sexta-feira, 4 de abril de 2014

O PIT BULL DAS ÁGUAS: CONHECE?











  

Segundo algumas notícias veiculadas em diversos órgãos de imprensa, o tucunaré é o maior predador de todos os peixes brasileiros. Será isto uma verdade?

Vamos descobrir juntos.


tucunaré, peixe da Bacia Amazônica, até há bem pouco tempo atrás tinha sua presença somente nessa região. Com a construção de barragens em todo o nosso território, uma “praga” começou a aparecer nessas águas: a pirambeba, ou seja, uma espécie da família das piranhas. Sendo uma praga, e aliás bastante perniciosa ao meio ambiente, procurou-se então um peixe predador que desse combate a ela. Nesse ponto entrou o tucunaré, que foi trazido da Bacia Amazônica e introduzido em diversos açudes e, diga-se de passagem, por autoridades de nosso meio ambiente. Esse peixamento começou no Nordeste do Brasil por volta de 1950 onde o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca distribuiu 26.700 alevinos. Não demorou muito para que outros peixamentos fossem feitos nas regiões Sudeste e parte do Centro-Oeste. Dificilmente encontraremos hoje uma represa onde o tucunaré não esteja presente, principalmente nas regiões citadas.
No Pantanal, exatamente na divida de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul, mais precisamente no rio Piquerí, o tucunaré foi introduzido acidentalmente, já que um fazendeiro o criava em um açude particular e, devido a uma grande enchente, esses tucunarés ganharam as águas do Pantanal. Isso aconteceu há cerca de 40 anos atrás, e esses tucunarés estão hoje na região dos rios Piquerí, Itiquira e Peixe de Couro, na região próxima a Porto Jofre. Foi por essa razão que começou a polêmica sobre o tucunaré e sua agressividade contra o meio ambiente.



"Há alguns anos atrás nós tivemos como Secretária do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul uma pessoa que inclusive trabalhava para a Embrapa, e que fez publicar na imprensa local, pasmem, que iria permitir a pesca do tucunaré, sob qualquer modalidade, já que era sua intenção acabar com essa espécie – acreditem se quiserem – por achar que o tucunaré estava pondo em perigo todas as espécies do Pantanal"

                    Tucunaré pescado no rio Negro (AM).



Tal pronunciamento foi uma burrice sem tamanho, pois em primeiro lugar, dificilmente alguém conseguirá exterminar uma espécie de peixe, a não ser que esgote-se completamente a água dos rios e pegue-se todos os peixes com as mãos e se deixe o tal rio seco por alguns meses, para que nenhum alevino ou ovo sobreviva. Em segundo lugar, esse pronunciamento foi feito sem base científica nenhuma , pois não houve pesquisa alguma sobre o peixe nessa região.
"Aliás, diga-se de passagem, o tucunaré, até hoje, continua sendo um peixe que não foi pesquisado cientificamente por nenhum biólogo ou entidade do meio ambiente, pelo menos seriamente. Se o pescador for pesquisar sobre o tucunaré nos livros irá verificar que seu nome vulgar vem precedido de seu nome científico e da expressão “spp”, ou seja, sem pesquisa científica. Segundo alguns, existem hoje no Brasil mais de uma dezena de tipos de tucunarés e todos pertencentes a mesma família Cichlidae. Pois bem, vamos deixar os cientistas, as pesquisas e tudo o mais de lado, para falarmos um pouco do tucunaré e sua realidade no Brasil, e tentar explicar porque ele é tanto odiado pelos supostos “entendidos”. Começamos a dizer que dificilmente ele cairá em rede de espera, já que é um dos poucos peixes que nadam para trás quando encontram as redes de espera armadas. Outra particularidade do tucunaré é saltar por cima das redes. Nas tarrafas ele não costuma ser muito pescado, já que seu habitat preferido são as galhadas e outros obstáculos, locais estes onde as tarrafas não fazem muito sucesso. Portanto é um peixe que tem pouco valor para ser pescado profissionalmente. Mas vamos em frente e falemos sobre sua agressividade. Segundo alguns, e essa pesquisa é a mais citada, soltou-se tucunarés em um lago onde existiam lambaris, acarás e outros pequenos peixes."


                      Tucunaré de represas em SP


Nunca disseram, os que defendem essa pesquisa, qual era o tamanho desse lago e quantos tucunarés foram soltos nessas águas, além, de quanto tempo durou essa observação. Sobre isso podemos dizer o seguinte: em um lago, soltou-se o tucunaré, que é um peixe predador, para ver se ele comia as outras espécies. Comeu, é lógico, já que esses pequenos peixes fazem parte de sua alimentação. Pois bem, se em vez de tucunarés, soltassem dourados, matrinchãs, traíras, black bass, piranhas ou outro predador qualquer, o resultado não iria ser o mesmo? A resposta é tão lógica que nem merece ser escrita.
Outra pergunta às nossas autoridades de meio ambiente" e outros biólogos apressados em aparecer na mídia: o tucunaré come somente o necessário para sua sobrevivência ou é um peixe que mata outros por prazer? Mais uma? Vamos lá: o tucunaré come mais ou menos que outras espécies de peixes predadores, tais como o dourado, pintados, traíras, etc, etc.?
 O nosso leitor já deve ter percebido onde queremos chegar, portanto vamos passar adiante, já que as respostas às questões acima não deixam qualquer dúvida, pelo menos quando forem respondidas com seriedade e objetividade. Dissemos no início desta matéria que o tucunaré é um peixe da Bacia Amazônica. Pois bem, mesmo com o tucunaré presente em toda essa enorme região, se pesquisarmos vamos perceber que a Bacia Amazônica é muito mais rica em espécies de peixes do que as outras Bacias do nosso território. Ou será que lá ele não é tão feroz e predador?









                                 Tucunaré de Itumbiara (GO)


Diploma de burro para quem responder essa ultima parte da pergunta positivamente. E, vamos em frente, agora fazendo uma comparação (infelizmente) com os Estados Unidos da América, que estão alguns anos-luz à nossa frente, pelo menos em estudos sobre peixes. Se o tucunaré é tão predador, porque será que as autoridades de meio ambiente norte-americanas estão levando, criando e soltando o tucunaré em represas nos estados da Flórida e da Califórnia?  Aliás, sobre isso, uma curiosidade: o nosso tucunaré lá virou "peacock bass)”. Bonito isso não?

Pois é, prezado leitor, a verdade é que o tucunaré é um peixe altamente esportivo para quem pesca amadoristicamente e só por isso é que ele vem sendo tão combatido. Para as nossas autoridades como Ibama e Secretarias de Meio Ambiente (que nos cobram uma licença de pesca), a pesca amadora não existe, nem de fato ou de direito. 

                                   Pesqueiro típico de tucunarés

  Para eles, nós somos um bando de milionários e desocupados, com barcos e motores possantes, que vamos em finais de semana atrás de um lazer besta e idiota.
"Para eles quem merece maior atenção é o pescador profissional, pois são pessoas supostamente pobres e que vivem da pesca para seu sustento."
O que eles não dizem é que o pescador profissional não é dono dos peixes, podendo depredar a vontade como está acontecendo nas represas, na Bacia Amazônica, no Pantanal e nos nossos mares. Continuamos sendo o único país do mundo que permite pesca profissional em águas interiores, pelo menos do jeito que aqui pescam.


O ataque do tucunaré em uma isca de superfície. Quanto vale isso?




A pesca do tucunaré hoje,  leva milhares de pescadores, as mais remotas regiões de todo o Brasil. É só observar a quantidade de pesqueiros de primeira linha que estão instalados em regiões amazônicas e mesmo fora delas. Inclusive muitos deles, cujos proprietários não são brasileiros, fazem questão de receber somente pescadores de fora do Brasil. São instalações modernas, com toda a infra estrutura que se requer para um turista do chamado “primeiro mundo”.  A publicidade sobre os nossos peixes, em evidencia o tucunaré, ou se preferirem o “peacock bass”, está sendo mostrada para pescadores e turistas em todo o mundo. Afinal de contas, lá fora, que é que não quer ver a selva brasileira, pescar um peixe valente e brigador, levar boas imagens de pescarias e ainda (não precisa de sorte para isso), posar ao lado de índios. Ah Brasil. Não podemos dizer que esses estrangeiros somente prejudicam as regiões onde estão instalados pois, não matam os peixes que fisgam e praticam o pesca e solta, além de empregarem muitas pessoas ribeirinhas em seus estabelecimentos.


Um tucunaré da Bacia Amazônica e um dourado da Bacia do Prata. pescados no mesmo dia no rio Piqueri, com iscas artificiais.



Mas porque nossas autoridades de pesca e turismo não pegam para si, essa prática? Não seria um ótima forma de trazer divisas para o Brasil, além de mostrar que aqui não só tem crimes e violência. Se essas autoridades fizessem uma propaganda maciça desse tipo de turismo, quanto entraria de recursos em nosso país? E esses mesmos recursos (um sonho esse?) poderiam ser aplicados com inteligência em outros locais como o Pantanal, para preservá-los e também atrair turistas. É uma coisa tão aparente que não dá para entender porque nosso governo não vê uma coisa simples e que salta aos olhos de pessoas de mediana inteligência.

Para finalizar, queremos apenas dizer o seguinte: proteja o tucunaré e solte os peixes com menos de 35 centímetros. Não pesque, ou se pescar nas épocas de outubro a fevereiro, solte todos os peixes, já que é nessa época que eles estão desovando e ou com filhotes. Não compre nunca tucunarés à venda em supermercados, frigoríficos e peixarias, pois mesmo ele não caindo em redes, o pescador "profissional" está pescando à noite e com arpões. Enfim, vamos proteger o tucunaré pois ele é a salvação da pesca esportiva em  junto aos grandes centros.




NOTA DA REDAÇÃO: Eu escrevi esse artigo a mais de 15 anos atrás, ou se preferirem, no século passado. De lá para cá, a pesca amadora, agora também chamada de pesca esportiva, está cada vez mais depredada. A pesca profissional não respeita mais limites de tamanho e distâncias mínimas, para fazer seu arrastão ou armar suas redes que destroem tudo. E pior ou melhor eu não sei, já que agora para respeitar algumas épocas de defeso, ganham um salário mínimo  para parar sua pesca predatória feitas com redes, tarrafas ou até bombas, como testemunhamos. Atualmente, homens, mulheres e até adolescentes, estão inscritos para ganhar esse salário. Sabemos de casos, onde pessoas de posse e que não precisam disso, continuam a receber do governo um dinheiro que nós é que pagamos, e nem perto da água eles chegam.
É profundamente lamentável, mas nada mudou nesses anos todos. Ou se preferirem mudou sim, para muito pior. Até quando, é uma pergunta que não pode calar. É uma vergonha.

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