sexta-feira, 15 de abril de 2016

DICA - AS CORES NA ÁGUA AZUL








Rio de litoral.

Todos os peixes são predadores. Partindo-se dessa afirmação, sabemos que eles usam, quando estão “caçando”, a visão, o olfato, o tato e principalmente a audição. Aliás, este último é o mais pronunciado e usado nos sentidos do peixe, já que a linha lateral do corpo de todos os peixes constitui-se praticamente de “uma fileira de ouvidos”. Antes de ver, um peixe ouve os movimentos de sua presa, e assim ele vai em sua direção, para então, dentro de seu diminuto raio de ação visual, ataca-la. Com a presa na boca, pronunciam-se então os outros sentidos, como o olfato e o paladar. Nesse exato momento, com a presa na boca, ele decide se engole o alimento ou não. Quando se trata de uma isca artificial, material sem cheiro ou sabor, não há porque o peixe engolir, mas o simples fato de tê-la pegado na boca, já é o bastante para ser fisgado pelos anzóis. Ora, precisamos então, mais do que nunca, garantir que o peixe abocanhe nossa isca artificial para que se proceda a fisgada.




Cavala.

Daí a importância de fazermos com que elas se pareçam em forma, cor, e movimentos com uma isca natural, Ou seja: para que os peixes se sintam atraídos por elas. A visão dos peixes, afirmam os cientistas, é diferente da visão humana, já que nós nos baseamos mais na percepção das cores, enquanto os peixes focam mais os contrastes. Além disso, os humanos enxergam as coisas basicamente do mesmo modo, enquanto os peixes, dependendo da espécie à qual pertencem, enxergarão de maneira diferente, baseados também nas condições de seu meio ambiente e comportamento. Sabemos por exemplo que a luz do sol incide do ar para a água e é refletida, inclinada e refratada, movendo-se irregularmente de acordo com as ondulações. Partículas em suspensão e plâcton na água dispersam a claridade, que se torna difusa. Conforme aumenta a profundidade, também a cor da luz é alterada. Diferentes comprimentos de ondas de luz são absorvidos e dispersos em diversos padrões, dependendo da profundidade e da composição da água.



Olho de albacora. 

As águas claras, por exemplo, propagam ondas curtas de luz, enquanto águas com partículas em suspensão absorvem essas ondas. Daí a informação científica de que peixes que vivem próximos à superfície podem perceber uma grande gama de cores (tons), mas os peixes que vivem em grandes profundidades ou em águas mais escuras limitam-se a perceber um ou dois tons de cores de luz. Afirmam ainda os cientistas que, se nos movermos abaixo da superfície da água, comprovaremos que a luz, a visão e o comportamento dos peixes variam muito à medida que nos afastarmos da costa, alterando também o modo como isso irá influenciar nossas pescarias. As águas marinhas estão classificadas cientificamente em onze padrões ópticos, dependendo das variáveis ambientais, tais como: profundidade, salinidade, temperatura, claridade e a própria cor da água. Definidas por eles como “águas de Jerlov”, cada uma dessas classes absorve e transmite luz em diferentes comprimentos de ondas.

Mar azul.

Dourado do mar.

Chega-se então a um denominador comum: a cor azul é predominante porque na superfície o azul é o ultimo comprimento de onda absorvido, à medida que a luz vai atingindo maiores profundidades. Em águas costeiras a cor dominante seria um verde amarelado. Normalmente, os cientistas atribuem a variação das cores aos olhos do peixe às características de seu habitat. Por exemplo, os peixes de bico em geral são sensíveis às cores azul-claras, enquanto os cações o são em relação ao amarelo claro e os peixes de água salobra às cores avermelhadas. Isto significa então que um pescador deve obrigatoriamente optar por usar iscas azuis para pescar os bicos? De modo algum. Ali, um objeto também azul ficaria perfeitamente camuflado em relação ao fundo, o que o tornaria quase invisível. É por isso que muitos peixes de água oceânicas (água azul) tornam-se também azulados. Ao invés de se preocupar principalmente com a cor da isca, o pescador deverá, antes de tudo, observar seu contraste com a água e o mais importante de tudo: o barulho que a mesma faz e o modo como se movimenta.


Isca artificial.

Atum.

No NMFS Aquarium, em Woods Hole (EUA), cientistas observaram um peixe liso e um peixe listrado. O movimento da refração da luz denunciou a presença do peixe liso, mas dificilmente foi percebida a presença do peixe listrado. Em dias nublados, o reflexo diminui consideravelmente. À noite, a lua também causa reflexos, porém de baixa intensidade. Conclusão: os olhos de diferentes peixes são particularmente sensíveis ao reflexo em diferentes frequências, o que facilita com que os predadores detectem “flashes” de luz no corpo brilhante de sua vítimas. Quanto mais a isca artificial se destacar do fundo, maior será sua chance de atrair o predador. Pescando em um dia claro, com muitos reflexos de luz na água, iscas brilhantes serão difíceis de serem avistadas pelo peixe, enquanto as mais escuras e opacas serão mais visíveis. Num dia nublado, com poucos reflexos, uma isca fluorescente ou brilhante irá se sobressair mais contra o fundo, difundindo a luz e sendo então a melhor opção para a pesca.



Cação do Rio Grande do Sul. 

Mais uma afirmação: uma pescaria terá melhores resultados se for praticada com água agitada do que quando o mar estiver calmo. Esse conceito pode parecer estranho ao pescador amador, no entanto pescadores profissionais de atum, em dias calmos e com a superfície do mar lisa, usam um sistema de spray de água para agitar a superfície e assim camuflar melhor suas linhas e iscas. E isto, comprovadamente, funciona. Os olhos dos peixes são muito bons para julgar tamanhos e distâncias, mas não detalhes e cores. Se você quiser que uma isca artificial seja bem visível, tente usar algo oposto às condições do ambiente. Assim sendo, se a água for escura e nebulosa, use algo brilhante e que favoreça reflexos. Ao contrário, se a agua for clara e brilhante, use algo que tenha silhueta escura. Algumas vezes, a combinação claro/escuro funciona muito bem em uma isca. Perceba como são as iscas para a pesca oceânica, não importa a cor. Compare por exemplo uma “saia” brilhante a uma “saia” escura e opaca.



Pesqueiro junto a ilhas. 

Não é a cor que realmente importa aqui, mas o contraste causado pelo brilho. Segundo os cientistas R.H. Douglas e C.W. Hawryshyn, em seu estudo intitulado Behavorial Studies of Fishs Vision (Estudos Comportamentais da Visão dos Peixes), “...uma imagem completamente estática fornece relativamente poucas informações úteis a um peixe, sendo com frequência, somente quando alguma coisa se move é que pode ser localizada a identificada”.
                                                 DICAS PARA A PESCARIA
Evite iscas de cores claras e brilhantes quando for pescar em águas agitadas ou quando o sol estiver muito brilhante e “faiscando” sobre a água – as iscas irão se fundir com os reflexos da superfície. Use iscas escuras. Use iscas prateadas ou que reflitam a luz em dias escuros e nublados, ou nos horários em que o sol esteja baixo no céu.



Linha lateral do corpo do peixe. 

Em águas claras, use iscas com silhuetas escuras. Em águas escuras ou nebulosas, utilize iscas brilhantes e que ocasionem flashes de luz. Em condições intermediárias, maximize o contraste na própria isca, optando por aquelas que combinem cores escuras e claras. Escolha iscas mais escuras para trabalhar na superfície e iscas mais claras para maiores profundidades. Finalmente, podemos dizer que a graduação de visão das cores que um peixe tem depende de quantos tipos diferentes de pigmentos visuais ou receptores de cor que existem em seus olhos. Se houver apenas um pigmento (e isso ocorre em várias espécies), o peixe é cego. Se houver dois pigmentos, ele será capaz de discriminar limitadamente as cores. Uma espécie (é raro) com três pigmentos visuais, como ocorre com os humanos, conseguirá ter uma boa visão das cores. Os pigmentos visuais são medidos pelo comprimento de ondas (nm) de luz aos quais respondem.




Lula artificial.

Várias espécies de peixes estudadas por J.N. Lythgoe (1984) têm dois pigmentos, um deles sensível às ondas curtas de luz azulada na escala de 440 a 4560 nm e outro sensível à luz verde entre 520 a 540 nm. As cores que um peixe pode ver geralmente se equiparam à luz disponível em seu meio ambiente. Tal fato nos faz raciocinar da seguinte maneira: deveremos nos preocupar em usar iscas artificiais o mais parecidas possível, em matéria de cores, às cores dos peixes com os quais o predador está acostumado a se alimentar em seu meio ambiente. Evidente está que o barulho da isca artificial também é muito importante na hora da pescaria. Citamos como exemplo as iscas artificiais denominadas de lulas: essas iscas, quando utilizadas no sistema de corrico, vêm surfando e pulando na superfície, imitando com perfeição um peixe voador. Se além de imitar as “alegorias” de um peixe voador a isca também tiver cores parecidas com as dele, melhor será o resultado.






Revista Aruanã Ed. 47 outubro 1995.
NOTA DA REDAÇÃO: Em outubro de 1990, nós postamos aqui no blog, outra matéria sobre cores e iscas artificiais, com o título “Os peixes vêem cores”. Essa matéria foi publicada na Revista Aruanã em outubro de 1990. A que hoje postamos, foi publicada na Revista Aruanã em sua edição 47, outubro de 1995. Decorridos, portanto, da primeira 26 anos, ninguém a desmentiu ou contestou. A segunda publicada em 1995, portanto, a mais de 21 anos, também nada constou contra na opinião de leitores da Aruanã. Fica então a pergunta a você pescador: qual é sua cor favorita? Abraço. Antonio Lopes da Silva

2 comentários:

  1. Lembro-me de nossa conversa sobre os peixes não veem cores. Uma das aulas que tomei contigo sobre iscas artificiais, o melhor que foi aula prática. valeu Toninho.

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  2. Kuringa: E ainda hoje, mesmo com essas pesquisas científicas que citei nas duas matérias abordadas no blog, ainda temos pescadores que não acreditam nessa afirmação. Mas, também não desmentem e ficam na deles. Para o fabricante, seja grande ou pequeno, a cor na isca é um marketing para vender seu produto. No que estão certos (?) pois as novidades atraem os pescadores. Mas me surgiu agora um pensamento. Se você pescador, esqueceu - difícil mas pode acontecer - suas iscas em casa e ainda tiver anzóis ou garateias na sua tralha, não se preocupe. Basta apenas pegar um galho de árvore seco e leve e com ele fazer uma "isca artificial", do tamanho de um pequeno peixe. Com certeza vai funcionar. Abraço amigo e companheiro. Obrigado pelo comentário.

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