sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

SAÚDE --- DOENÇA DE CHAGAS











Primitivamente encontrada nas matas entre os animais silvestres, hoje, a doença de chagas é uma enfermidade endêmica muito importante entre as populações que vivem em determinadas áreas rurais, principalmente dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e região Nordeste. A doença chegou ao homem e aos animais domésticos (cão, gato) em decorrência das mudanças que o homem promove em seu ambiente no processo de colonização. A derrubada de matas e as queimadas desalojaram os barbeiros de seus ambientes naturais. Eles passaram a invadir a casa dos homens. As casas rústicas oferecem condições para uma nova morada. Adaptaram-se às mudanças e passaram a se alimentar do sangue do homem e de animais domésticos. A doença de chagas, que recebe essa denominação em homenagem ao médico brasileiro Carlos Chagas, que a descobriu, é uma infecção causada por um parasito pequeniníssimo, que circula no sangue e ataca o coração, bem como órgãos do aparelho digestivo (esôfago e intestino).
                    COMO SE APANHA A DOENÇA DE CHAGAS
A transmissão da doença de chagas é feita através de um inseto conhecido como “barbeiro” (entre outras denominações). O barbeiro, que se alimenta de sangue, ao sugar uma pessoa ou animal portador da doença de chagas, ingere os trypanosomas (germes da doença). No intestino do inseto, os trypanosomas se multiplicam enormemente, sendo eliminados com as fezes. Após picar uma pessoa para sugar o sangue, o barbeiro elimina fezes. A picada produz coceira e, ao coçar-se, a vitima espalha as fezes contaminadas no local da picada. Os trypanosomas penetram no organismo pelo ponto da picada, por alguma arranhadura, ou pelas mucosas dos olhos, do nariz ou da boca. Assim, a transmissão se faz por contaminação das fezes do barbeiro. A transmissão pode se dar também através da transfusão de sangue, se o doador for portador da doença. O barbeiro pode transmitir também esta doença a partir de alguns animais, que são reservatórios para as pessoas. 
















São reservatórios de maior importância o tatu, o gambá, a raposa, o morcego e outros animais silvestres encontrados com a infecção.
                    O TRANSMISSOR
O barbeiro é um inseto da subfamília Triatomínea, que se alimenta exclusivamente de sangue de vertebrados. O comprimento de seu corpo pode variar entre 2 a 3 cm. Existem várias espécies transmissoras. Algumas continuam vivendo nas matas (em ninhos e tocas de animais); outras se adaptaram totalmente à casa do homem (espécie domiciliares) e há outras que embora tenham conseguido adaptar-se à habitação humana, preferem morar no quintal (galinheiro, oco das árvores, forro dos telhados, ninhos de galinha, de pombos, etc.). outras espécies optam pelos porões e paióis. Vivem em lugares pouco iluminados, pois não somente a luz os incomoda como também a temperatura é mais adequada. Daí terem se adaptado muito bem às casas de pau a pique (casas sem reboco, sem caiação, com coberturas de capim ou palha). São também encontrados em casas de taipas, de alvenaria mal conservadas e casas de madeira mal cuidadas. Podem abrigar-se atrás de folhinhas, fotografias, calendários, quadros pendurados nas paredes, embaixo de colchões, montes de lenha, etc. Existem várias espécies de barbeiros. No Brasil, as mais comuns, por ordem de importância para a transmissão, considerando os estados onde são mais frequentemente encontradas são:
1.Triatoma infestans – Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Bahia.
2.Panstrogylus megistus – Nordeste, Leste e Centro Oeste.
3.Triatoma brasiliensis – Nordeste.
4.Triatomas sórdida – São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
5.Triatoma Pseudo maculata – Nordeste.
COMO SE DESENVOLVE UM CASO DE DOENÇA DE CHAGAS
  Desde o momento que a pessoa se infecta, até o aparecimento das primeiras manifestações da doença, decorrem, em média, de 4 a 10 dias. 



Fase aguda – Na fase aguda, são sinais precoces o chagoma de inoculação e o sinal de Romaña. O primeiro assemelha-se a um furúnculo, que se forma no próprio local da penetração do agente da doença (Tripanosoma cruzi).
O sinal de Romanã é um edema (inchação) das pálpebras de um só dos olhos, e que embora não apareça em todos os casos, tem grande valor diagnóstico por ser específico da enfermidade. Afora isso, nesta fase costumam surgir: febre prolongada, baixa e contínua, mal estar, falta de apetite, aumento do baço e do fígado, que tendem a regredir espontaneamente em algumas semanas. No entanto, em crianças de baixa idade, o quadro pode se agravar e levar à morte.  Com maior frequência porém, não há qualquer manifestação clínica da doença e a fase aguda passa desapercebida.
Fase indeterminada – Após a fase aguda, há um longo período de anos ou até toda a vida, em que o individuo, mesmo com a infecção, não apresenta nenhuma evidência clinica da doença. Em alguns casos, e não se sabe ainda ao certo o que determina isso, a doença evolui à fase crônica.
Fase Crônica – É caracterizada pelo comprometimento de alguns órgãos, como coração, esôfago e intestino. Por isso se distingue uma forma cardíaca e uma forma digestiva na fase crônica da doença de chagas. Quando o coração é afetado, as lesões ou sua expressão clínica são muito diversas, com uma grande variedade de sinais e sintomas. Pela ordem de frequência, ocorrem: palpitação falta de ar e cansaço, edema (inchação), dor no peito, tosse, tontura. Pode haver ainda a morte súbita de pessoas aparentemente sadias, por parada cardíaca, quase sempre na faixa dos 20 a 50 anos. Quando o aparelho digestivo que é atacado, há um aumento localizado no calibre do esôfago ou porções finais do intestino, causando o “mal do engasgo” ou do “entalo”. Pode haver então: dor com a ingestão de alimentos, regurgitação, soluço, tosse, prisão de ventre, dor abdominal.







É importante lembrar que pode ocorrer infecção chagásica sem que haja doença – que deve ser entendida como infecção + sinais e sintomas clínicos, provocados pelo mau funcionamento dos órgãos atacados. Daí se considerar atualmente (em 1987) no Brasil, a existência de 5 a 8 milhões de pessoas com infecção chagásica, sem que isso signifique que exista igual número de doentes do mal de chagas, cujas proporções são bem mais reduzidas.
                    DIAGNÓSTICO
Na fase aguda:
1.Clínico
2. De laboratório
a) pesquisa direta do parasito no sangue (gota espessa).
b) Xenodiagnóstico (faz-se uma pessoa suspeita da doença ser picada por barbeiro criados em laboratórios, sem infecção) O exame de fezes desses barbeiros, feito alguns dias depois, se positivo, indica a doença no indivíduo.
Na fase crônica:
1.São realizadas provas sorológicas (provas de laboratórios, realizadas com soro retirado do sangue do doente).
a) Imunofluorêscencia indireta
b) Hemaglutinação
c) Fixação do complemento (Reação de Machado Guerreiro)
2.Eletrocardiograma
3.Raios-X
                    TRATAMENTO
As drogas hoje conhecidas são eficazes apenas na fase inicial da enfermidade; daí a importância da descoberta precoce da doença.
                    PROFILAXIA
Por não existir medicação que possa ser utilizada em larga escala no tratamento da doença de chagas e vacina protetora, as campanhas profiláticas são orientadas no sentido de combate ao inseto transmissor – o barbeiro. As medidas principais são:






1.Melhoria das habitações
Reboco das paredes para impedir o alojamento de barbeiros. As casas, quer sejam de alvenaria ou taipa, devem ter as paredes lisas, sem frestas ou buracos, e cobertura de telhas.
2.Desinsetização
Borrifação com inseticida (BHC) nas casas, galinheiros, estábulos e outros anexos ao domicílio.
3.Higiene da habitação
As casas devem ser mantidas limpas, evitando o ajuntamento de caixotes, malas, objetos sem uso, lixo, que aumentam a possibilidade de abrigo dos barbeiros. Não esquecer a limpeza atrás dos quadros e calendários pendurados nas paredes, bem como colchões, onde também costuma se esconder o barbeiro. Limpar sistematicamente os galinheiros, ninhos de galinhas, de pombos, chiqueiros ou qualquer local onde se alojam animais domésticos. Estes alojamentos de animais devem ser construídos o mais afastado possível da casa. Manter limpa de mato e lixo a área ao redor da casa.
                    O QUE FAZ A SUCAM
Levantamento triatomínico – Antes de fazer o combate direto aos triatomíneos com inseticida, a SUCAM faz uma busca, casa a casa, para verificar quais as residências onde são encontrados esses insetos. Este levantamento serve não só para verificar a presença dos triatomíneos na área, como para saber em que quantidades e locais são encontrados. O guarda faz a busca em todos os locais da casa (todas as paredes de dentro e fora; nos móveis e outros utensílios). Também são verificados os anexos, cercas e materiais expostos fora de casa. Para a pesquisa nos buracos da parede os guardas usam um desalojante (piriza) aplicado com uma pequena bomba. Ajuda a tirar os triatomíneos de dentro do esconderijo.
Borrifação – É feita com inseticida BHC nas paredes das casas, galinheiros, estábulos e demais anexos.






A borrifação é feita de 6 em 6 meses. O inseticida mata os barbeiros que se encontram nas casas, mas eles podem voltar a repovoá-las. É, pois nos modos do homem morar (tipo de material que usa na construção da casa, maneira como a constrói e os cuidados e higiene que tem com a mesma), não favorecendo a existência de barbeiros na moradia, que residem as principais medidas de combate à doença de chagas.

NOTA DA REDAÇÃO: Em uma de minhas reportagens – não vou citar o estado, cidade, nome do pesqueiro, por motivos óbvios – fui fazer um roteiro como costumávamos publicar nas páginas da Revista Aruanã. Isso aconteceu alguns anos após fazer a matéria sobre doenças e nelas refletir. Nesse local, onde fiz a matéria e publiquei na Aruanã, nos dormitórios eu havia constatado a presença de barbeiros, olhando atrás de quadros e folhinhas e no anoitecer, avistá-los andando nas paredes do nosso dormitório. Fiquei dois dias nessa pauta e dormi muito mal acomodado, dentro do meu carro. Era delicada a situação e talvez eu fosse mal interpretado pelos donos do pesqueiro se falasse a respeito do que vi e constatei. Ao voltar a São Paulo, entrei em contato com a SUCAM e relatei o ocorrido. Fui informado algum tempo depois que os guardas haviam estado nesse local e feito à profilaxia de todos os ambientes. Fiz a minha parte, sem causar qualquer dissabor a quem quer que fosse.  Várias outras matérias que fiz, sempre na minha tralha de pesca, havia um mosquiteiro para ser usado durante a noite no sono. Aconselho essa prática aos pescadores que frequentam pesqueiros nas áreas endêmicas. Antonio Lopes da Silva






Nenhum comentário:

Postar um comentário