Fisgar um peixe é questão primordial
na pescaria. Mas o ato de fisgar, dependendo da espécie, muitas vezes independe
do pescador, o que nos leva a afirmar que, em certas ocasiões, o peixe se fisga
sozinho.
|
Fisgando o
dourado
Por diversas vezes temos visto em nossas andanças pescadores
amadores empregando tamanha violência para fisgar os peixes, que o que
presenciamos mais parece uma briga, literalmente falando, do que o ato de
fisgar. Aliás, a expressão “vai arrancar a boca do peixe” cabe muito bem para
esses casos. São fisgadas tão violentas e sucessivas, que das duas uma: ou a
boca do peixe é de aço ou o anzol usado não tem ponta. E tem mais: as tão
comuns “confirmadas” no ato de fisgar também não ficam atrás em força e
brutalidade. Como ninguém é dono da verdade, vamos pedir ao leitor que
raciocine conosco para ver de que lado está a razão. A primeira afirmação de quem fisga desse
jeito é que tal prática é necessária porque determinadas espécies têm a “boca
dura”, com placas ósseas enormes, e para cravar o anzol nesse tipo de boca é
preciso fisgar com força. Normalmente os peixes citados como “boca dura” são o
dourado, o pintado, o jaú, a piraíba, etc. Será verdade? Com certeza podemos
afirmar que não, e para comprovar isso citamos um fato que joga por terra essa
afirmativa. Existem duas práticas, a bem da verdade proibidas ao pescador
amador, chamadas de “anzol de galho” e “João bobo”. A prática da pescaria com anzol de galho, que
nada tem de esportividade, consiste em deixar uma linha com isca natural presa
a um galho de árvore.
|
|
Fisgando o
sailfish
São armadas várias dessas linhadas anti-esportivas, que vez
por outra são vistoriadas e os peixes recolhidos. Os peixes mais visados são o
pintado, jaús, piraíbas e até dourados, ou seja, os “bocas duras”. Ora, uma
linhada em galho de árvore não dá nenhuma fisgada violenta e mesmo assim o
peixe fica preso no anzol. Como explicar tal fato? Já na pescaria joão-bobo,
praticado por muito bobo que se julga pescador e igualmente proibida ao amador,
é usada uma bóia de plástico ou lata com uma linha de aproximadamente um metro
de comprimento. São feitas várias bóias, soltas espaçadamente ao sabor da
correnteza. O pescador fica de longe no seu barquinho olhando as bóias. Quando
um peixe ataca a isca, se fisga sozinho e o sinal é o afundamento contínuo da
bóia. O único trabalho “esportivo” de quem assim pesca, é ir até a bóia e
recolher o peixe, que mais uma vez se fisgou sozinho. As maiores vítimas de tal
prática são o pacu (outro “boca dura”), a piraíba, o filhote, etc. Como o
leitor pode perceber, em nenhum dos dois casos houve a participação do pescador
para fisgar o peixe. Quem será então que tem razão? Devemos ou não dar fisgadas
violentas? Para melhor compreensão, damos ainda um outro exemplo de
procedimento que inclusive pode ser executado por qualquer pessoa a título de
teste. Procure esticar um carretel de linha com 100m de comprimento, não sendo
muito importante a bitola, com um pescador segurando cada ponta da linha.
|
|
Fisgando o
pacu
Por intermédio da vara de pesca (que deve ser presa a uma das
pontas da linha), dê fisgadas violentas e pergunte o que sente o pescador que
está na outra ponta. Resposta óbvia: quase nada. Como se vê, a fisgada violenta
não tem utilidade e as posteriores “confirmações” (fisgadas sucessivas) também
não. O peixe já está na ponta da linha, fisgado. Evidente está que existem
exceções e a única de que conseguimos recordar de imediato é a pesca de black
bass, mesmo assim, só quando se utiliza minhoca artificial. Nesse caso, a
fisgada deve ser relativamente violenta porque o anzol tem, que atravessar a
minhoca de plástico para então fixar-se na boca do peixe. E assim vai se
pescando e mal. Um exemplo? No Pantanal é comum, durante o corrico e usando-se
colher, o piloteiro ao perceber que o dourado fisgou, dar uma arrancada brusca
com o motor de popa, na maioria das vezes um 25 HP, para garantir a fisgada. É
uma barbaridade. Outro, pescando de rodada, quando sentem o peixe, começam a
dar fisgadas violentas e sucessivas para “cravar o anzol na boca dele”, outra
barbaridade desnecessária. Vamos citar algumas regrinhas que podem ser
seguidas, ou pelo menos analisadas para verificar onde está a verdade. ISCA
ARTIFICIAL: de maneira nenhuma dê fisgadas violentas. Tal atitude não vai
garantir a fisgada.
|
|
Fisgando o
cação
O Importante é manter a linha bem esticada e não afrouxá-la
em hipótese nenhuma quando o peixe for sentido. No caso de peixes que pulam
para fora da água, isto é mais importante do que apropria fisgada. ISCA NATURAL:
Uma fisgada firme é o suficiente. Lembre-se de que o peixe veio comer a isca.
Manter a linha esticada é essencial. Não é necessário ficar dando
“confirmadas”. Se o peixe escapar, com certeza terá sido por qualquer outro
motivo, menos por não se ter fisgado com força. Para os incrédulos, damos mais
um exemplo. Como se sabe, o espírito esportivo a cada dia que passa ganha mais
adeptos. Essa esportividade culmina no ponto onde o pescador procura fisgar
peixes cada vez maiores com linhas cada vez mais finas. Se ficarmos dando
fisgadas e confirmadas violentas, a linha não aguentará. Então como explicar
que esses pescadores fisgam peixes enormes com linhas bem abaixo da resistência
ao peso do peixe? Pois é pescador. Como se vê, tem gente fazendo bobagem e se
cansando à toa, e o que é pior, perdendo a chance da briga com o peixe,
principalmente na primeira corrida, que é a melhor de todas, E isto independe
da espécie fisgada. Em vez de vibrar com a força do peixe, fica-se dando
verdadeiras bordoadas com a vara, como se isso fosse preciso. A melhor de todas
as dicas para a hora da fisgada, é saber como está a ponta do anzol.
|
|
Fisgando a
anchova
Se ela estiver bem afiada o peixe se fisga sozinho, tanto com
isca natural como artificial. Só para se ter uma idéia, podemos dizer que as
melhores fábricas de anzol se preocupam muito com a ponta de seus anzóis. Hoje,
já se fala em ponta a laser, ponta de diamante e outras mais. Por que será? Ia
me esquecendo. Uma outra prática também proibida e anti-esportiva é o chamado
espinhel, que nada mais é do que uma corda com vários anzóis pendurados. Nesse
tipo de “pesca” também não há a participação do pescador e os peixes também são
fisgados. E o que dizer também da velha “linhada de espera”? Quem é que na
represa (principalmente) já não armou sua linhada de espera, algumas até com
sininhos para acusar a fisgada dos peixes, na maioria das vezes traíras e
carpas? E aquele que, quando cansado, coloca a vara de pesca na espera? Como se
vê, o peixe se fisga sozinho na maioria das vezes. O importante é ter um bom
anzol, sempre com a ponta bem afiada. Para isso existem limas apropriadas para
anzóis, mas nada muda em qualidade, como o anzol novo. Agora, se você é dos que
não acreditam na ponta do anzol, continue dando fisgadas e confirmadas,
encenando o que mais parece uma luta de karatê do que uma boa e gostosa
pescaria. Somos levados então a concluir que fisgadas e confirmadas violentas
são sinônimos de falta de capacidade. Ou seja: comportamento típico de quem não
sabe pescar. Concorda?
|
|
Revista
Aruanã Ed:38 Publicada em 02/1994
|
Bem legal essa matéria, Toninho, você está com a razão, como sempre. Abs...
ResponderExcluirObrigado. Uma pena que você não se identificou com seu nome mas, mesmo assim valeu pela postagem. Receber elogios é sempre muito bom.
ResponderExcluir