sexta-feira, 11 de setembro de 2015

FOLCLORE BRASILEIRO - O BOITATÁ














Coisa-de-fogo, cobra-de-fogo ou fogo-fáctuo, o “nosso boitatá” não é um mito arquitetado somente no Brasil, mas em toda a Europa e América Latina, fenômeno este conhecido desde antes de Cristo




Um dos primeiros mitos registrados no Brasil, no centro-sul, é chamado de boitatá, baitatá, batata, bitutá; batatal em Minas e biatatá na Bahia; bitatá em São Paulo, “Jean de la foice” ou Jean Delafosse” em Sergipe e Alagoas, João Galafuz em Itamaracá e Batatão no Nordeste. Traduzido na versão exata, “coisa de fogo” ou o que é “todo fogo”, é um fogo vivo que se desloca largando um rastro luminoso. Como há outra palavra tupi parecida “mboi”, (cobra), chegou-se a “mboi-tatá”, a cobra de fogo. Os cientistas dizem que o boitatá é um fenômeno resultante da decomposição de matérias orgânicas, meteoros ígnos, produzidos pela combustão de certos corpos gasosos ou sólidos. Surge à noite nas regiões atmosféricas inferiores, em forma de chamas errantes, de cor azulada. Daí também a denominação de “fogos errantes”. É ainda chamado de “fogo fáctuo”. Mas o povo, que não conhece a natureza do fenômeno, continua temendo o boitatá como sendo manifestação do além-túmulo. Existem várias versões sobre o boitatá e onde ele aparece. Segundo os indígenas, o boitatá protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Outros dizem que aparece nos cemitérios como alma penada e que ninguém deve fugir do boitatá quando o vê, mas ficar quieto, porque se correr estará perdido. No norte do Brasil é chamado de “luz dos afogados”, pois é uma luz fosforescente dos brejos, baixadas e banhados traiçoeiros, em que muitas vezes os viajantes de atolam e se perdem. O povo diz que esses lampejos bruxuleantes são as almas dos que ali de afogaram. No sertão do Nordeste brasileiro conhecem-no também como sendo o “fogo corredor”. Encontra-se essa denominação igualmente entre os pescadores de caranguejos, habituados a vê-los, com seu penacho azul e luminoso, bailar sobre a lama dos mangues. Já o bitatá paulista é o “espirito dos não batizados”. Mas em todo o Brasil, na maioria absoluta das informações, o boitatá é uma “alma penada” purgando os pecados: - castigo da união incestuosa ou sacrílega (o fogo purificador ocorre universalmente nesse tipo de mito); em algumas lendas astrais o sol e a lua foram irmãos que se amaram, (“lenda da “tapera da lua” no Brasil). – a alma do menino pagão. – a explicação ameríndia desapareceu e resta apenas a tradição do fogo fáctuo europeu, com suas superstições. O mais interessante é que o boitatá, assim como o descrevemos, é conhecido em outros países, correspondendo à “ronda-dos-lutinos” na França, Flandres, a “inlichit”, a “luz louca” na Alemanha, igualmente os “iacãundis” (sul-americanos) que quer dizer “cabeça-inchada”. Ensina Mayntzhusen, o fogo dos druidas, o fogo de Helena, antepassados de santelmo que os romanos identificavam como a presença de Castor e Pólus; é o “Jack with a lantem” dos ingleses; é o sinistro “Moine de Marais”. Por toda a parte veêm-se luzes loucas, azuladas e velozes, assombrando. Em Portugal são as “alminhas”, as almas dos meninos pagãos e ainda a transformação de quem amou sacrilegamente, irmão e irmã, compadre e comadre. É o farol dos Andes, na Argentina e Uruguai, clarão que escapa onde jaz uma riqueza escondida; na zona pampianas, dizem-na “luz mala”, e na região missionária, “víbora-del-fuego”. Como se vê, a confusão linguista é grande em torno do mito, mas o Padre José de Anchieta já dizia prudentemente: “... O que seja isto, ainda não se sabe com certeza”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário