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Prof.Dr. Antonio Lucindo Bengtson é professor da Faculdade de Odontologia de
Santos e mestre em Odontopediatria. Reside em Santos (SP) é é leitor e
assinante da Revista Aranã. Nos enviou um interessante trabalho de sua autoria
sobre os dentes dos animais, que você poderá confirmar.
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Fig.1 - Observar a forma cônica e rudimentar dos dentes de um
pirarucu, distribuídos irregularmente pelos rebordos alveolares, alcançando
até a comissura da boca
Sobre o ponto de vista de fisiologia, os dentes representam os órgãos intermediários entre o meio exterior e o aparelho da nutrição, destinando-se principalmente à mastigação dos alimentos e assim colocando-os em condições de sofrer a ação dos sucos digestivos. Para os morfologistas, o dente é um órgão de tecido calcificado, de coloração esbranquiçada, situado na cavidade bucal e colocado sobre os maxilares, onde se dispõe em fileiras. Já na concepção de zoólogos e filósofos naturalistas os dentes são órgãos de combate de ataque ou defesa, concorrendo para a conservação e perpetuação da espécie. Os dentes, basicamente são destinados a colher, reter, cortar, perfurar, dilacerar, esmagar, moer ou triturar os alimentos. No entanto, em alguns Vertebrata inferiores como os répteis e peixes, os dentes têm forma cônica, cuja finalidade é reter e muitas vezes cortar pedaços de presa que será em seguida deglutida e não mastigada (Fig.1). Já nos Vertebrata superior (mammalia), os dentes se dividem em grupos com funções diversas, como incisivos para cortar, caninos para perfurar e despedaçar e os molares para moer os alimentos. Para cada espécie de animal dependendo de sua forma de se alimentar ou mastigar, estas funções dos dentes se tornam mais especificas. Curiosas são as outras funções que os dentes têm além da referida mastigação. Animais como o castor usam os incisivos e caninos para o transporte de materiais de construção para seus abrigos; já a morsa tem somente duas enormes presas (chegando a medir um metro) localizadas na arcada superior e as utiliza para se locomover, enquanto javalis e os catetos (porcos do mato) as utilizam para a defesa.
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Fig.2 - Arcadas dentárias de um vertebrata superior (cateto).Observar
os dentes divididos em grupos, cada qual com sua função e disposição em
fileiras, neste caso com espaços entre os caninos e a região dos molares
Outra interessante utilização dos dentes é quando os coelhos, cobaias e os ratos usam os incisivos para a preenção da fêmea, a fim de permitir a realização da cópula. Enquanto nos Mammalia os dentes se localizam nos rebordos maxilares dispostos em fileiras contínuas ou intercaladas (Fig.2), nos peixes esta disposição não é seguida, como o tubarão, que além de apresentar um grande número de dentes que se implantam sobre as bordas na face lingual (interna) dos maxilares, possuem o corpo recoberto por uma pele áspera, isto devendo-se a uma infinidade de pequenos “dentes”, chamados dentículos ou escamas placóides. Para outros tipos de peixes como osTeleostomis de água doce ou salgada, a localização dos dentes se faz em qualquer em qualquer osso da cavidade bucal ou faríngica, isto é, além dos maxilares, podendo irromper nos ossos palatinos, vômeres ou até em osso situado na faringe. O jaú, por exemplo, tem placas dentígeras faringeânas que com seus movimentos dactiloformes (Fig.5) participam do mecanismo da eversão estomacal, isto é, auxiliam o estômago a sair pela cavidade buco-faríngea, manobra fisiológica e periódica que serve para eliminar se seu interior o acúmulo de resíduos não digeridos, constituído basicamente por sobras de ossos. Quanto à sua direção isolada, os dentes podem ser divididos em dois grupos: os retilíneos e os curvilíneos.
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Fig.3 - Dente canino fora do alvéolo de um cateto. Observar sua forma
adequada, sendo a metade superior e a inferior a raiz do dente
O primeiro grupo é representado pelos dentes de certas espécies de peixes e jacarés. Já os caninos do cão, gato, onça, catetos, os dentes venenosos das serpentes, os incisivos da capivara ou rato ou as presas dos elefantes (que na realidade não são caninos e sim incisivos laterais decíduos de “leite”), representam o grupo dos curvelíneos (Fig.3). Observando o volume e tamanho dos grupos de dentes, verifica-se grande variação por estarem relacionados à espécie animal e função dos mesmos. Assim nos herbívoros, especialmente os ruminantes (vacas), são dentes molares que atingem grande desenvolvimento, enquanto os caninos ou incisivos podem estar ausentes. Nos roedores os incisivos se apresentam volumosos e nos carnívoros são os caninos que predominam nos demais. Qualquer dente, exceto os de crescimento contínuo (dentes de roedores, morsa) desde o seu irrompimento no arco não mais aumenta de volume, ou melhor, o volume de um dente é fixo para uma determinada espécie. A diminuição de volume pode ser verificada em alguns animais em virtude da abrasão ou desgastes devido ao constante atrito entre si e com as substâncias alimentares. Com relação ao sexo, observa-se com frequência certo diformismo sexual do aparelho dental. É o que acontece com o macho de numerosas espécies de animais, onde certos grupos dentais dominam sobre os dentes homólogos das fêmeas. Assim o macho dos javalis e catetos possuem dentes caninos muito mais desenvolvidos que os que os correspondentes da fêmea.
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Fig.4 - Boca de um jaú. Observar a distribuição dos dentículos no interior
da mesma
O cavalo possui caninos pequenos, quase atrofiados, enquanto a égua não os tem. Fato interessante e curioso é que a concorrência vital em certos animais exercem notável influência no volume dos dentes. Assim, nos animais que vivem em manadas como os javalis, catetos e barbirussas, onde vivem vários machos e fêmeas e o mais forte deve sobreviver e deixar descendência possuem dentes caninos muito volumosos e desenvolvidos, muitas vezes exteriorizando a cavidade bucal. Tomando este animal ainda jovem e domesticando-o, os sucessores de segunda e terceira geração, exibirão um canino atrofiado. Por outro lado, desenvolvendo-se os seus descendentes ao estado selvagem, os caninos adquirem novamente seu volume original. O número de dentes varia de acordo com a espécie animal considerada. De maneira geral, os dentes são tanto mais simples e numerosos quanto mais inferior é a posição do animal na escala zoológica (fig. 4 e 5). Inversamente, os dentes tendem a diminuir em número e tornando-se mais complicados quanto o mais complexo for o organismo do animal. Ao percorrer a escala zoológica verifica-se que entre os peixes a maioria possui dentaduras constituídas por inúmeros dentes, como se constata no tubarão, piranha, dourado, bicuda, pacu, etc. Todavia existem algumas exceções. Como a carpa que possui apenas 3 dentes, a quimera com 6 e até mesmo em alguns exemplares a ausência total dos dentes. O jacaré possui numerosos dentes cônicos colocados sobre as cristas maxilares, onde formam dois arcos contínuos, o superior envolvendo o inferior.
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Fig.5 -Aproximação dos dentículos. Observar a quantidade e a
simplicidade dos mesmos. Estes dentículos estão presentes também nas placas
dentígeras faringeanas do jaú
Nos mamíferos aquáticos, os dentes são numerosos em algumas espécies como nos Odontocetáceos (baleias com dentes), este número e tamanho estão relacionados com o tipo de presa que ela caça. Por exemplo: o cachalote possui 50 dentes sitiados somente na arcada inferior, são grandes e próprios para apanhar presas maiores, como grandes peixes e focas. Já o golfinho e o delfim possuem dentes menores, agudos e em maior número (cerca e 100 e 200, respectivamente), sendo sua alimentação básica nos pequenos peixes. Os Misticetáceos (baleias com barbatanas), como a baleia azul, pelo menos no estado adulto, não possui dentes. Estes animais exibem uma primeira dentição que desaparece antes mesmo do nascimento, sendo substituídas por barbatanas córneas e flexíveis em número de centenas ou até milhares, localizadas somente na arcada superior, servindo para filtrar a água e reter minúsculos animais que estão nos plânctons marinhos e muitas vezes até pequenos peixes. Outro aspecto interessante é com relação ao número de vezes de troca de dentes, ou melhor, dentições que determinadas espécies de animais possuem. Entre outros, o tatu, o bicho-preguiça e as baleias de barbatanas possuem uma única dentição. Já o jacaré e algumas espécies de serpentes trocam seus dentes cerca de 25 vezes ao longo da vida. Podemos encontrar fenômeno bastante interessante observando os peixes, onde a maioria das espécies apresenta algumas centenas de dentições, cujos restos dentais formam o fóssil mais abundante do fundo dos mares.
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Revista Aruanã Ed:32 publicada em 02/1993
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