sexta-feira, 7 de setembro de 2018

ESPECIAL - NÃO PERCA O RUMO












Numa matéria especial para a Revista Aruanã, Rubens Junqueira Vilella ensina de modo claro como nos orientar pela bússola, seja de bolso ou náutica Guie-se por aqui.


Foi na idade Média que duas invenções abriram ao homem o caminho para a conquista da navegação em alto mar: o leme e a bússola. Quanto a esta ultima, não resta dúvida de que os chineses, desde a mais remota antiguidade, conheciam as propriedades da agulha imantada, mas somente a partir do século XIII ela fez sua aparição no Ocidente, por intermédio dos árabes. Seu uso difundiu-se rapidamente, mas era ainda um instrumento muito rudimentar: uma pequena agulha suspensa por finíssimo fio, ou apoiada sobre leve pena que flutuava livremente na água em um recipiente. Ela indicava com boa aproximação a direção da estrela polar do hemisfério norte, na constelação da Ursa Menor, astro cuja fixidez no céu servia há muito para orientação. É mais provável que você, pescador, possua uma bússola pequena, dessas de bolso. 


Quando você a segura na mão, firme e nivelada, a agulha gira e oscila, cada vez mais lentamente, até parar, apontando para o norte (N). Caso você alinhar o mostrador circular (limbo) por baixo da agulha colocando a ponta desta posição “N”, poderá ler qualquer direção que desejar: Leste (E), Sul (S), Oeste (W), ou outro ponto intermediário. Esta tendência da agulha magnetizada de procurar o norte quando montada para girar livremente, é o princípio no qual se baseia a construção de todos os tipos de compasso magnético, como se diz em linguagem náutica. No entanto, existe um outro tipo de bússola magnética, mais usada nas embarcações maiores e nos aviões, cuja montagem difere da bússola de bolso e é sujeita, portanto a outra forma de leitura, o que poderá confundi-lo. Na bússola de bolso, a agulha gira independentemente do mostrador. 


No tipo náutico, o próprio mostrador esta montado sobre um de agulhas que flutua num líquido (água e álcool) de tal maneira que o mostrador todo é que gira até permanecer apontado sempre na direção norte, ao estabilizar-se.  Quando o barco altera o rumo, o habitáculo que contém a bússola gira junto com ele, enquanto o mostrador permanece estacionado. Existe uma linha de referência externa chamada de linha de fé, alinhada com a proa do barco, que indica o rumo magnético da embarcação, pela posição da linha de frente ao mostrador circular graduado geralmente de 0 a 359 graus, de um em um grau. Para evitar a perturbação da bússola pelo jogo do barco o aparelho pode ser montado  num eixo cardan.


                                          OS ERROS DA BÚSSOLA
Como dissemos no início, e os antigos já sabiam disso, a agulha da bússola não aponta exatamente para “norte geográfico e sim para o “norte magnético”. A Terra não é um imã perfeito e o eixo magnético não está alinhado exatamente com o eixo de rotação que determina os pólos geográficos. Na maior parte do Brasil, a agulha da bússola aponta cerca de 10 a 20 graus à esquerda, ou seja, a oeste da linha norte sul geográfica. Este ângulo de desvio entre a direção no norte verdadeiro (geográfico) e o norte magnético é conhecido como “declinação magnética”. Apenas no Acre a declinação é zero, ou seja, ali a bússola aponta exatamente o norte verdadeiro. Já no Nordeste brasileiro, a declinação alcança 22 graus oeste. O valor da declinação magnética acha-se indicado nas cartas náuticas. 


Como ele varia de ano para ano, também é indicado o valor da variação anual a partir de determinado ano. Por exemplo, no litoral de São Paulo a declinação indicada é de 17 graus 45 minutos em 1985, e a variação anual é de 11 minutos positivos (crescente). Portanto, para atualizar a declinação em 1992, é preciso multiplicar a variação anual por 7. Temos 7 vezes 11 igual a 77 graus, que devemos somar a 17 graus 45 minutos, o que dá 17 graus 122 minutos ou finalmente, 19 graus 02 minutos. Portanto, na região de São Paulo, a agulha da bússola aponta 19 graus à esquerda do norte verdadeiro. Visto de outra forma a direção norte está a um ângulo de 19 graus “à direita” da direção apontada pela bússola. A ponta da agulha que aponta o norte costuma ser pintada de azul. A regra é: somar à direção dada pela agulha o valor da declinação para obter a direção verdadeira, sempre que a declinação seja a oeste (subtrair se for leste). 

                                      
                                         COMPENSAÇÃO DA BÚSSOLA
Outra fonte de erro da bússola, além da declinação, é a presença de qualquer objeto metálico nas imediações do aparelho, como o próprio casco da embarcação, fiação e baterias, ou mesmo uma faca de aço no bolso do timoneiro. A correção deste erro é exigida pelos regulamentos da Marinha (para lancha esporte de recreio classificação D2J, por exemplo) e faz-se pela chamada compensação. Trata-se de uma técnica que aplica internamente ao aparelho pequenos pedaços de ferro para alinhar corretamente a bússola. Esse alinhamento deve ser feito a cada 5 ou 10 graus girando o barco ou colocando-o em rumos conhecidos. 

Pode-se, por exemplo, usar bóias, faróis, pontas, etc., marcadas nas cartas náuticas como referência de direção. Mas é um trabalho delicado, e ao invés de mexer no aparelho é preferível fazer um pequeno gráfico de correção que deve ser colado no painel junto à bussola.
                                               COMO DETERMINAR A DECLINAÇÃO
A declinação magnética em qualquer local pode ser determinada usando-se a própria bússola, desde que se conheça com precisão a direção norte-sul verdadeira. Esta pode ser obtida pela carta náutica. Sem carta náutica, e com menos precisão, pode-se usar o Cruzeiro do Sul: prolonga-se o braço maior da cruz quatro vezes o seu comprimento e ali encontraremos a direção do pólo sul da esfera celeste.



Revista Aruanã Ed: 28 Publicada em 06/1992

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