sábado, 16 de janeiro de 2016

FOLCLORE DO BRASIL - O URUTAU

















“O grito do urutau é um dos clamores mais terrificantes das matas, pois tem algo de lamento humano”.




Durante o dia, o urutau permanece imóvel, em um ponto mais alto de qualquer árvore, na ponta do galho, camuflando-se com tal perfeição, que muito difícil é distingui-lo com certeza da paisagem à qual se encontra inserido. É uma ave desgraciosa, não apresenta formas elegantes – ao contrário – tem um feitio muito desarmônico. Uma enorme cabeça, que nos faz lembrar a de um batráquio, como esta provida de uma boca de desmedido tamanho, abriga olhos arregalados, de íris amarelo-limão. Por ter hábitos noturnos, essa ave de 40 cm de comprimento tem a vida cercada de lendas, pois o povo a tem na conta de ser algo misterioso. Pela calada da noite, solta, na mata, gritos lancinantes, de entoação macabra. Por mais que estejamos habituados aos rumores da floresta, o grito do urutau perturba-nos a calma do sistema nervoso, fazendo-nos experimentar um sentimento indefinível, senão de medo, algo semelhante a ele. Há quem julgue que tais imprecações apavorantes tenham por fim espantar as aves noturnas, especialmente corujas que espreitam nas trevas os ninhos dos urutaus. Curioso é relatar que os filhotes do urutau desde cedo instruem-se na arte de se disfarçarem, tomando aquela estática atitude durante o dia. No começo, ainda não podem imobilizar-se por muito tempo, talvez porque se cansem ou se distraiam com pensamentos infantis. Assim é que, de quando em quando, descansam, olham em derredor e de novo, rapidamente entram em forma, na posição camuflada, com receio do ralho da mamãe que os vigia. Mas quando chegam à quarta semana de vida, estão habilitados a enganar qualquer um. Diz o povo que o urutau durante o dia, quando a ave está imóvel, de olhos fitos no céu acompanha com a cabeça o movimento do sol, ou melhor: é ele que, daqui, traça ao sol o caminho que aquele astro deve percorrer. Mas há uma segunda lenda. Um índio, chamado Youma, descobre que sua noiva, em segredo, ama outro jovem, Marramac, a quem decide procurar e lhe tira a vida. Marramac é transformado em sol e a noiva de Youma em lua. Ele, por sua vez, transforma-se na ave que chamamos de urutau. Por esse motivo, passa a vida no extremo dos mais altos ramos das árvores, mirando o céu para acompanhar, com os olhos, sua amada transformada em lua. Cheio de desespero, solta para o silêncio da noite aqueles gritos aflitivos e pungentes que enchem as matas de pavor.
Bibliografia consultada:
Histórias, lendas e folclore de nossos bichos (Eurico Santos)

Da ema ao beija-flor (Eurico Santos)
                                     

2 comentários:

  1. Venho até este post mais antigo para comentar um curiosidade. Esta ave, o urutau está presente também aqui em SC, sei disso porque já ouvi seu canto triste. Mas não encontrei ninguém que a tenha visto. E por incrível que possa parecer, as pessoas mais velhas daqui do vale do Itajaí juram de pés juntos que este canto não é desta ave, mas sim o som emitido pelo ouriço-cacheiro. Já ouvi histórias de antigos agricultores que ao ouvir este canto na calada da noite corriam com lanternas às roças de milho e encontravam o ouriço roendo as socas. Creio eu que esta é mais um lenda popular tal qual a da cobra mamífera!

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    1. Marcelino. Obrigado mais uma vez. Por casualidade, eu tive o privilégio de ouvir tanto o canto do Urutau, como do Ouriço (o nosso). Explico: meu caseiro do sítio prendeu um ouriço, já que o mesmo estava espetando espinhos em nossos cães mais atrevidos e o trabalho que dava para tira-los. Quando mandei solta-lo ele deu um longo e único silvo ou piado e na mata perto, ouvi a mesma resposta. Talvez fosse um casal. E, confesso, não me pareceu em nada com o canto do Urutau, já que o deste, se desdobra em várias notas tristes, o que não é o caso do ouriço que acabei de relatar acima. Valeu obrigado e abraço.

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