Muitas vezes o pescador amador prejudica sua própria pescaria antes mesmo de começa-la, somente pelo fato de chegar de “qualquer maneira” em um pesqueiro, seja de barco ou simplesmente a pé, num barranco. Saiba como evitar as consequências desastrosas dessa “pequena” desatenção.
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Apesar de
ter grandes olhos, a visão do peixe é mínima. No entanto a audição é 10 vezes maior que do ser humano.
Nos dias atuais, o pescador amador dispõe de acesso a muitas
informações que antes não eram divulgadas apropriadamente. Hoje em dia, são
várias notícias de estudos realizados em todos os sentidos e sobre todas as
espécies de peixes. Um desses estudos, que para nós é sem dúvida o mais
importante, refere-se aos sentidos dos peixes. Atualmente, já sabemos que a
maior parte das espécies de peixes têm o sentido da visão muito pouco
desenvolvido. Também o olfato e, na maioria dos peixes, muito limitado e está
intimamente relacionado ao paladar, o que indica que o peixe primeiro põe a
isca na boca e só depois é que entra em ação esse olfato/paladar que lhe
permite avaliar o alimento. Finalmente, conforme as pesquisas científicas já
comprovaram, sabemos que o sentido melhor desenvolvido nos peixes é a audição.
Segundo afirmam os pesquisadores, a audição de um peixe é cerca de dez vezes mais
aguçada do que qualquer outro animal vivo, seja ele terrestre ou aquático. Esse
fator, aliado ao fato dos sons se propagarem melhor sob a superfície das águas,
assegura que os peixes, a despeito de não poderem ter seus sentidos de visão,
olfato e audição comparados, por exemplo, aos dos mamíferos terrestres, são
capazes de ouvir muitíssimo bem.
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Aproximando
e pescando com uso do motor elétrico. Silêncio
Pois bem, se o peixe escuta muito bem, parece-nos fundamental
que tenhamos um cuidado especial em nossas pescarias ao nos aproximarmos do
pesqueiro escolhido. Vamos falar primeiro da aproximação por intermédio de
barco. Todos nós já presenciamos, durante nossas pescarias, aqueles pescadores que,
com um bom barco e um motor de popa possante, vêm em alta velocidade e “cortam”
o motor de popa bem próximo ao ponto de pesca. Quando isso ocorre, se
repararmos bem, vamos verificar que por cerca de aproximadamente dez segundos
após parar o motor do barco, as ondas causadas pelo deslocamento do barco ainda
estarão varrendo o local/margens ou galhadas. Nessa altura dos acontecimentos,
com certeza essas ondas prejudicaram o pesqueiro, já que com a movimentação da
água, o peixe certamente fugiu ou então afundou mais, o que torna menores suas
chances de encontrar nosso anzol, esteja ele fisgado com isca natural ou
artificial. Evite que isso ocorra. Quando você estiver navegando, ao chegar perto
de um pesqueiro, não tenha pressa, diminua a marcha do motor e vá se
aproximando lentamente.
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Galhadas: um
ótimo local de pesca
Quando estiver a uma distância de mais ou menos 100 metros do
ponto pretendido, pare o motor de popa e utilize os bons serviços de um motor
elétrico, que permitirá que sua chegada aconteça no mais absoluto silêncio. Se
você não dispõe de um motor elétrico, um bom remo também resolve o problema,
apenas com a desvantagem de ser mais cansativo. Assim mesmo não faça barulho com
o remo na água. Em locais onde haja correnteza, pare sempre acima, respeitando
os 100 metros recomendados e apenas deixe o barco deslizar a favor da
correnteza. Outro momento importante é quando precisamos apoitar o barco. Jogar
a poita nem sempre quer dizer “atira-la” dentro d’água. Uma boa “apoitada”
significa descer a poita lentamente, sem encostar a corda na borda do barco e
sem deixar que ela bata com força no fundo. E pronto, esses são os
procedimentos básicos para uma boa aproximação por água. Mas há ainda um
detalhe essencial, que depende fundamentalmente de sua boa educação: quando for
passar por outro barco que esteja pescando apoitado ou de rodada, diminua a
marcha mais ou menos uns 50 metros antes dele, e após ultrapassa-lo, percorra
mais 50 metros lentamente para só então retornar a marcha de cruzeiro.
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Chegando no
pesqueiro sem barulho algum
Não há nada mais irritante para uma pessoa que está pescando
do que alguém ultrapassa-la com velocidade, deixando atrás de si os balanços
das ondas produzidas pelo barco. Cuidados de aproximação também devem ser
tomados pelo pescador que pesca de barranco ou, se preferirem, desembarcado. Evidente
está que na praia ou no costão não existe a necessidade de obedecer as normas
que damos aqui. Vamos nos referir apenas aos pescadores de beira de rio ou
represa. Muitas vezes, ao chegar à beira da água, conseguimos ver que o peixe
se afasta antes mesmo de nossa aproximação efetiva. Nessa situação, a primeira
conclusão a que um pescador chega é achar que o peixe o viu. Mas isso não é
verdade, pois sabemos que a visão do peixe é muito limitada. Então, o que
aconteceu? É simples. Aconteceu que o peixe, antes mesmo de ter visto o
pescador, “sentiu” sua presença. Isso mesmo. O peixe se afastou porque pôde
“sentir” a vibração causada pelas batidas do pé do pescador caminhando na margem.
Portanto o ideal é chegar ao pesqueiro lentamente, considerando a apurada
audição dos peixes.
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Pescando em
galhadas e andando pela margem
E isso já nos dá outra dica, que é permanecer dentro do maior
silêncio possível. O pescador que anda de um lado para o outro o tempo todo ou
fica com os pés dentro da água com certeza terá menos sucesso do que aquele
pescador que pesca praticamente imóvel.
Aliás, sobre essa crença de que o peixe vê o pescador, qual de nós já
não presenciou, por exemplo, pescadores de tilápias colocando galhos de árvores
na frente de sua ceva, afirmando que assim camuflados que os peixes não os vêem?
Outro velho costume manda que o pescador evite vestir roupas de cores claras,
que supostamente seriam mais “visíveis”, já que se destacam bastante contra o
fundo de vegetação. Essa é uma meia verdade. É óbvio que, se atrás de nós
existe uma mata, seria conveniente usar roupas de tons neutros para sermos mais
facilmente confundidos com a paisagem. Saiba o pescador, no entanto que o peixe
não enxerga cores, portanto qualquer tom neutro (não necessariamente verde)
será o bastante para camufla-lo. Essa camuflagem não é para nos deixar
invisíveis, mas sim para disfarçar nossos movimentos, deixando nossos ruídos
mais amenos perante o sentido de audição do peixe.
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Uso do motor
elétrico. Indispensável
Apenas para exemplificar e tornar mais claro o que foi dito
aqui, vamos citar alguns barulhos comuns que decididamente atrapalham uma
pescaria. No barco: batida de remos ou quedas de objetos no piso do barco,
andar pesadamente dentro da embarcação, mudar de lugar constantemente, etc. No
barranco: andar, nadar, cortar galhos de árvores com facão, fazer aquele
churrasco na margem, jogar latinhas de bebidas (lamentável) ou pedras na água e
na margem é o mais desnecessário de tudo: escutar um sonzinho de rádio ou toca
fitas no pesqueiro. Essa é de doer, não é mesmo? Para finalizar, podemos dizer
que o pescador deve se comportar no pesqueiro, na medida do possível, como se
ele não estivesse ali, pois qualquer barulho diferente dos ruídos naturais do
meio ambiente local será muito prejudicial à pescaria, o que nos faz lembrar
daquela máxima que diz que “o silêncio é de ouro”. E de muito peixe no samburá.
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Revista
Aruanã Ed:53 publicada em 10/1996
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