O gavião, sentindo fome, saiu à procura de alguma coisa em
que pudesse por o bico. Não estava num dia de sorte. Já fazia bastante tempo
que voava e não encontrara nada. Onde mais ia procurar comida? Quando começou a
se sentir desanimado, avistou lá embaixo, na estrada, um objeto redondo que o
fez descer mais depressa que pôde. Era um queijo. Ele enfiou-lhe as poderosas
garras e levantou vôo, o que não foi fácil, por causa do peso.
Também andava por perto, da mesma forma à procura de comida,
a pobre raposa, que não punha nada no estômago não sabia desde quando. Ao chegar
ao local aonde o queijo havia estado, a raposa sentiu-lhe o cheiro e pôs-se a procura-lo
desesperadamente.
Lá no alto, o gavião subia com esforço, carregando aquela
preciosidade. De repente, o queijo escapou-lhe das garras e veio cair perto da
raposa, que ficou muito espantada. Aquilo havia caído do céu. Que sorte! Se ela
tivesse olhado para cima, teria visto o gavião descendo que nem uma flecha. Mal
a raposa colocara as patas sobre o queijo, o gavião pousou perto dela:
- Dê-me o queijo, que ele é meu! – gritou raivosamente.
- Seu? Por quê? Acabo de recebê-lo de céu neste instante e
não vou entregá-lo a ninguém. Era só o que faltava – respondeu a raposa,
segurando ainda mais o queijo.
O gavião ficou louco da vida:
- Caiu do céu coisa nenhuma! Escapou das minhas garras quando
eu estava voando. Portanto, dê-me esse queijo que ele me pertence!
- Então, era seu. Achei-o, e agora ele me pertence.
Saiu uma discussão terrível. A raposa não podia tirar as
patas do queijo com medo que o gavião o agarrasse, e este não parecia disposto
a sair dali. Depois de muito tempo nessa posição, acabaram tendo a idéia de
levar a questão para que o juiz da floresta, o guaxinim, pudesse resolvê-la satisfatoriamente,
com o auxilio de seu escrivão, o macaco.
Lá chegando e tendo explicado o caso ao guaxinim, este
ordenou ao macaco:
- Vá buscar a balança da justiça! O macaco saiu e voltou num
instante trazendo a balança de dois pratos.
- Ótimo – prosseguiu – ponha-a nesta mesa.
Os queixosos olhavam com confiança. Vendo que se aproximava o
fim da questão.
- Corte o queijo em dois pedaços e ponha um em cada prato da
balança. Quero que dona raposa e seu gavião recebam exatamente a mesma coisa.
Sem que os outros vissem, ele piscou para o macaco. O
malandro compreendeu e cortou um pedaço bem maior que o outro.
- Que pena! - Disse o juiz – mas não há de ser nada. Dá-se um
jeito.
Mandou que o escrivão tirasse uma fatia e comeu-a. Como o
macaco tirou uma fatia grande demais, o pedaço que estava menor acabou ficando
maior. O juiz então ordenou ao macaco que tirasse outra fatia e comeu-a também.
Novamente os pedaços ficaram diferentes e o acerto continuou, para total
espanto da raposa e do gavião, que quando o queijo por fim terminou,
exclamaram:
- E o nosso queijo?
O guaxinim levantou-se com toda a pose, olhou para um, depois
para o outro e declarou solenemente:
- Quem tem coisa de pouco valor, pessoalmente resolve a
questão.
Tornou a sentar e despachou os dois infelizes: - Agora não há
mais motivo para brigarem. Vão em paz.
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