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Paisagem comum ao longo das praias
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A Linha Verde é uma estrada que foi construída pelo governo
da Bahia a fim de facilitar o acesso às praias e rios do litoral norte do estado.
A Aruanã foi conferir à piscosidade dessa região ainda virgem. Conheça os
resultados.
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Placa de sinalização no início da estrada
Há aproximadamente três anos atrás o rio Joanes, que fica
perto e Salvador, foi tema de uma reportagem nossa (Bahia de Todos os Peixes –
Roteiro Aruanã 26), sendo que naquela época ficamos bastante impressionados com
a piscosidade desse pequeno rio, já que tivemos a oportunidade de fisgar vários
robalos, todos de bom tamanho, além de tucunarés e alguns peixes perdidos, tais
como um tarpon e uma grande caranha que com seus dentes deixou marcas visíveis
na Rapala que usamos na ocasião. Esse rio foi tão apreciado por nós que depois
de alguns meses voltamos a ele para finalizar lá nossa primeira produção em
vídeo (Pescando com a Aruanã – O Robalo). Tanto na primeira vez como na segunda
tivemos notícias da construção da estrada nova, a tal Linha Verde. Pois bem, a
conclusão da estrada é recente, e agora sim podíamos ter acesso às praias e
principalmente aos rios, onde os robalos – tínhamos essa informação – eram
grandes e estavam presentes em quantidade. Nossas metas eram os rios Itapicuru,
Real e Sauípe. As notícias que tínhamos de lá eram muito animadoras, e ficamos
motivados a fazer esta reportagem, que sem dúvida seria um ótimo roteiro para
os leitores da Aruanã. As informações sobre pesca de praia também eram excelentes,
o que nos motivou a convocar o Nelson de Mello, profundo conhecedor dessa
modalidade, para nos acompanhar.
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O grande bagre
Em Salvador estavam à nossa espera o Leonardo Fernandes e o
Manolo H. Fernandes, bons companheiros da Bahia, sendo que o Leonardo já havia
nos acompanhado em outra matéria para a Aruanã (“Porto Seguro – Roteiro Aruanã
42”). A Linha Verde estende-se por 142 km, e exatamente no km 106 está à cidade
de Conde. Passando por essa cidade, vamos alcançar um lugarejo chamado Sítio do
Conde, bem rente ao mar, com praias lindas e o primeiro rio deste nosso
roteiro: o Itapicuru. Chegamos ao Sítio do Conde por volta das 06:00h, o que
permitiu que tivéssemos tempo para dar uma olhada no rio e que o Nelson pudesse
observar as praias, a fim de escolher o local ideal para fazer sua pescaria.
Vamos então falar da praia, que é muito bonita e em alguns trechos apresenta bastantes
pedras, formando um verdadeiro recife. Nelson optou por um local onde havia um
poço visível e de boa profundidade. Pescou com duas varas, sendo uma barra
pesada e a outra leve. No fim do dia o resultado foi bastante razoável , já que
alguns bagres haviam sido fisgados e entre eles um que chegou aos 5 kg.
Betaras, pampos, paratis-barbudos, sargos e um pequeno xaréu foram as outras
espécies pescadas. Nós, adeptos da pesca com iscas artificiais, fomos direto
para o Itapicuru, e confesso que me encontrava incomodado por uma certa
ansiedade. Só quem é pescador que entende isso. Afinal de contas, estávamos
prestes a pescar, em um rio “virgem”.
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Pesca farta nas praias
O Itapicuru é um rio considerado grande, com boa formação de
manguezais e alguns braços longos rentes à baía da foz. Nosso horário de
chegadas ao rio havia sido muito bem calculado, já que era uma maré média e
começava a “correr” por volta das 09:00h. Às 08:30h, nossa chata Aruanã 500 da
Levefort estava nas águas do rio. Como manda a experiência, fomos direto para a
foz (lá começa a vazar primeiro) para ver se lá havia pedras, já que estas são
excelentes pontos de pesca para quem está em busca dos grandes robalos. Na
barra, havia uma pedra boa na margem esquerda do rio. Marcada sua posição,
começamos a subir o rio para analisar de perto sua estrutura. Uma outra galhada
foi anotada mentalmente para batermos na volta. Seguimos subindo o rio
Itapicuru, e depois de mais ou menos três quilômetros, o manguezal começava a
desaparecer, dando lugar a um rio muito bonito, de margens firmes e com muitos
aguapés próximos a elas. Se não soubéssemos onde estávamos, diríamos que aquele
era um corixo qualquer perdido no Pantanal. Subimos até onde pudemos perceber
que a rasura era constante e começamos a bater dali para baixo. Até chegar ao
manguezal, tivemos apenas uma “ação” traduzida em um pequeno robalo de
aproximadamente 15cm. Continuamos a bater nossas iscas e vez por outra nos
interrogávamos a respeito de qual seria a razão para tão pouca ação da parte
dos peixes. Estávamos agora em uma galhada muito bonita, que se estendia por
mais ou menos 100 metros. Ao longo desta galhada, bateram e foram fisgados dois
robalos flecha de mais ou menos 20cm.
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Sargo capturado junto as pedras na praia
Finalmente chegamos à barra e partimos para as pedras ainda
com a esperança de alguma boa “batida”. O resultado foi negativo. Paramos na
barra e ficamos a cismar sobre o motivo de tão poucas fisgadas naquele rio belo
e “virgem”. Para que o leitor possa fazer uma idéia do que foi nosso trabalho
ao “pentear” o rio (usamos essa expressão para nos referir à ação de bater com
as iscas em todos os trechos do rio), chegamos a barra por volta das 14:00h,
portanto quase no fim da vazante, que é a hora apropriada para se pescar
robalos. Entre nós discutíamos o porquê de tão poucos peixes, e não chegávamos a
conclusão nenhuma, já que a água estava normal, o dia estava ensolarado e a
pressão atmosférica era de 1023 milibares. Ora, se tudo estava perfeito, porque
não havia peixes fisgando no Itapicuru? Infelizmente, a resposta não tardou a
chegar, já que com a enchente da maré “as aves de rapina” começaram a mostrar
suas garras. Começamos a voltar ao nosso porto e, a menos de 100 metros da
barra, enroscamos nossas iscas em uma rede tipo “caçoneira”, ou seja, uma rede
que fica dia e noite no lugar, sendo visitada no final da enchente para que
sejam retirados os peixes que nela caem. Ao longo de mais ou menos dois
quilômetros de rio, pudemos contar cerca de 60 redes de espera armadas, de
margem a margem, algumas com intervalos de apenas 20 metros entre si. A lei
–ora a lei - determina que uma rede não pode ultrapassar um terço da largura do
rio, e deve manter uma distância mínima de 100 metros da rede seguinte.
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As pedras da praia
Pois bem, além das redes de espera vimos diversos
“pescadores” jogando tarrafas no rio, e qual não foi nossa surpresa quando
avistamos outros “pescadores” praticando a pesca de arrastão ali. Isso também é
proibido por lei. E para não dizer que faltamos com a verdade, contam-se às
centenas os covos (pequena armações cilíndricas) para a pesca de camarões, além
de um ou outro garoto pegando caranguejos no mangue. Pronto. Estava explicada a
total ausência de peixes no rio Itapicuru.
Conversando com alguns desses “pescadores”, soubemos que nenhum deles
têm registro profissional, até mesmo porque – dizem os mais antigos – o IBAMA
nunca foi até lá fiscalizar. A propósito: tanto em Conde como no Sítio do
Conde, vimos diversas placas do Projeto Tamar com a indicação “adote uma
tartaruga”. Parece que essa é a mais nova moda entre os ecologistas. Ia me
esquecendo. Na volta a nossa pousada, vimos mais pescadores na vila junto ao
Itapicuru tecendo suas redes à sombra das árvores. Em conversa sobre robalos,
soubemos que o ultimo grande exemplar pesando 18kg havia sido – é claro –
apanhado em uma rede. Deve ter sido uma festa, já que os grandes robalos podem
entrar no rio Itapicuru, mas sair, dificilmente conseguirão. À noite o desânimo
era geral entre os membros de nossa equipe.
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Rio Sauípe
No dia seguinte, o Nelson escolheu outro trecho da praia para
pescar e o resultado também foi bom, sendo que desta feita raias, carapicus,
roncadores, betaras, pampos e grande bagres foram fisgados por ele.
Decidimos então partir para o rio Real, que fica na divisa entre os estados de
Sergipe e Bahia. Em território baiano, há um pequeno lugarejo à margem do rio a
partir de onde pudemos descer nossa chata para a água com facilidade. A título
de curiosidade, o Real é o rio que nos leva até a cidade de Mangue Seco,
cenário da “Tieta” de Jorge Amado. Um outro e não menos famoso afluente do Real
é o rio que recebe o nome de Santana, que nos conduz a Santana do Agreste. Pois
bem. No Real tivemos um pouco mais de ação, só que o vento atrapalhou e muito
nossa pescaria, já que direto do mar, uma grande reta faz com que o rio tenha
ondas grandes, o que, batendo no mangue, suja bastante suas águas. Maré
vazando, como convém a uma pescaria de robalos, não mostra aos olhos de quem o
navega, as armadilhas que o rio tem. Foi só o começar a enchente e de novo
vimos muitas redes esticadas de margem a margem do rio, além das tradicionais
tarrafas. Não vimos redes de arrasto, mas estranhamos a presença de muitos
peixes pequenos mortos boiando rio abaixo. A resposta para esse extermínio não
tardou a chegar: estão usando dinamite – isso mesmo, dinamite – para pescar no
rio Real. Pois é, prezados leitores, no Real a “turma da pesada” pesca mesmo é
com dinamite.
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Raias
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Aliás, quando íamos saindo do rio, depois de passar com
dificuldade por cima de uma rede armada no “porto”, vimos dois barcos, um do
tipo catamaram,
com um motor de 40 HP e outro barco, de alumínio, com motor de 25 HP. Após retirarmos nosso barco da água e já com
ele na carreta vimos umas dez pessoas descendo para o rio com uma caixa de
madeira nas mãos. Na passagem, um deles falou exatamente isto: “É bom que esses
brancos tenham saído do rio, porque agora é hora da nossa pescaria. Vamos
detonar, bicho”. Dá para acreditar em tal narrativa? Pois é leitor, por mais
incrível que pareça, pode acreditar, pois essa é a expressão da verdade. Muito
desanimados, voltamos à pousada. Novo dia, e levamos o Nelson à barra do
Itariri, que é um outro rio da região distante de Sítio do Conde cerca de 30
quilômetros. Mais uma vez ele conseguiu fazer uma pescaria razoável, fisgando
as mesmas espécies citadas anteriormente. Mas desta vez o Nelson tinha algo
mais a relatar. Durante a enchente da maré, a melhor hora para se pescar na
praia, um “bando” de pescadores veio, ao lado dele, bater tarrafas em toda a
barra do rio. A matança de pequenos peixes – entre eles robalos de 10cm – foi
grande. Quanto a nós, bem, fomos ao rio Sauípe cerca de 60 quilômetros em
direção a Salvador. Nesse rio a ação também foi pouca, salvo duas pequenas
caranhas perto de umas pedras a menos de 500 metros da barra do rio, com o mar.
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Betara
Existem robalos, aliás tivemos também duas ou três ações e
chegamos a fisgar um exemplar de aproximadamente 15cm, que, como os outros, foi
devolvido à água. No Sauípe encontramos redes, tarrafas e um cerco, lá chamado
de “curral”, fechando totalmente o rio. O cerco está colocado a mais ou menos
500 metros acima da ponte da Linha Verde sobre o rio. Pois bem, dizer mais o
quê dos rios do litoral norte da Bahia? De nossa parte, com a experiência
acumulada em muitos anos pescando por todo o Brasil, podemos afirmar que nunca,
em nenhum lugar, vimos uma depredação tão feroz e brutal quanto à encontrada
nos três rios aqui citados. E tem mais: na volta a Sítio do Conde, nos
deparamos com uma embarcação voltando da pescaria. Segundo pudemos observar, os
principais produtos dessa pescaria eram duas raias enormes, pesando algo entre
80 e 100 kg cada uma, que foram limpas ali na praia mesmo, à vista de um bando
de crianças. Durante o tempo que durou a limpeza, a praia naquele local foi
sendo tingida de sangue. Perguntamos então aos que limpavam as raias sobre a
maneira como haviam fisgado tais peixes, e a resposta na tardou: de mergulho.
Aliás, aquele era seu último dia de pescaria, já que em três dias haviam
conseguido uma quantidade de raias que chegou a uma tonelada, e isso tendo os
peixes sidos pesados já limpos. O mergulho desses “pescadores” é praticado com
um tubo na máscara, ligado a um compressor no barco. É preciso dizer que essa atividade
também é proibida por lei? E mais: o modus operandi desses “pescadores” é
localizar pedras submersas com um sonar no barco.
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Nelson, Leonardo e Manuel: a equipe Aruanã
Ali eles apoitam e, em turnos de revezamento, mergulham e
ficam à espera das pobres raias que, indefesas, circulam ao alcance de seu
arpão, encontrando por fim a morte através das mãos covardes de seus algozes. Vão
em número de quatro na embarcação, e enquanto um mergulha, o resto fica na
superfície pescando com linha de mão para não perder nenhuma chance, sendo que
os peixes assim fisgados não entram no acerto final. São propriedade daquele
que os pescou. De nossa parte só resta dizer que, se você gosta de uma boa
pescaria de praia, até que recomendaríamos a praia de Siribinha em Sítio do
Conde, ou ainda a barra do Itariri e a barra do Sauípe, que além de muito
bonitas, apresentam uma razoável piscosidade. Agora, se você quiser robalos,
risque de seu mapa a região da Linha Verde a menos que você queira presenciar
um verdadeiro show de horrores - pois a mesma, conforme vimos aqui, está
totalmente depredada. Sendo só o que nos resta fazer, estamos enviando ofício
ao Sr. Presidente da Republica Fernando Henrique Cardoso, ao Ministro do Meio
Ambiente Gustavo Krause, e ao Dr. Paulo Souto, Governador da Bahia e,
principalmente, ao Dr. José Raul de Souza e Dr. César Monteiro Pirajá Júnior,
respectivamente Superintendentes do IBAMA de Sergipe e Bahia, para que pelo
menos cumpram as funções de que estão investidos, pois um pedaço do Brasil, que
pertence a todos os brasileiros, está seriamente ameaçado, mais uma vez pela
inoperância do Instituto do Meio Ambiente, o famigerado IBAMA. A propósito,
observamos uma interessante curiosidade em relação ao sobrenome do
Superintendente do IBAMA da Bahia, Pirajá, que em tupi-guarani significa ceva,
ou viveiro de peixes. Talvez no tempo em que os índios ainda se encontravam por
lá tal situação fosse verdadeira. Vamos esperar que o Dr. Pirajá tome
providências para que os rios do litoral norte da Bahia voltem a ser “pirajás”.
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O mapa geral da extensão da Linha Verde, inaugurada em 1993
NOTA DA REDAÇÃO: Eu tenho bons e grandes amigos pescadores no
Estado da Bahia e, não vou citar nomes para não esquecer ninguém. Mas cito sim
o rio Joanes, que era um verdadeiro ninho de grandes robalos e tarpons, além de
outras espécies. Hoje o Joanes está muito ameaçado com esgotos. Há inclusive
uma campanha com o nome “Vamos salvar o rio Joanes” que merece todo o nosso
apoio. Da Linha Verde, as informações
são de que continuam exatamente como o aqui descrito há 22 anos. O texto abaixo
é atual e para piorar ainda mais as informações, são de que, no sul da Bahia,
onde fizemos várias matérias, a depredação também é muito grande e arrasadora.
Manchetes de uma pesquisa realizada pelo jornal Correio da
Bahia.
(sic)Águas do Rio Joanes chegam poluídas na praia de Buraquinho
O Joanes é o principal
rio de uma bacia que é responsável por 40% do abastecimento de água de Salvador.
Boa parte dos rios de Salvador está poluída e virou canal para esgoto
Ligação com a rede
de esgoto favorece a saúde dos rios e a qualidade de vida, diz superintendente
da Embasa
Solvente causou morte de peixes em Lauro de
Freitas
O produto é
semelhante ao encontrado em tintas e combustíveis automotivos
Somente para encerrar esta postagem: algum
grupo defensor da Cota Zero ou Pesca e Solta Total poderia ir até esse estado
da Republica e fazer lá, uma campanha? Repito, ficar sentado em frente a uma
tela de computador é muito cômodo. Esbravejar e mostrar indignação, pouco ou nada vale. Antonio Lopes da
Silva.
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Revista Aruanã Ed:44 publicada em abril 1995
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