sexta-feira, 24 de março de 2017

EQUIPAMENTO: O PUÇÁ












Em uma pescaria embarcada, principalmente de peixes que pulam ao serem fisgados, o puçá é um equipamento indispensável, pois traz o peixe com segurança para as mãos do pescador. Pergunto: seu puçá está correto?






Puçá desmontável





A segurança do puçá

Se fizermos uma análise, vamos perceber que o puçá é um equipamento tão antigo quanto as iscas artificiais, já que os primeiros a usa-lo foram os pescadores de fly, portanto, há centenas de anos. Originalmente eram construídos em madeira, com rede feita de cerdas de algodão, tendo os pescadores da época inclusive o cuidado de amarrar-lhes ao cabo uma cordinha para ata-los à cintura ou às costas. Em inglês o puçá recebe o nome de net, e a tradução, ao pé da letra, é: “rede de pescar”. Mas deixemos os pescadores de fly continuarem usando o seu net, e voltemos ao nosso querido solo tupiniquim. 

O problema com as garatéias

Vários nomes o equipamento em questão recebe no Brasil, e assim sendo, além do “puçá”, teremos o “coador”, o “covo” e o “cesto”. Além de ser o nome de minha preferência, “puçá” me parece a denominação mais correta, já que ao pesquisar a origem da palavra, vamos encontrar na língua tupi-guarani o termo “pyça”, cuja tradução é a mesma, ou seja: rede de pescar. Ao longo do tempo, os puçás brasileiros foram fabricados utilizando diversos materiais, sendo que os mais antigos eram feitos de taquara trabalhada, tanto o arco quando o cabo. Sua vida útil era limitada. Adveio então o arco feito de ferro, com cabo de taquara ou madeira. 

Puçá enferrujado

Esses puçás tinham como principais problemas a ferrugem no arco e, pior: se caíssem na água, afundavam. Atualmente, os arcos dos puçás são feitos de hastes de alumínio, assim como seus cabos. Além de leves, são vedados para que a água não entre e, portanto, flutuam. A flutuação é condição básica dos puçás modernos. Com o uso constante desse equipamento, outros fatores modernos foram sendo incorporados, para a conveniência do pescador. Assim sendo, hoje é possível encontrar no mercado brasileiro modelos totalmente desmontáveis, cuja finalidade é facilitar seu transporte como item integrante de uma boa tralha de pesca (porém não flutuam). 

Puçá com monofilamento

Vamos agora ao ponto principal: a rede, que guarnece qualquer puçá. Ainda hoje, são vários os fabricantes de puçás que utilizam redes feitas de nylon seda, ou seja, aqueles fios normalmente azul-escuros e trançados. Quem pesca com iscas artificiais em hipótese alguma deve comprar um puçá desse tipo, já que logo na primeira, ele vai voltar com alguns buracos que o próprio pescador vai fazer, pois vai ficar de “saco cheio” de tanto ter que desembaraçar as garatéias do tal fio da nylon seda. Explico. Quando colocamos o peixe dentro desse puçá com a isca artificial na boca, será normal que o peixe balance seu corpo dentro da rede. 

A facilidade para desembarcar as garatéias neste tipo de puçá

Como os fios são trançados, se parte da isca artificial estiver fora da boca do peixe, os anzóis enroscarão inevitavelmente na rede do puçá. Imagine-se nessa situação, mas lembre-se de que você está alegre, pois acaba de fisgar um bom peixe e o mesmo está em segurança nas suas mãos. Num caso desses, o bom pescador pega então seu alicate e passa na boca do peixe para ter um manuseio mais seguro. É aí que o negócio complica, já que somente ao tentar tirar o peixe do puçá é que ele vai perceber que os anzóis estão todos enroscados. Pense: uma das mãos está segurando o alicate na boca do peixe. A outra está empunhando o puçá. O peixe está enroscado. 

A isca livre

Como fazer para tirar o peixe do enrosco, se o pescador só tem duas mãos? Entra em cena então o famoso “jeitinho” brasileiro, ou seja, dar-se um jeito de colocar o cabo do puçá preso entre as pernas para tentar liberar uma das mãos. Mais uma decepção: uma mão apenas não é suficiente para livrar os anzóis dos fios do puçá. A esta altura a alegria já está se transformando em raiva, pois há mais peixes na água à espera e o pescador está tão enroscado quanto os anzóis e os fios de nylon seda. Vem o desfecho fatal: o próximo equipamento que ele vai procurar na caixa de pesca será uma faca ou canivete. Destrói a rede, mas pelo menos acaba com o maldito enrosco. Quem ainda não havia deduzido, agora já sabe muito bem porque após a primeira pescaria a puçá cuja rede é de nylon seda vai voltar com alguns buracos. 

Embarcando o peixe com segurança

Ainda assim, tem muito pescador que insiste em levar o mesmo puçá esburacado na próxima pescaria. Para alguns, é necessária uma longa sucessão de pescarias e muitos buracos até o dia em que finalmente “caem na real”. Ou mandam fazer uma nova rede ou compram um novo puçá. Tanto em um caso como no outro, quando for adquirir um puçá novo ou reformar o seu, peça que a rede dele seja feita com nylon monofilamento. Com esse tipo de fio, quando fisgar um peixe e for coloca-lo dentro do puçá, você verá como é fácil tirar as garatéias, já que os anzóis não furam os fios de monofilamento, o que garante que essa simples operação seja rápida e segura, mesmo você tendo “apenas” duas mãos. 

Matrinchã no puçá correto

Pescador: confira sua tralha de pesca e veja se o seu puçá tem o maldito nylon seda azul (ou seja, lá de que cor). Se tem não se desespere ainda, pois nem tudo está perdido. Trata-se, tal puçá, de um excelente equipamento para pescar... siris! Vivendo e aprendendo.
NOTA DA REDAÇÃO: Apenas mais um detalhe: no caso de você estar usando um puçá de fios de nylon monofilamento, nem vai precisar do tal alicate “pega peixe”, isto porque, com um alicate comum, tiram-se os anzóis da boca do peixe e então, no caso de peixes sem dentes – tucunarés, black bass etc. – podemos pega-lo com as mãos para, se quiser, praticar o pesca e solta sem ferir demais a boca do peixe. 

Publicado na Rev.Aruanã Ed.55 em Fev.1997


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