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Represa
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Com a chegada do inverno parece que há uma considerável
diminuição no ânimo de todos nós para pescar, causada pelas más condições de
tempo e mesmo pelo frio muito intenso em algumas regiões do Brasil. Mas
deixando de lado a questão do ânimo, será que o frio atrapalha mesmo uma
pescaria?
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A tilápia hiberna
no inverno
A resposta para a pergunta feita na abertura dessa matéria
pode ser resumida em um simples “não”, porém alguns fatos devem ser observados,
e vamos agora comenta-los e mostra-los ao pescador amador. Começamos então por
dizer que, se o pescador gosta de pescar tilápias, deve se lembrar que com o
frio a ação desse peixe irá diminuir consideravelmente, pois essa espécie
costuma hibernar. Pois bem, aí está uma pescaria que é atrapalhada pelo
inverno. Então o pescador que costuma frequentar as represas (pesqueiros ideais
de tilápias) vai ficar sem pescar durante o inverno? É evidente que não, já que
na mesma represa com certeza existirão carpas, cuja melhor época de pesca
ocorre justamente durante o inverno. Muda-se então de tilápia para carpa,
espécie encontrada no mesmo local.
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Carpa
Porém, aqui o pescador deverá se adaptar à nova modalidade,
pois se antes pescava em cevas de tilápias, agora terá que providenciar uma
ceva de... carpas. Para isso deve escolher um local com profundidade média de 2
a 5 metros. Opções preferenciais serão locais com barrancos de terra ou areia
onde não haja nenhuma espécie de enrosco por perto, tais como árvores submersas,
capim, etc. O material a ser usado na ceva é simples de se obter. Providencia
um saco de ráfia e dentro dele coloque pedaços de mandioca crua (pode também
ser inteira), batata doce cozida, restos de queijo, restos de pão, etc. A fim
de que o saco permaneça no fundo, colocaremos uma pedra dentro dele, após o que
amarraremos sua boca com um fio forte e dessa forma estando pronta a ceva,
poderemos deixa-la em um local pré-determinado, de preferência amarrada, para
que os peixes não possam muda-la de lugar.
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Robalo
Com apenas quinze dias na água, essa ceva já começa a dar
resultados. É importante não deixar faltar alimentação na ceva. Os peixes irão
fazer buracos no saco para puxar o alimento. Quando forem muito grandes, troque
o saco por outro novo e coloque mais alimentos. Pronto, você já tem sua ceva de
carpas produzindo. Quando chegar ao local da para pescar, não mexa nela em
hipótese alguma: deixa para verificar se há alimento e fazer as revisões
necessárias somente no final da pescaria. No que se refere a iscas, faça sua
massa com base no alimento que você utilizou na ceva. Assim sendo, aqui vai uma
pequena receita: um pacote de farinha de
mandioca crua, uma batata doce
cozida e amassada em forma de purê e um pacote de queijo ralado. Coloque tudo
em uma vasilha e vá adicionando água até dar liga. Se ficar muito mole, vá
juntando farinha de trigo até obter uma boa consistência.
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Anchova
Faça essa massa na noite anterior à pescaria e guarde-a na
geladeira hermeticamente fechada em saco plástico. Na hora de pescar, tire
somente a quantidade suficiente para cada isca e guarde o restante da massa à
sombra. Faça bolotas de massa do tamanho de um limão galego e jogue seu anzol.
O material você decide, mas lembre-se de que as carpas de represa costumam ser
grandes, portanto tenha sempre linha de reserva para brigar com o peixe. Use
anzol ou garatéia a seu gosto e linha de nylon com bitola 0,45 mm. Um bom
tamanho de anzol é o 1/0. E na praia, o frio atrapalha? Em termos de
piscosidade, a resposta é não, mas ninguém discorda do fato de que é grande o
desconforto de entrar na água com o frio.
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Rio de
robalo
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Olhete
Portanto, se você estiver em uma região onde o inverno é
rigoroso, experimente mudar da praia para o costão, já que o material de pesca
é o mesmo, com exceção do chumbo que em vez de pirâmide, deve ser o de formato
gota. Na pesca de robalo, o frio não tem influência alguma, além disso, o
inverno é tido como boa época para grandes robalos no rio, seja a pesca feita
com iscas naturais ou mesmo com iscas artificiais. E o tucunaré sofre com o frio?
Mais uma vez a resposta é não. A explicação é bem simples. Não se esqueça de
que o tucunaré é um peixe amazônico. Sua época de desova vai desde outubro até
meados de março. Enquanto cuidava da prole, sua alimentação foi bem reduzida.
Agora que os filhotes já se cuidam sozinhos, ele precisa se preparar para a
próxima desova. Essa preparação consiste em se alimentar muito bem, para que
esteja forte o suficiente para o próximo período de reprodução.
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Costão: bom
local para a pesca da miraguaia
Essa preparação irá acontecer quando? Na época de abril a
setembro, portanto, no inverno. Simples não? No ar alto, temos no inverno a
melhor época para a pesca de espécies bem esportivas, dentre as quais
destacamos a anchova, o olhete, o olho-de-boi e até (no sudeste do Brasil) o
xáreu. Essas espécies pegam muito bem na modalidade de corrico durante o
inverno, mas dependendo da região, encostam também nos costões e são pescados
então no sistema de bóias, ou seja, com iscas naturais logo abaixo da
superfície, ou com iscas artificiais. Outro peixe característico do inverno? A
miraguaia. Também pescada no costão, suas melhores iscas são a penca de
mariscos, caranguejos e siris inteiros. Em alguns estados do sul, são também
pescadas nas praias, principalmente naquelas onde há abundância de estruturas
como pedras, barcos afundados, etc.
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Miraguaia
Até aqui mostramos que o inverno dá ao pescador,
principalmente nos estados do sul e sudeste, várias opções. Pois bem. E no
norte e nordeste do Brasil? Bem, nesses locais o inverno praticamente não
existe, portanto as condições de pesca não sofrem alterações consideráveis.
Vamos então para o centro-oeste, mais precisamente na região do Pantanal. É
aqui que “a coisa” pega, e pega feio, já que muitas pescarias são perdidas
devido ao frio intenso. No Pantanal, principalmente ao sul, as altas
temperaturas se fazem presentes mesmo no inverno e esta é a melhor época para
uma boa pescaria. No entanto, se você estiver pescando lá e chegar uma frente
fria intensa, onde a temperatura, por exemplo, cai de 35 para 7 graus, meus
pêsames. Sua pescaria foi completa e irremediavelmente prejudicada. Primeiro,
pela queda acentuada da pressão atmosférica. Segundo, pelo frio, que fará com
que os peixes fiquem em um estado semi-letárgico e deixem de se alimentar.
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Praia de
tombo: boa opção para não entrar na água
Caso isso aconteça com você, o único jeito é esperar a
passagem da frente fria (que pode demorar até seis dias) e quando o sol e a
temperatura voltarem prepare-se, já que a pescaria vai ficar ainda melhor do
que estava quando a frente chegou. Prever com precisão a ocorrência de uma
frente fria é praticamente impossível, a não ser se olharmos as cartas
sinópticas e fizermos a interpretação dessas cartas, levando em consideração a
velocidade e a distância da frente fria, etc. Como ninguém é doutor em
meteorologia, lá vamos nós contando com a sorte para nossa pescaria no
Pantanal. Com a chegada de uma frente fria no Pantanal, a melhor opção mesmo é
ficar no rancho ou hotel, saboreando um bom churrasco, tomando uma bebida
quente e rezando para que a frente passe rápido. Estas são algumas das boas e
más características da pesca no inverno, para que possamos optar pelo que for
mais conveniente. Boa pescaria.
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Pantanal:
pesca prejudicada pela queda de temperatura
NOTA DA REDAÇÃO: Em época de inverno, a pior opção
(involuntária) do pescador amador, sem dúvida é o Pantanal, principalmente no
sul, no centro e algumas regiões do norte. Na chegada do pescador, podemos
estar com um dia lindo, com temperatura de 30 graus. Durante a noite, a chegada
de uma frente fria, trás uma temperatura de 10 graus. Isso é o pior que podia
acontecer, já que os peixes, com seu organismo perfeito, irão para uma camada
no rio, onde a temperatura seja a eles mais agradável e, lá ficam parados à
espera da passagem dessa frente fria, que pode demorar dois ou três dias e às
vezes mais de uma semana e, não se alimentam. Ao pescador, que não teve como
prever essa tal de frente fria resta torcer para que essa baixa temperatura
passe o mais rápido possível, para que tudo volte ao normal. Esse é um risco
que se corre, ao marcar uma pescaria com antecedência para o Pantanal, na época
de inverno.
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Publicado na
Rev. Aruanã Ed:51 junho 1996
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