sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ROTEIRO - TUCURUÍ







Formado há mais de 10 anos, o lago de Tucuruí tornou-se um excelente local para a pesca esportiva, principalmente do tucunaré, que nessa represa atinge grandes proporções. A Aruanã esteve lá, conferindo sua piscosidade. Vamos juntos neste novo roteiro.


Aspectos da Represa

Quando se chega a Tucuruí a primeira visão impressiona, devido à sua gigantesca obra de sua hidroelétrica. A profundidade do lago junto à barragem é de mais de 70 metros. Sua água é muito limpa e a barragem pode ser percorrida pela parte de cima por vários quilômetros. Aliás, em uma ponta de pedra no fim da barragem já se percebe o primeiro bom sinal de pesca, pois existe aflorando a superfície uma espécie de capim, onde o tucunaré dá caça aos pequenos peixes que são a base de sua alimentação. Nesse local são muitos os pescadores que pescam da própria margem, fisgando alguns peixes do bom tamanho. Fizemos uma incursão a esse local, acompanhados na ocasião por diversos botos que também estavam ali pescando. Evidentemente que o sucesso deles e sua presença, mostrada em assopros e evoluções, determinaram o fracasso de nossa pescaria. Valeu no entanto o espetáculo. O reservatório de Tucuruí é formado principalmente pelo rio Tocantins e seu início é próximo à cidade de Marabá. 



Adicionar legenda


Para se ter uma idéia do tamanho desse lago, basta citar sua área, que é de aproximadamente 2.400 km2, tendo mais de 170 quilômetros de comprimento e em alguns trechos cerca de 10 quilômetros de largura. Um outro ponto bastante interessante de ser citado são as ilhas que se formaram pelo alagamento da área. Segundo o pessoal da usina, são mais de 1.100 ilhas de diversos tamanhos. Para o pescador amador essas ilhas são muito importantes, já que praticamente todas são ótimos pesqueiros de tucunarés, pois é à sua volta que as galhadas, com grotas pequenas de capim na água e mesmo árvores boiando, confirmam a presença desse peixe. Por ocasião de nossa visita e em contato com os pescadores amadores locais, ficamos sabendo de tucunarés com aproximadamente 8 quilos em seu tamanho máximo. Tivemos a oportunidade de fotografar exemplares de aproximadamente 7 quilos, fisgados no dia da pescaria.

Tucunaré


Peixes desse tamanho não são difíceis de serem fisgados, no entanto a média gira em torno de 5 quilos. A maneira mais comum de pesca em Tucuruí, executada pelos pescadores amadores da região, é a de corrico com colheres. No entanto, por nossa experiência e observação, podemos afirmar que se em vez de corricar usarmos o sistema de arremesso, principalmente nas grotas e em meio às galhadas, por certo obteremos um sucesso maior. Evidente esta que para tal prática, o pescador amador deverá estar equipado principalmente com motor elétrico, pois sem dúvida esta será a maneira mais correta de se “bater” bem os pesqueiros. As principais espécies para a pesca amadora no lago são o tucunaré, a corvina, o apapá, a bicuda, o aruanã e com alguma sorte, a matrinchã. A jusante da barragem existem ainda bons pesqueiros no leito original do rio Tocantins, e para aqueles que gostam da “barra pesada”, podem ser fisgados jaús, piraíbas, pirararas, barbados, filhotes, surubins, caranhas (pacu), matrinchãs e outras espécies menores, usando-se logicamente o material adequado. 



Mapa da represa



Esses pesqueiros são facilmente identificados, pois olhando da barragem para o rio, ve-se aflorar à superfície várias formações rochosas, mostrando claramente os poços profundos para se praticar esse tipo de pesca. Em nossa visita, vimos vários pescadores pescando junto às comportas, o que só é possível quando a vazão de água pelos “sangradores” está fechada. No caso dessa vazão estar aberta, é conveniente pescar a uma distância segura. Seguindo informações que obtivemos, as melhores iscas nesse local são os pequenos peixes, tais como piaus, acaris (cascudos), matrinchãs e mesmo pequenos tucunarés. Ao contrário da pesca no lago, no rio pescaremos apoitados. Um outro ponto a salientar na pesca do tucunaré, principalmente para aqueles que não usam iscas artificiais, refere-se às iscas naturais. Podemos usar os pequenos peixes do lago como a sardinha, o lambari, o piau, etc., mas a mais fácil de ser conseguida é o camarão (pitu). 



Pesqueiro das ilhas


A presença desse crustáceo no lago é enorme e ele pode ser conseguido facilmente. Qualquer morador ribeirinho das ilhas (e são muitos), tem uma espécie de “covo” onde são apanhados os camarões. Nas margens em meio ao capim, também poderão ser conseguidas boas quantidades dessa isca usando-se peneiras. Em Tucuruí, para quem pesca dessa forma, o material mais usado é a tradicional vara de bambu, com linha do comprimento da vara e pescando com o barco solto, junto à margem de capim e as galhadas. Não tivemos a oportunidade de testar, mas pareceu-nos que se pescarmos com bóias e vara com molinete ou carretilha, a exemplo da pesca do robalo, os resultados poderão ser também muito bons, observando-se a vantagem de lances mais longos, com menos barulho e menor aproximação aos peixes. Fica difícil estabelecer quais são os melhores pesqueiros, já que, como dissemos anteriormente, em praticamente todas as ilhas eles existem, mas ouvimos os companheiros do lugar citarem a “base 4” como sendo um dos melhores locais para a pesca do tucunaré. 


Pesqueiro de tucunaré


Essa “base 4” fica a algumas horas da barragem e é esta a principal vantagem, pois a distância garante menor presença de pescadores profissionais, e portanto mais peixes. Navegar no lago não chega a ser perigoso, mas devemos alertar quanto aos ventos como principal cuidado a ser tomado. Pela largura do reservatório, alguns locais apresentam grandes ondas que dificultam muito a navegação de barcos de alumínio. Segundo nossas observações, depois confirmadas pelos pescadores locais, os ventos mais fortes normalmente ocorrem na parte da manhã e por volta de meio-dia vão acalmando até cessarem completamente no período da tarde. Um outro ponto a ser citado é que não existe uma época considerada como a melhor para a pesca em Tucuruí, já que durante todo o ano a pesca é farta e dificilmente as águas estarão sujas, principalmente pelo tamanho do lago. 



Tucunaré fisgado na isca artificial


A bem da verdade, fomos informados que se em alguns trechos a água ficar um pouco turva, em outros estará sempre limpa e cristalina. Conseguimos apurar no entanto que de outubro até janeiro seria uma boa época para a pesca de tucunarés. No que se refere a infraestrutura para a pesca, será conveniente que os pescadores levem o barco e o motor de popa, pois não existem em Tucuruí esses equipamentos para alugar. O que se pode conseguir facilmente são barcos maiores, por exemplo, para o transporte da tralha, quando se quiser acampar em algum ilha. Aliás, o acampamento será uma ótima opção, apesar de Tucuruí estar servida de toda a infraestrutura, com hotéis, restaurantes, supermercados, postos de gasolina, etc. Para os pescadores que desejarem ir a Tucuruí, podemos dar como dica que o melhor local para descer os barcos e tralha está junto à ponte no lado sul da barragem. Ali existe inclusive uma fábrica de gelo. 







Tucunarés


Para atingir o lago de Tucuruí temos duas opções: por via aérea, devemos ir até Belém e de lá fazer conexão para Tucuruí, onde há dois voos diários; por via rodoviária, siga até a cidade de Marabá (TO), onde há estrada até o lago. Essa estrada tem parte pavimentada e parte ainda de terra (NR: a confirmar), mas segundo informações é uma viagem que pode ser feita com relativa facilidade. Com referência, devemos acrescentar que partindo de São Paulo, o percurso até Tucuruí gira em torno de 2.500 quilômetros. Aí está portanto, mais um roteiro para os leitores da Revista Aruanã, que apesar da distância pode ser cadastrado como um excelente local para os pescadores amadores brasileiros.
                                                 AGRADECIMENTO
Nós, da Revista Aruanã, queremos agradecer em especial ao Dr. Marco Aurélio Rufato e ao Dr. Luiz Afonso Bozzatto, médicos do Hospital de Tucuruí que nos assistiram e assessoraram em todos os detalhes e que tornaram possível a edição deste roteiro. Agradecemos ainda aos pescadores, Paulo, Gilson, Mauro, Kuba, Saul, Silvio, Luís Fernando e Manoel pela receptividade e ajuda nas pescarias do lago de Tucuruí.



Jusante da barragem


                                              DEPREDAÇÃO

Em meio a toda beleza e esplendor do lago de Tucuruí, um fato corriqueiro e nem por isso menos lamentável refere-se à depredação por parte dos pescadores profissionais em sua atividade, que chega às raias do absurdo e insanidade. Tivemos a oportunidade de presenciar a “atividade” desses profissionais, denominados de “Colônia de Pescadores Z – 32 de Tucuruí – PA”. Estarrecidos, vimos que essa atividade profissional está dizimando a fauna ictiológica do lago de maneira completamente criminosa. Segundo informações que obtivemos, cerca de 100 toneladas/mês de peixes são retiradas do reservatório, principalmente tucunarés, corvinas, apapás, etc., que a princípio é criminosa, uma vez que não são respeitados tamanhos mínimos e épocas de desova. Conseguimos ver uma “caixa de gelo” repleta de tucunarés que não tinham mais de 20 centímetros de comprimento. Outro ponto a salientar é a total falta de higiene desse pescado, que fica exposta à ação de moscas e ao sol até ser acondicionado nas caixas de gelo. 



“Ação dos profissionais”


É evidente que em uma região de poucos recursos a pesca profissional sustenta muitas famílias, mas da forma como está sendo praticada, por uma questão de lógica, em pouco tempo causará a extinção total desses peixes. Fica a pergunta: quando acabar, essas famílias irão se sustentar de que maneira? A propósito, em Tucuruí há representação do IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – e como não poderia deixar de ser, completamente omissa e inoperante. Durante os cinco dias que permanecemos na região não conseguimos verificar sua fiscalização em nenhum momento. Aliás, no local existem rumores de que o IBAMA de Tucuruí está “preocupado” com outros detalhes mais “significativos”. Para nós, acostumados com as demandas desse famigerado órgão “responsável” pelo meio ambiente no Brasil, isso não causa nenhuma surpresa. Mas infelizmente para o lago de Tucuruí essa inoperância na fiscalização é um sinal de alerta e perigo.



A colônia de pesca


NOTA DA REDAÇÃO: Chama a atenção a total ignorância de autoridades ambientais na região. Será que algo mudou na região? Afinal faz mais de 24 anos desde a publicação dessa matéria, que em nossa opinião é um local de excelente pescaria de tucunarés. Chama também a atenção de que nada se ouve, se vê ou se lê, na mídia da nossa atividade de pesca amadora, sobre pescarias realizadas por pescadores amadores na região. Será ainda que o pescador amador desconhece esse local para a realização de uma boa pescaria e não tão longe? Afinal de contas, tucunaré entre 5 e 8 quilos não é peixe para se desprezar. E finalmente, aos ambientalistas de plantão, aos quais dedico está postagem do lago de Tucuruí. Alguém vai dedicar uma linha nas redes sociais sobre esse assunto? Afinal de contas, Tucuruí está no estado do Pará e dentro do nosso Brasil. 



Revista Aruanã Ed.30 – Outubro de 1992.

Nenhum comentário:

Postar um comentário