terça-feira, 11 de março de 2014

PRAIA: OS HABITANTES DA AREIA

Antonio Lopes da Silva

Para o pescador amador que pratica a pesca de praia, é muito importante saber onde está pisando, pois sem dúvida moram na areia algumas das melhores iscas para essa modalidade

Eles estão praticamente em todas as praias do litoral brasileiro, com bem poucas exceções, já que em algumas delas, as próprias características da areia não permitem a presença desse tipo de organismo. Estamos nos referindo aos organismos vivos que estão sob nossos pés, enterrados nas areias da praia.
São vários, dentre os quais destacamos os corruptos, sarnambis, minhocas de praia, tatuíras, conchas, caramujos e até pequenos siris. Esses organismos são considerados como melhores iscas para a pesca na modalidade de praia porque eles estão bem ali, na própria areia, o que faz com que sejam a opção mais natural possível em termos de iscas, ou seja: é exatamente este tipo de alimento que o peixe daquele local está habituado a encontrar e a comer. Vamos destacar individualmente cada um dos organismos citados, bem como a maneira mais eficiente de retirá-los de seus esconderijos e iscá-los.
O corrupto é um crustáceo muito parecido com um pequeno lagostim, que costuma ficar a mais ou menos 20cm de profundidade e até um pouco mais. Sua presença na praia é denunciada
                                                                  Balde com corruptos

por pequenos buracos redondos na areia, com diâmetro entre 1 e 2mm. Em algumas ocasiões, esses buracos aparecem rodeados por pequenos pedaços de um material mais claro do que a areia, que são as fezes do bicho. Encontrando esses detalhes, o pescador terá a certeza de que o corrupto estará lá. No entanto, em outros buracos não haverá fezes, e ele estará lá do mesmo jeito. A maneira mais eficaz de tirá-los da areia é utilizar uma bomba de sucção, feita com canos de PVC especialmente fabricada para esse fim e facilmente encontrada em lojas de matérias de pesca. A maneira correta de utilizar a bomba é fazer a sucção ao mesmo tempo em que se enterra o cano da areia. Às vezes será necessário repetir até três vezes essa operação para que o bicho venha para dentro da bomba. O detalhe é que após a “bombada”, deve-se sempre esvaziar o conteúdo do cano (areia). Normalmente, o corrupto aparecerá no meio da areia despejada.
                                                                                                                                A bomba em ação


Tenha então à mão um pequeno balde com água do mar e areia para ir juntando as iscas, que permanecerão vivas por um bom tempo. Lembre-se de que é muito importante ir trocando a água do balde para garantir essa sobrevivência. Na hora de iscar, cuidado com as garras do corrupto, que, embora pequenas, podem causar ferimentos muito doloridos. Use uma pequena tesoura para extrair essas garras, o que só deve ser feito na hora de iscar. É uma isca muito mole e dificilmente pára sozinha no anzol. Para maior segurança, após tê-lo iscado, amarre o corrupto com um fio elástico fino que também é encontrado em lojas de matérias para a pesca. Uma outra dica importante: pegue somente a quantidade de iscas suficientes para sua pescaria, enterrando de volta na areia aquelas que sobrarem no fim do dia. Só assim o pescador irá garantir a presença permanente dos corruptos nas praias e sua posterior desova. Dica final: o melhor horário para capturar o corrupto, bem como quase todas as iscas descritas nessa matéria será na maré baixa, ou seja, no fim da vazante.
                                                                                      Amarrando o corrupto com o fio de elástico



Falemos agora do sarnambi. Em algumas praias, como por exemplo as do Rio Grande do Sul, eles são visíveis após o movimento das ondas que lavam a areia. Em praias do sudeste e nordeste essa presença é mais difícil de ser detectada. No entanto, na maré baixa e exatamente entre a areia seca e a molhada, ou seja, onde a areia fica de cor clara (seca) para a mais escura (molhada), o sarnambi denuncia sua presença com dois pequenos orifícios paralelos, de diâmetro bem menor do que os furos feitos pelo corrupto. Pode ser usada também a bomba de sucção ou até mesmo uma pequena pá, além das próprias mãos, para encontrá-lo.
Tem a aparência de um marisco branco (assim é chamado em várias regiões do Brasil) e sua casca é mole. Para isca-lo, deve-se quebrar a casca e retirá-lo inteiro. Seus corpo é uma espécie de massa, com dois pequenos “chifres”  um pouco mais duro que a massa. Comece a iscar enfiando um desses chifres na ponta do anzol, sendo que a massa deverá ser trançada no anzol, terminando com o outro chifre o ato de iscar. Dependendo do tamanho do sarnambi e do tamanho do anzol. Pode-se também amarrá-lo com o elástico.  Essa amarração as vezes não é necessária já que o sarnambi costuma ficar bem firme no anzol.
                                                                                                                                          O sarnambi


Minhoca de praia: aqui está uma isca que vai dar um pouco mais de trabalho para ser conseguida. Na maré baixa, bem junto da areia banhada por uma pequena quantidade de água das ondas, é onde a minhoca costuma estar.  Só olhos muito experientes conseguem ver seus indícios. No  entanto, a criatividade do pescador inventou uma maneira de fazê-la se mostrar. Para que isso aconteça, é só pegar um resto de um pequeno peixe – qualquer um -, de preferência com a cabeça e ir passando com os pés o peixe na água. Pare e olhe com atenção, pois a minhoca costuma sair da areia para vir comer o peixe. Tenha a mão um, pequeno pedaço de linha de nylon fina, por exemplo 0,10 ou 0,20mm, fazendo no meio da linha uma laçada. Quando a minhoca for comer o peixe, envolva-a com essa laçada e aperte com cuidado, enforcando-a. Começa a parte mais paciente dessa operação, já que a minhoca irá tentar voltar para o buraco. Não vai conseguir, porque está amarrada, e ao pescador restará então ir puxando lentamente a minhoca para fora. É uma espécie de braço de ferro onde a força é a menos importante, já que se o pescador não tiver paciência e puxar com força, a minhoca arrebenta e teremos então só um pedaço pequeno da isca. Somente com uma pequena tração e muita paciência conseguiremos tirá-la inteira do buraco. Algumas minhocas têm mais de 50cm de comprimento, o que dará para fazer várias iscas. A maneira correta de iscá-la é ir enfiando seu corpo no anzol e trançando-a para fazer um pequeno “bolo”. Tudo isso vale a pena o esforço, porque é uma excelente isca para todos os peixes da praia.

                                                                                                              Minhocas de vários tamanhos 


Já a tatuíra costuma aparecer na vazante das marés e mesmo na enchente. Com o movimento das ondas na areia a tatuíra costuma mudar de lugar. Esse é um movimento rápido, que requer a agilidade da parte do pescador amador, já que o bicho muda de lugar e se enterra novamente na areia. É só ver onde ele correu e tirá-lo com a mão. Apesar da aparência, ele é inofensivo, não mordendo ou causando qualquer outro incidente. Iscaremos a tatuíra inteira no anzol, pelo meio do seu corpo. Quanto as conchas, elas costumam aparecer ao longo da praia, sendo muito fáceis de avistar. Seu conteúdo é o que serve para iscar. Abre-se a casca que é dura com cuidado e raspa-se toda a massa do interior da concha. Deve ser trançada no anzol, e é conveniente amarrá-la com fio elástico.
Caramujos: mostram-se como as conchas, ao longo da areia da praia. A diferença é que para iscar o caramujo, será necessário quebrar sua casca. O método de iscar é o mesmo utilizado para a concha, e dependendo do tamanho do caramujo poderá ser dividido ao meio, o que nos dará duas iscas.

                                                                                                                                               Tatuíras

Pequenos siris: sua ação parece igual a da tatuíra. Com o movimento das ondas, eles também saem de um local para o outro e enterram-se na areia. A diferença é que o siri tem garras, portanto deve ser manipulado com cuidado. O jeito certo de pegá-lo é, após desenterrá-lo, ir fazendo com que mude de lugar com pequenos toques até que se canse. Feito isso, procure pegá-lo pelas garras, que devem ser imediatamente separadas do corpo. Isca-se inteiro. Como dica final, diremos que é conveniente que o pescador se lembre de que tudo o que restar das iscas, como por exemplo, as garras dos corruptos, cascas de sarnambis, conchas, caramujos e garras de siri, deve ser jogado no pesqueiro onde ele estiver, de preferência perto de seu anzol iscado, já que esse material é uma excelente ceva.
                                                                                                                                                Siri
Agora, se você não quiser ter esse trabalho todo para capturar os habitantes da areia, use o camarão morto, filé de sardinha, filé de parati, manjubas, etc. Com certeza esse tipo de isca é muito mais fácil de conseguir, pois é só passar na peixaria e comprar. No entanto, podemos apostar que o resultado de sua pescaria será muito mais produtivo em termos de peixes fisgados quando você utilizar os habitantes da areia. Duvida? Faça o teste.

Nota da Redação: para fazermos esta matéria, contamos com a colaboração,  o apoio e o conhecimento de alguns pescadores de praia, campeões dessa modalidade e com notório reconhecimento da comunidade dos pescadores de competição. Com eles aprendemos a passamos para o papel todo esse conhecimento e dicas.
Em nosso vídeo "Pescando com a Aruanã - Pesca de Praia", mostramos todas as dicas passadas nesta matéria e outras como tamanho das varas, bitola de linhas de pesca, molinetes, anzóis, empates, arranques e como visualizar os canais de praia e os melhores pesqueiros.

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