Segundo esta lenda,
originário do Rio Amazonas, Cobra Norato assustava os moradores das regiões
ribeirinhas porque acreditava-se que comia pessoas. Fama injusta. Seu desejo
era se tornar gente, mas para isso era preciso a coragem de alguém em dar-lhe
crédito...
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Trabalhava na roça uma mulher. Foi à beira do rio beber água e
sentiu uma dor no ventre. Já se sabia, estava grávida. Quando deu à luz, viu
que era um casal de gêmeos na forma de duas cobras. Filhos do pecado quase
sempre nasciam cobras. Zelina, ao nascimento dos filhos, teve vontade de
matá-los. O curador, o velho pagé, a aconselhou que não fizesse isso. Jogou as
cobras no rio, onde então se criaram. Foram crescendo. Honorato possuía bom
caráter e costumava visitar sua mãe. Já Maria Caninana era cobra má, sempre
fazendo coisas que sua mãe não gostava. De tantas maldades praticadas,
resolveram por matá-la um dia. Honorato era um moço encantado em uma cobra.
Para visitar sua mãe, deixava sua pele, a casca da cobra, na beira do rio, à
noite. Mas antes de amanhecer, era preciso vestir novamente sua pele e voltar a
ser cobra, vivendo no grande rio e percorrendo por ele as grandes cidades. Nas
suas visitas, pedia à mãe que o desencantasse. Para isso era preciso que alguém
lhe jogasse umas gotas de leite na boca, quando estivesse como cobra, e lhe
fizesse um corte na cauda para que o sangue saísse. Era um moço muito bonito e
algumas noites se tornava gente para aparecer nos bailes, mas antes de clarear
o dia, desaparecia. Aproveitava essas ocasiões para pedir aos demais que o
desencantasse. Ninguém tinha coragem. A cobra era feia, enorme, tão horrenda, e
ainda corria o boato que poderia comer as pessoas que se aproximassem. Quem se
arriscaria a ajuda-lo? Já cansado de pedir, encontrou um dia um soldado muito
corajoso. Pediu-lhe então. O soldado, para mostrar sua valentia, aceitou a
incumbência. Na beira do rio, pela manhã, Honorato em forma de cobra,
encontra-se com o soldado no lugar marcado. Este, sem medo, levou o leite e a
faca. Jogou-lhe o leite na boca e com a faca abriu-lhe um corte na cauda,
quando jorrou sangue. Imediatamente Honorato desencantou-se. Transformou-se
finalmente em gente, e não trouxe mais medo aos moradores
do grande rio Amazonas, nem se viu mais Zelina chorando pelo filho.
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