sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

ESPECIAL - LENDAS E MITOS NA PESCA AMADORA















Em conversa entre pescadores amadores, muitos são os assuntos que buscam cada vez melhorar mais nossas pescarias. Sempre há alguém que conhece uma dica a mais, à qual os “peixes simplesmente não resistem”, fazendo então os resultados da pescaria serem muito melhores. Evidente está que dicas são importantes, porém, milagres ninguém faz. Vamos descobrir o que é ou não realidade em nosso esporte.




              Cor da roupa do pescador

É só um pescador amador comentar entre amigos que sua pescaria não foi boa, para surgir sempre um “mestre”, para mostrar o que estava errado e, por conseguinte, explicar o fracasso. É comum vez por outra também, aparecerem produtos milagrosos, que farão o pescador ser o melhor de todos e pegar muito mais peixes. Ao longo dos anos temos percebido que a pescaria depende antes de tudo, de muita dedicação, observação, estudo e principalmente ter-se pleno conhecimento do que se está fazendo, e, de acordo com o peixe a ser pescado, saber tudo sobre ele, tal como hábitos, melhores iscas, épocas propícias, desova, comportamento, etc. Sabendo então de tudo isso, é que vamos então nos preocupar com os outros detalhes que serão também muito importantes, mas nem sempre determinantes nos resultados da pescaria. Evidente está que entre detalhes existem os que são realidades e outros que são mitos. Vamos procurar analisar todos, ou pelo menos os mais conhecidos e saber o que é verdade ou não. 




O peixe vê o pescador 

Vejamos. Hoje nosso leitor já sabe que o peixe não vê cores, conforme matéria publicada anteriormente. Ora, se peixe não vê cores, a roupa não terá então tanta importância. Mas neste ponto há um detalhe. Se estivermos pescando em um local onde haja um verde intenso, e a nossa roupa for branca, evidente está que haverá o contraste entre as cores. Já que o peixe só vê em branco e preto, conseguira distinguir o branco mais facilmente e ainda mais, com o movimento constante do pescador. Portanto, use roupas em tons neutros, ou seja, que possam se confundir com o fundo dominante no local da pescaria. Há, no entanto situações em que a cor da roupa, seja qual for, jamais interferirá na ação do peixe. Exemplo: pesca de praia, de costão, embarcado, de barranco com lances longos. Afinal, o anzol com isca está tão longe do pescador, que jamais o peixe irá conseguir vê-lo. Portanto, a cor da roupa é mito.



Gotas milagrosas para se colocar nas iscas
A verdade é que com uma roupa de tons neutros e de preferência claros, o pescador sentirá muito menos calor e será um alvo muito menor para o ataque de mosquitos. Faça a seguinte experiência: use uma roupa azul clara e depois troque-a por uma roupa marrom ou preta. Sinta a diferença em calor e no ataque de mosquitos. Isto sim é realidade.
                        
                       O PEIXE VÊ O PESCADOR

Este é outro mito. Conforme matéria já publicada, e na opinião dos cientistas, o peixe é um individuo bastante míope. Sua visão é de apenas alguns metros e mesmo assim ele não consegue distinguir com perfeição o objeto ou pessoa visualisado. Esse mito tem maior frequência quando os peixes estão no raso, e, com a aproximação do pescador, fogem rapidamente. A verdade no entanto é que o peixe não viu, mas sim ouviu o pescador chegando. O ruído dos passos na margem é que assusta os peixes. Faça uma experiência.
Esconder muito bem a ponta do anzol 

Quando o peixe fugir, sente-se em silêncio e sem movimentos e veja como o peixe irá retornar lentamente ao local onde estava. Conseguir ver o pescador portanto, é mito. Que o digam os pescadores submarinos, pois se os peixes enxergassem bem, não ficariam à mercê de arpões.
                                             
                                   O BARULHO ATRAPALHA A PESCARIA

Isto sim é realidade. Como vimos, o peixe não vê cores, não enxerga bem, mas a audição nos peixes equivale a 10 vezes mais do que qualquer animal terrestre. Em assim sendo, realmente o barulho atrapalha e muito a pescaria: que tanto pode ser em margem ou embarcado. Porém convém salientar que são determinados ruídos que atrapalham mais. Por exemplo, em um barco, o cair de um remo ou então de um outro objeto qualquer, produz ruídos ensurdecedores embaixo da água. Já o ruído do motor, não é tão prejudicial assim, pois caso contrário, as pescarias de corrico seriam bastante prejudicadas. Nas margens, o ruído que atrapalha mais são as pisadas do pescador durante as pescarias, andando de um lado para o outro.                                           

O barulho atrapalha a pescaria 

Já conversas não atrapalham a pescaria, seja ele de barranco ou de barco. Finalizando, diríamos que determinados barulhos atrapalham e outros não. Um exemplo disso é que em nosso litoral é comum ver-se pescadores profissionais que antes de tarrafear uma área, jogam primeiro um pedra na água para depois jogar sua rede. Segundo eles, no barulho da pedra, o peixe vem verificar o que caiu dentro da água. Tem fundamento.
                             
                          GOTAS MILAGROSAS PARA SE COLOCAR NA ISCA

Isto além de ser mito, é uma das maiores mentiras. Tais produtos apregoam que se usados irão aumentar e muito a captura de peixes, mas não passam de pura tapeação. Nós da Aruanã, tivemos inclusive o cuidado de testar tais produtos e o resultado, como não podia deixar de ser, foi nulo. Um dos “fabricantes” de tais produtos foi por nós desafiado a provar que seu produto funcionava. Essa prova seria feita em público. É evidente que ele não respondeu. No item a seguir, falaremos do olfato do peixe. 




Isca em contato com produtos estranhos

ISCA EM CONTATO COM PRODUTOS ESTRANHOS

A maior preocupação do pescador que pesca embarcado é não tocar na isca quando mexeu em gasolina. Esse cuidado tem fundamento, como também outros produtos usados frequentemente pelo pescador. Entre esses destacamos: desodorante, perfume, sabões, sabonetes, detergentes, etc. Mas que fique bem claro uma coisa, visto que o peixe tem seu olfato junto com o paladar, ou seja: só quando ele põe a isca na boca é que sentira o gosto dos produtos estranhos. No caso de iscas artificiais, tal produto não atrapalha, e a maior prova disso é que as tintas usadas nas iscas, bem como o verniz, na maioria dos casos são a base de petróleo. No caso de iscas naturais, e só nestas é que esses produtos atrapalham pois o peixe, antes de engolir a isca, apalpa-a na boca e assim o olfato do peixe acusa o gosto estranho. Sabendo disso, caem por terra todos os mitos dos produtos para atrair peixes, e mais: segundo cientistas, só o tubarão consegue distinguir cheiros de determinadas substâncias dentro da água. 

Qual a maneira correta de iscar um anzol

                              ESCONDER MUITO BEM A PONTA DO ANZOL
Esse é um dos maiores mitos na pescaria. Não é verdade que a ponta do anzol não pode aparecer. Vamos raciocinar juntos. Enquanto se preocupa esconder a ponta do anzol na isca, o cabo do anzol e às vezes até o encastoado ficam para fora da isca. Será que o peixe sabe o que é ponta e o que é cabo de anzol? É evidente que não. O anzol não atrapalha em nenhuma hipótese o ataque do peixe à isca, como veremos a seguir.
                              QUAL A MANEIRA CORRETA DE ISCAR UM ANZOL?

Alguns mitos existem em torno desse item. Raciocine e veja se temos razão. Uma isca morta pode ser iscada de qualquer maneira, desde que fique firme no anzol. Já uma isca viva deve ser iscada de maneira que continue viva. Assim sendo, temos, no caso de pequenos peixes, que iscar ou pela boca ou pelo dorso do peixe, para que ele fique vivo e não perca o movimento. No caso de camarões, o anzol deve ser colocado na cabeça, na parte logo atrás em direção à ponta do intestino. 


O peixe quando está criando não pega
Assim o camarão fica vivo e não perde os movimentos. Na cauda nunca deve ser iscado, pois é com ela que o camarão nada. Não se preocupe em esconder a ponta do anzol.

    O PEIXE QUANDO ESTÁ CRIANDO NÃO PEGA!

Isto pode ser considerado como uma meia verdade, já que algumas espécies realmente não fisgam quando estão na época da desova. No entanto, outras, para defender os alevinos fisgam em qualquer coisa que se mova em volta delas. Preferimos dizer a esse respeito, que quando um peixe está desovando, não deve ser pescado ou molestado. A época de desova deve ser considerada um período que ninguém deve praticar a pesca, seja ela do tipo que for.

                                 SORTE NA PESCARIA. EXISTE?

Particularmente, nós achamos que sorte não existe na pescaria. Senão vejamos: coloque-se frente a frente um veterano pescador e um novato, e que a pescaria aconteça em local de conhecimento dos dois.       

Sorte na pescaria existe?

Por certo o pescador veterano se sairá melhor no confronto. Dizer-se que um pescador pesca mais porque tem sorte é praticamente uma heresia. Antes de sorte, pode ser que esse pescador conheça profundamente o peixe que está pescando, seu material de pesca é o correto, suas iscas são as ideais, o local é o melhor para peixes daquele tipo, etc. Evidente está que, se alguém pega mais peixe que nós, ele também é um pescador melhor, apesar de ser duro admitir tal hipótese. Mas, com certeza, sorte não é. Seria mais ou menos como dizer que o Sena ganhava corridas por sorte.


                                          A LUA INFLUI NA PESCARIA?

Com certeza é este um dos assuntos mais polêmicos no nosso esporte. Vamos dar nossa opinião e explicar o porquê de dizer que a lua não influi absolutamente em nada no resultado de uma pescaria. Começamos pelos famosos calendários, que dizem que a lua cheia é ótima; quarto minguante, regular; quarto crescente, boa e que a lua nova é neutra. 




A lua influi na pescaria?



Ora, então o pescador é um felizardo, já que a lua ruim não é citada. Então, como explicar que mesmo quando a indicação é de uma lua ótima, fazemos uma péssima pescaria? Pois bem, em nossa opinião, em água doce a lua não influi em absolutamente nada na pescaria. No mar, a lua tem muita influência é nas marés e estas sim, de acordo com a movimentação e altura, determinam melhores ou piores períodos de pesca. Dizer que ela influi diretamente na pescaria é dizer uma meia verdade. Isto porque em uma “excelente lua” poderemos fazer uma pescaria péssima, pois contra o “poder da lua” , estão os ventos, as ressacas, a pressão atmosférica, etc, que decidirão o resultado da pescaria. E mais, uma maré de “praia” em sua altura, não pode ser equiparada ou usada em uma maré de “rios e canais do litoral”. Há diferenças enormes entre uma e outra. Podemos também falar de suas correntes. Enquanto nos rios se pesca na vazante, em praia se pesca na enchente. 
Qual a maneira correta de iscas um anzol

Existem discordâncias nessa opinião. Já em mar alto, tanto faz. Aí está portanto, meu prezado pescador, alguns mitos e lendas da pesca amadora. Procure pesquisar com inteligência e raciocínio e verá como muita coisa que dizem não é verdade. O importante de tudo é pescar bem, procurando sempre se aperfeiçoar no nosso esporte/lazer, pois só assim conseguiremos ser bons pescadores, daqueles que mesmo sem sorte fazem boas e ótimas pescarias. É importante também procurar com humildade a explicação para o fracasso da pescaria. Se nós somos bons pescadores e mesmo assim não formos bem sucedidos em uma pescaria, com certeza algum motivo há para que isso tenha acontecido. Às vezes, uma boa explicação é a pressão atmosférica, que influi e muito em nossa pescaria. Aliás, a pressão atmosférica já foi assunto em edições anteriores da Aruanã.


NOTA DA REDAÇÃO: nós publicamos esta matéria em fevereiro de 1991 e, não mudaríamos um só vírgula no que se refere à prática da pesca amadora. Aliás, estamos cansados em informar que nada mudou desde os tempos passados para os atuais em pescar como amadores. O que aconteceram e isto sim concordamos, foram as “novidades” dos fabricantes que antes de serem mudanças, são simples adendos ao assunto principal. Antonio Lopes da Silva


Revista Aruanã Ed:20 Publicada em 02/1991




2 comentários:

  1. O que vem Reginaldo Calil Daher, mais uma vez, confirmar que pouca coisa mudou na pesca amadora. Até os mitos, lendas e costume de nossos pescadores, continuam os mesmos. Valeu

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