quinta-feira, 27 de novembro de 2014

PANTANAL: SEMPRE AVENTURA - 810 KMS PESCANDO E ACAMPANDO





















Partimos de São Paulo eu e o Kenji Honda, nosso fotógrafo. De Corumbá, o Orozimbo Decenzo, dono do barco-hotel Cabexy e já velho companheiro de aventuras. Com ele vieram o Ney Silva, presidente da Colônia de Pescadores Artesanais de Corumbá, que seria nosso piloteiro, e o Antônio O. Araújo, que faria as vezes de cozinheiro nesta viagem.



Marcamos encontro em Coxim (MS) por volta das 20:00 h, após termos saído de carro de São Paulo às 0.500 h, via Três Lagoas. Nossos companheiros já estavam instalados no hotel marcado para o encontro. No dia seguinte, 9 de junho, sairíamos às 6.00 h para o rio Correntes. Foram feitas algumas compras de ultima hora, como gelo e alguns gêneros alimentícios e seguimos estrada acima em direção a Rondonópolis. De Coxim até o porto de embarque são aproximadamente 120 km, e como referência podemos citar o posto Alto Piqueri, onde compramos o combustível para a primeira parte da viagem. Um pouco mais à frente do posto há uma placa indicando “Estrada Velha”, meio escondida na vegetação da estrada de asfalto.
Uma outra boa referência é a Fazenda Horizonte, que margeia a tal Estrada Velha. Entramos à esquerda e fomos seguindo em meio à citada fazenda. Para chegar à beira do rio, a “dica” é o Pesqueiro do Bispo, local onde se pode descer os barcos e a carga com facilidade. Nessa estrada de terra, passa-se por três ou quatro porteiras. Finalmente chegamos às margens do rio Correntes, que já mostra parte de sua beleza. Mal sabíamos nós o que viria de extasiante em termos de beleza natural logo à frente. Barcos n’água, motores de popa colocados e carga distribuída nos dois barcos modelo Karib 500 (calculamos mais ou menos 800 kg em cada um) e, exatamente às 10:30 h iniciamos a descida para a aventura. 


O Correntes é um rio de relativa correnteza, com muitas galhadas no meio, onde podíamos avistar lagoas boas para os tucunarés. O normal seria navegarmos até as 16:00 h, mas diante de tantos locais bons para a pesca, resolvemos acampar às 15:00 h. Este primeiro acampamento foi por nós denominado “Porto da Araras”, tal era a quantidade de aves dessa espécie que havia em nosso redor. São araras azuis e amarelas, muitas delas com ninhos e filhotes nas pontas dos buritis secos. São centenas de casais criando os filhotes à custa dos coquinhos de buritis, que constituem a grande parte das árvores que compõem a vegetação do Correntes.
Acampamento montado, sendo uma barraca grande para a cozinha e cinco menores, uma para cada um. Ficou bonito esse acampamento. Com um dos barcos livres de toda a tralha, convido o Ney para dar uma “olhada” em uma baía que fica a menos de 300 metros do acampamento. Logicamente, levei meu material de pesca: uma vara Fenwick e uma carretilha Daiwa TDH I com linha 0.30 mm e isca Bomber 15.





Primeiro lance, duas “trabalhadas” e lá se foi minha isca na boca de um tucunaré do qual nem cheguei a ver o tamanho. Montei um novo snap, e agora uma isca Rebel de 13 cm. Alguns arremessos e depois de meia hora, seis tucunarés de bom tamanho já estavam no viveiro do barco.  Voltamos ao acampamento, fizemos filés desses peixes e foram eles a nossa janta.
Uma curiosidade: tanto o Zimbo como o Ney e o Antônio nunca havia visto ou comido o tucunaré do Pantanal. Adoraram o peixe. A noite foi chegando e nosso horário de ir dormir era por volta das 21.00 h. Pouco mosquito e um pouco de frio (estranhamente) por volta das 23:00 h tornava o sono muito mais agradável.
A alvorada da equipe aconteceu às 5:30 h, e a essa altura o Antônio já estava com o café pronto. Aliás, isso aconteceu durante toda a viagem, sendo que a “bóia” feita por ele também era de primeira, o que lhe valeu o título de “Cozinheiro Nota 10”.
Já com o sol totalmente descoberto, fomos pesquisar outras baías, tanto para cima como para baixo do acampamento, só que desta vez em quatro no barco. Eu pescando, o Ney pilotando, o Zimbo para ver e o Kenji para fotografar. Pois bem, em todas as baías fisgamos tucunarés, chegando mesmo a fisgar dois peixes de uma só vez na isca artificial. Pegávamos e soltávamos. Ficamos o dia inteiro, só interrompendo para o almoço essa “vida dura”. 


À nossa volta, continuávamos a ver os ninhos das araras. Sabendo do “pega e solta”, o Antônio nos pediu que trouxéssemos alguns peixes para filetar e guardar, já que lá para baixo (São Lourenço e Paraguai), não haveria tucunarés.
Saímos novamente e fisgamos dez tucunarés de tamanho variando entre 2 e 3 kg. Filetamos todos eles. Jantamos e desmontamos as tralhas, já que no dia seguinte iríamos viajar. Arrumamos tudo nos barcos e só ficaram armadas as barracas para dormir. Noite tranquila, e no dia seguinte foi só esperar as barracas secarem para tudo ser desmontado, lixo queimado e enterrado, e o motor roncando para mais uma etapa. Eram 9:00 h.

Nossa intenção agora é chegar à Fazenda Mangueiral, onde o administrador Moacir é nosso amigo. Navegamos até as 15:00h. Durante o trajeto avistamos várias fazendas, mata de buritis e mais araras. Ao longe avistamos uma serra e de repente, a vegetação muda completamente, passando a uma mata mais cerrada. O rio estreita bastante e a correnteza é bem mais forte. Com certeza já estávamos no rio Piquiri, mas não conseguíamos ver de onde havíamos saído do Correntes para o Piqueri. 



Aqui um aviso aos futuros aventureiros: existem duas bifurcações que deixam dúvidas. O certo é ir sempre pela direita. A serra que avistávamos ao longe agora está ao nosso lado. Passamos por sua “ponta” e fomos rio abaixo. Sumiram as araras e os buritis. Em compensação começaram a aparecer as primeiras capivara e jacarés.
Avistamos também tuiuiús, patões, colhereiros, cabeças-secas e baguaris. Nas árvores bandos de bugios.
Avistamos uma sede de fazenda e resolvemos perguntar se a Mangueiral ainda estava muito longe. Após sermos informados de que precisaríamos de sete horas de navegação, resolvemos acampar, pois já passava das 15:00 h.
Curiosamente, escolhemos a ponta de uma ilha e depois descobríamos que estávamos na confluência do rio do Peixe de Couro, que é onde o rio Itiquira deságua, poucos quilômetros acima. Montamos apenas as barracas de dormir e durante o resto da tarde divertimo-nos com as pequenas varinhas de isca. E o que essas varinhas telescópicas sofreram não está escrito, já que no meio de sauás e sardinhas de água-doce, vez por outra fisgávamos piraputangas e piaus-três-pintas, alguns com mais de 1 kg. Denominamos esse acampamento de Porto das Capivaras, e mais adiante o leitor verá por que.


Não tiramos a carga total dos barcos, já que nossa intenção era acampar no rio São Lourenço, mas com meia carga mesmo saímos para tentar um pacu para o jantar. Nada feito. O jeito então foi comer piraputanga, piau e filés de tucunaré (aqueles).
A noite chega, e antes do jantar é hora do banho de rio, que é feito a base de canequinha, já que a margem onde estamos tem galhadas e o rio é muito fundo. O ultimo a tomar banho foi o Zimbo, que esqueceu o sabonete no barranco do rio. No dia seguinte, antes de partirmos, ele se lembrou e voltou lá para apanhar o tal sabonete, que não estava no local. Mas havia muito rastro de capivara em torno do local do banho. Possivelmente uma capivara comera o sabonete. Foi aquela gozação, principalmente quanto ao fato da capivara estar soltando bolinhas de sabão pelo rio e que ninguém ia emprestar sabonete ao Zimbo até o final da viagem.
Partimos logo cedo para a Fazenda Mangueiral. A propósito, eu ia me esquecendo: após a primeira noite acampados, ainda no Correntes, resolvemos isolar a barraca do Kenji das do resto do pessoal. Motivo? Seu ronco assustava até qualquer onça que aparecesse nas imediações. E foi assim até o final da viagem. Esperávamos o Kenji montar a barra e então montávamos as nossas, o mais longe possível.


Mais uma vez atenção, futuros aventureiros: após a bifurcação do rio do Peixe de Couro, meia hora abaixo há outra bifurcação, e agora o caminho certo é para a esquerda. Muitas outras bifurcações apareceriam, mas todas são margeando ilhas, o que acaba dando na mesma.
Agora a paisagem é bastante pantaneira, mas as lagoas marginais continuam a aparecer. Podem ser contadas às centenas, desde o início de nossa viagem, no Correntes. O tucunaré está presente em todas, não só no Correntes, mas também no Piqueri, assim como no Peixe de Couro e também no Itiquira.
A novidade do percurso ficou por conta de uma anta na margem, que conseguimos fotografar. Há muitos anos não víamos uma anta no Pantanal.  Essa seria a maior novidade, não fosse o que aconteceu na hora de reabastecer os tanques dos motores. Eu precisava de uma foto do abastecimento que é feito no meio do rio e com os dois barcos juntos. Pedi ao Kenji que fizesse essa foto, já que estava em posição melhor com relação ao sol. Ele tirou sua máquina e começou a procurar a melhor posição e o melhor foco. Só que focou tanto que perdeu o equilíbrio e acabou caindo no rio. O mais engraçado de tudo é que perdemos o japonês de vista no meio da água, menos seu braço direito, que ficou levantado para fora d’água a fim de não molhar a máquina. “Profissional nô?”. Depois dessa ele passou a câmera para o Antônio e então foi a minha vez de pegar a minha máquina rapidamente para não perder o flagrante dele ali, todo molhado. Foi uma risada só e serviu de gozação pelo resto da viagem.  Eu mesmo, quando lembrava da cena, ria sozinho.


Chegamos à Fazenda Mangueiral às 16:00 h.
O Moacir não estava, já que havia levado sua esposa para Cuiabá, prestes a dar à luz. No entanto seus pais, Dona Raquel e Sr. Euclides nos receberam maravilhosamente bem e nos serviram arroz carreteiro, feijão e salada fresca.
Foi um banquete.
Dormimos nas dependências da fazenda, e aconteceu outro fato curioso: mais ou menos às 21:30 h começamos a escutar um barulho na água do Piqueri. Eu e o Zimbo nos levantamos e fomos ver o que era. Um espetáculo maravilhoso: uma piracema de curimbatás que pegava o rio de margem a margem. Quando iluminávamos a água com as lanternas, o rio estava cor de prata. Vez por outra, um estouro de peixes como o pintado e o jaú fazia com que os curimbatás saltassem, prateando ainda mais o rio. Essa piracema durou até as quatro horas da manhã, segundo nos contou o Sr. Euclides, que se levantara nesse horário. 


Dia 13 de junho, saímos para Porto Jofre às 07:30h. Em uma praia topamos com uma ilha de areia, onde com certeza havia mais de 200 jacarés enormes. Fomos devagar e ainda conseguimos tirar boas fotos. Chegamos a Porto Jofre às 10:30 h. Até aqui gastamos 390 litros de gasolina nos dois barcos, somando percurso e eventuais pescarias.
Em Porto Jofre fizemos novo abastecimento de gasolina no Posto do Jamil, fizemos compras e continuamos viagem. Eram 11:30 h quando chegamos à Pousada Santa Maria, do Wilson Feitosa, onde “filamos” um bom almoço e aproveitamos para falar por rádio com São Paulo, a fim de dar notícias. Segundo nossos cálculos, estávamos exatamente na metade do caminho. Depois do almoço, já no rio São Lourenço, descemos mais três horas, até finalmente chegar à foz do rio Negrinho. O local escolhido para acampar foi o mesmo que utilizamos quando da viagem que fizemos de Cuiabá a Corumbá, já relatada em edição anterior da Aruanã. Até montar o acampamento, agora completo, a noite já havia chegado rápido e não deu tempo para mais nada; foi só tomar banho, jantar e dormir.
No dia seguinte bem cedo, após o café, montamos nossas varas de bambu e fomos atrás do pacu no rio Negrinho. A água do rio, que normalmente é cristalina, estava turva devido à chuva, que não chegou a nos atingir, mas que ouvimos ao longe. Mesmo assim conseguimos fisgar vários pacus, cacharas e palmitos, além, é lógico, das tradicionais piranhas. Na foz, onde anos atrás pegamos vários dourados, só conseguimos fisgar cachorras. Após o almoço, nossa diversão ficou por conta das varinhas de isca, fisgando pequenos peixes. Deparamo-nos com um cardume de pacu-peba: era só jogar e fisgar. O pequeno pacu-peba briga muito e bem, e quando já esta se entregando, costuma vir à tona da água e dar “rabadas”, agitando-se e fazendo muito barulho. 



Logo abaixo do acampamento onde estávamos havia uma galhada com alguns camalotes enroscados. Atraído pelo barulho que os pacus faziam, veio até bem perto de nós um jacaré, na tentativa de abocanhar algum peixe. Apelidamos o bicho de “Bebeto”. Bebeto ficava a menos de um metro de nossas mãos. Começamos a jogar-lhe alguns peixes, que ele pegava e ia comer lá no meio da galhada. Não demorou muito e outro jacaré chegou para ser servido também. Esse era enorme, e recebeu o contraditório apelido de “Romário”. Enquanto jogávamos peixes para um e outro, não é que o Romário deu uma surra no Bebeto? Este ultimo acabou fugindo, deixando o banquete só para o grandão.
Ficamos dois dias nesse acampamento, sendo que todo esse tempo o Romário foi nosso companheiro constante. Quando chegávamos de alguma pescaria e não o víamos por perto, era só fazer barulho na água com as mãos que ele aparecia. Esse ficou sendo o “acampamento do jacaré”.
Outro fato curioso foi a aparição de um bando de biguás, que lá pousaram durante a noite e, exatamente às 04:00 h começaram a cantar (?), só que em vez de canto, aquilo parecia barulho de porco roncando. Todo mundo acordou, e vez por outra era possível ouvir um palavrão vindo de alguma barraca em louvor à cantoria dos biguás. 


Dia 15 de junho. Havíamos pego várias sardinhas e sauás para tentar os pintados. Subimos o Negrinho até um bom pesqueiro. Na margem, perto de nós praias de areia repletas de jacarés. Conseguimos fisgar cacharas e palmitos, até que as piranhas acabaram com nossas iscas. Por brincadeira, jogamos uma piranha na praia.
Veio um jacaré e a abocanhou. Ele a pegou de lado, ficando com o peixe atravessado na boca. Depois, deu duas ou três abocanhadas até virar a cabeça da piranha para a frente. Então mastigou fazendo barulho e só depois a engoliu. O barulho da mastigação atraiu outros jacarés. Até acabarem as iscas, várias piranhas foram servidas aos jacarés. Mórbida “vingança” a nossa.
No meio do rio víamos os dourados batendo nas iscas chamadas “brancas” (pequenos peixes). Cansei o braço de tanto arremessar os mais variados tipo de isca e nenhum fisgou. A água do rio ficou mais turva ainda. Voltamos para a ultima noite no Porto dos Jacarés, logicamente sem esquecer de levar duas piranhas para nosso amigo Romário.
Novo dia: 16 de junho. Desmontamos o acampamento e descemos o rio São Lourenço às 06:30 h. Chegamos à barra do rio Paraguai às 10:30 h. Nesse ponto a paisagem é muito bonita, já que se avista a Serra do Amolar, que é uma cadeia de montanhas, praticamente rochosas. A água do Paraguai está bem limpa.  Continuamos a descer o rio, agora em uma região bastante conhecida nossa.  Às 13:45 h, passamos à boca do Paraguai Mirim. As noticias são de que o peixe está lá, havendo maior incidência de pacus e pintados. Continuamos nossa viagem, e exatamente às 14:00 h paramos para aquele que seria nosso último acampamento dessa viagem. O local chama-se Ilha Verde. Nosso acampamento foi montado em um piquete da fazenda de mesmo nome, e agora estávamos acampados sobre grama. Perto de nós havia uma grande árvore, muito frondosa, conhecida na região como “morcegueira”. Graças a ela, resolvemos que não seria preciso montar a barraca-cozinha.


Descarregamos os barcos e, depois de tudo arrumado, só nos resta partir para a famosa “vida dura”. Montei um equipamento para dourado, composto de uma carretilha Abu 6500, uma vara Zebco modelo QXLC 60H, linha 0,40mm, um encastoado com 5 metros de aço flexível e iscas grandes, tipo Red Fin, Rapala e Bomber. Descendo a Ilha Verde, há um corixo de água entrando no campo (este é um detalhe importante na época das cheias) e formam-se corredeiras. No primeiro lance já fisguei um dourado de bom tamanho. Outros três se sucederam, mas escaparam. Fomos até a entrada da Baía vermelha, que fica próxima dali, mas lá não havia corredeiras ainda, portanto os dourados não estavam presentes.
O pôr do sol nos dá o sinal de que é hora de voltar para o acampamento, tomar um bom banho de rio, jantar e ir para a cama, já que o corpo começa a demonstrar sinais do cansaço da viagem.
Amanhece um novo dia, e logo cedo retornamos aos dourados. Fisgamos um, que foi solto, e mais outros quatro vieram atrás da isca, mas não fisgaram. Há muita comida para eles no rio. A conselho do Ney, descemos um pouco mais pelo rio e, entrando em um pequeno corixo, descobrimos mais uma pequena corredeira. Mais um dourado fisgado, este de pequeno tamanho (o limite para a captura dessa espécie é de 55 cm), que foi solto. Percebi a presença de mais peixes, que perseguiam a isca e não fisgavam. O tempo passou rápido e voltamos ao acampamento.

Após um bom almoço, saímos novamente à tarde, os quatro em um só barco, para tentar os pacus. Achamos um local no rio Paraguai onde a água está saindo do campo (detalhe importante para a pesca do pacu) e mais: sinais da natureza, como capim comido e folhas de camalotes cortadas, que nos dão a certeza de que há pacus nas imediações. 


Montamos as varas de bambu e não deu outra: pescando com isca de tucum, na modalidade de batida, fisgamos quatro pacus de bom tamanho. Numa pequena corredeira do rio, um lance e mais um dourado. Ficamos com o dourado e um dos pacus, que seriam nosso jantar nesta ultima noite na Ilha Verde. O sabor de peixe fresco, assado na grelha, é infinitamente melhor do que o peixe congelado... Foi um banquete digno de pescadores amadores. No céu, a lua está em quarto crescente e a noite está bastante clara.
À frente do acampamento ouvimos peixes batendo nos lambaris e sauás. Devem ser pintados e jurupocas, mas ninguém se anima para tentar fisgá-los, também pelo motivo de já estarmos no fim de mais essa maravilhosa aventura, e não necessitarmos de alimentação. E depois, trazer peixe para que? No mínimo é criar problemas nas barreiras e candidatar-se a ser “achacado” pela cobrança de ICMS, que vergonhosamente continua sendo recolhido dos pescadores amadores. Basta avistar um carro de pescadores amadores para que os fiscais da Fazenda de Mato Grosso do Sul, desçam como urubus sobre carniça, cobrando um imposto que, além de ser ilegal, repito: é vergonhoso.
Dia 18 de junho, é a hora de desmontar tudo e voltar para a última etapa, rumo a Corumbá, ponto final de nossa aventura. Saímos às 8:45 h e exatamente às 12:25 h desembarcamos no porto em Corumbá. Graças a Deus, tudo em ordem, e mais uma vez, missão cumprida.


Embora já acostumados a essa tipo de aventura, podemos afirmar que essa foi uma das regiões (principalmente o rio Correntes e o Piqueri) mais bonitas que já vimos em todo o Pantanal. O consumo de gasolina de Porto Jofre até Corumbá, somados percurso e pescarias, foi de 325 litros.
Queremos aqui agradecer à Metalglass, que nos forneceu os dois barcos Karib 500, à OMC do Brasil, que forneceu os motores de 25 HP (sendo um deles Johnson e o outro Evinrude), à Colemam, que nos ofereceu as seis barracas usadas no acampamento e à Motul, que forneceu o óleo dois tempos. Usamos o óleo 300, que é biodegradável.
Agradecemos também a Pousada Santa Maria pelo almoço e ao pessoal da Fazenda Mangueiral pelo jantar e pela pousada. Tudo isso sem esquecer de agradecer a todos aqueles personagens, em sua maioria anônimos, que encontramos pelo percurso afora, os quais, sabendo sermos nós da Aruanã, mostraram-se amigos e ofereceram toda a ajuda de que pudéssemos precisar. Obrigado a todos.
Durante mais esta aventura no Pantanal percorremos um total de 810 quilômetros, desde a partida no rio Correntes até a chegada ao porto em Corumbá. 


E aqui um recado aos futuros aventureiros: para realizar com sucesso uma viagem como essa, basta ter boa vontade, organização e bom senso. É necessário levar toda a tralha de cozinha, como panelas, pratos, vasilhas plásticas, uma boa tábua de carne, baldes para água, etc. Cadeiras de alumínio, fogão a gás, geladeiras de isopor (levamos três de 120 litros cada), gerador pequeno ou lampiões, facão, enxada (para enterrar o lixo e limpar o acampamento), galões para gasolina, cordas e material de primeiros socorros também são itens fundamentais. Evidente está que nem é preciso falar da câmera fotográfica e do material de pesca. Aliás, é útil acrescentar a este ultimo algumas varas de bambu para a pesca do pacu e pequenas varas para fisgar iscas. Bons barcos, motores e barracas contribuem e completam o sucesso de qualquer aventura.
Mais uma vez, podemos dizer com orgulho que só a Aruanã realiza este tipo de roteiro para o pescador amador. É mais um percurso, agora totalmente desvendado, que se oferece como opção para sua próxima pescaria. É o tal negócio: quem realmente sabe pode fazer, e não precisa pedir a outros que o façam ou escrevam por ele.
Um último e especial agradecimento aos companheiros de viagem Orozimbo, Ney, Antônio e Kenji. Por certo, foram eles peças fundamentais na aventura. Obrigado a todos. E até a próxima.


NOTA DA REDAÇÃO: Mais de vinte anos separam essa aventura do que agora publico no blog em novembro de 2014. E confesso, eram essas aventuras, as matérias que eu mais gostava de fazer, pela simplicidade e pelos locais onde andávamos ainda virgens na época. 

6 comentários:

  1. Locais e viagens maravilhosas, típicas da "Aruanã". Bons tempos aqueles. Como andarão as coisas por lá hoje em dia?

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    1. Pois é Marcão: Com certeza os rios continuam os mesmos, os locais de acampamento também, as lagoas dos tucunarés, as araras (protegidas por lei) ainda devem estar criando seus filhotes e comendo os cocos dos buritis. Mas os peixes, os cardumes, os animais, com certeza não deverão estar como na época, devido a presença do homem. Em um país sem leis, sem fiscalização, e com pouca atenção à nossa íctio-fauna, devem ter diminuído bastante. E eu ainda soube, que no trecho Correntes, Piqueri, Itiquira, haviam sido inaugurados alguns pesqueiros. E aí, sem comentários. Obrigado pela participação

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  2. Parabéns pela matéria, um sonho! Nos últimos dois anos visitei o Piqueri e fui feliz, fauna e flora ricas com muitos tucunarés e pacus. Tenho muita vontade de descer até Porto Jofre. Desde que conheci o Correntes, comecei a relatar minhas pescarias, pequenas epopeias: Correntes-Piqueri, Ariri-SP e Santa Isabel do Rio Negro- AM... Sempre li ARUANÃ!!!

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    1. Obrigado pela sua resposta e reconhecimento. Realmente essa aventura, foi a que nos concedeu a oportunidade de ver e conhecer, umas das mais belas regiões do Pantanal. Pena eu não poder chamar-lhe pelo nome. Mas mesmo assim valeu. Grato Toninho Lopes

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  3. Se quiserem, posso passar-lhes um panorama da região!
    Cesar Gallo

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    1. Cesar: Se for para acrescentar algo referente a região e nos dias atuais, fique a vontade. Mas seria bom fazê-lo no Face, para o conhecimento geral. Obrigado Toninho Lopes

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