terça-feira, 16 de dezembro de 2014

AMAZÔNIA RIO NEGRO - LAGO BAEPENDI























É normal em pescarias no rio Negro que os pescadores tenham à sua disposição um barco grande, onde fazem pernoite, alimentação e têm seu local de descanso. Isto porque a mais atraente de todas as pescarias nessa região será feita nos lagos onde a espécie mais procurada é o tucunaré.
Um bom barco para pescaria deve ter uma tripulação composta por alguns marinheiros, que farão também a parte de piloteiros, cozinheiros e ajudantes. Ao comandante da embarcação, está reservada apenas a tarefa de conduzir o barco, que geralmente navega à noite, já que fica mais cômodo sair de Manaus à tarde, viajar à noite e pela manhã estar chegando em um dos lagos. Para o pescador essa é a melhor opção, já que durante a viagem pode-se dormir e descansar para o dia seguinte, quando então estaremos prontos para a briga com os tucunarés, que, sem exageros, devem ser considerados os maiores do mundo.


A pescaria sempre deverá ser feita em companhia de pessoas que conheçam bem a região, já que as entradas dos lagos se parecem muito com outras, que são apenas pequenas enseadas ou baías.
De imediato podemos citar alguns lagos famosos por sua piscosidade é que podem ser atingidos variando o gasto da viagem entre 5 a 20 horas. São eles: Baependi, Atuirá, Joperi, Cuerias, Paduari e Samaúna.
Desta feita a equipe Aruanã pesquisou e pescou no Baependi, que fica a 12 horas de Manaus, subindo o Negro e com uma distância média de 120 quilômetros. 

Na Bacia Amazônica é muito comum o período das cheias, quando, devido a fortes chuvas, os rios da região marcam grandes níveis de água, e esses lagos formam verdadeiras baías, com as margens bem distantes entre si. A partir de maio, as águas começam a baixar e as margens começam a ficar mais delineadas e os pesqueiros de tucunarés, formados principalmente por galhadas e pedreiras, tornam a pescaria mais fácil. Em novembro, quando essa reportagem aconteceu, o Baependi não passava de um rio com largura variando entre 15 e 20 metros. Com o nível de água baixo, toda a paisagem do local de modifica, pois as praias, de uma areia branco-amarronzada, estão totalmente à mostra, o que proporciona ao pescador uma visão muito bonita e dá a oportunidade de bons banhos, já que o calor é muito forte, atingindo facilmente os 40° C.


No lago – agora rio – as galhadas de margem e formações de pedra são bem visíveis e é exatamente nesses locais que a pescaria deve ser realizada. Localizar o tucunaré, nosso alvo principal, não é difícil, já que por sua voracidade e valentia, muitas vezes se mostra ao pescador, principalmente quando estão à caça de pequenos peixes como acarás, traíras, sardinhas, lambaris e “branquinhas” que, em fuga alucinada, na tentativa de escapar do ataque de seu predador, chegam a pular para fora da água e ficar se debatendo na areia das praias.
É um espetáculo que poderia ser considerado selvagem, se não fosse feito pela própria natureza. Mediante esses ataques, resta ao pescador jogar sua isca e esperar que o tucunaré a abocanhe. O que sucede então é um duelo que só um verdadeiro pescador amador compreende e dá o real valor. 



A melhor maneira de pescar o tucunaré nessa região é na modalidade de iscas artificiais, já que assim que obtermos maior rendimento. Como iscas artificiais podemos citar as colheres, os jigs e os plugs em formato de peixes, que tanto podem ser de superfície como de barbelas (meia água).
A voracidade do tucunaré é tão grande que ele ataca qualquer coisa que se mova à sua volta. Nesta oportunidade tivemos inclusive um contato com um pescador da região e vimos seu “equipamento”. Era um anzol 7/0, esse pescador tinha amarrado diversos fios de linha nas cores amarelo e vermelho, e com essa isca artificial pescava seus grandes e belos tucunarés. Esse sistema de pesca, segundo o pescador ribeirinho, tem o nome de “pindaucá”, que em tupi-guarani significaria mais ou menos “o anzol que nada”. Para sermos mais explícitos, diríamos que a pescaria feita por esse ribeirinho mais se assemelhava a um “fly caboclo”.


Um dos grandes dilemas que o pescador tem frente a si nos lagos amazônicos é o seguinte: para pescar bem, com arremessos de precisão, é necessário que estejamos usando uma linha de bitola fina, por exemplo, 0,40 mm. Ora, com uma linha dessas é comum que os tucunarés grandes a arrebentem com facilidade, pois depois de fisgados, correm para o meio das galhadas, de onde por certo se libertarão do anzol que os prende. Segurar um tucunaré de, por exemplo, 8 quilos com essa bitola de linha é praticamente impossível. De imediato, o pescador experimentado fará um líder com uma linha mais forte, por exemplo, 0,60 mm.
E aí um novo dilema se apresenta: com a linha mais forte, quem não resiste são as garatéias da isca artificial, que na maioria das vezes abrem e dão fuga ao peixe.


Como se sabe, o tamanho de uma garatéia deve obedecer a um padrão determinado pelo tamanho da isca. Se trocarmos a garatéia para uma maior, na maioria das vezes ela irá desbalancear a isca artificial. Em um local onde os tucunarés são de grande tamanho será então necessário usar-se uma isca artificial grande.  Ora, pescar com uma isca de mais de 25 gramas chega a ser cansativo e não é sempre que os tucunarés grandes a atacam. Por diversas vezes pescamos com iscas grandes e os tucunarés eram médios. Para evitar o cansaço inútil, voltamos ao material mais leve e aí um grande tucunaré aparecia e abria as garatéias ou partia nossa linha. Mas é exatamente nesse ponto que o pescador verdadeiramente amador se diverte, pois a esportividade é o mais importante de tudo.
Um outro ponto muito interessante também e que acontece com frequência, é o aparecimento de outras espécies que também fisgarão e muito bem nas mesmas iscas artificiais. Nessa mesma pescaria, fisgamos diversos jacundás, aruanãs e traíras, sendo estas ultimas de bom tamanho.

Uma outra opção muito interessante é subir os rios desses lagos, já que será inevitável que nas cabeceiras haja corredeiras. Essa subida não é fácil, já que em vários locais o pescador será obrigado descer do barco e, em níveis de água bastante baixos, ter que puxar o barco por extensões às vezes bem longas. Como prêmio aos mais obstinados, além de uma paisagem bonita, um bom banho nas corredeiras e um peixe amazônico bem tradicional: a matrinchã.
A melhor isca para a Matrinchã é o spinner, que deverá ter sua garatéia trocada por um só anzol e de preferência o mesmo usado para o pacu (haste curta) e no tamanho 6/0 ou 7/0.


Em nossa opinião, dificilmente quando a pescaria de tucunarés está produtiva, algum pescador irá pensar em outra modalidade. Mas para quem quiser, usando pedaços de traíra como isca e material de categoria pesada, formado por varas fortes, molinetes ou carretilhas de bom tamanho e anzóis acima de 10/0, com linhas acima de 0,80 mm, poderá tentar, aí sim, no rio Negro, os grandes bagres, tais como os filhotes e as piraíbas. É uma briga para ninguém botar defeito.


Praias

Mas voltamos a afirmar que o grande divertimento está mesmo nos lagos e em sua atração principal, o tucunaré. Aí está, portanto o nosso roteiro desta edição. Em uma região muito bonita, onde a mata é abundante. No rio Negro, a melhor época para pescar vai de agosto a dezembro. No entanto, a partir de fevereiro, o rio Branco, que é um afluente do negro, passa a oferecer ao pescador os mesmo índices de piscosidade do Negro, e a pescaria será também nos mesmos moldes e com o mesmo material. A única diferença é que no rio Branco, como o próprio nome diz, tem suas águas completamente diferentes do Negro, pois são claras, quase verdes e extremamente cristalinas, podendo ver-se o fundo em profundidades de mais de três metros.

Pedras

As espécies de peixes são as mesmas, demonstrando que a natureza por si só é bela e altamente protetora. As melhores condições de pesca oferecidas ao pescador no que se refere a embarcações poderão ser obtidas à Liguepesca em São Paulo, pelos telefones (011) 864-0400, ou em Manaus, pela Selvatur, telefone (092) 233-9523. São agências de turismo especializadas nesses roteiros.

Outra opção à disposição do pescador é no próprio porto de Manaus, negociar uma viagem nos chamados barcos regionais, que se não tem o mesmo conforto comparados aos barcos das agências citadas, são, no entanto bem mais acessíveis em preços. Vale a pena fazer uma pescaria no rio Negro, onde, repetimos: estão os maiores tucunarés do mundo.


NOTA DA REDAÇÃO: Deverá agora o leitor, desprezar as informações das opções de turismo, exibidas nesta matéria, já que as mesmas, com certeza, estão desatualizadas. Nós publicamos “RIO NEGRO” na edição nº19 em Dezembro de 1990. Convém, porém salientar que atualmente, dezembro de 2014, portanto, vinte e quatro anos depois, as informações nela contidas chegam a ser singelas e até inocentes, tal é a gama de ofertas que o pescador hoje tem para visitar e pescar na Amazônia e em locais bem mais distantes do local da matéria. São inúmeras as ofertas de pousadas e outros estabelecimentos do gênero. Mas cabe salientar uma afirmação que fazemos há muitos anos. Na forma de pescar, nos peixes, nas épocas, locais de preferência dos peixes, nos lagos, as iscas, pouco mudou. Mudaram sim, os materiais, aliás, bem poucas mudanças. 

Exemplos?: As linhas. Hoje os multifilamentos substituem com vantagem, a resistência das mesmas. As garatéias, já existiam, mas havia pouca oferta no mercado. As varas já eram tubulares e nos mesmos formatos. Inventaram materiais diferentes em sua composição. Algo mais?  Com certeza, e os mais saudosistas irão concordar com a afirmação de que, havia muitos mais peixes do que agora e não era preciso ir tão longe. Pois é, bons tempos.

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