Se você se enquadra e
pratica tais atos, esta postagem é dirigida especialmente a você, que mesmo sem
saber ou estar mais bem informado, pratica essa “bobagem” de pescar
esportivamente e mostrar com isso que está praticando a “defesa do meio
ambiente” ou, se preferir, um termo mais atual “preservando”. Tenho pena de você. Senão vejamos.
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Foto Guia Gilbert.
Há meses o pescador amador/esportivo vem preparando a sua
pescaria em águas mais longínquas das quais costuma pescar. Afinal de contas,
um grande peixe, que irá proporcionar uma briga grande e demorada, é o sonho de
todo o pescador que se preze.
Essa pescaria tanto pode ser em águas interiores (rios, lagos
etc.) como no mar, tipo praia, costão, rios e baias do litoral, alto mar e na
famosa água azul, onde moram os peixes gigantes, por exemplo, o marlin azul.
Para os mais abastados, essas pescarias podem acontecer várias vezes durante o
ano, os gastos, se comparados ao prazer, serão questão secundária. Já a grande maioria, se contenta com uma ou
duas pescarias, pois as despesas, muitas vezes, não cabem em seu orçamento, ou
se couberem, irão ser resultado de uma longa poupança.
E o material de pesca? Este é outro item que também divide o
pescador nas duas categorias acima citadas. E as fábricas e indústrias estão a
jogar na sua cara, ofertas cada vez mais tentadoras, mostradas nas lojas de
pesca. Passam-se os anos e, invariavelmente, novos produtos “nascem” como se
fossem um passe de mágica. São novas varas e com vários atributos que as
“outras” não tinham; linhas mais resistentes; anzóis mais fortes; iscas
artificiais mais atraentes e matadoras, enfim uma gama enorme de ofertas em um
mercado rico, poderoso e mundial.
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Foto Fábio Nero Mitsuushi
Revistas de pesca, programas de TV, sites e blogs na
Internet, além de mala direta ou propaganda nas redes sociais, completam a
pafernália toda e, isso tudo para mostrar a força de marketing do segmento.
Vamos transportar você até o local da pescaria,
na imaginação. Lá está você onde sonhou durante meses pela oportunidade e que
agora se realiza. Um grande peixe, “seu recorde” é seu principal objetivo e,
lógico, a filmagem ou a tradicional fotografia, colocando seu maior troféu de
volta a água. Que sensação maravilhosa. E os cumprimentos de companheiros,
guias de pesca, donos do local que tornou esse ato possível? Não existe nada
melhor do que isso. Tá certo que você viu e se revoltou, com redes de pesca,
tarrafas, lixo, depredação de mata ribeirinha, esgotos direto nas águas, peixes
abatidos e vendidos abaixo da medida, ou se não vendidos, mortos em grande
quantidade, por pescadores que vêem no pescado, nada mais do que um alimento
rico em proteínas e vitaminas.
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Foto Marco Antônio Guerreiro Ferreira
Aliás, temos que concordar que em uma mesa, onde o pescado é
oferecido de várias formas e receitas, é muito bom. E você, ambientalista,
praticando o pesca e solta, como se a salvação da espécie estivesse em suas
mãos. Você é um bobão mesmo. Aliás, eu e você, somos dois bobões, ou idiotas,
ou ainda imbecis. Você escolhe, já que para nossas autoridades, nós cabemos em
qualquer adjetivo desses. Essa sua ação me faz lembrar outra de tempos atrás,
quando uma campanha, nos principais veículos de comunicação, proibiu os sacos
plásticos nas compras de lojas e supermercados. Lembra-se disso? Se minha
memória não me falhar, o slogan era mais ou menos isto: “vamos salvar o planeta
não usando sacos plásticos”. E iam mais longe ainda, recomendavam que usássemos
sacolas de pano (que eram vendidas nos próprios supermercados e com propaganda
do estabelecimento), compradas ou trazidas de casa. Alguns estabelecimentos
“mais conscientes” davam caixas de papelão gratuitamente, mesmo que elas não
deveriam ser usadas para transportar produtos alimentícios, já que em sua
origem, foram usadas para transporte de produtos químicos. Não vou nem comentar
os resultados de tal campanha, mas por certo “alguém” lucrou muito com isso. E
você pescador, participou ativamente em salvar o planeta?
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Foto Marco Antônio Guerreiro Ferreira
Mas vamos voltar à pesca.
E a esta altura da matéria, sou obrigado a perguntar se você
gosta de estatísticas. Como estamos falando sobre pesca, acho que você vai
gostar e querer ver o que tenho para apresentar. E são oficiais, ou seja: do
Ministério da Pesca e Aquicultura do Brasil. Vou colocar alguns dados apenas,
puxados dessas estatísticas, referentes aos anos de 2010 e 2011 (são os mais
atuais) e, se quiser maiores detalhes, acesse o citado Ministério. Lá, você vai
encontrar tudo o que precisa saber e conferir os dados que aqui apresento e,
que se referem à pesca extrativa, ou seja, que são peixes tirados de nossas
águas, nas chamadas regiões “continentais – águas interiores” ou marinhas, ou
seja, do mar.
Vamos começar pelas licenças de pesca. O pescador amador paga
para pescar embarcado/desembarcado em seu país.
O pescador profissional em qualquer categoria não. É grátis. “E ainda no site do ministério tem a frase: qualquer um
pode ser pescador profissional”. Interessante é que o número de mulheres
pescadoras é maior do que os homens.
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Foto Marco Antônio Guerreiro Ferreira
Nós, os bobos, atingimos quase 400 mil praticantes. “Eles,
quase 854 mil”. Aliás, e aqui uma informação própria: segundo uma pesquisa
que fizemos, quando trabalhávamos no Jornal da Tarde, o pescador
amador/esportivo, chega a 20% do total de nossa população. Estaríamos, portanto
perto de 40 milhões de praticantes, ou um pouco menos. Não vou agora entrar
nesse detalhe.
Para onde será que vai o valor de nossa licença? Ela é
aplicada em nosso benefício?
Outra coisa: nossa categoria é chamada de pesca amadora, já
que pesca esportiva no Brasil não existe de direito.
Vamos aos números de peixes exportados pelo Brasil.
Nós exportamos em 2010, das chamadas águas continentais,
248.911 toneladas, capturadas pelos pescadores profissionais. Em 2011, “um
pouquinho mais”: 249.600 toneladas.
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Foto Marco Antônio Guerreiro Ferreira
Espécies de peixes exportados, em toneladas:
Ano base 2010 - Ano base 2011
Dourado 3.161
3.184
Matrinchã 5.027 5.094
Pacu 11.042
11.123
Pintado 2.043
2.058
Tucunaré 9.236
9.344
Esses números são apenas de pesca extrativa e não de
criadores, ou aquicultores.
E o mais grave de tudo: esses números são da exportação de
pescados. Não estão relacionados, a quantidade dos peixes citados e vendidos no
mercado interno.
Nem vou citar a quantidade extraída da pesca marinha, já que
nas estatísticas elas se mostram. Cito apenas um peixe, que o pescador amador
(lembre, não existe o esportivo) gosta de pescar: o robalo. E mais, na tal
citada fonte, eles não diferenciam o robalo “flecha e nem o peba”. (?)
Em 2010, foram exportados 3.645 toneladas e 3.680 toneladas de robalos em 2011.
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Foto Guilherme Buzato
E agora, meu amigo pescador? Gostou dos números oficiais? E
sei lá como chegaram a eles, já que estatísticas no Brasil, muitas vezes, são
alvos de piadas e desconfianças.
E você meu caro pescador, praticando o pesca e solta, “para
salvar o meio ambiente” no Brasil e, tirando fotos para comprovar a sua boa
ação. Será que uma medalha de “honra ao mérito” estará vindo por aí aos
praticantes dessa modalidade?
Baseado neste artigo, em qual adjetivo você que pratica o
pesca e solta se enquadra: bobão, idiota ou imbecil?
Vou finalizar. Sabendo que estamos no Brasil, às vésperas de
uma eleição nos maiores cargos políticos sendo disputados e, nas propagandas
eleitorais veiculadas em todos os veículos de informação, fica a indagação:
quantas vezes você ouviu algo sobre o assunto desta postagem? Ou será que este
assunto estará incluso, quando eles, candidatos, falam em proteger o meio
ambiente?
Apenas uma frase eu tenho para confortar aos milhares de
pescadores amadores/esportivos por este nosso país afora. Se você, como eu, pratica
o PESCA E SOLTA, por favor, continue a fazê-lo, mesmo sabendo agora que isso
não vai mudar nada e nem salvar o meio ambiente, mas pelo menos e com certeza,
seremos um canalha a menos no Brasil.
Grande abraço.
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NOTA DA REDAÇÃO: Este artigo não saiu publicado na edição
impressa da Revista Aruanã. Ele é atual e a ideia de postá-lo, surgiu após ver
os números do Ministério da Pesca e Aquicultura. Quero agradecer ao Gustavo Nero Mitsuushi e ao Marco Antônio Guerreiro Ferreira, pelas fotos aqui publicadas e, cedidas gentilmente.
Evidente está que a responsabilidade desta postagem é inteiramente minha, como
jornalista que sou. Ilha Comprida, 23 de
setembro de 2014.
Não existe respeito nem preocupação com o pescador amador/esportivo(?), tampouco com o meio ambiente. Você está coberto de razão quando pergunta se em algum momento dessa campanha eleitoral algum candidato, em qualquer cargo eletivo pretendido, tocou ou tocará no assunto. Claro que não, não estão preocupados com o problema, nem o povo em geral. O MPA desde que foi criado já "trocou de camisa" várias vezes, parecendo a dança das cadeiras, de acordo com interesse políticos. Mas vamos resumir tudo em seu último parágrafo, exortando a todos nós continuarmos com a pratica do pesque e solte, façamos a nossa parte.
ResponderExcluirDe minha parte fico satisfeito em ver que a Aruanã voltou, e com força total.
Meu prezado amigo Marco Antonio. Concordo com você, em gênero, número e grau. Mas, como nós durante um bom tempo, ganhávamos o nosso pão de cada dia com o segmento da pesca amadora, vamos falar mais francamente. Fizemos a nossa parte, para melhorar o nosso meio ambiente? A resposta é sim, já que sempre defendemos e brigamos por isso, em nossa luta diária e em nossos veículos de comunicação. E fizemos mais (como você sabe), pois um "bando" de pescadores se cotizou e compramos milhares de alevinos, para que fossem soltos em represas no entorno de São Paulo. Mais alguém fez isso? Evidente está que não e, não vou enumerar quem é esse "alguém", mas nas entrelinhas, para uma pessoa de mediana inteligência, será fácil descobrir. Você ganhou muito dinheiro com seu trabalho no segmento? Está conseguindo ganhar algum dinheiro hoje com sua obra, e que para quem a conhece, sabe o valor que tem? Pois é Marco. Será que está tudo errado, ou será que só nós e mais alguns poucos sabemos qual é o caminho? Abraço amigo e vamos continuar tentando, até cansar e aí, paramos. E agora definitivamente. Mas que, no futuro, nunca nos venham cobrar alguma coisa. Obrigado. Toninho Lopes
ResponderExcluirEu me sinto envergonhado de ter participado como Delegado do RN do 1º ENPA, Encontro Nacional da Pesca Amadora. Foi só falácia para um bando de imbecil que se dizem "os salvadores da pesca esportiva" quererem aparecer. O MPA não está preocupado com a pesca esportiva, apenas com o aumento da produção pesqueira, independente desse aumento provocar uma redução drástica do pescado em nossos rios, lagos, represas e mares.
ResponderExcluirPrezado Alexandre: Não se sinta envergonhado não. A realidade é que você também faz parte do bando de bobos, que somos nós, pescadores amadores. E eu me sinto não só bobo, mas também um idiota. imbecil e trouxa, por perder tanto tempo da minha vida, enquanto editor da Revista Aruanã. Tempo e dinheiro. Nem queira saber quantas vezes eu fui a Brasilia, tentar falar com um grande FDP, político ou apadrinhado de alguém e atuando em cargos altos onde nosso segmento, estava sob sua responsabilidade. Era a mesma coisa que pregar no deserto. Mas tem coisa pior o igual do que isso. Olhe ao seu redor, mas bem perto mesmo e você vai saber do que estou falando. E como delegado, o que você viu e sentiu? E o seu tempo nesse "encontro"? É isso meu amigo. A publicação do pesca e solta, foi apenas para que pessoas como você, mostrassem o que sente. Foi uma pena que apenas duas se manifestaram. Esse é o segmento pesca amadora/esportiva em nosso país. E um conselho. Aproveite enquanto é tempo, já que "se algum dia" alguém quiser fazer alguma coisa, vai perceber que é tarde demais. Infelizmente.
ResponderExcluirPerfeito Toninho. Mesmo depois de muito esforço por parte da Aruanã brigando pelo pescador e no qual acompanhei durante a vida da revista impressa, vimos que tudo continua como "dantes" no quartel de "abrantes". Seguirei vosso conselho amigo.
ResponderExcluirObrigado Alexandre: O negócio é aproveitar enquanto dura. Uma pena mesmo. Mas fazer o que? Grande abraço amigo.
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