Visitar o Japão foi para nós
da Aruanã motivo de muito orgulho. A convite de algumas empresas japonesas,
nossa permanência foi bastante proveitosa, principalmente porque tudo girou em
torno do nosso segmento: a pesca amadora. Vamos juntos conhecer um pouco desse
maravilhoso país, de seus pescadores e pescarias.
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Monte Fuji
Após vinte e cinco horas de voo, a bordo de um Jumbo da
Varig, descíamos finalmente no aeroporto de Narita, em Tóquio. Era um sábado à
tarde e aproveitamos todo o final de semana para descansar da longa e exaustiva
viagem. Na segunda-feira fomos recebidos pelos diretores de uma editora
responsável pela publicação de três revistas: Tsuribito (que em japonês significa pescador), Basser (especializada em black bass) e Fly Fisher. Nessa reunião, com Yasutomo Suzuki e Shu Miura, tivemos
oportunidade de conversar muito sobre pesca. Ficamos sabendo que existem hoje
no Japão cerca de 20 milhões de pescadores amadores e que para pescar no mar
não é exigida a licença de pesca. O mesmo não acontece em água doce, onde as
licenças são obrigatórias e regionais, chegando mesmo a ser específicas até
para determinados rios.
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Kazuito
Konishi – Editor da revista Sanday Fishing
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Essas licenças podem ser anuais ou então válidas para um dia
apenas. A verba arrecadada é revertida para associações de pesca particulares
que cuidam de locais determinados, e a fiscalização é praticada por pescadores
idosos e aposentados. Segundo esses editores, há atualmente uma paixão nacional
na pesca japonesa: o peixe tanago, que é uma espécie de carpa. A diversão maior
é fisgar o menor peixe possível. O recorde é um exemplar com 1 cm. Os
pescadores usam uma vara comum, com linha bem fina e anzol minúsculo. Só para
ter uma ideia, a isca utilizada para a pesca do tanago é o intestino de um
inseto, e para fixar tal isca no anzol é necessário o auxílio de uma lente de
aumento. Quanto a peixes maiores, foram citados como preferidos o marlin azul e
uma peixe chamado moroco, que é uma espécie de garoupa e pode pesar 60hk.
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Toshitaka
Fujii – Vice presidente da Gamakatsu
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A revista mais antiga é a Tsuribito,
com 48 anos de existência, circulação mensal e tiragem de 250.000 exemplares.
No dia seguinte, nosso destino era Osaka, para onde seguimos a bordo do famoso
trem bala. A partir de Tókio, o percurso de 552,6km é feito em cerca de 2 horas
e 40 minutos de viagem. No caminho, paramos em Kioto para visitar um templo
religioso e a surpresa maior ficou por conta de uma tempestade de neve que caía
na região. Foi um espetáculo muito bonito e diferente, pelo menos aos olhos de
um brasileiro. Novamente no trem bala e após meia hora de viagem estávamos em
Osaka. Lá, éramos aguardados por Kazuito Konishi, editor da revista Sunday Fishing. Este editor é uma figura
bastante interessante, já que difere do tipo japonês tradicional, pois usa barba
e tem a pele bastante bronzeada, resultado de suas reportagens (pescarias) por
todo o mundo. Sua revista é semanal, com tiragem de 240.000 exemplares e foi
fundada há 17 anos.
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Yasumoto
Suzuki e Shu Miura – Editores das revistas Tsuribito, Basser e Fly Fisher
Konishi edita também outras duas revistas periódicas, além de
livros e produções em vídeo sobre pesca. Semanalmente, comanda um programa na
televisão japonesa chamado Big Fish,
com uma hora de duração e no ar há nove anos. Konishi já esteve no Brasil, mais
precisamente na Bacia Amazônica e no Pantanal, onde pescou dourados, tucunarés
e pirarucus, sendo este último seu preferido. Segundo ele, o “peixe da moda” no
Japão é conhecido pelo nome de chinu. Mostrada sua ficha técnica, ficamos
sabendo que se trata de uma espécie de sargo que atinge até 50 cm de comprimento
e pode pesar até 2 quilos. Para se ter uma ideia da “febre” em torno desse
peixe, Konishi citou dados que achamos impressionantes. A melhor isca para
fisga-lo é uma espécie de camarão muito parecido com o krill e no Japão, só os gastos com esta isca, que é importada,
giraram em torno de US$500 milhões o ano passado.
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Yoshiro Dahi
– Presidente da Dohitomi & Cia.
É pescado com varas longas, principalmente em costões ou
então de barco. A isca é jogada aos punhados e só então isca-se o anzol. Por
esta razão, uma enorme quantidade de iscas é necessária, justificando-se a
grande importação citada. Despedimos-nos de Konishi trocando revistas e vídeos.
A Aruanã recebeu vários elogios, principalmente referentes à qualidade de
impressão da revista. Saímos de Osaka nesse mesmo dia e pernoitamos em Kobe, já
que no dia seguinte havíamos marcado reuniões nas fábricas da Gamakatsu e na
Maruto, ambas fabricantes de anzóis conhecidos dos pescadores brasileiros. Pela
manhã nos dirigimos à Gamakatsu e lá nos encontramos com seu vice-presidente,
Toshitaka Fujii. Sua empresa fabrica hoje 3 mil tipos diferentes de anzóis,
sendo que 95% dessa produção é de anzóis do tipo chapa e o restante, apenas 5%,
de anzóis providos de argolas.
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Osamu
Nakatami – Presidente da Sanyo Nylon
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Exporta para dezesseis países e seu faturamento gira em torno
de US$70 milhões. Seus anzóis são fabricados no tipo bronze, niquelado, preto e
dourado e o aço utilizado é de procedência japonesa. Segundo Fujii, sua
produção cobre hoje cerca de 70% do mercado japonês. Possui três fábricas,
respectivamente no Japão, Tailândia e China, sendo que as duas últimas só
executam o acabamento dos anzóis. Nessas três fabricas somam-se 2.480
funcionários. Perguntei por que estava no ramo de anzóis, e Fujii disse que o
pai do atual presidente fabricava anzóis para pescar com fly, o que levou seu
filho a entrar neste ramo. A propósito, o atual presidente da Gamakatsu é
Shigekatsu Fujii. O nome de sua cidade natal, Gama, mais as cinco letras do seu
nome, deram origem ao nome Gamakatsu. A visita seguinte foi à Dohitomi &
Cia. Ltd., que fabrica o anzol Maruto, velho conhecido dos pescadores
brasileiros.
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Nevasca em
Kioto
Seu presidente, Yoshiro Dohi, nos recebeu maravilhosamente
bem em seu escritório e tivemos uma longa conversa sobre seu produto. O nome
Maruto vem do fundador da empresa, Tomitaro Dohi, avô do atual presidente. Em volta
das duas primeiras letras do seu nome (To) ele fez um círculo, que é
considerado no Japão como símbolo algo perfeito. Círculo em japonês significa
“maru”, O círculo com o “to” também pode ser considerado como um desejo de
sucesso. A empresa tem 97 anos de existência. Exporta para 110 países e a
produção gira em torno de 200 milhões de peças por mês, divididas em 5.000
tipos diferentes de anzóis. O Maruto é fabricado em onze cores diferentes. O
aço utilizado em sua fabricação é japonês e suas máquinas foram desenvolvidas
na própria fábrica.
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Eric E.Choi – Vice
Presidente da Yo-zuri
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Somando-se todas as fábricas japonesas de anzóis (que são
perto de 20), a Maruto detém cerca de 30% do mercado. Ficamos impressionados
com a amabilidade e a simpatia de Yoshiro Dohi, que é pescador amador e já
esteve no Brasil há alguns anos. Voltamos ao nosso hotel em Kobe e de posse de
nossa bagagem, voltamos à Tókio. Nossa
próxima visita foi à Sanyo Nylon Co.Ltd., onde tínhamos uma entrevista marcada
com o presidente da empresa Osamu Nakatami. Pois bem. A Sanyo pode ser
considerada hoje como uma das maiores fábricas de monofilamento do mundo. Seus
produtos, tivemos oportunidade de conferir, são simplesmente maravilhosos,
tanto pela qualidade como pela apresentação. A Sanyo tem hoje 107 anos e foi
fundada pelo avô do atual presidente. Suas exportações abrangem 80 países e sua
capacidade de produção atinge 5.000 toneladas/mês de matéria prima.
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Mark Kano – Gerente de
vendas da Daiwa
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Fabrica 12 cores diferentes de linhas com 32 tipos de
diâmetros, em 10 qualidades diferentes de resistência, desde 0.06 mm até 2.50
de espessura. A Sanyo é responsável por 50% da exportação do mercado japonês.
Tem apenas 50 funcionários, já que a fabricação é 60% automatizada. Toda a
matéria prima utilizada é japonesa. Com fórmulas próprias para atingir a
qualidade desejada. Perguntado sobre o porquê de estar no mercado de linhas,
Nakatami diz que seu avô Humataro Nakatami, inventou o anzol de fisgar lulas.
Precisava então de uma linha para pescar e desenvolveu uma de algodão para esse
tipo de pesca. Patenteou o anzol e montou a fábrica de linhas, que funcionou
até 26 anos atrás, quando então passou a fabricar o monofilamento de nylon.
Osamu Nakatami é pescador amador e sua preferência é a pesca marítima, A
propósito, “Sanyo” em japonês, significa “três oceanos”.
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Kioto – Foto
tirada do trem Shinkansen
Nossa última entrevista em indústrias de pesca no Japão foi
com a Yo-Zuri, tradicional empresa fabricante de iscas artificiais. Fomos
recebidos por Eric E. Choi, vice-presidente da empresa que, além da fábrica no
Japão, possui ainda fábricas nas Filipinas e na Tailândia. Cerca de 600
funcionários produzem perto de 80 mil itens diferentes, dos quais 90% são iscas
artificiais, divididos em tamanhos, tipos e cores. A Yo-zuri exporta hoje para
90 países em todo o mundo e desde sua fundação, há 25 anos, tem ampliado seu
mercado cada vez mais, estando inclusive programada a instalação de uma nova
fábrica a partir de março nos Estados Unidos. O nome Yo-zuri também tem um
significado. Seu presidente Kitagawa tem como apelido o nome “Anyo”.
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Deus da Fortuna
Unindo-se as duas últimas letras do apelido coma palavra
“zuri”, que em japonês significa “pesca”, teremos o nome da empresa. Alguns, no
entanto, preferem traduzir Yozuri como “pesca noturna”. Eric E.Choi confessa-se uma fanático pescador
amador e quando questionado acerca da opção pelo ramo das iscas artificiais,
explicou que o presidente da empresa fazia iscas manualmente. Como as
encomendas eram muitas, criou então a empresa, que hoje é líder de mercado.
Tendo cumprido toda nossa agenda de vista a algumas indústrias japonesas
restava-nos apenas visitar a “93 Tokio International Sportfishing Show”, a
feira de artigos de pesca do Japão. Nesse ponto temos que apelar para a
imaginação de nossos leitores para que tenham uma noção do que conseguimos ver
nesta feira. Eram mais de 150 expositores em todo o recinto do evento.
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Aspectos da Feira de pesca
Vamos citar apenas alguns itens que nos chamaram a atenção.
No estande da Daiwa, onde fomos recebidos pelo gerente internacional de vendas.
Mark Kano, vimos uma vara telescópica com 10 metros de comprimento pesando
apenas 310 gramas. Kano nos disse que essa vara é vendida apenas no Japão e que
a Daiwa fabrica apenas 2.000 unidades por ano. Um detalhe importante é o preço
dessa vara: US$5.000. Um outro estande que nos chamou a atenção foi o que
mostrava a fabricação de varas de bambu, onde um verdadeiro artesanato é
praticado, levando a indústria há demorar três meses para fabricar uma só vara.
São varas simples, de encaixe duplo ou triplo, vendidas por cerca de US$1.000.
Havia também dentro da feita um lago artificial, onde mestres de pesca
demonstravam o uso correto do equipamento de fly.
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Ao fundo com sua arquitetura
moderna, o prédio da feira de Pesca
Ficamos aproximadamente seis horas percorrendo todo o recinto
de exposição, onde várias novidades estavam expostas, das quais muitas
brevemente estarão à disposição dos pescadores amadores brasileiros, pois, pelo
menos nas indústrias por nós visitadas, os contatos já estavam bastante
adiantados para a colocação dos produtos no mercado brasileiro. Foram doze dias
de uma maravilhosa visita ao Japão, país que muito nos impressionou por seu
progresso e tecnologia. Com certeza, por muitos anos vamos nos recordar de
detalhes desse belo país, como a visão do Monte Fuji, a neve e o templo de
Kioto, a velocidade e pontualidade do trem-bala, as termas e os banhos públicos
em Hakome, a loucura das estações de trem e metrôs com o vai e vem constante do
trabalhador japonês, a cultura de arroz em pequenas propriedades, as belezas
das cidades de Tókio e Osaka e principalmente – isto é muito importante – a
educação, respeito e distinção com que fomos tratados em todos os contatos com
os empresários japoneses.
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Jardins em Hokome
AGRADECIMENTOS – Queremos agradecer e destacar a participação
de Alfredo Tsuzuki, da Casa Nippon, que nos acompanhou durante toda nossa
permanência no Japão, servindo-nos como guia, tradutor e, principalmente, por
ter se mostrado um grande amigo.
NOTA DA REDAÇÃO: Passados 27 anos dessa nossa vista ao Japão, percebi que por
um lapso de memória, ela postagem não havia sido publicada no blog. Reeditei
essa matéria e agora consta do nosso acervo do blog Aruanã. Por um lado, esse
esquecimento foi bom, já que agora, lendo a reportagem, além das saudades, as
novas gerações de pescadores, que alguns não eram nem nascidos quando ela aconteceu,
vão poder saber o significado de muitos produtos que nós compramos, sem saber
porque eles foram assim, digamos batizados.
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Revista Aruanã Ed: 33
publicada em 04/1993
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