Em tupi guarani, sucuri significa “a que morde rápido, atira
o bote”. Cientificamente, essa serpente é classificada como Ennectes murinus.
Em seu livro, Dicionário Animais do Brasil, Von Ihering dá
uma descrição ampla desse réptil. Diz ele: “É a maior serpente do mundo, pois
só tem como rival em tamanho a Python
reticulatus das ilhas em Sumatra e Bornéo, que atinge 10 m de comprimento”.
O maior espécime autenticado de sucuri, guardado no museu de Londres, mede 20
pés (8,7 m). temos notícia exata de um sucuri de 11,28 m de comprimento,
(infelizmente foi apenas contado por “caçador”, que os maiores exemplares
atingem 12 a 15 m). Peles com 8 m de comprimento não são raras e então medem 75
cm de largura. O colorido é pardo-azeitona, com uma série dupla de grandes
manchas pretas. A cabeça é revestida por numerosas escamas pequenas, como nas
“serpentes venenosas” e não como nas cobras comuns que tem seus escudos
simétricos. A sucuri não é venenosa, mas, utilizando-se de incrível força
muscular, mata qualquer presa que consiga enroscar; arrochando os laços e as
voltas com que enlaça o corpo da vítima, quebra-lhe os ossos e assim, só mesmo
o tempo para preparar o bocado para deglutição. Alimenta-se principalmente de
peixes, aves aquáticas e grandes mamíferos, que frequentam as águas onde ela
própria passa a maior parte da vida; capivaras. antas, bem como veados e outros
animais que surpreende nos bebedouros. Vive só nas matas que margeiam os
grandes rios; não existe no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, nem no
litoral paulista; mas do interior deste estado ela se estende para o norte até
o Orinoco. Ao homem acostumado às grandes caçadas, a sucuri, mesmo sendo de
porte avantajado, não atemoriza. Um tiro certeiro na cabeça ou na espinha põe o
monstro fora de combate. Há casos verídicos de lutas em que, errada a pontaria,
a sucuri consegue enroscar-se no caçador, porém, os companheiros o salvaram
prontamente. Em geral ela não ataca crianças; Bates nota dois casos em que os
pais acudiram em tempo para livrar os filhos de estrangulamento.
No tempo de procriação ouve-se um bramido intenso; contudo a
descrição que a respeito faz o general Couto de Magalhães, é certamente
exagerada. No cativeiro, nos primeiros tempos não aceita alimento algum e um
espécime persistiu nessa teima durante 19 meses, sem com isso ter emagrecido.
Bastante generalizada, apesar de tão pouco verossímil, é a fábula que explica
como a sucuri consegue deglutir um boi – a serpente devora o corpo e deixa
apodrecer o crânio com os chifres, que lhe ficam atravessados entre os
maxilares. O maior animal que, segundo observação bem documentada, foi
encontrado na barriga da sucuri, era um suçuapara, veado do tamanho de uma
novilha, como documenta o general Couto de Magalhães. Medido a maior
circunferência dessa sucuri, o mesmo autor indica 7 palmos, o que atribui estar
o corpo muito distendido pelos gases provenientes da putrefação do animal
contido no estômago. A cabeça desse exemplar não era, no entretanto, maior que
a mão de um homem e assim a deglutição da presa só se realiza graças a enorme
distensibilidade dos tecidos, à qual os ossos, que se desarticulam, não opõem
embaraço. Rodolpho Von Ihering conclui: “Apenas a título de curiosidade, para
documentar o exagero a que muitas vezes se deixam arrastar os escritores,
quando se referem aos répteis avantajados, transcrevemos um trecho das famosas Cartas
do Padre Anchieta” e, será quase inútil prevenirmos o leitor contra o desfecho
arqui sereno. ‘As sucuriubas engolem, como disse, alguns animais grandes, que
os índios chamam de tapiaras (anta); e como o estômago não os possa digerir,
ficam estendidas no chão, como se estivessem mortas, não se podendo mover, até
que o ventre apodreça juntamente com o alimento; então as aves de rapina lhes
dilaceram o ventre e o devoram, ao mesmo tempo que seu repasto; depois, informe
e semidevorada, a serpente começa a se reformar: crescem-lhe as carnes,
estende-se-lhe a pele e volta à sua antiga forma’.
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