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Rio de litoral.
Todos os peixes são predadores.
Partindo-se dessa afirmação, sabemos que eles usam, quando estão “caçando”, a
visão, o olfato, o tato e principalmente a audição. Aliás, este último é o mais
pronunciado e usado nos sentidos do peixe, já que a linha lateral do corpo de
todos os peixes constitui-se praticamente de “uma fileira de ouvidos”. Antes de
ver, um peixe ouve os movimentos de sua presa, e assim ele vai em sua direção,
para então, dentro de seu diminuto raio de ação visual, ataca-la. Com a presa
na boca, pronunciam-se então os outros sentidos, como o olfato e o paladar.
Nesse exato momento, com a presa na boca, ele decide se engole o alimento ou
não. Quando se trata de uma isca artificial, material sem cheiro ou sabor, não
há porque o peixe engolir, mas o simples fato de tê-la pegado na boca, já é o
bastante para ser fisgado pelos anzóis. Ora, precisamos então, mais do que
nunca, garantir que o peixe abocanhe nossa isca artificial para que se proceda
a fisgada.
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Cavala.
Daí a importância de fazermos com que elas se pareçam em
forma, cor, e movimentos com uma isca natural, Ou seja: para que os peixes se
sintam atraídos por elas. A visão dos peixes, afirmam os cientistas, é
diferente da visão humana, já que nós nos baseamos mais na percepção das cores,
enquanto os peixes focam mais os contrastes. Além disso, os humanos enxergam as
coisas basicamente do mesmo modo, enquanto os peixes, dependendo da espécie à
qual pertencem, enxergarão de maneira diferente, baseados também nas condições
de seu meio ambiente e comportamento. Sabemos por exemplo que a luz do sol
incide do ar para a água e é refletida, inclinada e refratada, movendo-se
irregularmente de acordo com as ondulações. Partículas em suspensão e plâcton
na água dispersam a claridade, que se torna difusa. Conforme aumenta a
profundidade, também a cor da luz é alterada. Diferentes comprimentos de ondas
de luz são absorvidos e dispersos em diversos padrões, dependendo da
profundidade e da composição da água.
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Olho de albacora.
As águas claras, por
exemplo, propagam ondas curtas de luz, enquanto águas com partículas em
suspensão absorvem essas ondas. Daí a informação científica de que peixes que
vivem próximos à superfície podem perceber uma grande gama de cores (tons), mas
os peixes que vivem em grandes profundidades ou em águas mais escuras
limitam-se a perceber um ou dois tons de cores de luz. Afirmam ainda os
cientistas que, se nos movermos abaixo da superfície da água, comprovaremos que
a luz, a visão e o comportamento dos peixes variam muito à medida que nos
afastarmos da costa, alterando também o modo como isso irá influenciar nossas
pescarias. As águas marinhas estão classificadas cientificamente em onze
padrões ópticos, dependendo das variáveis ambientais, tais como: profundidade,
salinidade, temperatura, claridade e a própria cor da água. Definidas por eles
como “águas de Jerlov”, cada uma dessas classes absorve e transmite luz em
diferentes comprimentos de ondas.
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Mar azul.
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Dourado do mar.
Chega-se então a um denominador comum: a cor azul é
predominante porque na superfície o azul é o ultimo comprimento de onda
absorvido, à medida que a luz vai atingindo maiores profundidades. Em águas
costeiras a cor dominante seria um verde amarelado. Normalmente, os cientistas
atribuem a variação das cores aos olhos do peixe às características de seu
habitat. Por exemplo, os peixes de bico em geral são sensíveis às cores
azul-claras, enquanto os cações o são em relação ao amarelo claro e os peixes
de água salobra às cores avermelhadas. Isto significa então que um pescador
deve obrigatoriamente optar por usar iscas azuis para pescar os bicos? De modo
algum. Ali, um objeto também azul ficaria perfeitamente camuflado em relação ao
fundo, o que o tornaria quase invisível. É por isso que muitos peixes de água
oceânicas (água azul) tornam-se também azulados. Ao invés de se preocupar
principalmente com a cor da isca, o pescador deverá, antes de tudo, observar
seu contraste com a água e o mais importante de tudo: o barulho que a mesma faz
e o modo como se movimenta.
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Isca artificial.
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Atum.
No NMFS Aquarium, em Woods Hole (EUA), cientistas observaram
um peixe liso e um peixe listrado. O movimento da refração da luz denunciou a
presença do peixe liso, mas dificilmente foi percebida a presença do peixe
listrado. Em dias nublados, o reflexo diminui consideravelmente. À noite, a lua
também causa reflexos, porém de baixa intensidade. Conclusão: os olhos de
diferentes peixes são particularmente sensíveis ao reflexo em diferentes
frequências, o que facilita com que os predadores detectem “flashes” de luz no
corpo brilhante de sua vítimas. Quanto mais a isca artificial se destacar do
fundo, maior será sua chance de atrair o predador. Pescando em um dia claro,
com muitos reflexos de luz na água, iscas brilhantes serão difíceis de serem
avistadas pelo peixe, enquanto as mais escuras e opacas serão mais visíveis.
Num dia nublado, com poucos reflexos, uma isca fluorescente ou brilhante irá se
sobressair mais contra o fundo, difundindo a luz e sendo então a melhor opção
para a pesca.
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Cação do Rio Grande do
Sul.
Mais uma afirmação:
uma pescaria terá melhores resultados se for praticada com água agitada do que
quando o mar estiver calmo. Esse conceito pode parecer estranho ao pescador
amador, no entanto pescadores profissionais de atum, em dias calmos e com a
superfície do mar lisa, usam um sistema de spray de água para agitar a
superfície e assim camuflar melhor suas linhas e iscas. E isto,
comprovadamente, funciona. Os olhos dos peixes são muito bons para julgar
tamanhos e distâncias, mas não detalhes e cores. Se você quiser que uma isca
artificial seja bem visível, tente usar algo oposto às condições do ambiente.
Assim sendo, se a água for escura e nebulosa, use algo brilhante e que favoreça
reflexos. Ao contrário, se a agua for clara e brilhante, use algo que tenha
silhueta escura. Algumas vezes, a combinação claro/escuro funciona muito bem em
uma isca. Perceba como são as iscas para a pesca oceânica, não importa a cor. Compare
por exemplo uma “saia” brilhante a uma “saia” escura e opaca.
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Pesqueiro junto a
ilhas.
Não é a cor que
realmente importa aqui, mas o contraste causado pelo brilho. Segundo os
cientistas R.H. Douglas e C.W. Hawryshyn, em seu estudo intitulado Behavorial
Studies of Fishs Vision (Estudos Comportamentais da Visão dos Peixes), “...uma
imagem completamente estática fornece relativamente poucas informações úteis a
um peixe, sendo com frequência, somente quando alguma coisa se move é que pode
ser localizada a identificada”.
DICAS
PARA A PESCARIA
Evite iscas de cores claras e brilhantes quando for pescar em
águas agitadas ou quando o sol estiver muito brilhante e “faiscando” sobre a
água – as iscas irão se fundir com os reflexos da superfície. Use iscas
escuras. Use iscas prateadas ou que reflitam a luz em dias escuros e nublados,
ou nos horários em que o sol esteja baixo no céu.
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Linha lateral do corpo
do peixe.
Em águas claras, use
iscas com silhuetas escuras. Em águas escuras ou nebulosas, utilize iscas
brilhantes e que ocasionem flashes de luz. Em condições intermediárias,
maximize o contraste na própria isca, optando por aquelas que combinem cores
escuras e claras. Escolha iscas mais escuras para trabalhar na superfície e
iscas mais claras para maiores profundidades. Finalmente, podemos dizer que a
graduação de visão das cores que um peixe tem depende de quantos tipos
diferentes de pigmentos visuais ou receptores de cor que existem em seus olhos.
Se houver apenas um pigmento (e isso ocorre em várias espécies), o peixe é
cego. Se houver dois pigmentos, ele será capaz de discriminar limitadamente as
cores. Uma espécie (é raro) com três pigmentos visuais, como ocorre com os
humanos, conseguirá ter uma boa visão das cores. Os pigmentos visuais são
medidos pelo comprimento de ondas (nm) de luz aos quais respondem.
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Lula artificial.
Várias espécies de peixes estudadas por J.N. Lythgoe (1984)
têm dois pigmentos, um deles sensível às ondas curtas de luz azulada na escala
de 440 a 4560 nm e outro sensível à luz verde entre 520 a 540 nm. As cores que
um peixe pode ver geralmente se equiparam à luz disponível em seu meio
ambiente. Tal fato nos faz raciocinar da seguinte maneira: deveremos nos
preocupar em usar iscas artificiais o mais parecidas possível, em matéria de
cores, às cores dos peixes com os quais o predador está acostumado a se
alimentar em seu meio ambiente. Evidente está que o barulho da isca artificial
também é muito importante na hora da pescaria. Citamos como exemplo as iscas
artificiais denominadas de lulas: essas iscas, quando utilizadas no sistema de
corrico, vêm surfando e pulando na superfície, imitando com perfeição um peixe
voador. Se além de imitar as “alegorias” de um peixe voador a isca também tiver
cores parecidas com as dele, melhor será o resultado.
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Revista Aruanã Ed. 47
outubro 1995.
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NOTA DA REDAÇÃO: Em outubro de 1990, nós postamos aqui
no blog, outra matéria sobre cores e iscas artificiais, com o título “Os peixes
vêem cores”. Essa matéria foi publicada na Revista Aruanã em outubro de 1990. A
que hoje postamos, foi publicada na Revista Aruanã em sua edição 47, outubro de
1995. Decorridos, portanto, da primeira 26 anos, ninguém a desmentiu ou
contestou. A segunda publicada em 1995, portanto, a mais de 21 anos, também
nada constou contra na opinião de leitores da Aruanã. Fica então a pergunta a
você pescador: qual é sua cor favorita? Abraço. Antonio Lopes da Silva
Lembro-me de nossa conversa sobre os peixes não veem cores. Uma das aulas que tomei contigo sobre iscas artificiais, o melhor que foi aula prática. valeu Toninho.
ResponderExcluirKuringa: E ainda hoje, mesmo com essas pesquisas científicas que citei nas duas matérias abordadas no blog, ainda temos pescadores que não acreditam nessa afirmação. Mas, também não desmentem e ficam na deles. Para o fabricante, seja grande ou pequeno, a cor na isca é um marketing para vender seu produto. No que estão certos (?) pois as novidades atraem os pescadores. Mas me surgiu agora um pensamento. Se você pescador, esqueceu - difícil mas pode acontecer - suas iscas em casa e ainda tiver anzóis ou garateias na sua tralha, não se preocupe. Basta apenas pegar um galho de árvore seco e leve e com ele fazer uma "isca artificial", do tamanho de um pequeno peixe. Com certeza vai funcionar. Abraço amigo e companheiro. Obrigado pelo comentário.
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