sexta-feira, 31 de março de 2017

FOLCLORE BRASILEIRO - A FESTA DO KUARUP










Entre muitas interessantes tradições indígenas, destacamos nesta edição a comemoração do Kuarup e sua história folclórica.





As pesquisas sobre as origens dessa festa foram feitas pelos irmãos Vilas Boas, que lá estiveram em 1946, e as relataram em seu livro “Xingu – Os Índios e Seus Mitos”. Segundo a tradição, a origem dessa festa prende-se a Mavutsinim, um dos mitos da tribo, portador do poder de ressuscitar os mortos. Mavutsinim queria fazer seus mortos retornarem à vida, então pintou e enfeitou três troncos de madeira Kuarup. Fincou-os depois, na praça da aldeia e chamou dois sapos cururus e duas cotias, pondo-os para cantar, enquanto distribuía alimentos ao povo. Só que ninguém podia sair de sua oca para ver. À medida que os animais cantavam, os três troncos do Kuarup começaram a mover-se, adquirindo a forma humana. Projetaram-se os braços, o peito e a cabeça, mas o restante do corpo ainda era tronco de madeira. O povo da aldeia queria continuar chorando os seus mortos, mas Mavutsinim não permitiu, dizendo para aguardarem, pois eles retornariam à vida. Os troncos já estavam quase metamorfoseados quando Mavutsinim permitiu a todos eles saírem de suas ocas e manifestarem alegria, pois os mortos haviam retornado à vida. Só havia um detalhe: aqueles que tivessem tido relações sexuais nessa ultima noite não poderiam ver. Todos saíram e as festas começaram. Mas um dos índios havia tido relação sexual com sua esposa naquela noite, e não resistindo à curiosidade, também saiu para festejar. Aí ocorreu o que Mavutsinim não queria: deu-se nova transformação e os mortos voltaram a ser troncos de madeira Kuarup. Então, Mavutsinim atirou os três troncos no rio e declarou que dali por diante, os mortos não viveriam mais e o Kuarup seria apenas uma festa. Assim, as festas do Kuarup continuam se repetindo na aldeia Camaiurá, quando todos choram a ausência de seus mortos. Os preparativos se iniciam quinze dias antes, movimentando toda a tribo. No Kuarup, os adolescentes fazem sua iniciação no ambiente adulto. Os rapazes de 16 a 17 anos saem para fazer demonstração de luta e as moças para serem apresentadas às tribos visitantes. O dono da festa é sempre o parente do morto mais importante. Os troncos de Kuarup representando cada morto são colocados na praça da aldeia. Aí os índios dão um grito e as mulheres correm para adorna-los, iniciando-se a cerimônia. As lamentações atravessam da noite até o outro dia. Ao amanhecer começa a festa e o torneio de lutas. Como é festa, há sempre comida farta para todos. Depois da cerimônia de luta masculina, é feita a apresentação das moças que irão se casar. Ao fim da festa, são retirados os troncos de Kuarup e os índios choram pela ultima vez seus mortos. Essa é uma tradição que os Camaiurás conservam, e representa um importante aspecto da cultura dos nossos índios. 

sexta-feira, 24 de março de 2017

EQUIPAMENTO: O PUÇÁ












Em uma pescaria embarcada, principalmente de peixes que pulam ao serem fisgados, o puçá é um equipamento indispensável, pois traz o peixe com segurança para as mãos do pescador. Pergunto: seu puçá está correto?






Puçá desmontável





A segurança do puçá

Se fizermos uma análise, vamos perceber que o puçá é um equipamento tão antigo quanto as iscas artificiais, já que os primeiros a usa-lo foram os pescadores de fly, portanto, há centenas de anos. Originalmente eram construídos em madeira, com rede feita de cerdas de algodão, tendo os pescadores da época inclusive o cuidado de amarrar-lhes ao cabo uma cordinha para ata-los à cintura ou às costas. Em inglês o puçá recebe o nome de net, e a tradução, ao pé da letra, é: “rede de pescar”. Mas deixemos os pescadores de fly continuarem usando o seu net, e voltemos ao nosso querido solo tupiniquim. 

O problema com as garatéias

Vários nomes o equipamento em questão recebe no Brasil, e assim sendo, além do “puçá”, teremos o “coador”, o “covo” e o “cesto”. Além de ser o nome de minha preferência, “puçá” me parece a denominação mais correta, já que ao pesquisar a origem da palavra, vamos encontrar na língua tupi-guarani o termo “pyça”, cuja tradução é a mesma, ou seja: rede de pescar. Ao longo do tempo, os puçás brasileiros foram fabricados utilizando diversos materiais, sendo que os mais antigos eram feitos de taquara trabalhada, tanto o arco quando o cabo. Sua vida útil era limitada. Adveio então o arco feito de ferro, com cabo de taquara ou madeira. 

Puçá enferrujado

Esses puçás tinham como principais problemas a ferrugem no arco e, pior: se caíssem na água, afundavam. Atualmente, os arcos dos puçás são feitos de hastes de alumínio, assim como seus cabos. Além de leves, são vedados para que a água não entre e, portanto, flutuam. A flutuação é condição básica dos puçás modernos. Com o uso constante desse equipamento, outros fatores modernos foram sendo incorporados, para a conveniência do pescador. Assim sendo, hoje é possível encontrar no mercado brasileiro modelos totalmente desmontáveis, cuja finalidade é facilitar seu transporte como item integrante de uma boa tralha de pesca (porém não flutuam). 

Puçá com monofilamento

Vamos agora ao ponto principal: a rede, que guarnece qualquer puçá. Ainda hoje, são vários os fabricantes de puçás que utilizam redes feitas de nylon seda, ou seja, aqueles fios normalmente azul-escuros e trançados. Quem pesca com iscas artificiais em hipótese alguma deve comprar um puçá desse tipo, já que logo na primeira, ele vai voltar com alguns buracos que o próprio pescador vai fazer, pois vai ficar de “saco cheio” de tanto ter que desembaraçar as garatéias do tal fio da nylon seda. Explico. Quando colocamos o peixe dentro desse puçá com a isca artificial na boca, será normal que o peixe balance seu corpo dentro da rede. 

A facilidade para desembarcar as garatéias neste tipo de puçá

Como os fios são trançados, se parte da isca artificial estiver fora da boca do peixe, os anzóis enroscarão inevitavelmente na rede do puçá. Imagine-se nessa situação, mas lembre-se de que você está alegre, pois acaba de fisgar um bom peixe e o mesmo está em segurança nas suas mãos. Num caso desses, o bom pescador pega então seu alicate e passa na boca do peixe para ter um manuseio mais seguro. É aí que o negócio complica, já que somente ao tentar tirar o peixe do puçá é que ele vai perceber que os anzóis estão todos enroscados. Pense: uma das mãos está segurando o alicate na boca do peixe. A outra está empunhando o puçá. O peixe está enroscado. 

A isca livre

Como fazer para tirar o peixe do enrosco, se o pescador só tem duas mãos? Entra em cena então o famoso “jeitinho” brasileiro, ou seja, dar-se um jeito de colocar o cabo do puçá preso entre as pernas para tentar liberar uma das mãos. Mais uma decepção: uma mão apenas não é suficiente para livrar os anzóis dos fios do puçá. A esta altura a alegria já está se transformando em raiva, pois há mais peixes na água à espera e o pescador está tão enroscado quanto os anzóis e os fios de nylon seda. Vem o desfecho fatal: o próximo equipamento que ele vai procurar na caixa de pesca será uma faca ou canivete. Destrói a rede, mas pelo menos acaba com o maldito enrosco. Quem ainda não havia deduzido, agora já sabe muito bem porque após a primeira pescaria a puçá cuja rede é de nylon seda vai voltar com alguns buracos. 

Embarcando o peixe com segurança

Ainda assim, tem muito pescador que insiste em levar o mesmo puçá esburacado na próxima pescaria. Para alguns, é necessária uma longa sucessão de pescarias e muitos buracos até o dia em que finalmente “caem na real”. Ou mandam fazer uma nova rede ou compram um novo puçá. Tanto em um caso como no outro, quando for adquirir um puçá novo ou reformar o seu, peça que a rede dele seja feita com nylon monofilamento. Com esse tipo de fio, quando fisgar um peixe e for coloca-lo dentro do puçá, você verá como é fácil tirar as garatéias, já que os anzóis não furam os fios de monofilamento, o que garante que essa simples operação seja rápida e segura, mesmo você tendo “apenas” duas mãos. 

Matrinchã no puçá correto

Pescador: confira sua tralha de pesca e veja se o seu puçá tem o maldito nylon seda azul (ou seja, lá de que cor). Se tem não se desespere ainda, pois nem tudo está perdido. Trata-se, tal puçá, de um excelente equipamento para pescar... siris! Vivendo e aprendendo.
NOTA DA REDAÇÃO: Apenas mais um detalhe: no caso de você estar usando um puçá de fios de nylon monofilamento, nem vai precisar do tal alicate “pega peixe”, isto porque, com um alicate comum, tiram-se os anzóis da boca do peixe e então, no caso de peixes sem dentes – tucunarés, black bass etc. – podemos pega-lo com as mãos para, se quiser, praticar o pesca e solta sem ferir demais a boca do peixe. 

Publicado na Rev.Aruanã Ed.55 em Fev.1997


sábado, 18 de março de 2017

O CASO ARUANÃ





A revista que registrou o alcance de 1 milhão de exemplares


Um número bastante festejado por todos os funcionários da Revista Aruanã
Em outubro de 1992, em nossa edição nº 30, publicávamos uma pagina dupla na Revista Aruanã, que era para nós, um grande vitoria. Com apenas cinco anos, a Aruanã somava um milhão de exemplares publicados. Nossa tiragem era de 50 mil revistas impressas, distribuídas para bancas de jornal e assinantes.  Evidente está que o mercado – alguns – reagiu de forma negativa, pois até então, “uma revista de pesca” não era uma publicação que podia ter uma tiragem dessas. Qual era a aceitação do mercado em ter uma publicação nesse segmento? E mais, o papel dessa revista era de primeira qualidade, bem como, na época, fotolitos e impressão nas melhores gráficas do país. Diagramação, reportagens, informações, defesas de seus leitores, cobrança de diversos órgãos ambientais, enfim uma nova maneira de tratar um público até então esquecido ou não notado pelo mercado. A publicidade da Revista Aruanã abrigava em suas páginas, desde uma pequena loja ou indústria, até produtos contratados por grandes agências de publicidade. 


                                                    Folclore Brasileiro

Apesar de tudo isso, continuava a dúvida referente à quantidade de revistas impressas. Infelizmente em nosso país, a desconfiança dá ao ditado “mate a cobra e mostre o pau”, quase uma obrigação de provar o que se está afirmando. Foi à hora então de contratar um órgão oficial chamado com a sigla IVC – Instituto Verificador de Circulação, o qual tirava qualquer dúvida que existisse, do nosso sucesso. Na data, 1992, festejamos bastante, pelo número alcançado. Mas novidades maiores ainda estavam por vir, à medida que novas edições entravam nas bancas. Das modestas 64 páginas, passamos a 84 e logo depois a 100 páginas, tendo em vista que para não ficar uma revista de anúncios, aumentamos paginas e tiragem. De nossa edição nº1 com 10 mil, chegamos a quantidades de 80 mil exemplares. Além das bancas de jornal, nosso número de assinantes aumentava cada vez mais. Sair com a Aruanã do Brasil, enviando para Japão e Portugal, foi obra da nossa distribuidora. 





60 mil exemplares e agora com a chancela IVC

Nosso sucesso podia ser visto na opinião de nossos leitores. Nunca houve um só leitor que não fosse por nós atendido, pessoalmente ou por telefone. “Inventamos” uma seção que denominamos Álbum, onde nossos leitores enviavam suas fotos com peixes. Tivemos que colocar um aviso na tal seção, que devido ao grande número de fotos recebidas, a publicação poderia demorar até dois anos. Todas as fotos recebiam um número de recebimento e ninguém passava na frente de ninguém. Criamos em nossas páginas espaços para animais e peixes do Brasil, além de contos de lendas do folclore do Brasil. Nossas aventuras pelos rios do Pantanal e Bacia Amazônica, acampando e navegando em barcos de alumínio e dormindo em barracas na beira do rio, mostrava aos nossos leitores que isso era possível e pescar em locais ainda virgens era somente dessa maneira que podia ser feito. Foram muitos os leitores que seguiram nossas dicas e fizeram diversas dessas viagens. 


Uma de nossas muitas aventuras

Entrevistas com autoridades – na maioria sem resultado algum – eram feitas e publicadas pedindo providências. Foi uma batalha onde nossa luta acumulava muitas derrotas e poucas vitórias. Isso era jornalismo na sua mais pura essência. Tínhamos ainda em parceria o Jornal da Tarde e mais tarde um pouco a Rádio Globo SP, que muitas portas nos abriram, em locais onde poucos entravam. Em reunião de pauta em nossa redação, nunca foi discutida a mínima possibilidade de fazermos uma reportagem fora do Brasil, aconselhando alguém a ir lá pescar. Saímos do Brasil sim, como convidados das maiores indústrias de materiais de pesca. Mostramos ao pescador como era o local onde os artigos que ele consumia, eram fabricados, Nossas páginas contaram essas viagens profissionais em vários países do mundo. Enfim, foi isso nos treze anos de duração da Revista Aruanã. Fica no ar a pergunta do porque paramos. Era evidente que o mercado começa a ficar “diferente”, publicidade diminuindo, concorrência discutível e outros itens nos mostravam que a solução era, ou diminuirmos a qualidade e o número de páginas, ou paramos nossa publicação. 




                                                   Dicionário Animais do Brasil

Optamos por parar a revista. Isso aconteceu por volta de 2001/2002. Tivemos inclusive ofertas de compra do nosso nome da revista. O amor que adquirimos pela revista, não nos deixaram praticar esse ato. Pareceria, pelo menos para nós, uma traição ao nome Aruanã, que antes da revista, alguns conheciam como sendo um peixe ou uma cidade de Goiás. Hoje existem muitos “aruanãs”, mas revista, só existiu e existirá sempre uma. Como o leitor leu acima, a revista esteve no mercado durante treze anos. Depois de treze anos de nossa saída do mercado, uma idéia surgiu naturalmente: ora, aquela garotada que na época em que paramos estavam na faixa entre 12 e 15 anos, talvez nunca tivessem visto a Revista Aruanã. Treze anos depois, portanto em 2014, esses garotos eram homens adultos e quem sabe gostariam de ler alguns artigos publicados na revista original. Com a moderna tecnologia e com o aconselhamento de um profissional do ramo, ouvi a palavra “blog”.



Dicionário Peixes do Brasil

Sim, era possível transportar para a Internet, as mesmas reportagens e com a mesma qualidade da edição original. Modestamente comecei a estudar esse chamado blog. Vivi uma situação parecida, quando a minha velha máquina de escrever teve que ser substituída pelo teclado de um computador. Sem compromisso e sem depender de ninguém comecei a publicar o http://revistaaruana.blogspot.com.br reeditando as matérias já publicadas e como jornalista fazendo novas matérias no mesmo estilo da revista. O sucesso veio devagar, sem grandes demonstrações públicas e modestamente os primeiros números de visualizações, começaram a surgir. A cada novo número em milhares, eu publicava e agradecia. Agora, ninguém poderia duvidar desses números, já que eram oficiais e fornecidos pelo Google. Depois de um tempo achei melhor publicar somente quando o tal número chamasse a atenção do leitor. Todos os dias, pela manhã, eu entro no blog e verifico se está tudo em ordem e se há algum comentário. 



                          Apenas uma, das muitas edições com 100 páginas

Se houver, a resposta é imediata e publicada logo após a pergunta. Mas algo mais estava me chamando à atenção nos tais números. A cada dia, vários novos países/leitores estavam vendo nossas postagens, até que chegou um dia em que constatamos a nossa presença em todos os continentes do mundo. E, agora chegamos a um número que me permito festejar e que para mim tem o mesmo valor daquele primeiro milhão da Aruanã. Aí está esse número que agora publico e que, mais uma vez, é oficial. Mais de 100 mil visualizações. Talvez para alguns, esse número seja pequeno ou irrelevante, mas, para quem tem um computador e uma digitalizadora, como companhia, são números muito importantes. E, acabo esta postagem dizendo apenas um muito obrigado a todos vocês pescadores, independente de qual país vocês estejam. Valeu mesmo. Antonio Lopes da Silva





         100 mil

                                                               A verdade dos números segundo o Google:


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  MUITO OBRIGADO!

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - CORCOROCA












Existem diversas espécies de Corcorocas; especificamente, vamos falar de duas, pois acreditamos serem as mais encontradas pelo pescador amador e seus anzóis. Confira.






As duas espécies que acreditamos serem mais comuns em nossas pescarias pertencem à mesma família, ou seja, a família Pomadasydae.Seus nomes científicos pouco diferem um do outro, já que uma chama-se Haemulon plumieri e a outra Haemolun sciurus. A primeira, ou seja, plumieri, é espécie marinha encontrada desde a Baía de Chesapeake (EUA) até o Rio de Janeiro, sendo muito comum no litoral nordestino. Sua coloração é de corpo bronzeado-denegrido, com quatro estrias azuladas na parte superior do tronco e acima da linha lateral. Sua principal alimentação é à base de vermes, moluscos, crustáceos e pequenos peixes. Pode atingir 50 centímetros de comprimento e pouco mais de 1 quilo de peso. A segunda, ou seja, sciurus, tem como área de atuação desde a Flórida até o Rio de Janeiro. Sua coloração é amarelada e seu ventre esbranquiçado. Seu tamanho é parecido com a anterior, bem como seu peso, assim como a alimentação. Estas citações, devidamente científicas, encontramos em alguns livros. Porém, pela nossa prática de pescadores amadores, podemos confirmar que a área de atuação das duas espécies vai um pouco mais longe, e sem medo de errar, consideramos que atingem até o Rio Grande do Sul e que podem ser pescadas nas praias, nos costões e até mesmo em alto mar. O material mais correto para sua pescaria, em se tratando de praias e costões, poderá ser o considerado da categoria leve. Uma linha entre 0,20 a 0,30 milímetros está mais do que suficiente. O formato do chumbo e seus pesos dependem do lugar em que o pescador esteja pescando, já que sabemos e já comentamos os tipos de chumbo e seus pesos em edições anteriores da Revista Aruanã. Os anzóis podem ser pequenos a médios, ou seja, entre 2 e 14 são tamanhos mais do que suficientes para se poder brigar e tirar uma corcoroca de seu habitat. No capítulo das iscas a variação é enorme, e podemos citar: corruptos, camarão, filé de sardinha, sarnambi, barata-do-mar, saquaritá, minhoca-de-praia, tatuíras e até pequenos peixes, iscados em filés ou mesmo inteiros. Sua carne é de sabor regular a bom, fazendo lembrar um pouco a carne de pescadas e corvinas. Uma outra boa dica é que a corcoroca costuma andar em cardumes, não sendo difícil fazer-se um “double”, ou seja, dois peixes fisgados ao mesmo tempo. Oferece pouca briga, a não ser na pesca de praia quando, bem na rasura das águas, costuma dar algumas corridas, tentando livrar-se do anzol que a prende. Um outro fato curioso sobre a corcoroca, refere-se aos sinônimos pelos quais é conhecida ao longo do litoral brasileiro.  Vamos a eles: “abiquara”, biquara, boca-de-velha, capiúna, corocoroca-mulata, negra-mina, biquara-do-raso, cambuba, corcoroca-boca-de-fogo, macassa, pirambu, sapuruna, uribaco e xira. Em tupi-guarani, vamos encontrar o nome mais aproximado de pirambu, que podemos traduzir como peixe parecido com o sargo, ou se preferir mais “ao pé da letra”, peixe que ronca, ou seja, emite sons, ou que tenha coloração preta. Boa pescaria de corcorocas, seja ela qual for e que nome tenha.

sexta-feira, 17 de março de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - LULAS









A Lula está presente em praticamente todo o litoral brasileiro. É uma excelente opção de alimento, pouco aproveitado no Brasil, mas tratado como verdadeira paixão em vários países do mundo.




Em alguns países como o Japão, Portugal (onde é conhecida como “choco”) e Itália, esse molusco é verdadeira paixão, não só na pesca amadora como também na culinária. Aliás, vem da Itália o sinônimo “calamares”, ou se preferirem “calamaio”, nome pelo qual a lula é conhecida inclusive em trabalhos científicos. No Brasil existem três tipos identificados de lulas, cujos nomes científicos são: Loligo brasiliensis (que se caracteriza pela feição da siba, parecida com uma pena de galinha, transparente), Loliguncula brevis e Ommastresphes bastrani, sendo esta ultima considerada como lula argentina por ser encontrada com maior frequência no sul do Brasil. A aparência desses três tipos apresenta pouca diferença, e portanto a lula pode ser descrita como tendo o corpo alongado, com quatro pares de tentáculos e um par de tentáculos mais fino e longo. 
R.Von Ihering
Uma outra curiosidade dessa espécie é o fato de possuir um “reservatório” de tinta escura, a qual é expelida quando ela se sente ameaçada, a exemplo dos polvos, só que em menor quantidade. Aliás, essa tinta, quando industrializada, serve realmente como material de pintura. Seu habitat preferido e onde é mais encontrada são os fundos com cascalho e preferencialmente junto a ilhas, costões e parcéis razoavelmente abrigados, ou seja, com águas mais calmas. Podem ser avistadas tanto durante o dia como a noite. Neste ultimo caso, os cardumes de lulas são facilmente avistados por se tornarem fluorescentes em seus movimentos É um espetáculo muito bonito ver aqueles pontos brilhando sob a superfície do mar. A profundidade dos cardumes podem variar e um exemplo disso é que no Japão chegam a pesca-las em profundidades de até 120 metros. No Brasil não se tem notícias de lulas nesses locais, pois são poucos os pescadores habituais de lulas, que tentaram pescar a tais profundidades.

sexta-feira, 10 de março de 2017

DICA: É ÉPOCA DE PAMPO
















Existem várias espécies de peixes que recebem a denominação de pampos. No litoral do Brasil, três delas são mais comuns, e estamos na melhor época do ano para pesca-las. Confira.













Pampo fisgado no costão

A família Carangidae engloba, sem distinção, todos os peixes conhecidos como pampos. Como afirmamos, três membros dessa família são mais comuns no Brasil: o Trachinotus carolinus, que é o “pampo verdadeiro”, o Trachinotus goodei, também conhecido como “pampo-espinha mole” ou “galhudo” e Trachinotus falcatus, o maior deles, também conhecido como “sernambiquara”. Em geral, são peixes de formato romboide, possuindo dorso cinza-azulado e ventre prateado. Porém, ao serem fisgados e retirados da água, adquirem uma coloração amarela causada pelo contato com o ar. Sua área específica de atuação no litoral geralmente é a praia. No entanto, também é comum fisga-los em costões e até mesmo em alto mar. Devido em parte ao formato de seu corpo, pode-se afirmar que são muitos esportivos, pois brigam bastante quando são fisgados, sendo que podemos assegurar que o pampo é a espécie de praia que mais luta com o pescador amador. 

Tatuíra

Dependendo da praia e estando o pescador dentro da água, pode acontecer durante a briga que os peixes se dirijam mais para o raso, dando um giro de 360 graus em torno do pescador. Uma outra particularidade pode ser observada quando o pescador está usando um chicote de dois anzóis: o pampo fisga sempre no anzol de cima, ou seja, o anzol que fica mais próximo à isca quando esta está flutuando. Sabendo disso, vários pescadores costumam usar a pernada do anzol de baixo (ou seja, aquela próxima ao chumbo) mais longa, com comprimento de aproximadamente 60 ou 70 centímetros, para que a isca não fique também muito rente ao chão. Não dá para precisar com muita clareza como é “uma pegada característica” do pampo, já que ele tanto pode dar um ou dois “cutucões” para correr, como também, em outras ocasiões, engolir tudo e ficar aparentemente parado. 

Praia rasa

Porém, o mais sensacional é quando ele pega e corre direto, coisa que, dependendo do tamanho do peixe, pode fazer com que a vara seja arrancada das mãos do pescador. A área de incidência dos pampos estende-se desde os Estados Unidos até o Rio Grande do Sul, com exceção do já mencionado sernambiquara, que também vem dos Estados Unidos, mas chega no máximo a São Paulo. Enquanto no nordeste é muito comum fisgar os sernambiquaras na praia, em São Paulo isso é praticamente impossível, já que no litoral paulista eles preferem ficar margeando costões e ilhas. O pampo não é muito seletivo em termos de iscas na modalidade de praia, já que pega no corrupto, camarão morto, toletes de sardinha, tatuíras, pequenos siris, caranguejos e sarnambis. 

São muitas as opções de iscas de praia

Aliás, sobre estes últimos, o próprio nome “sernambiquara”, cuja origem é tupi-guarani, já denuncia a preferência do peixe, pois significa “comedor de sarnambis”, o que é uma ótima dica. No costão, as iscas usadas com mais sucesso são: caranguejos, corruptos (quando há praias por perto), baratinhas-do-mar, mariscos, saquaritás e o caranguejo conhecido como “guaiá”. Na praia, o melhor equipamento inclui, além das varas com mais de 3,5 metros e molinetes/carretilhas de tamanho grande, linhas de, no máximo, 0.30 mm. Para as pernadas, recomenda-se usar linha 0.50 mm. No que se refere aos anzóis, os mais aconselháveis são os que variam entre os números 2 e 10, pois o tamanho apropriado do anzol depende diretamente do tamanho do peixe. Não é preciso fazer encastoado de aço. 

As cores do pampo


Pampo galhudo fisgado na praia

No costão, é necessário reforçar o material usando como linha mestra um nylon, de 0.50 mm, um líder de 0.70 mm com 20 ou 30 metros de comprimento e pernadas de 0.70 mm, optando pelos anzóis de 1/0 até 5/0. Se preferir, na pesca de costão o pescador poderá usar somente um anzol. Neste caso, supõe-se que esteja usando uma chumbada oliva, pois os grandes sernambiquaras não estarão nunca junto à areia do fundo, e sim à meia água ou bem próximos á superfície. Os melhores costões para esse tipo de pesca são aqueles que apresentam grandes lajes de pedra que vão desde a superfície até profundidades maiores. Tanto na praia como no costão, as melhores marés são sempre as de grande altura, que ocorrem nas luas cheias ou novas. Uma curiosidade: se houver uma ressaca muito forte, não será possível pescar. No entanto, no primeiro dia em que o mar voltar a ficar calmo assim que a ressaca passar, seguramente iremos obter melhores resultados na pesca de pampos, tanto no costão como nas praias.


Costões

Isca de praia

A explicação para tal fato é simples: com a ressaca, vários microorganismos desprendem tanto das pedras como da areia das praias, tornando farta a alimentação dos peixes. Normalmente, o pampo verdadeiro atinge até 5 kg e o espinha-mole até 3 quilos. Já o sernambiquara, segundo alguns registros, pode pesar cerca de 45 kg e medir 1,2m. Nas praias, o período propicio à pesca do pampo estende-se desde janeiro até meados de abril, enquanto nos costões, dependendo do estado do Brasil, pode ser encontrado durante o ano todo. Uma dica final: na praia, o pescador deve procurar “bater” em todos os canais, pois é até comum que o pampo esteja na chamada “espuma”, ou seja, ainda no primeiro canal. Como já sabemos que as melhores marés para a pesca desse peixe ocorrem durante as luas grandes, só resta dizer que, na praia, a enchente da maré é o melhor horário. Enquanto no costão toda a enchente é boa, como também as duas primeiras horas da vazante. Estamos na época dele. Aproveite.


Publicada Rev. Aruanã Ed:55 Fevereiro 1997

sábado, 4 de março de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - RONCADOR







Nada há de especial neste pequeno peixe, no que se refere à esportividade ou às grandes brigas. No entanto, sua presença é garantida em todo o litoral.
















O nome vulgar “roncador”, para este peixe que pertence à família dos Pomadasydae e recebe o nome científico de Conodon nobilis, talvez seja devido ao simples fato de que, quando fisgado, emite ruídos que parecem roncos, através de sua faringe. O roncador apresenta como coloração principal o dorso amarelado, e sua principal característica são as oito faixas escuras e transversais ao corpo. No estado de São Paulo, alguns pescadores costumam chama-lo também de “português de pijama”, talvez pelo ronco e pelas faixas escuras. Aliás, sinônimos é o que não lhe faltam, já que, dependendo da região do Brasil, recebe nomes tais como: canarinho, coró, coró-amarelo, coroque, ferreiro, maria-luiza, pargo-branco e até o delicado “mademoseille”. Sua pesca pode ser considerada leve, já que o roncador dificilmente ultrapassará o tamanho de 30 centímetros e o peso de meio quilo. Costuma frequentar praias, costões, rios e canais do litoral e alto mar. Para a pesca amadora é interessante, já que costuma andar em cardumes. Linhas de pesca na bitola 0,20 a 0,35 milímetros e anzóis 2,4, 6 e 8 serão mais do que suficientes para sua pesca. Bom de boca, fisga nas seguintes iscas naturais: filé de sardinha ou parati, camarão, lula, caranguejo, saquaritá, marisco, tatuíra, sarnambi e corrupto. Sua distribuição geográfica se dá desde os Estados Unidos até o sul/sudeste do Brasil. Apesar de se poder pesca-lo durante todo o ano, sua melhor época será sempre na primavera e verão, quando conseguiremos fisgar mais peixes. Este roncador que aqui estamos abordando é exclusivamente habitantes de águas marinhas, já que em água doce existem ouras duas espécies que, apesar de terem o mesmo nome, são de famílias e nomes científicos completamente diferentes. Esses roncadores de água doce habitam rios como o São Francisco, Negro, Guaporé e Tocantins, e têm certa semelhança nas cores e faixas, daí talvez o fato de receberem o mesmo nome vulgar. Na pesca do roncador marítimo, costuma-se usar dois anzóis no chicote, o que, por diversas vezes, ocasiona a possibilidade de fisgar-se dois peixes ao mesmo tempo, fato este que denuncia sua presença em cardumes e que torna sua pesca bastante produtiva. 

sexta-feira, 3 de março de 2017

FOLCLORE DO BRASIL - A LENDA DO BOTO





A cultura popular é pródiga em suas lendas e costumes. Na região amazônica, a do boto cor-de-rosa é uma delas. Frequenta as festas juninas principalmente e, engravida as donzelas que encanta. Como explicar essa gravidez a comunidade, sendo a moça solteira? É  o que explica a lenda.





Ainda nos dias atuais, principalmente na região amazônica, costuma se afirmar que uma criança é filha do boto, quando não se sabe quem e o pai. Precisamente não se tem uma afirmação de onde surgiu a lenda do boto cor-de-rosa. Dizem alguns que data, o seu surgimento, por volta do século XVIII. Entre o povo indígena, principalmente na mitologia dos Tupis uma lenda parecida afirma que há um deus que se transforma em boto, o Uauiará, que adora namorar belas mulheres. Mas voltando a lenda do boto, que ainda hoje é citada na Amazônia, podemos esclarecer alguns detalhes descritivos desse “personagem”. A noite tem que ser sempre de lua cheia e a época certa para acontecer será durante o período das festas juninas, muito festejadas na região e em diversas locais do Brasil. Ele aparece na forma de um belo rapaz e busca sempre belas donzelas, normalmente desacompanhadas.  Sua vestimenta é um terno branco e um chapéu da mesma cor. Após o primeiro contato, o galanteador as leva até a beira dos rios onde as encanta. Convida-as a um mergulho onde as engravida. Feito isso, desaparece nas águas para sempre. A moça retorna a sua comunidade grávida. Como explicar a família essa gravidez? Evidente está que em uma festividade, alguns excessos são cometidos e a presença de um jovem e belo rapaz desconhecido, chama muito a atenção das donzelas. Ele, o boto, sabe dessa condição e escolhe sempre uma virgem. Praticado o ato e com a gravidez se tornando visível, a família tenta explicar essa condição em moça solteira, para que com isso atenue o fato e a culpa ou deslize da tal rapariga, que digamos “se entusiasmou demais” na festa. Ainda nos dias de hoje, tal desculpa justifica a indesejada gravidez. Uma outra curiosidade é que, quando um homem estiver usando um chapéu, o responsável pela festa, pede a ele que tire esse chapéu e mostre sua cabeça. Essa providencia se faz necessário, já que o homem sendo boto irá ter dois buracos no centro da cabeça, por onde respira. Esses dois buracos são por onde os botos de verdade, respiram e assim denunciam sua presença, nas evoluções que fazem nas águas dos rios amazônicos. Várias crianças são registradas com o sobrenome boto, costume esse ainda usado nos dias de hoje.

quarta-feira, 1 de março de 2017

ESPECIAL: UM POUCO DE NOSSA HISTÓRIA








Poderíamos falar muito sobre a grande Cachoeira de Marimbondo/Índios mas, o que mais nos chamou a atenção, é a história de um pescador em especial, que nos remete a nossa origem, onde pescar, antes de tudo era puro prazer.





O pescador Jover Assad Karam



Cachoeira de Marimbondo/Índios



Pescando em ceva

Para se contar uma boa história é preciso, antes de tudo, identificar seus personagens, os fatos e se possível, as imagens. Graças a uma publicação sobre a Cachoeira de Marimbondo/Índios, que por gentileza de Kenji Honda, nos forneceu uma imagem antiga de um pôster que, ao ser publicada no Facebook, surgiram vários comentários de leitores de nossas publicações. Em especial um: Rogério A. Dias. Explico. Rogério, como ele próprio confessa, é um leitor assíduo da Revista Aruanã, e tem a coleção desde o número 1, e como ele mesmo nos disse, era difícil esperar dois meses por uma nova edição. Junto com ele, outro personagem surge nesta história, seu avô Jover Assad Karam, também leitor da Aruanã e pescador inveterado e iniciador de Rogério na arte da pesca. Karam – vamos chama-lo assim – tinha como um lugar especial e aonde ia muito pescar que era a Cachoeira de Marimbondos. Como todo bom pescador, uma máquina de fotografias era companheira de viagem inseparável. Para nossa sorte e de gerações futuras, ele tirou com sua velha máquina e em filmes branco e preto, várias fotos de suas aventuras em Marimbondo, com suas paisagens e peixes maravilhosos. 


Um lugar especial para pescar

Deixemos um pouco de lado, Karam e suas pescarias, para ver o que temos sobre essa cachoeira nas Redes Sociais. Por exemplo, poderíamos falar a respeito da construção da Ponte Mendonça Lima, no rio Grande, em 1943, que ligaria Minas Gerais com São Paulo; poderíamos citar também o livro “Diário de uma viagem pelo sertão paulista, realizada em 1904”, de Cornélio Schmidt, em viagem feita com o norte americano Thomaz Canty, onde conta as primeiras pesquisas para a construção de uma usina hidroelétrica no rio Grande; importante citar que antes dos saltos existem duas ilhas, a de cima chama-se Escura e a de baixo Pelada, e para baixo do salto, mais duas também, a primeira chamada dos Patos, e a de baixo, Ferrador, que dizem ser a causadora da Cachoeira do Ferrador e para finalizar esta citação: “em 1912, Jesuíno da Silva obteve concessão (Decreto nº9. 403) para o aproveitamento da força hidráulica da Cachoeira do Marimbondo no rio Grande, entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais”. O projeto ficou apenas no papel, não foi concretizado e a concessão expirou, para o desespero da população daquela região que sonhava com a moderna luz elétrica. Sobre a cachoeira em sua extensão havia vários saltos tais como o do Ferrador, dos Índios, das Andorinhas, dos Patos, da Onça e atentem para este nome – da Água Vermelha.



Os irmãos Assad Karam
                                                  AS PESCARIAS


Era comum, quando a pescaria iria ser realizada em Marimbondo, uma extensa preparação devido à distância que separava a capital de São Paulo, do local das pescarias. E mais, nessa preparação o acampamento era indispensável, pois não havia qualquer outra comodidade a ser aproveitada e usada. A “barraca” era uma lona que sempre alguém tinha uma, que por certo servia como cobertura da carroceria de algum caminhão. Montada a barraca, ela iria servir como cozinha, dormitório e sala de refeições, normalmente montada perto da água do rio. A tralha de pesca era bem simples. Karam tinha uma carretilha, mas a grande maioria pescava mesmo era com varas de bambu e linhadas de mão e estas de grosso diâmetro, pois era assim que se lutava com os dourados e os peixes de couro, que “teimavam em descer corredeira abaixo” sem se importar com quem os tinha fisgado. 



Uma imagem parcial de Marimbondo

Pescarias mais calmas eram feitas nos poços, onde as cevas eram aproveitadas e lado a lado os pescadores se divertiam com as piabas, piabanhas, piaparas, piaus entre outros e todos de grande porte. Fisgar qualquer uma dessas espécies na vara de bambu era uma luta dura e demorada, até o peixe cansar. O melhor de tudo eram os papos que rolavam soltos, pela proximidade dos pescadores nos poços. Para se ter uma idéia da piscosidade da Cachoeira de Marimbondo/Índios, para lá se dirigiam pescadores de vários estados do Brasil, em longas viagens em carros ou caminhões. Era uma aventura a ser vivida como, por exemplo, hoje, no Pantanal ou Bacia Amazônica. Pisar nas rochas daquele lugar era considerado uma graça e muitos afirmavam ser aquele solo, sagrado.


                                                   O FIM DE MARIMBONDO

Em 1979 finalmente a barragem de Água Vermelha represa as águas do rio Grande. Lentamente o nível das águas foi subindo e com o passar do tempo, aquele lugar maravilhoso e sagrado, foi sendo tragado silenciosamente estando até hoje lá, abaixo de muitos metros de água, em uma represa que tem 647 km2 de extensão, cujo único motivo de sua criação é gerar energia elétrica para nosso país. 


Jorge segurando um dourado

Marimbondo repousa submersa em suas águas e com certeza sem o barulho de suas corredeiras e saltos, em seu túmulo eterno. Deve continuar a ter seus contornos e disposições, porém, sem as margens, vegetação, poços e corredeiras originais, onde Jover Assad Karam, que já está pescando no céu, consegue ainda visualizar, pois aos pescadores que se tornaram estrelas no céu, tudo é possível. Karam, seus irmãos e amigos deixaram fotos, histórias, conhecimentos e exemplos para provar que um dia, essas maravilhas existiram e que, os pescadores da época, que lá pescavam, souberam e muito aproveitar. Que descansem em paz. Muito obrigado.



Nota da Redação: A exemplo do que foi feito com Marimbondo, podemos citar ainda o canal de São Simão e Sete Quedas (Salto Guaíra) e tantos outros, em nome do progresso. E tudo isso continua a ser feito atualmente e, desta feita, são os rios diversos da Amazônia. Esquecem nossas autoridades de meio ambiente, que o custo de uma escada para peixes, custa menos do que 1% do total de sua obra e elas são feitas e aprovadas em sua eficiência, em vários países do mundo. A grande maioria das represas do rio Grande não tem esse simples, barato e importante detalhe. Lamentavelmente.