sexta-feira, 31 de março de 2017

FOLCLORE BRASILEIRO - A FESTA DO KUARUP










Entre muitas interessantes tradições indígenas, destacamos nesta edição a comemoração do Kuarup e sua história folclórica.





As pesquisas sobre as origens dessa festa foram feitas pelos irmãos Vilas Boas, que lá estiveram em 1946, e as relataram em seu livro “Xingu – Os Índios e Seus Mitos”. Segundo a tradição, a origem dessa festa prende-se a Mavutsinim, um dos mitos da tribo, portador do poder de ressuscitar os mortos. Mavutsinim queria fazer seus mortos retornarem à vida, então pintou e enfeitou três troncos de madeira Kuarup. Fincou-os depois, na praça da aldeia e chamou dois sapos cururus e duas cotias, pondo-os para cantar, enquanto distribuía alimentos ao povo. Só que ninguém podia sair de sua oca para ver. À medida que os animais cantavam, os três troncos do Kuarup começaram a mover-se, adquirindo a forma humana. Projetaram-se os braços, o peito e a cabeça, mas o restante do corpo ainda era tronco de madeira. O povo da aldeia queria continuar chorando os seus mortos, mas Mavutsinim não permitiu, dizendo para aguardarem, pois eles retornariam à vida. Os troncos já estavam quase metamorfoseados quando Mavutsinim permitiu a todos eles saírem de suas ocas e manifestarem alegria, pois os mortos haviam retornado à vida. Só havia um detalhe: aqueles que tivessem tido relações sexuais nessa ultima noite não poderiam ver. Todos saíram e as festas começaram. Mas um dos índios havia tido relação sexual com sua esposa naquela noite, e não resistindo à curiosidade, também saiu para festejar. Aí ocorreu o que Mavutsinim não queria: deu-se nova transformação e os mortos voltaram a ser troncos de madeira Kuarup. Então, Mavutsinim atirou os três troncos no rio e declarou que dali por diante, os mortos não viveriam mais e o Kuarup seria apenas uma festa. Assim, as festas do Kuarup continuam se repetindo na aldeia Camaiurá, quando todos choram a ausência de seus mortos. Os preparativos se iniciam quinze dias antes, movimentando toda a tribo. No Kuarup, os adolescentes fazem sua iniciação no ambiente adulto. Os rapazes de 16 a 17 anos saem para fazer demonstração de luta e as moças para serem apresentadas às tribos visitantes. O dono da festa é sempre o parente do morto mais importante. Os troncos de Kuarup representando cada morto são colocados na praça da aldeia. Aí os índios dão um grito e as mulheres correm para adorna-los, iniciando-se a cerimônia. As lamentações atravessam da noite até o outro dia. Ao amanhecer começa a festa e o torneio de lutas. Como é festa, há sempre comida farta para todos. Depois da cerimônia de luta masculina, é feita a apresentação das moças que irão se casar. Ao fim da festa, são retirados os troncos de Kuarup e os índios choram pela ultima vez seus mortos. Essa é uma tradição que os Camaiurás conservam, e representa um importante aspecto da cultura dos nossos índios. 

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