segunda-feira, 22 de abril de 2019

ESPECIAL - O MAL DO ACHISMO!





Sede do Ibama em São Paulo

Achismo substantivo masculino: O achismo é uma gíria atribuída à “teoria” que é criada por alguém sobre algo com base unicamente nas suas opiniões e intenções, sem nenhum tipo argumentação concreta ou justificativa. O achismo é praticado por pessoas que desconhecem a natureza de determinado assunto, mas que fazem questão de tentar explicar algo tendo em consideração apenas aquilo o que acham sobre o tema. Esta palavra se originou justamente a partir do verbo “achar” com a junção do sufixo “ismo”, dando a ideia de ser o ato de justificar ou teorizar algo com base em um pensamento ou conceito subjetivo (“eu acho que”...)


Corrupto

Na década de 80, nós estávamos tratando de uma portaria, junto ao Ibama, para tentar se proteger o robalo – tanto o “peba” como o “flexa” – e fomos fazer uma visita ao órgão ambiental que fica localizado na Alameda Tietê, 637 no bairro Cerqueira Cesar em São Paulo. Essa Portaria foi aprovada, fixando seus tamanhos máximos e mínimos e limites de captura e proteção da desova. Foi a primeira, de muitas outras e de outros autores, que viriam ao longo dos anos. Em nossa companhia um oficial de alta patente e especializado em questões ambientais da Polícia Ambiental de São Paulo. Dirigimos-nos ao 5º andar do prédio onde a funcionária do órgão nos esperava para a reunião final da Portaria. Junto com essa funcionária havia outra pessoa à mesa e fomos então apresentados. Tratava-se de um procurador ambiental da cidade de Santos (SP), o qual já conhecíamos de nome e havíamos feito algumas matérias e publicadas no Jornal da Tarde a seu respeito. 


“A samambaia e suas folhas tem, no máximo 20cms de comprimento”

Esse promotor tinha conseguido a aprovação de uma lei junto a Prefeitura Municipal de Santos, onde proibia a captura do crustáceo “corrupto”      em todo o município e sendo bastante fiscalizada. Essa portaria era completamente ilegal, já que na época, os municípios não tinham autoridade para tanto. Não consegui saber o porquê, mas a fiscalização era tão intensa que até soldados do Corpo de Bombeiros, apreendiam as famosas “bombas” usadas até hoje pelos pescadores de praia. Fizemos uma visita a um posto dessa Corporação na praia do José Menino e consternados comprovamos essa apreensão, pois haviam muitas delas dentro do posto. Fiz a pergunta ao promotor de qual seria o motivo que justificasse a tal portaria, pois em minha opinião a mesma era inócua. Pois bem, percebi claramente que o promotor ficou levemente contrariado, pelo seu semblante e posição em que se encontrava sentado. Sua resposta então veio rápida e veemente: é um crustáceo que ajuda muito na despoluição de nossas praias. Contestei que logo ali na frente – da praia José Menino – havia um cano que despejava esgotos domésticos e se o corrupto conseguiria combater essa poluição. 


“Camarão de Tucuruí a única isca viva"!
E a conversa foi daí para frente, tornando-se uma discussão acirrada, porém respeitosa de ambas as partes. Mais um destaque do Sr. Procurador: “os buracos que ficavam na areia, podiam provocar acidentes”. Foram mais de duas horas de discussão e não houve consenso. Na saída ele confessou que não sabia que o pescador amador tinha em minha pessoa um defensor tão ferrenho (em suas palavras textuais). Foi a única vez que nos vimos pessoalmente. Tentei de várias formas anular essa portaria, pois a mesma tinha como afirmação uma posição totalmente errada e sem nenhuma comprovação científica, mesmo sabendo que ele o corrupto faz sim sua parte na poluição de nossos mares... bem como qualquer outro crustáceo marítimo. Algum tempo depois fiquei sabendo que o mesmo promotor havia conseguido uma portaria municipal, proibindo que as funerárias não pudessem mais pegar uma espécie de samambaia na via Anchieta (não tinha ainda a Imigrantes) que eram usadas na “decoração” de seus caixões. Só para terminar, essa samambaia é uma praga em locais úmidos e perto do mar. 

            O esportivo tucunaré

Quem mora nas praias sabe disso, pois é comum aparecerem nos vasos de plantas ornamentais (a foto é de um vaso em minha casa) e não se sabe como isso acontece e, não adianta arrancar, pois com a chegada do inverno ela desaparece e na primavera volta a crescer.  Aqui está um exemplo clássico do achismo. Ele achou que devia fazer isso o fez e pronto. Estou procurando saber se a lei ainda está em vigor. (NR: fui informado agora pela manhã de hoje 22/04, que a lei ainda vigora). Mas, na época era ridículo ver o pescador amador, pegar o corrupto nas praias de São Vicente, até chegar à divisa das praias de Santos. E essa mesma medida foi tomada ilegalmente por diversas Prefeituras Municipais em nosso estado de São Paulo. Agora a moda são as Assembléias Estaduais, legislarem sobre questões ambientais, fazendo leis espúrias e sem nenhum nexo, como alguns casos em se tratando de Pesca e Solta ou Cota Zero. Gostaria de saber como os srs. deputados procedem até fazer um PL sobre esse e outros assunto. Será – aproveitando a época – que é um amigo de um amigo que o conhece e pediu tal lei? 


Tucunaré do Lago Preto rio Guajará no Pará

Meio ambiente é um assunto sério e temos ótimos técnicos que poderiam ser consultados a respeito. Mas, não o são. Infelizmente. A publicação de algumas fotos sobre o tucunaré, que o conhecemos em praticamente todas as regiões do País, apenas mostram que o mesmo se alimenta do que houver ao alcance de sua boca. Dominam completamente os ambientes lênticos onde se encontram e se tornam a grande maioria da espécie no local. Tente o pescador não levar suas iscas artificiais para ver se consegue pegar algumas naturais no lugar onde foi pescar. Uma fêmea da espécie chega desovar mais de 50 mil ovos e, uma curiosidade: tanto o macho como a fêmea cuidam da desova até sua eclosão e ainda por algum tempo contra o ataque de outros peixes aos alevinos. Está ele ameaçado de extinção?  A resposta técnica é não. Então qual será a razão de tentar se instituir uma lei Cota Zero no Estado de São Paulo? O pescador amador que paga um licença de pesca de sua categoria não tem o direito de levar uma cota de peixes (determinada por lei) para consumir com sua família? Que se estude, com a opinião dos técnicos, qual é a melhor solução para o problema e que a lei não entre em vigor até a publicação desse estudo. Estamos em uma democracia, portanto...


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