Um dos primeiros mitos registrados no Brasil, no centro-sul, é
chamado de boitatá, baitatá, batata, bitutá; batatal em Minas e biatatá na
Bahia; bitatá em São Paulo, “Jean de la foice” ou Jean Delafosse” em Sergipe e
Alagoas, João Galafuz em Itamaracá e Batatão no Nordeste. Traduzido na versão
exata, “coisa de fogo” ou o que é “todo fogo”, é um fogo vivo que se desloca
largando um rastro luminoso. Como há outra palavra tupi parecida “mboi”,
(cobra), chegou-se a “mboi-tatá”, a cobra de fogo. Os cientistas dizem que o
boitatá é um fenômeno resultante da decomposição de matérias orgânicas,
meteoros ígnos, produzidos pela combustão de certos corpos gasosos ou sólidos.
Surge à noite nas regiões atmosféricas inferiores, em forma de chamas errantes,
de cor azulada. Daí também a denominação de “fogos errantes”. É ainda chamado
de “fogo fáctuo”. Mas o povo, que não conhece a natureza do fenômeno, continua
temendo o boitatá como sendo manifestação do além-túmulo. Existem várias
versões sobre o boitatá e onde ele aparece. Segundo os indígenas, o boitatá
protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Outros dizem que aparece nos
cemitérios como alma penada e que ninguém deve fugir do boitatá quando o vê,
mas ficar quieto, porque se correr estará perdido. No norte do Brasil é chamado
de “luz dos afogados”, pois é uma luz fosforescente dos brejos, baixadas e
banhados traiçoeiros, em que muitas vezes os viajantes de atolam e se perdem. O
povo diz que esses lampejos bruxuleantes são as almas dos que ali de afogaram.
No sertão do Nordeste brasileiro conhecem-no também como sendo o “fogo
corredor”. Encontra-se essa denominação igualmente entre os pescadores de
caranguejos, habituados a vê-los, com seu penacho azul e luminoso, bailar sobre
a lama dos mangues. Já o bitatá paulista é o “espirito dos não batizados”. Mas
em todo o Brasil, na maioria absoluta das informações, o boitatá é uma “alma
penada” purgando os pecados: - castigo da união incestuosa ou sacrílega (o fogo
purificador ocorre universalmente nesse tipo de mito); em algumas lendas
astrais o sol e a lua foram irmãos que se amaram, (“lenda da “tapera da lua” no
Brasil). – a alma do menino pagão. – a explicação ameríndia desapareceu e resta
apenas a tradição do fogo fáctuo europeu, com suas superstições. O mais interessante
é que o boitatá, assim como o descrevemos, é conhecido em outros países,
correspondendo à “ronda-dos-lutinos” na França, Flandres, a “inlichit”, a “luz
louca” na Alemanha, igualmente os “iacãundis” (sul-americanos) que quer dizer
“cabeça-inchada”. Ensina Mayntzhusen, o fogo dos druidas, o fogo de Helena,
antepassados de santelmo que os romanos identificavam como a presença de Castor
e Pólus; é o “Jack with a lantem” dos ingleses; é o sinistro “Moine de Marais”.
Por toda a parte veêm-se luzes loucas, azuladas e velozes, assombrando. Em
Portugal são as “alminhas”, as almas dos meninos pagãos e ainda a transformação
de quem amou sacrilegamente, irmão e irmã, compadre e comadre. É o farol dos
Andes, na Argentina e Uruguai, clarão que escapa onde jaz uma riqueza
escondida; na zona pampianas, dizem-na “luz mala”, e na região missionária,
“víbora-del-fuego”. Como se vê, a confusão linguista é grande em torno do mito,
mas o Padre José de Anchieta já dizia prudentemente: “... O que seja isto,
ainda não se sabe com certeza”.
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