sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

OS PIONEIROS DA PESCA AMADORA NO BRASIL - MABEL











Quem conhece a Mabel hoje, dificilmente acreditaria que essa enorme loja começou com 8 metros quadrados, dentro de uma sala, no quarto andar de um prédio. Esta é a história de Abel Câmara Martins, seu proprietário.





                            Publicidade da Mabel na época (foto da fachada da loja)
  

Se buscarmos um exemplo de integração de um homem com uma rua, sem dúvida alguma, Abel da Câmara Martins, proprietário da Mabel, pode e deve ser citado. Esse conhecido homem, do mercado lojista de caça e pesca, é um português de Açores – como ele mesmo diz “a ilha mais linda do mundo” – chegou ao Brasil no ano de 1951. Precisando trabalhar como todo imigrante pobre, casualmente o fez em uma loja de caça e pesca chamado o Caçador, na Rua Florêncio de Abreu, 581. Após dois anos de trabalho duro e muitas horas extraordinárias, pediu demissão e com o dinheiro ajuntado, somado a férias vencidas e mais indenizações, montou a sua primeira loja, que ocupava 8 metros quadrados, na mesma rua, só que agora no nº126 e imaginem no 4º nadar. Com a ajuda de sua esposa Maria Rosa começa então a Casa Mabel, cujo nome foi escolhido sendo uma junção dos dois nomes, e isto acontecia por volta do ano de 1954. Com muito trabalho e dedicação aos clientes, a Mabel foi crescendo. Passando a ocupar a sala inteira e logo depois 2 salas no mesmo andar para finalmente em 1963, “conseguir” abrir a loja, no nº 220 no andar térreo, agora com as portas diretas para a velha Florêncio de Abreu. Por volta de 1970, mudou-se definitivamente para o nº656, onde permanece até hoje.


   Abel da Câmara Martins 

A opção por loja de caça e pesca foi pura coincidência, e como o próprio Abel diz “se eu começasse a trabalhar em uma padaria, com certeza estaria até hoje, no mesmo ramo”. Mas um sentimento maior levou-o a procurar emprego em uma loja de caça e pesca, já que Abel se confessa pescador e caçador desde a infância, pois na “sua” ilha dos Açores, que tem apenas 100 quilômetros de extensão, sempre se pescou e caçou, continuando essa atividade até os dias de hoje. Daí ele não compreender como um país continente como o Brasil, a caça está proibida. De seu casamento com Maria Rosa teve duas filhas: Amélia, casada com Mauricio e Elvira casada com Ricardo. Hoje a Mabel tem 3.000 metros quadrados e toda a família trabalha na loja, somando-se a mais 110 outros empregados. Mas quem é o Abel da Câmara Martins? Pescador, faz suas saídas de pesca para o litoral, Pantanal, Solimões e Araguaia, tendo como lembrança maior um tucunaré de 9,8 quilos. Na caça sua paixão é a caçada de campo, com preferência para a perdiz, e isto mais se motiva pelo trabalho dos cães da raça Pointer, que ele mesmo cria em sua fazenda, onde tem alguns animais até hoje. Puxando da memória, lembra ainda de algumas caçadas na África, Portugal e Canadá, mas “nada se compara a caça de campo”, enfatiza ele, “pois nesse tipo de caça, há uma perfeita harmonia entre o homem e o cão, pois às vezes nem é preciso falar para que o animal, bem treinado, entenda seu dono”. 

Aspecto da Loja

Em Porto Feliz, onde fica localizada sua fazenda, tem outra paixão, e esta mais recente, que é a criação de cavalos árabes. Perguntado sobre alegrias e tristeza no ramo da caça e pesca, ele nos conta: “não há nada melhor do que o bate papo, principalmente após um fim de sema, com os pescadores contando suas aventuras. No entanto, o que mais tristeza me causa é saber que a caça em nosso pais e o que é pior, proíbe-se uma atividade onde quem faz as leis nada entende dela, pois compara-se um caçador amador, esportista, a por exemplo quem caça de arapucas, laços e outras armadilhas”. E ele continua: “segundo minha opinião, nada deveria ser proibido, mas sim regulamentado, com bases, estudos e pesquisas cientificas”. (NR: alguma semelhança com a opinião de muitos, depois de 37 anos?) Explicando o crescimento da Mabel, ele diz que hoje sua loja “vende desde um pequeno anzol para lambari, até embarcações de porte, com motores que variam de potência de 2 até 225 HP” e que “tal fato se deve ao crescimento da cidade de São Paulo”, pois quando começou em 1951, “esta cidade tinha apenas 1,5 milhões de habitantes e hoje é a maior cidade do Brasil”. A importação direta é outro sucesso da Mabel, pois além de vender no atacado e varejo, a Mabel representa diretamente a Mitchel, Zbeco, motores de popa Mariner, etc. Finalmente, Abel faz ao leitor da Aruanã um convite: “venham até nossa loja e veja se como pescador ou caçador, não irá ficar satisfeito com nossos preços e atendimento”.


Revista Aruanã Ed.14 publicado em 02/1990

12 comentários:

  1. Meu pai trabalhou na Mabel por muitos anos. Legal ver a reportagem antiga

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  2. Uma pena você não ter citado o nome de seu pai, pois a Mabel era muito visitada por nós da Aruanã. Quem sabe nos cruzamos com ele na loja. Muito obrigado pelo seu comentário

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  3. Meu pai se chama Alberi, foi vendedor da Mabel por uns 23 anos. Frequentei muito aquela loja na minha infância e tenho muitas lembranças de lá.

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  4. Obrigado meu amigo. Com certeza agora, nossos leitores que foram a Mabel na época, devem ter conhecido seu pai. Valeu sua participação e eu agradeço. Fraterno abraço.

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  5. Bom dia, meu nome é Jose Ricardo e trabalhei na Mabel de 1982 a1986, no dpto de compras e custo, aprendi muito nessa empresa, sempre cito o nome de pessoas que nas quais me ajudaram muito, como, o Sr Abel, a Dna Maria Rosa da qual eu tinha muito contato de trabalho, o Sr Ezio o “chefe mais maluco e melhor que eu tive,o Sr Renato o Sr Maurício e o Sr Souza da expedição, então me lembro o nome da Sra que a única mulher que era vendedora de roupas, foram anos maravilhos e de muito aprendizado. Gostaria de saber sobre eles e até poder agradecer pois eles fazem parte da minha vida. Hoje sou proprietário de um escritório de contabilidade a 20 anos Samá contabilidade com minha esposa e filhos e cunhado, ou seja no mesmo modelo deles, pois vi como boa a referência que era trabalhar em família

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  6. Bom dia Ricardo Rodrigues. Todas as pessoas que você cita nominalmente, também fizeram parte do rol de meus conhecidos, já que as minhas visitas a Mabel eram frequentes, mesmo porque tinha publicidade na Aruanã. Depois do fechamento da loja, não tive mais contato com eles. Nos comentário na época dessa publicação, também não faziam qualquer menção sobre o paradeiro atual dos mesmos. Uma, talvez, solução para sua dúvida seria procurar pelos nomes em algum site de busca. No que se refere a empresa familiar, quando todos jogam no mesmo time, são muito boas para se trabalhar e ter sucesso. Abraço e sucesso à você e família.

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  7. Acredito que essa mesma loja seja a que fez publicidade na novela Pantanal quando o José Leoncio e seu filho Joventino foram comprar um novo barco.

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  8. Marcelo: Com certeza já que na época, era a maior loja especializada em caça e pesca. Obrigado pela participação. Valeu e forte abraço.

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    1. Agradecemos muito as palavras tão gentis e tão bonitas!!! Ficamos emocionamos com o carinho de todos!sou filha do Sr Abel, meu nome é Amelia e ele está com 95 anos!

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    2. Bom dia Amélia: Com certeza nos vimos algumas vezes na loja, já que como editor da Revista Aruanã, eu ia muitas vezes por lá, para um bom papo. Essas publicações dos Pioneiros, foi uma maneira que achei de informar os atuais pescadores, de quem era quem em nosso segmento. Quem é Quem, foi uma seção da revista e os Pioneiros, reeditei no formato do Blog. Esse blog é de visualização mundial e em todos os países, com mais de 280 mil seguidores. Fico feliz que você tenha gostado e mais ainda saber que o sr. Abel está bem. Muito obrigado por sua resposta. Abraço fraterno à você e toda a família. Toninho Lopes.

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  9. Ahhhh...a Mabel!!!Fez parte da minha vida pois sou sobrinha do Sr.Abel,filha de um dos irmãos dele e que não por acasotbm amava pescar em alto mar em seu próprio barco.Eu me lembro ainda da primeira loja no andar térreo do outro prédio.Eu era menininha e que alegria era ir à loja do meu tio com meu pai e " xeretar " na loja.Tempos de ouro !!!
    Parabéns à revista pela matéria e principalmente por descrever tão bem a força,a luta, a garra e o sucesso do meu tio e da loja.

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    1. Liliana, bom dia. Quem de nós, crianças acostumados com as pescarias de nossos pais, ao ouvir e ver o resultado delas, não sonhava de olhos abertos diante de uma vitrine com artigos, não só de pesca mas, de caça também. Bons tempos é uma frase pequena mas que traduz tudo o que de saudades padecemos, até hoje. Obrigado pela sua participação. Abraço e obrigado

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