A solidão dos garimpeiros que vasculhavam os grotões em busca
do ouro e pedras preciosas em tempos idos neste Brasil, criou-lhes o medo. E
este deu-lhes asas à imaginação. A lenda da Mãe do Ouro surgiu da crença de que
nos locais onde o fogo-fáctuo se desprendia da ossada dos animais mortos,
existiam tesouros escondidos.
Naquela caverna por onde as águas do rio das Garças desaparece,
mora a Mãe do Ouro. Ela só sai de seu esconderijo no lusco-fusco da tarde
porque não gosta da luz do sol. Ela é irmã gêmea do luar. Ela vive no meio da
pedraria preciosa, dos brilhantes, turquesas e safiras, onde tem seu leito
encantado. Quando sai da gruta, vão caindo de sua cabelereira luzente como as
estrelas pingos de luz pelo chão, que se transformam em pedras preciosas da cor
dessa luz. Feliz é a mulher que, ao ver a Mãe do Ouro enquanto um pingo vai
caindo, lhe fizer um pedido antes que este toque o chão. O pedido será atendido
e a mulher passará a pertencer para sempre à Mãe do Ouro. Todas as noites de
lua cheia, ao dormir, deixará a pele de seu corpo na cama e sairá para aparecer
no Palácio da Mãe do Ouro, sem que ninguém perceba. Na gruta, gozará das festas
e delícias permanentes que ali existem: música, canto, dança, amor
e alegria. Ao penetrar na gruta, seu corpo é coberto por um traje vaporoso. Mas
embora sejam vistosos, ninguém pode falar com a outra e nem se tocar. Caso isso
aconteça, virará carvão. As grutas são profundas, e a luz do sol não penetra
lá. Mas há muita luminosidade, que as pedras preciosas lhe emprestam. Cada
salão é mais bonito que o outro e cada qual possui uma cor. As estalactites têm reflexos ofuscantes e
suas cores variam a cada instante. As águas do rio que penetram terra adentro
cantam uma sinfonia sem fim, de uma suavidade ímpar. Somente os gênios das
águas podem possuir as mulheres encantadas que vão para a gruta. O leito macio
do rio é o leito dessa noite nupcial. Quando o galo canta pela primeira vez, as
mulheres encantadas saem da gruta, como se fossem um nevoeiro de nuvens
brancas. Voltam para suas casas, retornam à sua pele e continuam sua vida
normalmente.
Obra consultada: Brasil
– Histórias, Costumes e Lendas.
Alceu Maynard Araújo
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