Em uma pescaria embarcada, principalmente de peixes que pulam
ao serem fisgados, o puçá é um equipamento indispensável, pois traz o peixe com
segurança para as mãos do pescador. Pergunto: seu puçá está correto?
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Puçá desmontável
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A segurança do puçá
Se fizermos uma análise, vamos perceber que o puçá é um
equipamento tão antigo quanto as iscas artificiais, já que os primeiros a
usa-lo foram os pescadores de fly, portanto, há centenas de anos. Originalmente
eram construídos em madeira, com rede feita de cerdas de algodão, tendo os
pescadores da época inclusive o cuidado de amarrar-lhes ao cabo uma cordinha
para ata-los à cintura ou às costas. Em inglês o puçá recebe o nome de net, e a tradução, ao pé da letra, é:
“rede de pescar”. Mas deixemos os pescadores de fly continuarem usando o seu
net, e voltemos ao nosso querido solo tupiniquim.
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O problema com as garatéias
Vários nomes o equipamento em questão recebe no Brasil, e
assim sendo, além do “puçá”, teremos o “coador”, o “covo” e o “cesto”. Além de
ser o nome de minha preferência, “puçá” me parece a denominação mais correta,
já que ao pesquisar a origem da palavra, vamos encontrar na língua tupi-guarani
o termo “pyça”, cuja tradução é a mesma, ou seja: rede de pescar. Ao longo do
tempo, os puçás brasileiros foram fabricados utilizando diversos materiais,
sendo que os mais antigos eram feitos de taquara trabalhada, tanto o arco
quando o cabo. Sua vida útil era limitada. Adveio então o arco feito de ferro,
com cabo de taquara ou madeira.
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Puçá enferrujado
Esses puçás tinham como principais problemas a ferrugem no
arco e, pior: se caíssem na água, afundavam. Atualmente, os arcos dos puçás são
feitos de hastes de alumínio, assim como seus cabos. Além de leves, são vedados
para que a água não entre e, portanto, flutuam. A flutuação é condição básica
dos puçás modernos. Com o uso constante desse equipamento, outros fatores
modernos foram sendo incorporados, para a conveniência do pescador. Assim
sendo, hoje é possível encontrar no mercado brasileiro modelos totalmente
desmontáveis, cuja finalidade é facilitar seu transporte como item integrante
de uma boa tralha de pesca (porém não flutuam).
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Puçá com monofilamento
Vamos agora ao ponto principal: a rede, que guarnece qualquer
puçá. Ainda hoje, são vários os fabricantes de puçás que utilizam redes feitas
de nylon seda, ou seja, aqueles fios normalmente azul-escuros e trançados. Quem
pesca com iscas artificiais em hipótese alguma deve comprar um puçá desse tipo,
já que logo na primeira, ele vai voltar com alguns buracos que o próprio
pescador vai fazer, pois vai ficar de “saco cheio” de tanto ter que
desembaraçar as garatéias do tal fio da nylon seda. Explico. Quando colocamos o
peixe dentro desse puçá com a isca artificial na boca, será normal que o peixe
balance seu corpo dentro da rede.
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A facilidade para desembarcar as garatéias neste tipo de puçá
Como os fios são trançados, se parte da isca artificial
estiver fora da boca do peixe, os anzóis enroscarão inevitavelmente na rede do
puçá. Imagine-se nessa situação, mas lembre-se de que você está alegre, pois
acaba de fisgar um bom peixe e o mesmo está em segurança nas suas mãos. Num
caso desses, o bom pescador pega então seu alicate e passa na boca do peixe
para ter um manuseio mais seguro. É aí que o negócio complica, já que somente
ao tentar tirar o peixe do puçá é que ele vai perceber que os anzóis estão
todos enroscados. Pense: uma das mãos está segurando o alicate na boca do
peixe. A outra está empunhando o puçá. O peixe está enroscado.
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A isca livre
Como fazer para tirar o peixe do enrosco, se o pescador só
tem duas mãos? Entra em cena então o famoso “jeitinho” brasileiro, ou seja, dar-se
um jeito de colocar o cabo do puçá preso entre as pernas para tentar liberar
uma das mãos. Mais uma decepção: uma mão apenas não é suficiente para livrar os
anzóis dos fios do puçá. A esta altura a alegria já está se transformando em
raiva, pois há mais peixes na água à espera e o pescador está tão enroscado
quanto os anzóis e os fios de nylon seda. Vem o desfecho fatal: o próximo
equipamento que ele vai procurar na caixa de pesca será uma faca ou canivete.
Destrói a rede, mas pelo menos acaba com o maldito enrosco. Quem ainda não
havia deduzido, agora já sabe muito bem porque após a primeira pescaria a puçá
cuja rede é de nylon seda vai voltar com alguns buracos.
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Embarcando o peixe com segurança
Ainda assim, tem muito pescador que insiste em levar o mesmo
puçá esburacado na próxima pescaria. Para alguns, é necessária uma longa
sucessão de pescarias e muitos buracos até o dia em que finalmente “caem na
real”. Ou mandam fazer uma nova rede ou compram um novo puçá. Tanto em um caso
como no outro, quando for adquirir um puçá novo ou reformar o seu, peça que a
rede dele seja feita com nylon monofilamento. Com esse tipo de fio, quando
fisgar um peixe e for coloca-lo dentro do puçá, você verá como é fácil tirar as
garatéias, já que os anzóis não furam os fios de monofilamento, o que garante
que essa simples operação seja rápida e segura, mesmo você tendo “apenas” duas
mãos.
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Matrinchã no puçá correto
Pescador: confira sua tralha de pesca e veja se o seu puçá
tem o maldito nylon seda azul (ou seja, lá de que cor). Se tem não se desespere
ainda, pois nem tudo está perdido. Trata-se, tal puçá, de um excelente
equipamento para pescar... siris! Vivendo e aprendendo.
NOTA DA REDAÇÃO: Apenas mais um detalhe: no caso de você
estar usando um puçá de fios de nylon monofilamento, nem vai precisar do tal
alicate “pega peixe”, isto porque, com um alicate comum, tiram-se os anzóis da
boca do peixe e então, no caso de peixes sem dentes – tucunarés, black bass
etc. – podemos pega-lo com as mãos para, se quiser, praticar o pesca e solta
sem ferir demais a boca do peixe.
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Publicado na Rev.Aruanã Ed.55 em Fev.1997
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