na ocasião por diversos botos que também estavam ali pescando. Evidentemente que o sucesso deles e sua presença, mostrada em assopros e evoluções, determinaram o fracasso de nossa pescaria. Valeu no entanto o espetáculo. O reservatório de Tucuruí é formado principalmente pelo rio Tocantins e seu início é próximo à cidade de Marabá. 



Adicionar legenda


Para se ter uma idéia do tamanho desse lago, basta citar sua área, que é de aproximadamente 2.400 km2, tendo mais de 170 quilômetros de comprimento e em alguns trechos cerca de 10 quilômetros de largura. Um outro ponto bastante interessante de ser citado são as ilhas que se formaram pelo alagamento da área. Segundo o pessoal da usina, são mais de 1.100 ilhas de diversos tamanhos. Para o pescador amador essas ilhas são muito importantes, já que praticamente todas são ótimos pesqueiros de tucunarés, pois é à sua volta que as galhadas, com grotas pequenas de capim na água e mesmo árvores boiando, confirmam a presença desse peixe. Por ocasião de nossa visita e em contato com os pescadores amadores locais, ficamos sabendo de tucunarés com aproximadamente 8 quilos em seu tamanho máximo. Tivemos a oportunidade de fotografar exemplares de aproximadamente 7 quilos, fisgados no dia da pescaria.

Tucunaré


Peixes desse tamanho não são difíceis de serem fisgados, no entanto a média gira em torno de 5 quilos. A maneira mais comum de pesca em Tucuruí, executada pelos pescadores amadores da região, é a de corrico com colheres. No entanto, por nossa experiência e observação, podemos afirmar que se em vez de corricar usarmos o sistema de arremesso, principalmente nas grotas e em meio às galhadas, por certo obteremos um sucesso maior. Evidente esta que para tal prática, o pescador amador deverá estar equipado principalmente com motor elétrico, pois sem dúvida esta será a maneira mais correta de se “bater” bem os pesqueiros. As principais espécies para a pesca amadora no lago são o tucunaré, a corvina, o apapá, a bicuda, o aruanã e com alguma sorte, a matrinchã. A jusante da barragem existem ainda bons pesqueiros no leito original do rio Tocantins, e para aqueles que gostam da “barra pesada”, podem ser fisgados jaús, piraíbas, pirararas, barbados, filhotes, surubins, caranhas (pacu), matrinchãs e outras espécies menores, usando-se logicamente o material adequado. 



Mapa da represa



Esses pesqueiros são facilmente identificados, pois olhando da barragem para o rio, ve-se aflorar à superfície várias formações rochosas, mostrando claramente os poços profundos para se praticar esse tipo de pesca. Em nossa visita, vimos vários pescadores pescando junto às comportas, o que só é possível quando a vazão de água pelos “sangradores” está fechada. No caso dessa vazão estar aberta, é conveniente pescar a uma distância segura. Seguindo informações que obtivemos, as melhores iscas nesse local são os pequenos peixes, tais como piaus, acaris (cascudos), matrinchãs e mesmo pequenos tucunarés. Ao contrário da pesca no lago, no rio pescaremos apoitados. Um outro ponto a salientar na pesca do tucunaré, principalmente para aqueles que não usam iscas artificiais, refere-se às iscas naturais. Podemos usar os pequenos peixes do lago como a sardinha, o lambari, o piau, etc., mas a mais fácil de ser conseguida é o camarão (pitu). 



Pesqueiro das ilhas


A presença desse crustáceo no lago é enorme e ele pode ser conseguido facilmente. Qualquer morador ribeirinho das ilhas (e são muitos), tem uma espécie de “covo” onde são apanhados os camarões. Nas margens em meio ao capim, também poderão ser conseguidas boas quantidades dessa isca usando-se peneiras. Em Tucuruí, para quem pesca dessa forma, o material mais usado é a tradicional vara de bambu, com linha do comprimento da vara e pescando com o barco solto, junto à margem de capim e as galhadas. Não tivemos a oportunidade de testar, mas pareceu-nos que se pescarmos com bóias e vara com molinete ou carretilha, a exemplo da pesca do robalo, os resultados poderão ser também muito bons, observando-se a vantagem de lances mais longos, com menos barulho e menor aproximação aos peixes. Fica difícil estabelecer quais são os melhores pesqueiros, já que, como dissemos anteriormente, em praticamente todas as ilhas eles existem, mas ouvimos os companheiros do lugar citarem a “base 4” como sendo um dos melhores locais para a pesca do tucunaré. 


Pesqueiro de tucunaré


Essa “base 4” fica a algumas horas da barragem e é esta a principal vantagem, pois a distância garante menor presença de pescadores profissionais, e portanto mais peixes. Navegar no lago não chega a ser perigoso, mas devemos alertar quanto aos ventos como principal cuidado a ser tomado. Pela largura do reservatório, alguns locais apresentam grandes ondas que dificultam muito a navegação de barcos de alumínio. Segundo nossas observações, depois confirmadas pelos pescadores locais, os ventos mais fortes normalmente ocorrem na parte da manhã e por volta de meio-dia vão acalmando até cessarem completamente no período da tarde. Um outro ponto a ser citado é que não existe uma época considerada como a melhor para a pesca em Tucuruí, já que durante todo o ano a pesca é farta e dificilmente as águas estarão sujas, principalmente pelo tamanho do lago. 



Tucunaré fisgado na isca artificial


A bem da verdade, fomos informados que se em alguns trechos a água ficar um pouco turva, em outros estará sempre limpa e cristalina. Conseguimos apurar no entanto que de outubro até janeiro seria uma boa época para a pesca de tucunarés. No que se refere a infraestrutura para a pesca, será conveniente que os pescadores levem o barco e o motor de popa, pois não existem em Tucuruí esses equipamentos para alugar. O que se pode conseguir facilmente são barcos maiores, por exemplo, para o transporte da tralha, quando se quiser acampar em algum ilha. Aliás, o acampamento será uma ótima opção, apesar de Tucuruí estar servida de toda a infraestrutura, com hotéis, restaurantes, supermercados, postos de gasolina, etc. Para os pescadores que desejarem ir a Tucuruí, podemos dar como dica que o melhor local para descer os barcos e tralha está junto à ponte no lado sul da barragem. Ali existe inclusive uma fábrica de gelo. 







Tucunarés


Para atingir o lago de Tucuruí temos duas opções: por via aérea, devemos ir até Belém e de lá fazer conexão para Tucuruí, onde há dois voos diários; por via rodoviária, siga até a cidade de Marabá (TO), onde há estrada até o lago. Essa estrada tem parte pavimentada e parte ainda de terra (NR: a confirmar), mas segundo informações é uma viagem que pode ser feita com relativa facilidade. Com referência, devemos acrescentar que partindo de São Paulo, o percurso até Tucuruí gira em torno de 2.500 quilômetros. Aí está portanto, mais um roteiro para os leitores da Revista Aruanã, que apesar da distância pode ser cadastrado como um excelente local para os pescadores amadores brasileiros.
                                                 AGRADECIMENTO
Nós, da Revista Aruanã, queremos agradecer em especial ao Dr. Marco Aurélio Rufato e ao Dr. Luiz Afonso Bozzatto, médicos do Hospital de Tucuruí que nos assistiram e assessoraram em todos os detalhes e que tornaram possível a edição deste roteiro. Agradecemos ainda aos pescadores, Paulo, Gilson, Mauro, Kuba, Saul, Silvio, Luís Fernando e Manoel pela receptividade e ajuda nas pescarias do lago de Tucuruí.



Jusante da barragem


                                              DEPREDAÇÃO

Em meio a toda beleza e esplendor do lago de Tucuruí, um fato corriqueiro e nem por isso menos lamentável refere-se à depredação por parte dos pescadores profissionais em sua atividade, que chega às raias do absurdo e insanidade. Tivemos a oportunidade de presenciar a “atividade” desses profissionais, denominados de “Colônia de Pescadores Z – 32 de Tucuruí – PA”. Estarrecidos, vimos que essa atividade profissional está dizimando a fauna ictiológica do lago de maneira completamente criminosa. Segundo informações que obtivemos, cerca de 100 toneladas/mês de peixes são retiradas do reservatório, principalmente tucunarés, corvinas, apapás, etc., que a princípio é criminosa, uma vez que não são respeitados tamanhos mínimos e épocas de desova. Conseguimos ver uma “caixa de gelo” repleta de tucunarés que não tinham mais de 20 centímetros de comprimento. Outro ponto a salientar é a total falta de higiene desse pescado, que fica exposta à ação de moscas e ao sol até ser acondicionado nas caixas de gelo. 



“Ação dos profissionais”


É evidente que em uma região de poucos recursos a pesca profissional sustenta muitas famílias, mas da forma como está sendo praticada, por uma questão de lógica, em pouco tempo causará a extinção total desses peixes. Fica a pergunta: quando acabar, essas famílias irão se sustentar de que maneira? A propósito, em Tucuruí há representação do IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – e como não poderia deixar de ser, completamente omissa e inoperante. Durante os cinco dias que permanecemos na região não conseguimos verificar sua fiscalização em nenhum momento. Aliás, no local existem rumores de que o IBAMA de Tucuruí está “preocupado” com outros detalhes mais “significativos”. Para nós, acostumados com as demandas desse famigerado órgão “responsável” pelo meio ambiente no Brasil, isso não causa nenhuma surpresa. Mas infelizmente para o lago de Tucuruí essa inoperância na fiscalização é um sinal de alerta e perigo.



A colônia de pesca


NOTA DA REDAÇÃO: Chama a atenção a total ignorância de autoridades ambientais na região. Será que algo mudou na região? Afinal faz mais de 24 anos desde a publicação dessa matéria, que em nossa opinião é um local de excelente pescaria de tucunarés. Chama também a atenção de que nada se ouve, se vê ou se lê, na mídia da nossa atividade de pesca amadora, sobre pescarias realizadas por pescadores amadores na região. Será ainda que o pescador amador desconhece esse local para a realização de uma boa pescaria e não tão longe? Afinal de contas, tucunaré entre 5 e 8 quilos não é peixe para se desprezar. E finalmente, aos ambientalistas de plantão, aos quais dedico está postagem do lago de Tucuruí. Alguém vai dedicar uma linha nas redes sociais sobre esse assunto? Afinal de contas, Tucuruí está no estado do Pará e dentro do nosso Brasil. 



Revista Aruanã Ed.30 – Outubro de 1992.