Quem quiser encontrar um objeto perdido, é só pedir ao
Negrinho e acender uma vela, cuja luz ele leva ao altar de Nossa Senhora e
depois atende o pedido.
Ele era um pretinho muito obediente, escravo de um senhor de
grandes terras e muitos animais, que era muito rico e muito malvado. Além do
dinheiro, as duas únicas coisas de que ele gostava na vida eram seu filho,
também muito malvado, e um cavalo baio, que ele dizia não existir igual.
Negrinho, sofria muito, pois comia e dormia mal, além de ser constantemente
judiado pelo filho do estancieiro, que não o deixava em paz. Certa vez, um
vizinho do estancieiro foi negociar com ele na estância, viu Negrinho montado
no cavalo baio, ao qual elogiou muito e dizendo ter um cavalo tão bom quanto
aquele, propôs ao estancieiro que fosse feita uma corrida para ver qual era
melhor. A principio o estancieiro não quis aceitar o desafio, mas ao ser
alertado pelo visitante de que haveriam apostas e isso lhe renderia um bom
dinheiro caso fosse o vencedor, concordou de imediato. Os dois também apostaram
grande quantias em dinheiro, só que o visitante destinaria o prêmio, caso
vencesse, aos pobres, ao contrário do estancieiro, que queria o dinheiro todo
para si. No dia da corrida, o povo se acotovelava para ver o que aconteceria.
Negrinho iria montar o baio, e mostrava-se muito esforçado para dar o melhor de
si, pois sabia que se perdesse, o estancieiro não o perdoaria. A corrida
começou, e os dois cavalos corriam lado a lado, não sendo suficiente os
esforços dos cavaleiros para que houvesse uma ultrapassagem. De repente o
cavalo baio assustou-se com alguma coisa, deu um pulo, quase derrubou o pretinho
e não quis mais correr. O outro acabou ganhando a corrida e o estancieiro teve
que pagar a aposta ao outro, que conforme havia prometido doou o dinheiro aos
pobres. Assim que chegaram à estância, após a festa, Negrinho tratou de ir
guardar o baio, mas o estancieiro não deixou. Você vai ficar 30 dias e 30
noites no pasto, tomando conta, junto com o baio, da minha tropilha de 30 cavalos
negros. E bateu de chicote no Negrinho, até se cansar. Logo que chegou ao
pasto, o Negrinho dormiu. As corujas voaram e pararam no ar. Os cavalos
assustados, fugiram todos, fazendo barulho. Negrinho despertou, mas já era
tarde: os animais haviam desaparecido. O filho do estancieiro, que havia
seguido Negrinho para pega-lo em alguma falta, foi contar ao pai que os cavalos
haviam fugido. Negrinho foi arrastado para casa, e depois de outra surra de
chicote, deveria voltar ao lugar do pastoreio para reunir os cavalos. Antes de
ir, pensou em Nossa Senhora e apanhou um toco de vela que estava no oratório,
aceso, e o levou consigo. Como cada pingo da vela se transformava numa luz
muito brilhante, a noite virou dia e negrinho pode reunir os cavalos. Depois
disso a vela se apagou e ele adormeceu. No dia seguinte, o filho do estancieiro
foi ao pastoreio pensando pegar o Negrinho em falta. Quando viu que a tropilha
estava reunida, tratou logo de espantar os cavalos e correu avisar o pai que os
cavalos haviam fugido de novo. Desta vez, a surra que o negrinho levou foi
violenta, e o pequeno escravo caiu no chão, como se estivesse morto. O
estancieiro então sentou-se para descansar e depois mandou que dois escravos
levassem Negrinho dali, indo atrás deles com o filho, que não parava de pular
de contentamento. No caminho, passaram por um enorme formigueiro, e o
estancieiro ordenou que o negrinho fosse jogado ali, sendo imediatamente
atacado pelas formigas. No dia seguinte, todos foram ver como estava Negrinho,
e levaram grande susto: Negrinho encontrava-se de pé, muito alegre, junto de
Nossa Senhora. Perto deles, o cavalo baio e os outros trinta cavalos. Negrinho
saltou para o baio e saiu galopando, seguido pelos outros cavalos. Muitas
pessoas dizem que já viram Negrinho passar, montado no baio e pastoreando a
tropilha de cavalos negros. Passam em disparada e desaparecem num instante,
dentro de uma nuvem de poeira dourada.
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