sexta-feira, 20 de novembro de 2015

PANTANAL: UMA VIAGEM INESQUECÍVEL.














Prontos para a viagem de volta ao lar.


A equipe da aventura, pronta para partir de Corumbá até Porto Murtinho.
Finalmente nós havíamos chegado a Porto Murtinho, depois de fazer um roteiro para a Aruanã, publicado em nossa edição 18, desde Corumbá a Murtinho, pelo rio Paraguai. Viagem maravilhosa, depois da noite dormida em Porto Murtinho, com a caminhonete carregada – uma Veraneio – de propriedade do Kuringa, partimos para os 1.500 quilômetros até São Paulo. A Veraneio puxava ainda uma carreta, com dois barcos Levefort usados no roteiro. Saímos de Murtinho às 6:00h da manhã de um belo dia de sol. Na primeira barreira, oito quilômetros depois de Murtinho, percebemos que um pneu da carreta estava vazando ar. Resolvemos então voltar e consertar o tal pneu. Nova saída e pela frente, mais de 200 quilômetros de terra até Jardim. Depois de 100 quilômetros, a tradicional parada para o “xixi”. Descemos do carro e percebemos que a roda dianteira direita estava “meio torta”. Examinamos e constatamos que a “bandeja” estava segura apenas por um parafuso, dos quatro originais e mais: com a trepidação havia rachado, tendo uma trinca de quase um dedo. Começou o nosso calvário. De posse das ferramentas (o Kuringa tinha todas) desmontamos a roda e fizemos uma procura geral pelo carro para ver quais os parafusos que serviam. Achamos três, no parachoque dianteiro e traseiro e na tampa traseira. “Quebramos o galho”. Subimos todos, e estavam presentes além do Kuringa e eu, o Ney, piloteiro de nossa viagem, o Chico, motorista da Liguepesca e que tinha levado a veraneio até Murtinho e o “Zé”, o nosso famigerado “cozinheiro” da tal viagem. Retornamos à viagem e com cuidado fomos ganhando estrada. Finalmente depois de 10 horas (o percurso normal é de 3h chegamos a Jardim). O Ney e o Chico pegaram sua condução para Corumbá e nós seguimos viagem. Finalmente estávamos em rodovia de asfalto... que tranquilidade. Tudo correndo normalmente era domingo e não achamos nenhum mecânico de serviço. Já era noite quando chegamos a Maracaju. Paramos para um café e resolvemos ir adiante para dormir em Rio Brilhante. Assim que passamos Maracaju, vez por outra a Veraneio “morria” sem mais nem menos. Gasolina tinha, parte elétrica seria o mais natural. Desmontamos a tampa de distribuição, olhamos e não havia nada de errado. Montamos tudo novamente, após olhar os cabos de vela, platinado, etc. Foi só dar a partida e o motor roncou gostoso. Toca todo mundo subir em cima e lá vamos nós. Primeiro buraco. Com o solavanco morreu tudo de novo. Nova parada. Abrimos o capô e a solução era dar uma “porradinha” no distribuidor.






Nova partida e lá vamos nós. De Maracaju até Rio Brilhante foram cinco paradas, ou se preferirem “cinco buracos”. Noite bem dormida, pela manhã nosso destino era o Posto Zuzu pois ali sabíamos que existia um bom mecânico. De fato, chegamos lá às 8 horas da manhã e o mecânico nos atendeu. Pois bem, além de ser um bom mecânico, o tal senhor mais parecia um cirurgião plástico, tal era o cuidado com que manuseava as ferramentas. Para cada aperto de um parafuso ele demorava “um século”. Enquanto ela fazia sua “arte”, outro mecânico, o “Japa”, soldava a bandeja. Eram 13 horas quando acabaram, mas não sem antes nos mostrar que a barrada direção estava segura apenas por um parafuso ... também. Consertamos a barra da direção. Agora, “com o carro jóia”, já desenvolvíamos maior velocidade. Foi quando começou um barulho estranho no pneu. Era um “ploc, ploc” na traseira do carro. Paramos no acostamento e percebemos que o pneu traseiro da Veraneio era recauchutado e estava soltando a borracha. O Kuringa não teve dúvida, e como ele mesmo falou: “a gente corta o pedaço que está saindo e pronto”. Munido de sua faca de pesca, cortou o pedaço e fomos adiante. A bem da verdade, o barulho parou. Pois bem, fizemos cinco paradas para cortes no pneu. Era só escutarmos o ploc, ploc, que descíamos com a faca de pesca na mão. A esta altura estávamos perto de Bataguassu, quando o pneu da carreta (o consertado) estourou. Parada e troca pelo estepe. Seguimos viagem e quando paramos no posto para almoço, compramos um pneu para a carreta. Eram 16 horas. Assim que saímos do posto, começou uma forte chuva que a Veraneio vencia sem dificuldade, apesar de que, claro, na subida ela estava perdendo sensivelmente a potência. Já escurecendo, paramos em um posto já no estado de São Paulo. Foi aí que percebemos porque a Veraneio estava perdendo a potência. O barco que estava sendo puxado, com a chuva foi enchendo de água. Como o tampão de escoamento estava no lugar, ele encheu até a borda. Olhares entre nós e ninguém disse nada. Abrimos o tampão e “inundamos o posto”. Vez por outra um funcionário do posto passava perto e lançava olhares de reprovação à “enxurrada”. Como já era noite e ainda estávamos longe de São Paulo, e tendo que pegar estrada novamente, resolvemos dar uma olhada na iluminação traseira da carreta. Não foi surpresa nenhuma mais, verificar que nada estava aceso. Saímos do posto e encostamos no eletricista. Perdemos cerca de 2 horas para retornar à viagem. Desse ponto em, diante, coube a eu dirigir a Veraneio e a minha parte seria até a Castelo Branco.


Tudo funcionando perfeitamente saímos para a estrada. O primeiro caminhão em sentido contrário piscou os faróis, pois achava ele que eu estava com os faróis altos. Fui dar uma piscada de faróis e aí a coisa ficou preta, literalmente, pois todos os faróis do carro apagaram-se por completo. Só Deus sabe como achei um lugar bom para parar no acostamento. O Kuringa estava dormindo no banco traseiro. Acordei-o e ele sonolento, disse que era simples, abaixou-se perto da direção e com uma pancadinha - milagre – fez-se a luz. E lá vim eu dirigindo estrada afora, e que se danem os outros, pois não piquei mais os faróis. Interligação da Castelo Branco e mais um “ploc, ploc”. Dessa vez eu mesmo desci e cortei a aba do pneu. Finalmente a Castelo Branco, com todas as suas comodidades. Paramos em um posto, tomamos café e o Zé pegou o volante. Como ninguém é de ferro, adormeci no banco da frente a imitar o Kuringa que roncava no banco de trás. De repente acordo com um barulho estranho de carro no acostamento. Abri os olhos e vi que realmente estávamos bem devagar no acostamento. Perguntei ao Zé o que tinha acontecido e ele disse que quando “os olhos ardem, eu paro para dormir”. Pois bem, o nosso famigerado cozinheiro dirigiu cerca de 40 quilômetros e já estava cansado. Peguei no volante e, rezando, voltei à estrada. Cansado, consigo divisar o Cebolão, entrada de São Paulo. Nem eu acreditava que a estrada estava por findar. Mais ou menos uns 2 quilômetros na Marginal Pinheiros, e a Veraneio parou o motor. Encostei no acostamento, chamei o Kuringa e disse que o motor havia morrido. Novamente “simples” e eu não sabia: o marcador de combustível do carro não estava marcando certo. Com sono, o Kuringa levantou e abriu a porta traseira e lá estava um galão de 20 litros de gasolina, “para qualquer emergência”. E devia haver muitas dessas emergências, pois na boca do galão havia até a mangueira para o transplante do combustível. Carro abastecido e mais vinte minutos eu estava em minha residência. Eram 5 horas da manhã e fazia exatamente 48 horas que estávamos viajando. Normalmente esse percurso é feito, incluindo parada de descanso, em 23 horas. Quando eu cheguei finalmente em casa e abri a porta, fiz o mesmo gesto do Papa João Paulo II: beijei o carpete da porta de entrada. A propósito, leitor, se quiser fazer uma viagem com o Kuringa, ele não vendeu a Veraneio. Disse-me ele que deu uma “garibada geral” e que o seu carro voltou a ser uma máquina do prazer.

NOTA DA REDAÇÃO: Após conversar com o Kuringa, ele me contou o que aconteceu, após a publicação desta viagem na Aruanã. Ele vai responder e contar nos “comentários” abaixo. Vale a pena conferir.

2 comentários:

  1. Uma aventura tem começo, mas fim não, porque trazemos na memória o aprendizado e a sabedoria que toda aventura nos fornece.
    Uma viagem inesquecível, publicado na edição 20 da revista Aruanã foi uma destas, se então era complemento da aventura cumprir com o nosso destino foi uma epopeia.
    O Chico que trouxe a Veraneio 74, com os afazeres que ele teve naquela semana, somente saiu de Corumbá no dia em que deveria nos pegar em porto Murtinho e por isto fez a viagem por terra.
    -Mas pelas estradas de dentro assim me disse ele, e como estava atrasado andou o mais rápido que pode. Na carreta que pulava demais, ele colocou uma tora de madeira atravessada em cima das rodas, tocou o pau, e com os solavancos os parafusos da Veraneio foram se soltando.
    A matéria que publicaste na Aruanã, foi vista não só pelo Paggiaro da Leverfort como também pelo André Bier da GM, e depois de umas negociações me ofereceram outra Veraneio novinha para fazermos nossas matérias. Recusei, quer dizer preferi aquela B.20 vermelha com cabine dupla e caçamba estendida que usamos para fazer a matéria do Rio Araguaia. Agora daria para levarmos os motores de popa em pé. Levei sim a Veraneio para o mecânico que a reajustou toda e achou o problema elétrico, era um sistema de segurança e um fio se soltou, era passar por um buraco que ele encostava na lataria e cortava a corrente.
    A pancada leve na direção voltava a funcionar todo o sistema, inclusive os faróis. Se soubesse que era um fiozinho? O Pneu depois o Chico me contou que era o estepe, o de uso furou e ele não teve tempo de arrumar.
    Graças a tua publicação um conhecido do meu mecânico, depois de ler reconheceu a Veraneio e quis compra-la. Agora leia isto com atenção.
    - Um dia, uns cinco anos atrás reconheci a Veraneio e principalmente o numero da placa, já era nova com três letras porem achei muita coincidência os números 9923 e a cor cinza numa Veraneio 74, acreditei que o proprietário tinha conseguido manter os números. Parei ao lado e perguntei para um rapaz de uns 25 anos que a dirigia se ele era o dono.
    -Me contou que tinha sido do pai dele que comprou de um pescador porque ela havia saído numa revista de pesca, e que ficou de herança para ele. Perguntei se venderia, ficou bravo me dizendo que mais que história esta Veraneio tinha personalidade, isto seu pai o havia ensinado.
    Apresentei-me e fui até minha casa, era bem perto do posto onde estávamos tomando café. Quando entreguei a revista a ele, quase chorou e eu também. Apertamos as mãos e nunca mais o vi. Mas o rapaz tem razão aquela Veraneio tem personalidade e cumpriu o dever de quem um dia parte que é voltar ao porto seguro.
    Um grande abraço amigo Toninho, J A Kuringa.

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    1. Um final que emociona, a história da sua Veraneio. Bons tempos, onde a pesca amadora era simplesmente algo de lazer e divertimento, sem qualquer frescura como nos dias atuais se vê. Além disso, nosso meio ambiente era muito mais protegido e com muito mais peixes. Foi a primeira aventura que fizemos pela Aruanã. Muitas outras se sucederam. Só no Pantanal, cumprimos mais de 6.500 km de rios, pescando e acampando. No Araguaia, foram 1.300km. E, só a Revista Aruanã fez pautas desse tipo. Os frutos disso, agora colhemos mais um pouco. Valeu Kuringa, pescador e companheiro de aventuras. Obrigado.

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