sábado, 10 de janeiro de 2015

SILÊNCIO!! - O SEGREDO DA PESCARIA.









Muitas vezes o pescador amador prejudica sua própria pescaria antes mesmo de começá-la, somente pelo fato de chegar de “qualquer maneira” em um pesqueiro, seja de barco ou simplesmente a pé, num barranco. Saiba como evitar as consequências desastrosas dessa “pequena” desatenção.



O olho de um tucunaré

Nos dias atuais, o pescador amador dispõe de acesso a muitas informações que antes não eram divulgadas apropriadamente. Hoje em dia, são várias notícias de estudos realizados em todos os sentidos sobre todas as espécies de peixes. Um desses estudos, que para nós é sem dúvida o mais importante refere-se aos sentidos dos peixes. Atualmente, já sabemos que a maior parte das espécies de peixes tem o sentido da visão muito pouco desenvolvidos. Também o olfato é, na maioria dos peixes, muito limitado e está intimamente relacionado ao paladar, o que indica que o peixe primeiro põe a isca na boca e só depois é que entra em ação esse olfato/paladar que lhe permite avaliar o alimento. Finalmente, conforme as pesquisas científicas já comprovaram, sabemos que o sentido melhor desenvolvido nos peixes é a audição. Segundo afirmam os pesquisadores, a audição de um peixe é cerca de dez vezes mais aguçada do que a de qualquer outro animal vivo, seja ele terrestre ou aquático. Esse fator, aliado ao fato dos sons se propagarem melhor sob a superfície das águas, assegura que os peixes, a despeito de não poderem ter seus sentidos de visão, olfato e audição comparados, por exemplo, aos mamíferos terrestres, são capazes de ouvir muitíssimo bem.
Pois bem, se o peixe escuta muito bem, parece-nos fundamental que tenhamos um cuidado especial em nossas pescarias ao nos aproximarmos do pesqueiro escolhido. 

Pescaria de robalos
Todos nós já presenciamos, durante as nossas pescarias, aqueles pescadores que, com um bom barco e um motor de popa possante, vêm em alta velocidade e “cortam” o motor de popa bem próximo ao ponto de pesca. Quando isso ocorre, se repararmos bem, vamos verificar que por cerca de aproximadamente dez segundos após parar o motor, as ondas causadas pelo deslocamento do barco ainda estarão varrendo o local.
Nessa altura dos acontecimentos, com certeza essas ondas prejudicaram o pesqueiro, já que com a movimentação da água, o peixe certamente fugiu ou então afundou mais, o que torna menores suas chances de encontrar nosso anzol, esteja ele iscado com isca natural ou artificial. Evite que isso ocorra. Quando você estiver navegando, ao chegar perto de um pesqueiro, não tenha pressa, diminua a marcha do motor e vá se aproximando lentamente. Quando estiver a uma distância de mais ou menos 100 metros do ponto pretendido, pare o motor de popa e utilize os bons serviços de um motor elétrico, que permitirá que sua chegada aconteça no mais absoluto silêncio. Se você não dispõe de um motor elétrico, um bom remo também resolve o problema, apenas com a desvantagem de ser mais cansativo.
Em locais onde há correnteza, pare sempre acima, respeitando os 100 metros recomendados e apenas deixe o barco deslizar a favor da correnteza. 

Aproximação das galhadas
Outro momento importante é quando precisamos apoitar o barco. Jogar a poita nem sempre quer dizer “atirá-la” dentro d’água. Uma boa “apoitada” significa descer a poita lentamente, sem encostar na borda do barco e sem deixar que ela bata com força no fundo. E pronto, esses são os procedimentos básicos para uma boa aproximação por água. Mas há ainda um detalhe essencial, que depende fundamentalmente de sua boa educação: quando for passar por outro barco que esteja pescando apoitado ou de rodada, diminua a marcha mais ou menos uns 50 metros antes dele, e após ultrapassá-lo, percorra mais 50 metros lentamente para só então retornar a marcha de cruzeiro. Não há nada mais irritante para uma pessoa que está pescando do que alguém ultrapassá-la com velocidade, deixando atrás de si os balanços das ondas produzidas pelo barco.
Cuidados de aproximação também devem ser tomados pelo pescador que pesca de barranco ou, se preferirem, desembarcado. Evidente está que na praia ou no costão não existe a necessidade de obedecer as normas que daremos aqui. Vamos nos referir apenas aos pescadores de beira de rio ou represa. 

Galhadas
Muitas vezes, ao chegar à beira da água, conseguimos ver que o peixe se afasta antes mesmo da nossa aproximação efetiva. Nessa situação, a primeira conclusão a que um pescador chega é achar que o peixe o viu. Mas isso não é verdade, pois sabemos que a visão do peixe é muito limitada. Então o que aconteceu? É simples. Aconteceu que o peixe antes mesmo de ter visto o pescador, “sentiu” sua presença. Isso mesmo. O peixe se afastou porque pôde “sentir” a vibração causada pelas batidas do pé do pescador caminhando na margem.

Portanto, o ideal é chegar no pesqueiro lentamente, considerando a apurada audição dos peixes. E isso já nos dá outra dica, que é permanecer dentro do maior silêncio possível. O pescador que anda de um lado para o outro o tempo todo ou fica com os pés dentro da água com certeza terá menos sucesso do que aquele pescador que pesca praticamente imóvel. Aliás, sobre essa crença de que o peixe vê o pescador, qual de nós já não presenciou, por exemplo, pescadores de tilápias colocando galhos de árvores na frente de sua ceva, afirmando que assim camuflados os peixes não os vêem? Outro velho costume manda que o pescador evite vestir roupa de cores claras, que supostamente seriam mais “visíveis”, já que se destacam bastante contra o fundo de vegetação. 

Motor elétrico

Pesca na beira de rios ou represas
Essa é uma meia verdade. É óbvio que, se atrás de nós existe uma mata, seria conveniente usar roupas de tons neutros para sermos mais facilmente confundidos com a paisagem. Saiba o pescador no entanto que o peixe não enxerga cores, portanto qualquer tom de roupa neutro (não necessariamente o verde) será o bastante para camuflá-lo.  Essa camuflagem não é para nos deixar invisíveis, mas sim para disfarçar nossos movimentos, deixando nossos ruídos mais amenos perante o sentido de audição do peixe.
Apenas para exemplificar e tornar mais claro o que foi dito aqui, vamos citar alguns barulhos comuns que decididamente atrapalham uma pescaria. No barco: batida de remos ou quedas de objetos no chão do barco, andar pesadamente dentro da embarcação, mudar de lugar constantemente, etc. No barranco: andar, nadar, cortar galhos de árvores com facão, fazer aquele churrasco na margem, jogar latinhas de bebidas (lamentável) ou pedras na água e na margem e o mais desnecessário de tudo: escutar um sonzinho de rádio ou toca-fitas no pesqueiro. Essa é de doer não é mesmo?

Para finalizar, podemos dizer que o pescador deve se comportar no pesqueiro, na medida do possível, como se ele não estivesse ali, pois qualquer barulho diferente dos ruídos naturais do meio ambiente local será muito prejudicial à pescaria, o que nos faz lembrar daquela máxima que diz que “o silêncio é de ouro”. E de muito peixe no samburá.

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