terça-feira, 15 de abril de 2014

COMBUSTÍVEL VELHO: VALE A PENA ECONOMIZAR?

DICA




Uma aventura no pantanal. Barco carregado e combustível no tanque. Dê a partida no motor e boa pescaria..





O que deve ser feito com o combustível que sobra no tanque do motor de popa no fim de uma pescaria? O reaproveitamento, longe de ser uma opção econômica, pode comprometer seriamente as resultados da próxima pescaria, e ninguém deve admitir que isso ocorra por uma economia boba e infantil. Por outro lado, às vezes nem é questão de economia, mas sim de desconhecimento. Saiba agora o que fazer, sem correr riscos desnecessários, com aquele combustível que sobrou.



Ao marcar uma pescaria, temos sempre a preocupação de observar todos os detalhes e cuidar para que o nosso equipamento esteja em perfeitas condições. Após conferir tudo, lá vamos nós com a tralha completa e pronta para ser usada, principalmente o motor de popa, que é um dos itens mais importantes no nosso lazer. Um comportamento recomendável e que deveria ser adotado pela maioria dos pescadores é feito por apenas alguns mais atentos: antes de viajar, eles levam seu motor de popa para uma revisão completa, prevenindo assim surpresas desagradáveis. Sinceramente: o que pode ser mais chato do que ficar dando várias partidas em um motor de popa e ele não pegar? Além disso, é cansativo e frustrante.
Nessas horas, é um tal de mexe aqui, mexe ali, afoga motor, dasafoga, tira capô, olha vela, vê se a gasolina está passando para o carburador e um monte de outras coisas, até que finalmente desistimos e voltamos para casa. No dia seguinte, quando levamos o motor na oficina, estamos dispostos a, no mínimo, sacrificar o mecânico, já que “por causa dele” ficamos sem pescar.

Navegando com segurança. Nada melhor.
Vem então a surpresa: o mecânico coloca o motor no tanque de teste, injeta gasolina do carburador e o “bicho” pega na primeira. E a cara de bobo? E o sorrisinho amarelo? Como escondê-los? Ainda mais quando o mecânico, agora cheio de razão, mostra e comprova que a revisão anterior havia sido bem feita. E ainda aproveita para afirmar que nós é que fizemos alguma coisa errada e acabamos sem saber como fazer o motor funcionar. Mas o quê exatamente podemos ter feito de errado? Afinal quem está com a razão?
 A resposta é bem simples: ninguém tem razão, ou melhor, não se trata de provar quem tem razão, e sim descobrir de quem é a culpa. E isso não é difícil: a culpa é do pescador, já que foi ele quem tentou fazer o motor funcionar com aquele combustível velho, que estava no tanque há dias, semanas, ou mesmo meses. É a famosa economia idiota.
Voltar para casa e ter aquela despesa toda sem pescar, além da raiva e da frustração, com certeza saiu mais caro do que se tivéssemos jogado fora o combustível velho e abastecido o tanque com uma nova remessa. Para entender tudo isso, vamos ver o que acontece com o combustível velho.  Segundo Eduardo Sala Polati, supervisor de desenvolvimento de combustíveis da Shell Brasil S/A, “qualquer derivado de petróleo, principalmente combustíveis como a gasolina, sofre ao longo do tempo e em contato com o ar, um processo de deterioração química conhecido como oxidação. Esse fenômeno ocorre normalmente quando o combustível é armazenado por longos períodos. Uma forma de detectar se o processo de oxidação já está avançado é observar a cor do combustível, que adquire uma tonalidade castanho, tornando-se bem escuro”.

E ele conclui: “a oxidação está diretamente associada à formação de goma e verniz nos carburadores e sistema de injeção de combustível dos motores. O envelhecimento do combustível é natural e não há como evitá-lo totalmente. No entanto, este processo é sensivelmente retardado no caso das gasolinas aditivadas, pelo efeito inibidor de oxidação promovido pelos aditivos detergentes dos pacotes a elas adicionados”.
Barco carregado com a tralha, abastecido, coletes salva-vidas e, pronto para a pescaria. É hora de aproveitar o lazer.

Temos então a palavra de um técnico em combustíveis, mas como identificar os danos que essa oxidação  pode ocasionar ao motor de popa.             
José Oscar Pache é gerente da divisão náutica da Caloi/Suzuki e, acostumado a esse tipo de problema, esclarece: “se a camada de goma ocasionada por um combustível velho existente no carburador for excessiva, dificilmente o motor entrará em funcionamento, mesmo após várias partidas, pois os dutos capilares do carburador certamente já estão entupidos. Já no caso de não haver excesso de goma, o motor funciona, porém não arranca, e se arrancar, com certeza apresentará sintomas semelhantes aos que ocorrem quando falta combustível, ou seja: não desenvolverá velocidade. Aqui é necessário prestar muita atenção, pois o aparecimento desses sintomas exige cuidados por parte do usuário já que caso venha a insistir no uso do motor, haverá um hiper aquecimento, ocasionando uma pré-ignição e, consequentemente, um furo no pistão.

Um outro ponto a ressaltar é o surgimento de uma pequena obstrução, causada pela goma, em um giclê de alta aceleração (marcha de cruzeiro) ou de baixa aceleração (marcha lenta). No primeiro caso o motor funciona e arranca, mas apresentará falhas na marcha de cruzeiro. Na baixa aceleração, funciona, mas apresentará marcha irregular, apagando contínuas vezes”.


Acima giclê (novo) de baixa aceleração e ao lado giclê (usado) de alta aceleração


Pois é, caro pescador. Podemos discordar da opinião de dois especialistas?
Após essas entrevistas, chegamos juntos a algumas conclusões. Se sobrar combustível, faça o que quiser com ele, mas nunca o reutilize no seu motor de popa. Após vazio, o tanque deve ser guardado sempre com a tampa semicerrada e com o respiro totalmente aberto a fim de que haja ventilação suficiente para evitar a formação de goma. É importante não esquecer que o combustível velho também estará presente no carburador e na mangueira do tanque de gasolina.
No primeiro caso, opte por abrir o parafuso bujão existente na lateral da cuba do carburador, ou então, antes de deligar o motor, deixe-o funcionando com a mangueira desconectada até que a gasolina existente queime totalmente. Assim que cessar o funcionamento, puxe o afogador e dê uma ou mais partidas (o motor costuma pegar)  até que ele não pegue mais. O carburador estará então totalmente seco. No caso da mangueira, verifique que ela apresenta, nas duas extremidades, uma esfera que veda a passagem de gasolina quando não está conectada ao tanque ou ao motor. Faça o seguinte: estenda a mangueira em posição vertical e com o auxilio de um objeto pontudo, abra essa esferas ao mesmo tempo, o que fará com que a gasolina escorra totalmente. Também é possível, se o pescador assim o preferir (nós recomendamos essa ação), desconectar apenas a parte que estava no tanque, pressionar a esfera dessa parte e deixar que o combustível queime totalmente. Essa operação costuma demorar alguns minutos, dependendo da potência do motor.
 Tanque de combustível de metal e enferrujado. Outro grande problema.


Tanques modernos já fabricados em plástico.

Finalmente, devemos considerar que os antigos tanques de metal costumam enferrujar, problema já solucionado nos modelos de motores mais modernos, que trazem tanque de combustível  fabricado em material plástico.
Por si só, esse detalhe do tanque de plástico já evita muitos problemas. Agora que você já sabe dos problemas causados pela oxidação e pela goma, vem a pergunta final: vale a pena guardar a sobra de combustível para reutilizar na próxima pescaria, que você nem sabe quando vai ser? A resposta é óbvia.


Cuba e carburador com resíduos de goma. Efeito de combustível velho.

Se ainda assim o pescador quiser economizar o combustível, deve observar o quanto seu motor de popa consome e levar então só meio tanque, sem esquecer que nesse procedimento há um pequeno inconveniente: e se acontecer algum imprevisto durante a pescaria e o pescador precisar de mais combustível? Pois é, felizmente existe outra opção para o reaproveitamento das sobras de combustível de nossos motores de popa, a qual nos parece bem mais razoável. Trata-se simplesmente de colocar esse combustível diretamente nos tanques de nossos carros (obviamente excluindo-se os carros a álcool) e completar com gasolina pura.
Este é o procedimento que particularmente adotamos (aconselhados por um mecânico), já há muito tempo, e nunca tivemos problemas com o carro em decorrência disso. Desse modo, economizamos de forma racional, utilizando as sobras no lugar apropriado. E o mais importante: sem sacrificar as próximas pescarias.

NOTA DA REDAÇÃO: Este artigo sobre combustível velho, foi publicado na Revista Aruanã, em abril de 1996. Na época fez muito sucesso entre os pescadores, já que muitas pescarias não foram mais interrompidas pelos problemas aqui explicados. Uma questão muito simples e que só faltava ser citada e explicada. A Aruanã, com exclusividade o fez.
Um outro ponto a ressaltar é que os nomes de pessoas ou empresas aqui citadas, podem ter sido modificados, devido ao espaço de tempo decorrido entre a publicação original e o agora aqui publicado no blog da Aruana.


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4 comentários:

  1. Uma aula de mecânica de motores de popa!

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  2. Toninho Lopes sempre nos presenteando com publicações deslumbrantes, não só de pesca mas de conhecimentos gerais.
    Parabéns amigo continue assim.
    Grande abraço Osvaldo ( Peruíbe)

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    1. Grande Oswaldo, amigo e companheiro de pesca. Obrigado pela visita e vamos marcar uma próxima aqui no pedaço. Tem muito peixe esperando nossas artificiais. Elogio de amigo não devia valer, em todo caso obrigado. Toninho Lopes

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