sábado, 26 de setembro de 2015

ESPECIAL - JURUGUASSU X PEACOK BASS













É ruim em uma pescaria quando um pescador fisga um peixe e, não conseguindo identifica-lo, coloca nele um “apelido”. E se ninguém naquela roda de amigos conhecer tal peixe, o apelido será falado e contado, confundindo a muitos outros pescadores. Pior do que isso é quando um peixe já é conhecido e, por causa de informação de outro país, mudam-lhe o nome. Esta é a nossa história. Confira










O exemplo mais conhecido que temos entre nós é o do apaiari, conhecido cientificamente como Astronotus ocellatus, que é originário da Bacia Amazônica. Este peixe, que hoje existe em todo o Brasil devido à sua introdução por volta de 1938 nos açudes nordestinos e um pouco mais tarde em represas de todo o país, começou a despertar a curiosidade de muitos pela beleza de suas cores, com tons verde-escuro com manchas avermelhadas e tendo ainda na cauda um ocelo escuro (daí a significação de seu nome científico) a lhe identificar a espécie. Muito esportivo na pescaria por brigar bem, tem em sua carne outro grande atrativo, pois esta é de excelente sabor, chegando a atingir um quilo de peso quando adulto. Outra particularidade interessante são os sinônimos por que é conhecido em várias regiões do Brasil. Assim sendo, temos: acará-açu, apaiari, bola-de-ouro, corró-baiano, cará-grande e dorminhoco. Este ultimo por certo, foi-lhe dado porque o apaiari costuma ficar meio deitado quando parado à margem da represa, principalmente à noite. Pois bem, de repente os americanos descobriram o apaiari e, como é de seu costume, mudaram o seu nome para “oscar”.


 Para que o leitor – se quiser – pronuncie corretamente o nome, temos a dizer que não é Oscar, como o nome do ex-zagueiro central da seleção brasileira, mas sim igual ao da tal estatueta da academia de cinema. E aí está, um peixe brasileiro perdendo sua identidade, que começou a ser criado lá primeiramente em aquários e hoje é pescado em lagos, principalmente na região de Miami. Mas o pior é que num dia desses, em uma loja de aquários, vimos diversos peixes sendo vendidos a garotos brasileiros aqui em São Paulo. E quando lhes perguntamos o nome dos peixes eles disseram “oscar”. Tal fato dá uma tristeza desgraçada na gente, porque se consegue perceber que a falta de identidade de nosso povo em casos como esse é grande. Engraçado é que quando as coisas vêm de lá para cá, o brasileiro não muda nada e aí estão exemplos como o rock n’roll e tantos outros. Voltando à pesca, já faz alguns anos, eles nos mandaram um peixe, que a bem da verdade não é americano, mas canadense: o black bass, muito conhecido lá também como “big mouth”, ou seja, “boca grande”. Há quase sessenta anos o black bass está no Brasil e não perdeu sua identidade, continuando a ser chamado pelo seu nome de origem.


 Mas o ruim mesmo é que em recente viagem aos Estados Unidos conseguimos ver várias fotos de tucunarés em cartazes, onde se lia: “invista no futuro”. Em conversa com alguns pescadores de lá, ficamos sabendo então que o governo americano havia importado alevinos de tucunarés e já estava fazendo diversos peixamentos, principalmente na Califórnia e Flórida. Pois bem, o nosso tucunaré lá é chamado de “peacock bass”, ou seja, traduzido ao pé da letra, “tonalidade de pavão”. E mais: em seus manuais de piscicultura o nome científico é o mesmo do Brasil, Cichla ocellaris, só que após o nome científico vem a expressão “spp”, ou seja, sem pesquisa cientifica. Isto sem dúvida é um absurdo, principalmente quando falamos em um peixe há muito estudado no Brasil e relatado em vários livros de nossos cientistas. Pior seria no entanto se, daqui a algum tempo, alguns de nossos pescadores começassem a dizer que vão pescar na região do Araguaia ou Amazônia o esportivo peixe “peacok bass”. Vai ser um absurdo, mas não de se estranhar, pois alguns pescadores fazem questão, talvez por puro esnobismo ou então a fim de valorizar seus diálogos com outros pescadores, de usar termos americanizados. 


Antes que isso aconteça e em um rasgo de brasilidade, movidos pelo sentimento puro de habitantes deste torrão tupiniquim, começamos hoje e aqui pela Aruanã, uma campanha pela valorização de nossa língua natal, não só em defesa de nossa identidade, mas também afirmando que chumbo trocado não dói. A partir de hoje, toda a vez que formos falar do black bass, passaremos a chamar esse peixe de juruguassu, que traduzido para o inglês significa big mouth, ou se preferirem em português “boca grande”. Isto porque em tupi guarani, “juru” é igual a boca e “guassu” ou “açu” é igual a grande. Aí está portanto a sugestão, além do que fica muito mais fácil para nós falarmos juruguassu, do que para eles falarem tucunaré. E finalmente um pedido: se alguém falar em peacock bass, corrija imediatamente, dizendo que o nome certo é tucunaré, bem como se você falar em juruguassu e alguém não souber que peixe é, valorize-se explicando que é black bass em tupi guarani. Bonito isso não?

NOTA DA REDAÇÃO: Sem duvida alguma, o idioma inglês tem grande influência em nosso país, devido a modernidade atual em equipamentos e serviços. Mas, nem por isso, vamos admitir essa indevida tradução, de nomes de peixes/animais e de outras palavras de nossa língua. Evidente está que chamamos e escrevemos o black bass em sua designação de origem e não usamos o juruguassu em nenhum momento. Mas me entristece ler, em algumas postagens aqui no Facebook - eis uma palavra em inglês - onde em uma bela foto de um tucunaré, a expressão peacok bass. Talvez algum psicólogo ou sociólogo explique esse uso, que espero que não vire costume. Para terminar, em Portugal o bass é chamado de “achigã”. Interessante não?

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - - - CORUJA














Enigmáticas, as corujas padecem, ainda nos dias de hoje, da injusta forma de serem aves nocivas e agourentas, o que não corresponde de forma alguma à realidade se levarmos em conta sua grande utilidade para o homem, pois em suas caçadas noturnas elas nos livram de muitos bichos daninhos, principalmente roedores e insetos.











Provavelmente, essa prevenção que se instalou entre nós contra as corujas tem origem folclórica, já que estas aves de rapina levam uma vida de certa forma misteriosa, com seu vôo silencioso e vista afeita à escuridão. Geralmente, os animais que apresentam hábitos associados à noite e as trevas acabam por constituir, ao longo da história, farto material para fomentar lendas e crendices populares, que neste caso específico não traduzem a verdade, haja visto que se trata de uma ave completamente inofensiva para o homem, merecendo por parte deste toda a proteção que tem direito, a despeito da ignorância popular que insiste em atribuir poderes sobrenaturais aos animais que lhe pareça estranho. Entre as espécies mais conhecidas no Brasil, podemos citar a coruja do campo, também classificada como coruja-buraqueira ou caburé-do-campo. Ave da família dos Estrigídeos, recebe a denominação científica de Speotito cunicularia grallaria, e mede aproximadamente 22 centímetros de comprimento da cabeça à cauda. O lado dorsal é pardo cinzento, com grandes manchas avermelhadas transversais. Nas asas e na cauda nota-se grandes manchas alvacentas, transversais, sendo que a região da garganta apresenta coloração esbranquiçada. É espécie muito comum em nossos campos, onde faz seu ninho no chão, num buraco, que ela forra com excremento seco de bovinos. Esses ninhos, que às vezes são buracos de tatu abandonados, que as corujas costumam aproveitar, e mesmo os que são cavados por elas mesmas, formam túneis subterrâneos com alguns metros de extensão. Lá as corujas habitam o ano todo, mesmo depois de terem criado sua prole. Apesar de todas as espécies possuírem visão noturna privilegiada e pertencerem à mesma família, há que se citar a única exceção, também ela muito conhecida: os caburés, que são corujas de hábitos diurnos, enxergando muito bem à luz do sol. A espécie mais vulgar no Brasil é designada cientificamente como Glaucidiun brasilianum, e mede apenas 13 centímetros de comprimento. A cor em cima é bruna, com manchas claras, amareladas e brancas. O lado central é claro com estrias longitudinais, e a cauda, quase preta, tem manchas brancas. Apesar de serem os pigmeus da família, os caburés são caçadores valentes. Diferentemente da coruja do campo, essa espécie evita a mata e mesmo as capoeiras, sendo que só nos espaços abertos sente-se à vontade. Sentada diante da entrada do ninho, pousada sobre um cupinzeiro ou mesmo nos mourões de cercas de sítios e fazendas onde haja a criação de bovinos, esta coruja não foge à aproximação humana e, se for preciso, gira a cabeça até descrever meia-volta completa para assim, comodamente, observar e analisar o que se passa ao seu redor. Só em ultimo caso é que, interpretando um movimento qualquer como uma possível ameaça, ela levanta vôo, gritando um “qui-qui-quiiiii” (com a ultima sílaba bem prolongada e um pouco modulada) e, seguindo quase rente ao chão, percorre aproximadamente uns 20 ou 30 metros a partir do local onde estava para então pousar de novo. Sua alimentação constituísse ocasionalmente de pequenos roedores, e mais frequentemente de insetos como lagartas, gafanhotos, besouros e escaravelhos, que pega no vôo, com extrema agilidade. Essa coruja, além de enxergar bem à luz do dia, é capaz também de enxergar no escuro como as outras espécies de sua família. Assim, durante a temporada de procriação, o casal trabalha dia e noite para dar de comer à prole numerosa, que pode chegar a até sete filhotes em uma só postura. Voltando ao fato da injusta fama negativa atribuída às corujas, reproduziremos aqui um pequeno trecho de um texto a respeito destas aves escrito pelo grande naturalista Eurico Santos publicado em sua obra História, Lendas e Folclore de nossos Bichos, de 1957. “As histórias de coruja dão bem a idéia das superstições no folclore. Há, entre estas aves de hábitos noturnos, um corujão chamado de murucutu a que se prendem certas cantigas de embalar crianças. Para a gente pouco esclarecida, são tais aves agourentas cujo grito ‘crre, crre’, se assemelha ao rasgar de um pano, julgam que se trate de um vaticínio de morte. Dão a esta coruja o nome significativo de ‘rasga-mortalha’, (...) Seu abençoado apetite as leva a devorar uma multidão de animais nocivos, entre eles ratos, morcegos e insetos, mas apesar disso são mal vistas pelo povo que aqui entre nós apenas repete velhas superstições vindas da Europa na bagagem mental dos primeiros imigrantes”.

Bibliografia consultada: Dicionário dos Animais do Brasil Rodolpho Von Ihering

sábado, 19 de setembro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - CACHORRA






















Encontrada durante todo o ano pelo pescador amador, a cachorra é um peixe bastante esportivo, oferecendo lances de verdadeira emoção ao ser fisgada, embora sua carne não seja das mais apreciadas.










Com este nome apontam-se várias espécies de água doce que possuem rica dentadura, afiada e uniforme. A cachorra, cujo nome científico é Roebodes senodon, possui, além dos dentes afiados, dois dentes proeminentes na mandíbula inferior, que chegam a medir mais de 3 cm. Seu focinho é aguçado e o pré-maxilar avança mais do que a mandíbula, dando-lhe um aspecto de um cachorro, daí seu nome vulgar. Os índios da Amazônia chamavam este peixe de iauarana, que em tupi guarani significa “parecido com o cachorro ou jaguar”. Esta espécie está distribuída por toda a Bacia Amazônica e Bacia do Prata, preferindo as corredeiras dos rios, onde aliás é mais facilmente encontrada. Pode atingir mais de 18 kg e chega a medir 1.30 m de comprimento. Este peixe alimenta-se de zooplâncton quando na fase larval, de larvas de insetos quando alevino e torna-se carnívoro quando adulto. As melhores iscas para sua pesca são justamente os pequenos peixes (lambaris, piavas, piaus, etc), que habitam as mesmas águas, além de fisgar também em caranguejos, camarões e na popular minhoca. Na pesca com isca artificial, pode-se usar colheres, spiners, jigs e plugs de meia-água de tamanho médio. O equipamento mais indicado para pescar está espécie é o de categoria média a pesada, vara com molinete ou carretilha e linha de bitola 0,45 e 0,70 mm. No caso de linhada de mão, aconselha-se a usar linha de bitola um pouco mais grossa. Deve-se ainda utilizar empates de aço tanto no caso de pesca com isca natural como artificial. Possui muitos sinônimos, tais como: cigarra, peixe-cachorra, peixe-cadela, peixe-cigarra, pirapucu, saicanga, saranha, timbiú, etc.




domingo, 13 de setembro de 2015

ROTEIRO: O VALE DAS JATUARANAS (RO)





















Fica difícil descrever a jatuarana cientificamente, pois não existe um estudo aprofundado sobre tal peixe. Em alguns livros, ela é descrita como Hemiodus microcephalus e pertencente à família dos Caracideos. No entanto, para que o leitor possa entender, em alguns lugares o ribeirinho também a chama de “matrinchão”. Temos a esclarecer que, apesar da aparência, “quase igual”, são peixes de famílias completamente diferentes. Enquanto as matrinchãs são mais prateadas e menores, a jatuarana tem um colorido de amarelo ouro, com uma mancha na cor preta que lhe pega parte do rabo e nadadeira anal. Seus dentes também são diferentes dos da matrinchã, pois apresentam uma serrilha muito parecida com a do dourado do Pantanal. 



Os hábitos da jatuarana são muito parecidos com os da matrinchã, pois prefere rios que tenham correnteza e corredeiras de pedras. Sua alimentação é composta principalmente de frutas e pequenos peixes, dando uma notória preferência nestes últimos a pequenos cascudinhos, o que não deixa de ser natural e serve como dica, pois as corredeiras de pedras são o habitat natural destes pequenos e cascudos peixinhos. Já havia um bom tempo que ouvíamos falar do rio Pau Cerne, que é um afluente do rio Guaporé, nas imediações da cidade de Pimenteiras, no estado de Rondônia. Haviam nos dito que esse rio tinha boas corredeiras e uma cachoeira muito bonita. 


Como a fruta só cai quando está madura, finalmente se apresentou a oportunidade para que a equipe Aruanã pudesse testar a piscosidade de tal rio. Eram 04:30h da manhã quando iniciamos a viagem até o Pau Cerne. Rio normal, com a vegetação maciça, característica da Bacia Amazônica, nem de longe demostra àquele que em suas águas navega, a beleza que irá encontrar alguns quilômetros à frente. Por várias vezes tem-se que diminuir a velocidade, pois várias árvores estão caídas em seu leito, e demonstram claramente serem excelentes pesqueiros para outras espécies de peixes. Mas nossa determinação eram as jatuaranas. No percurso da subida do rio, vimos muitos animais, como antas, jacarés e pacas. No céu, muitos pássaros voavam livremente, e quase não se assustavam com nossa presença.


Bandos de araras azuis faziam uma ruidosa manifestação diante de nós. Após mais ou menos três horas desde a saída do pesqueiro, por entre a mata, divisamos uma elevação típica de morro, a demonstrar que, se houvesse uma cachoeira, não estávamos longe. Como de repente, após uma curva, avistamos a primeira corredeira, com a altura de mais ou menos 1 metro. Encostamos devagar e sem ruído à sua margem direita e conseguimos ver que o local era todo de pedras, a maioria delas estando ainda submersas. Com cuidado descemos do barco e pelas pedras fomos andando até bem próximo à corredeira, que tinha mais ou menos 60 metros de largura, ocupando quase toda a largura do rio. 


Nosso equipamento era composto de vara Fenwick modelo Eagle Two, carretilha Royal Ambassadeur e linha 0.30mm. Como isca artificial, usávamos um spinner de nossa própria fabricação e com um só anzol. Começamos a dar nossos lances no local mais óbvio, ou seja, no meio da corredeira e praticando o sistema de corrico. Após mais ou menos uns trinta lances, a triste constatação de que não havia jatuaranas ali, ou então de que elas não estavam comendo. Na ultima hipótese, era difícil de acreditar, pois pela nossa experiência, podemos afirmar que o spinner é a melhor isca para esse tipo de peixe e mesmo para as piraputangas, matrinchãs, piracanjubas, etc. O piloteiro do Cabanas do Guaporé nos disse que a cachoeira estava mais ou menos 1 quilômetro rio acima. Resolvemos ir até lá. 


Seguindo uma trilha por dentro da mata ribeirinha, fomos andando pela margem do rio, parando de vez em quando para observar a corredeira que se seguia paralela à nossa trilha e mostrava vez por outra bons poços de pesca. Finalmente, em uma pequena praia de areia grossa e avermelhada, saímos da mata e avistamos a cachoeira em sua totalidade. O espetáculo era maravilhoso, pois a queda tinha mais de 80 metros de altura e se dividia em três partes. No “pé” da cachoeira havia um lago maravilhoso de águas muito limpas, onde se conseguia ver o fundo de pedras. Passada a primeira emoção e após algumas fotografias, voltamos a nos lembrar das jatuaranas, nossa razão principal de estar ali. Fizemos alguns lances para o meio desse lago e o resultado foi negativo. 


Após um raciocínio lógico, optamos por ir pelas pedras, até onde o lago terminava e se afunilando no rio propriamente dito, e onde começavam as corredeiras. Com muito cuidado, pois estávamos completamente vestidos, com calça, tênis e camisa, fomos andando por entre as pedras, tendo o cuidado de não molhar os pés. No lugar escolhido, começamos a dar os lances em direção à corredeira na esperança de fisgarmos o peixe. Após mais ou menos o vigésimo lance sem nenhum resultado, optamos por dar os lances na linha que dividia a corredeira da água mais calma do lago.  No primeiro lance fisgamos o peixe. A princípio, a jatuarana não brigou muito, ficando entre a corredeira e a água mais calma. Parecia até que era pequena ou uma matrinchã. De repente, o peixe fisgado começou a vir em nossa direção e sem que esperássemos, pulou mais ou menos um metro para fora da água e bem na nossa frente.


Após vermos o tamanho do peixe, o arrependimento por termos usado um material tão leve já estava em nossa mente. Pois bem, após o primeiro pulo, essa jatuarana resolveu brigar e já correu corredeira abaixo, levando mais de 80 metros de linha. A carretilha ia ficando com menos linha. Foi aí então que o cuidado em não molhar os pés foi por água abaixo e, literalmente. Sem a menor cerimônia e sendo o peixe o alvo principal, entramos de roupa e tudo dentro da água, a princípio pelas margens e por cima das pedras menos submersas. Era um tal de dar um passo e um tombo. Em alguns locais havia poços mais fundos, onde éramos obrigados a nadar. A jatuarana começou a dar sinais de cansaço, mais ou menos uns quinhentos metros rio abaixo do local onde havia sido fisgada.

 Vez por outra dava um pulo e já começava a brigar novamente e a subir a correnteza. Nós, da margem, estávamos também bastante cansados e totalmente molhados. Finalmente o peixe veio mais para a margem e perto de onde havia uma moita de sarã, deu a primeira parada. O piloteiro, que havia vindo pela margem avistou-a e eu gritei para que tentasse pegá-la. Ele tentou e ela saiu novamente para o meio da corredeira, disposta a brigar suas últimas forças. Foram mais alguns minutos de briga e ela voltou novamente para o mesmo lugar, sendo então segura pelo piloteiro. Nessa altura da briga, completamente extenuado e vendo o peixe nas mãos do piloteiro, restou-nos sentar para descansar, o que fizemos sem nos importar o fato de estarmos com água pela linha da cintura. 


Após algumas respirações profundas, fomos para a margem e pudemos então pegar aquele valente peixe com nossas próprias mãos. Nesse momento, só o verdadeiro pescador amador esportista sabe avaliar a emoção que vai pelo coração. Ali, imóvel diante de mim, um peixe que brigou muito por sua permanência no rio. De minha parte, um pescador amador que a havia fisgado com material leve e que de maneira nenhuma poderia aguentar seu peso se não fosse a experiência, o cuidado e a paciência de trabalhar aquele magnifico exemplar. O spinner estava quebrado e amassado. Tinha perdido a colher giratória, mas o anzol tinha aguentado valentemente a briga. A linha, tivemos que jogar fora mais de 50 metros, pois estava completamente cheia de marcas das pedras por onde tinha sido roçada. 


O cansaço era tão grande que o braço esquerdo, que segurava a vara de pesca, estava meio dormente. Sentamos em uma pedra para descansar e ficamos observando o peixe com um sentimento de paz, pois a briga havia sido boa e limpa, de nossa parte e da parte daquela jatuarana. Por instantes, passou aquele ditado por nossa mente: “que vença o melhor”. Durante aquele dia não pescamos mais. Os piloteiros calcularam o peso do peixe em nove quilos. Não nos preocupamos em pesar, pois isso não tinha importância e nem iria diminuir a valentia e a briga do peixe, além de não aumentar minha qualidade de bom pescador. Voltamos à cachoeira dois dias depois, e agora com material mais adequado, pois a carretilha era maior, a vara mais firme e a linha de bitola 0.45mm.


 Fisgamos uma jatuarana grande e mais nada. Na descida do rio Pau Cerne, pudemos avistar um cardume de jatuaranas subindo o rio. Ali estava nossa resposta. Esse cardume com certeza estava se alimentando de frutas, pois rio abaixo ele estava fora da caixa. Mentalmente fizemos a conta e chegamos à conclusão de que pescar nos meses de abril até agosto seria o ideal, pois sem dúvida, os peixes todos estariam então nas corredeiras. A propósito: foi vendo o cardume de jatuaranas subir o rio que nos veio a idéia de chamar aquele local de “Vale das Jatuaranas”.



NOTA DA REDAÇÃO: Deve agora o leitor deste blog, ignorar o quadro logo acima, já que a Evidência/Liguepesca, bem como seus telefones não mais existem. O mesmo não posso afirmar quanto ao hotel/pesqueiro Cabanas de Guaporé, já que não tenho tal afirmação. Mas posso noticiar e isso sim, de fonte segura e atual, de que o pescador brasileiro está proibido, pelo governo da Bolívia, de entrar no rio Pau Cerne. Essa proibição se deu por diversos motivos entre os quais podemos destacar: é outro país; a “cervejinha” ofertada aos “policiais” bolivianos que ficavam na entrada do rio, não funciona mais; a depredação feita pelos pescadores brasileiros no local tais como sujeira, restos de lixo, latas de cerveja entre outros materiais, foi a causa da proibição; corte de árvores caídas e atravessadas no rio, que dificultavam a passagem dos barcos, e mais algumas coisinhas. Estaria ainda proibida a pesca nas baias do lado boliviano. Triste sina a nossa de “pescadores brasileiros”. Antonio Lopes da Silva

sábado, 12 de setembro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL -- RATÃO DO BANHADO

















Também chamado de nutria (nome que na Espanha é dado à lontra) o ratão do banhado mede aproximadamente 0,50 cm de comprimento e mais 0.40 cm de cauda. Os membros são robustos e as patas apresentam-se munidas de 5 dedos; as mãos são muito ágeis e os pés são providos de membranas interdigitais bastante desenvolvidas, o que facilita a vida aquática. Sua coloração é castanha no dorso e anegrada no ventre. Os pelos setiformes são lanosos, macios e praticamente impermeáveis. Pelos mais longos, viliformes, de colorido brilhante, recobrem os setiformes. 


Os dentes incisivos são grandes e possantes. A cauda é “pelada” e recoberta de escamas. Este roedor, que ocupa lugar de destaque no comércio de peles, vive nas margens de rios e lagos, especialmente onde as águas são paradas e existe um lençol de plantas aquáticas, às quais o ratão do banhado se agarra. Escava no barranco a pouca profundidade, uma toca que mede 1.00 m de comprimento por 0.60 cm de largura, que lhe serve de refugio e onde a fêmea tem a ninhada. Excelente nadador, ele é desajeitado em terra, deslocando-se com lentidão. 


Seu alimento preferido é constituído de plantas herbáceas. Também se alimentam de raízes, tubérculos, folhas, grãos, carne e peixe. Cabrera menciona uma sub-espécie que habita o Paraguai, Uruguai e Brasil: Myocastor coypos bonariensis. O ratão do banhado, ou falsa nutria, foi introduzido em vários países da Europa para a comercialização de peles. Com a fuga de vários elementos, disseminou-se além do esperado e hoje na Inglaterra é considerado flagelo, embora bastante reduzido em número devido às incessantes perseguições.

Consultoria: Fundação Parque Zoológico de São Paulo

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

FOLCLORE BRASILEIRO - O BOITATÁ














Coisa-de-fogo, cobra-de-fogo ou fogo-fáctuo, o “nosso boitatá” não é um mito arquitetado somente no Brasil, mas em toda a Europa e América Latina, fenômeno este conhecido desde antes de Cristo




Um dos primeiros mitos registrados no Brasil, no centro-sul, é chamado de boitatá, baitatá, batata, bitutá; batatal em Minas e biatatá na Bahia; bitatá em São Paulo, “Jean de la foice” ou Jean Delafosse” em Sergipe e Alagoas, João Galafuz em Itamaracá e Batatão no Nordeste. Traduzido na versão exata, “coisa de fogo” ou o que é “todo fogo”, é um fogo vivo que se desloca largando um rastro luminoso. Como há outra palavra tupi parecida “mboi”, (cobra), chegou-se a “mboi-tatá”, a cobra de fogo. Os cientistas dizem que o boitatá é um fenômeno resultante da decomposição de matérias orgânicas, meteoros ígnos, produzidos pela combustão de certos corpos gasosos ou sólidos. Surge à noite nas regiões atmosféricas inferiores, em forma de chamas errantes, de cor azulada. Daí também a denominação de “fogos errantes”. É ainda chamado de “fogo fáctuo”. Mas o povo, que não conhece a natureza do fenômeno, continua temendo o boitatá como sendo manifestação do além-túmulo. Existem várias versões sobre o boitatá e onde ele aparece. Segundo os indígenas, o boitatá protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Outros dizem que aparece nos cemitérios como alma penada e que ninguém deve fugir do boitatá quando o vê, mas ficar quieto, porque se correr estará perdido. No norte do Brasil é chamado de “luz dos afogados”, pois é uma luz fosforescente dos brejos, baixadas e banhados traiçoeiros, em que muitas vezes os viajantes de atolam e se perdem. O povo diz que esses lampejos bruxuleantes são as almas dos que ali de afogaram. No sertão do Nordeste brasileiro conhecem-no também como sendo o “fogo corredor”. Encontra-se essa denominação igualmente entre os pescadores de caranguejos, habituados a vê-los, com seu penacho azul e luminoso, bailar sobre a lama dos mangues. Já o bitatá paulista é o “espirito dos não batizados”. Mas em todo o Brasil, na maioria absoluta das informações, o boitatá é uma “alma penada” purgando os pecados: - castigo da união incestuosa ou sacrílega (o fogo purificador ocorre universalmente nesse tipo de mito); em algumas lendas astrais o sol e a lua foram irmãos que se amaram, (“lenda da “tapera da lua” no Brasil). – a alma do menino pagão. – a explicação ameríndia desapareceu e resta apenas a tradição do fogo fáctuo europeu, com suas superstições. O mais interessante é que o boitatá, assim como o descrevemos, é conhecido em outros países, correspondendo à “ronda-dos-lutinos” na França, Flandres, a “inlichit”, a “luz louca” na Alemanha, igualmente os “iacãundis” (sul-americanos) que quer dizer “cabeça-inchada”. Ensina Mayntzhusen, o fogo dos druidas, o fogo de Helena, antepassados de santelmo que os romanos identificavam como a presença de Castor e Pólus; é o “Jack with a lantem” dos ingleses; é o sinistro “Moine de Marais”. Por toda a parte veêm-se luzes loucas, azuladas e velozes, assombrando. Em Portugal são as “alminhas”, as almas dos meninos pagãos e ainda a transformação de quem amou sacrilegamente, irmão e irmã, compadre e comadre. É o farol dos Andes, na Argentina e Uruguai, clarão que escapa onde jaz uma riqueza escondida; na zona pampianas, dizem-na “luz mala”, e na região missionária, “víbora-del-fuego”. Como se vê, a confusão linguista é grande em torno do mito, mas o Padre José de Anchieta já dizia prudentemente: “... O que seja isto, ainda não se sabe com certeza”.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A BARRAGEM DE IGUAPE III - O DESCASO POLÍTICO









Quantas obras, em se tratando deste país, foram prometidas e não cumpridas por nossos representantes nas diferentes esferas do poder legislativo/executivo? Podemos contá-las as dezenas? Ou seriam centenas? Podemos chegar a milhares? Uma coisa é certa: estão presentes em todos os estados do Brasil. A Barragem de Iguape é mais uma delas. Conheça agora a nossa realidade.




Efeito barragem aberta nas praias.                                



                            Aqui, tudo era festa.      
O mês de agosto, segundo os meteorologistas foi atípico em se tratando da região sudeste em nosso país. Aproximadamente durante cerca de 25 dias, o calor foi intenso e a falta de chuvas se prolongou em toda a região do Vale do Ribeira. A natureza dava mostra de sua força e, mesmo com a explicação dos meteorologistas, a conclusão de tal “fenômeno” não chega a ter uma explicação plausível ou mesmo afirmativa. Alguns culpam o chamado “El Niño” como a mais provável mudança do nosso clima, enfim não é nosso assunto principal a causa, mas sim o efeito. A estiagem durou até o feriado de 7 de setembro ultimo. Como um passe de mágica, as águas – tanto do Ribeira como do Mar Pequeno – foram limpando e depois de alguns dias, ficaram totalmente limpas/cristalinas. Aquela cor de barro comum de quase todos os dias do ano deram lugar às águas limpas. Segundo os pescadores, artesanais ou amadores, cardumes enormes de peixes entraram no mar pequeno, destacando-se robalos, pescadas, corvinas, tainhas, miraguaias, etc. À noite, redes eram armadas e pela manha retiradas com muito peixe em suas malhas, em sua maioria tainhas de bom tamanho. Dava gosto de se ver, ao cruzar a ponte sobre o Mar Pequeno, a tonalidade da água. Esse “milagre todo” até para o leigo, tinha uma explicação: o rio Ribeira estava limpo e então entrando pela barragem vinham para o Mar Pequeno suas águas a se juntarem as sempre limpas águas deste.
                                                            
                     Acho que o Dep.Samuel Moreira "conhece" esta turma.   
 Portanto esta estiagem mostrou claramente, que se, as águas do Ribeira não entrarem mais do Mar Pequeno, teremos sempre águas limpas e muito peixe, regeneração do manguezal – que já mostra sinais de extinção – pesca farta, melhoria no turismo, mais empregos, etc. Ao invés de ficarmos contando com estiagens prolongadas, a providência a ser tomada é simples: fechamento da barragem. E que não venham os mais críticos dizer que, se a barragem for fechada, voltarão as cheias rio acima. É só ir até a Praia do Leste e ver, que a foz do Ribeira, juntou-se a saída do Mar Pequeno, alargando-a em aproximadamente 1,5km. Com uma saída dessa envergadura e tamanho, não será a barragem de Iguape, que ira manter o rio em seu leito em época de chuvas. Mas o que fazer para que essa barragem seja fechada? Esse é o “grande mistério” a ser desvendado, pois até com uma ação da Juíza Fernanda Alves da Rocha Branco de Oliva Politi, titular da 2ª Vara Judicial de Iguape, determinando o fechamento da barragem, em Agosto de 2011, nada foi feito ou obedecido. “Justiça, ora a Justiça”. Na época do lançamento da obra, uma placa mostrava que cerca de R$8,6 milhões foram destinados ao início da construção. Aliás, essa placa, descobrimos, ainda pode ser vista do lado do Rocio, junto á ponte, devidamente deitada no chão com seu lado informativo para baixo e já bastante corroída pela ferrugem. Já “seus autores” conforme se vê na foto, ainda aí estão a ocupar altos cargos da politica, como o atual Dep. Federal Samuel Moreira, o ex-governador da época José Serra, hoje eleito para o Senado Federal, além do Prefeito da Ilha Comprida Décio Ventura, eleito na época e atualmente ocupando o mesmo cargo. Destaque para o atual governador de São Paulo Geraldo Alkmin eleito no ultimo pleito, que na época era “só” o Secretário de Estado do Desenvolvimento.
                          
A barragem de Iguape – Setembro de 2015   


Com os R$8,6 milhões, construíram o que até hoje se vê no local: um esqueleto da barragem, sem nenhuma comporta de fechamento. Uma dúvida atormenta a cabeça deste jornalista: quanto seria necessário em dinheiro para o fechamento da barragem? Poderíamos considerar custo/beneficio? Evidente que o beneficio já foi mostrado acima e antes de tudo, o Mar Pequeno voltaria a sua forma original, com seus manguezais sendo regenerados, e os aguapés iriam aos poucos se extinguindo, pois a água salgada – que entraria no espaço – iriam matando o que hoje já pode ser considerado uma praga com todos os malefícios que causam. O meio ambiente é hoje, uma preocupação mundial em sua conservação, menos aqui em Iguape/Ilha Comprida, conforme demonstrado. Um absurdo. Finalmente vamos a mais um projeto de Samuel Moreira: a ferrovia de Cajati a Santos, com a devida #CHEGA DE ABANDONO. Sem duvida alguma, a recuperação dessa ferrovia, é uma utopia, que talvez só se explique, com a aproximação das eleições de 2016, onde, “talvez” a intenção de SM, seja a captação de mais votos ao longo das cidades por onde passam os abandonados trilhos da citada ferrovia. A bem da verdade nós moradores de Iguape/Ilha Comprida não seriamos beneficiados pela ferrovia, já que a mesma passa ao largo de nossas cidades. Outro detalhe que nos chama a atenção é a votação que Samuel Moreira recebeu na ultima eleição em nossas cidades: em Iguape 4790 votos e em Ilha Comprida 1928, em um total de 227 mil votos que o elegeram para a Câmara Federal. A soma dos nossos votos dá uma porcentagem perto de 3% (três por cento) do total. Bastante inferior à votação obtida por ele, no pleito de 2010, quando foi eleito deputado estadual. Finalmente algumas perguntas que não conseguimos apurar.
                                                                                    


 Em um país em plena crise financeira, onde a malha ferroviária é a menor preocupação, vem S.Excia Dep. Federal Samuel Moreira, a exemplo de outros parlamentares, cometer uma utopia como essa. Tenha dó Excia., se quer fazer algo menos utópico, junte-se ao atual senador José Serra (ex governador de SP) e feche a Barragem de Iguape, que está destruindo os manguezais do Mar Pequeno e poluindo as praias de Ilha Comprida, com o lixo verde do rio Ribeira. Na época do lançamento da obra, "também" foi chamada da maior obra do Vale do Ribeira. Ou será que interessa ao sr. deputado, alguns votos a mais para prefeito e vereadores de seu partido, ao longo das cidades por onde ainda passam (destruídos parcialmente) os trilhos dessa rodovia, prometendo algo que não vai conseguir executar? Será que ainda existem pessoas (eleitores), que possam acreditar em tais absurdas promessas? E, finalmente, reativar prá que? Turismo/Carga? É lamentável. (cópia enviada via "comentários" no site do Dep.Samuel).

Quanto custaria essa utopia aos cofres do estado? Que quantidade de carga e qual seria ela, que poderia ser transportada? Quantas cidades teriam que aderir a essa utopia, com obras próprias e qual seria esse custo? Até que concordamos com o citado turismo, pois seria também um excelente meio de transporte a todas as cidades atingidas, menos a nós aqui de Iguape/Ilha Comprida, pois no mínimo teríamos que nos locomover na melhor das hipóteses, 60 km até a cidade mais próxima. Nós, cidadãos comuns, gostaríamos de saber essas respostas. E a propósito, quanto custaria fechar a Barragem de Iguape?

sábado, 5 de setembro de 2015

AS CORRENTES MARÍTIMAS




















As correntes marítimas são fatores importantes para o desenvolvimento da pesca amadora? Através deste artigo, você descobrirá a resposta. Analise-o.




No mar, o conhecimento das correntes – isto é, o movimento horizontal das águas mais veloz e concentrado no meio da massa líquida formando verdadeiros “rios” com percursos definidos – é fundamental para a pesca, não só porque elas constituem um meio ambiente característico e estável que garante a vida do peixe em termos de temperatura, salinidade, cadeia alimentar, etc., mas também porque as correntes geram movimentos verticais e contrastes de temperatura que ajudam a fertilizar as águas oceânicas. Estas zonas de contraste de temperatura das águas são onde se encontram as maiores concentrações de pescado, o que leva as modernas frotas industriais a fazerem cada dia ou cada semana um mapeamento de temperatura de superfície do oceano por avião ou satélite, para dirigirem suas operações. Os contrastes são criados nas zonas de encontro das correntes ou nas margens, onde se desprendem redemoinhos; além disso, quando as correntes de afastam da costa, surgem movimentos verticais compensatórios que trazem águas do fundo, ricas em nutrientes, para a superfície. Este movimento de afloramento de águas frias e férteis chamado de ressurgência, e na costa brasileira ocorre com frequência na altura de Cabo Frio, criando forte contraste de temperatura com as águas da corrente quente do Brasil que passa ao largo. No Brasil, são três as principais correntes que agem em nossa costa: a Corrente da Guiania, um braço da Corrente Sul-Equatorial, que corre ao longo da costa do Nordeste, do Cabo de São Roque (RN) para cima; a Corrente do Brasil, que deriva de um ramo da Corrente Sul-Equatorial do Cabo São Roque para o sul, normalmente até a altura do estuário do rio da Prata, onde desvia-se para leste, em direção à África; e a Corrente da Malvinas ou Falklands, e águas frias, que sobe do extremo sul do continente, passando entre este e as ilhas do mesmo nome, até encontrar-se com a Corrente do Brasil, entre o Prata e a costa do Rio Grande do Sul.






        Ondas nas praias.
Esta região de encontro, bem como as intromissões da Corrente das Malvinas nas nossas águas de plataforma costeira, alcançando até o litoral do Rio de Janeiro, são de grande importância para a pesca no Brasil. Apesar de fria, a água da Corrente das Malvinas é mais leve, por ser menos salgada, e pode vir à tona, favorecendo a concentração de nutrientes. Já quando a Corrente do Brasil invade a plataforma continental, as condições biológicas são pobres, como acontece às vezes no litoral paulista, segundo comprovaram as pesquisas do Instituto Oceanográfico da USP. Quando traçadas num mapa que abrange o Oceano Atlântico Sul inteiro, verifica-se que as correntes que tangenciam a costa brasileira fazem parte de um circuito fechado, em que as águas giram-no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, indo da África para o Brasil, perto do equador, um braço descendo para o sul até o Prata, daí voltando-se novamente em direção à África, para subir (como a corrente fria de Benguela) rumo ao equador, fechando o circuito. Basta comparar este mapa com a carta geral dos ventos para se perceber que o vento é a principal causa das correntes.

                  Praia de tombo.
De fato, a Física mostra que num mar fundo, o vento dá origem a uma corrente superficial que faz, com a direção do vento, um ângulo de 45 graus para a esquerda, no hemisfério sul (para a direita no hemisfério norte). Este desvio é devido ao efeito de rotação da Terra, chamado efeito de Coriolis, que faz com que todo o objeto que se desloque sobre a superfície terrestre se atrase ou se adiante em relação à rotação do plano do horizonte. Graças a uma exata compreensão destes fatos físicos e geográficos, o brasileiro Amyr Klink selecionou corretamente a rota que lhe permitiu atravessar pela primeira vez o Atlântico Sul em barco a remo, em 1984.
A Corrente do Brasil possui uma largura que varia entre 120 a 150 milhas náuticas (220 a 280 km); segue nossa costa, dela se afasta cerca de 200 km em média. Sua velocidade atinge 20 milhas (37 km) por dia, até a latitude do Rio de Janeiro, mas pode variar durante o ano, sendo mais forte de novembro a janeiro e mais fraca de maio a julho. A temperatura de suas águas alcança 26 a 28 graus; ao mesmo tempo, pode haver uma temperatura de 14 graus junto a Cabo frio, refletindo a já citada ressurgência, conforme foi observado pelo navio oceanográfico “Prof. Bresnard”. 


Entre a costa sul da Argentina e a costa norte do Rio Grande do Sul, a Corrente das Malvinas tem uma velocidade média diária de 10 a 20 milhas. É ela que desvia para leste as águas quentes da Corrente do Brasil, sendo facilmente distinguível desta pela coloração verde-garrafa de suas águas frias e ricas em peixes. Ente os meses de março e maio, uma projeção da Corrente das Malvinas estende-se para o norte junto à costa brasileira (entre esta e a Corrente do Brasil ao largo); alcançando o litoral paulista com velocidade de 0,7 nós (1,3 km/h).



                                                 

                                                  INFORMAÇÃO
Podemos considerar os peixes marítimos como espécies migratórias. Com este artigo do professor Rubens Junqueira Vilela, poderá o pescador amador interpretar a melhor época para a pesca de determinada espécies. A partir do exemplo de alguns peixes, podemos entender melhor essas migrações, que têm nas correntes marítimas sua principal causa. Do sul, temos o exemplo característico que é a migração da tainha, ocorrendo nos meses que correspondem à movimentação da Corrente das Malvinas. Ainda no sul, temos a miraguaia, a corvina, a anchova, etc. Na Corrente do Brasil, podemos citar peixes como o robalo, a pescada, o pampo, etc. Um outro exemplo que marca bem a importância das correntes na pesca é o dos chamados “peixes de água azul”. Dentre eles, destacamos o dourado-do-mar, o marlin, o sail-fish, etc. Aí está, portanto, mais um dado científico para ser analisado e utilizado em futuras pescarias.



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - JUPARÁ





















O jupará tem corpo alongado, membros curtos e cabeça redonda com pequenas orelhas, terminando num focinho achatado. Seu comprimento é de aproximadamente 40 cm e mais 45 cm de cauda. A cauda, tão longa quanto o corpo, é pênsil como as de vários primatas neotropicais. Sua coloração é ruivo-dourada com reflexos castanhos na região dorsal. Uma lista mediana, de cor escura, nitidamente marcada, parte da cabeça e se prolonga até a base da cauda.

Esta é castanha na base e praticamente negra na porção terminal. As principais características do jupará são: a presença de três dentes pré-molares em cada semi-arcada (no total possui 36 dentes); glândulas cutâneas no peito e baixo ventre que segregam um odor especial e 5 dedos dotados de garras curtas e afiadas que o qualificam para seus hábitos arborícolas. O jupará habita as regiões de florestas e passa dias escondido no ôco das árvores, dormindo. 

Vive só ou aos pares, e à noite sai em busca de alimento, que são frutas, insetos, larvas, ovos e mel. Também caça aves, das quais bebe o sangue e devora a carne. Às vezes são vistos em bandos numerosos em alguma árvore carregada de frutas. ATENÇÃO: Algumas vezes o jupará é confundido com um prossímio africano da família dos “Lorisídios”, denominado poto “Perodicticus potto”. As frutas que mais atraem o jupará são: abacate, manga e goiaba. O jupará ocupa o mesmo nicho ecológico que o macaco da noite (Aofes trivirgatus), daí talvez, às vezes, haver certa confusão.

 Consultoria: Fundação Parque Zoológico de São Paulo.