Entre muitas interessantes tradições indígenas, destacamos
nesta edição a comemoração do Kuarup e sua história folclórica.
As pesquisas sobre as origens dessa festa foram feitas pelos
irmãos Vilas Boas, que lá estiveram em 1946, e as relataram em seu livro “Xingu – Os Índios e Seus Mitos”. Segundo
a tradição, a origem dessa festa prende-se a Mavutsinim, um dos mitos da tribo,
portador do poder de ressuscitar os mortos. Mavutsinim queria fazer seus mortos
retornarem à vida, então pintou e enfeitou três troncos de madeira Kuarup.
Fincou-os depois, na praça da aldeia e chamou dois sapos cururus e duas cotias,
pondo-os para cantar, enquanto distribuía alimentos ao povo. Só que ninguém
podia sair de sua oca para ver. À medida que os animais cantavam, os três
troncos do Kuarup começaram a mover-se, adquirindo a forma humana.
Projetaram-se os braços, o peito e a cabeça, mas o restante do corpo ainda era
tronco de madeira. O povo da aldeia queria continuar chorando os seus mortos,
mas Mavutsinim não permitiu, dizendo para aguardarem, pois eles retornariam à
vida. Os troncos já estavam quase metamorfoseados quando Mavutsinim permitiu a
todos eles saírem de suas ocas e manifestarem alegria, pois os mortos haviam
retornado à vida. Só havia um detalhe: aqueles que tivessem tido relações
sexuais nessa ultima noite não poderiam ver. Todos saíram e as festas
começaram. Mas um dos índios havia tido relação sexual com sua esposa naquela
noite, e não resistindo à curiosidade, também saiu para festejar. Aí ocorreu o
que Mavutsinim não queria: deu-se nova transformação e os mortos voltaram a ser
troncos de madeira Kuarup. Então, Mavutsinim atirou os três troncos no rio e
declarou que dali por diante, os mortos não viveriam mais e o Kuarup seria
apenas uma festa. Assim, as festas do Kuarup continuam se repetindo na aldeia
Camaiurá, quando todos choram a ausência de seus mortos. Os preparativos se
iniciam quinze dias antes, movimentando toda a tribo. No Kuarup, os
adolescentes fazem sua iniciação no ambiente adulto. Os rapazes de 16 a 17 anos
saem para fazer demonstração de luta e as moças para serem apresentadas às
tribos visitantes. O dono da festa é sempre o parente do morto mais importante.
Os troncos de Kuarup representando cada morto são colocados na praça da aldeia.
Aí os índios dão um grito e as mulheres correm para adorna-los, iniciando-se a
cerimônia. As lamentações atravessam da noite até o outro dia. Ao amanhecer
começa a festa e o torneio de lutas. Como é festa, há sempre comida farta para
todos. Depois da cerimônia de luta masculina, é feita a apresentação das moças
que irão se casar. Ao fim da festa, são retirados os troncos de Kuarup e os
índios choram pela ultima vez seus mortos. Essa é uma tradição que os Camaiurás
conservam, e representa um importante aspecto da cultura dos nossos índios.
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