A tarefa de buscar socorro não era fácil, e a escolha recaiu
em Luís por ser ele o mais jovem do grupo e o melhor preparado. Teria que
caminhar pela beira da lagoa, atravessar o lamaçal, nadar toda a travessia do
rio das Mortes para finalmente atingir nosso acampamento, de onde estávamos
distantes cerca de 6 ou 7 quilômetros. Sem mais demora, o companheiro iniciou sua
caminhada. Enquanto isso, nós que havíamos ficado, procurávamos não nos mexer e
assim permanecemos por mais de uma hora. Após ter pensado muito em todas as
possibilidades, resolvi ir até o barco. Lentamente me dirigi para a margem da
lagoa e com cuidado fui me aproximando de nossa embarcação. Não havia mais
nenhuma abelha nas imediações, tendo desaparecido inclusive aquelas três que me
acompanhavam. Consegui divisar o barco, que havia se afastado 5 ou 6 metros da margem.
A primeira vista não havia sinal do Aldo. Entrei na água e comecei a puxar o
barco pela proa para encosta-lo à margem. Na movimentação, pude avistar o braço
direito do Aldo, na posição de fora para dentro, como se estivesse abraçando ou
mantendo o barco junto dele. Somente quando cheguei perto dele, pude constatar
que o resto do seu corpo estava totalmente submerso, ficando sua cabeça entre a
rabeta do motor e a parte inferior da embarcação. Fui socorre-lo e só então
percebi que ele estava morto. O motor de popa estava desligado. Esta cena
jamais irei esquecer; com muito custo consegui soltar o seu braço e o arrastei
para a margem. Sua feição era serena, mas já havia rigidez em seu corpo. Havia
ainda um tom escuro em seu rosto, que estava começando a ficar azulado. Tentei
coloca-lo dentro do barco, mas devido ao esforço dispendido na hora do ataque,
não tinha força suficiente. Deixei-o ficar e empurrei o barco para o meio da
lagoa. Dei partido no motor e fui em socorro do Milton que havia ficado no
mesmo lugar de antes. Contei-lhe o ocorrido e naquela hora choramos bastante.
Passado algum tempo, achamos melhor ir buscar socorro para o companheiro morto,
já que estávamos os dois completamente extenuados. Agora nossa preocupação
maior era encontrar o Luís, que havia ido há mais de hora e meia, a pé. Com o
barco atravessamos o lamaçal e ganhamos as águas do rio das Mortes. Pouco
navegamos e numa curva do rio, vimos o Luís abraçado a uma árvore, boiando.
Usando-a à guisa de embarcação, ele já havia percorrido, remando com as mãos,
mais ou menos três quilômetros em direção ao acampamento. Como contar a ele,
naquele momento, que seu pai havia falecido? Sentamos os três na popa da embarcação,
e, ente lágrimas, demos vazão a nossos sentimentos. Chorar era a única coisa que
nos restava fazer pelo nosso querido Aldo. Rumamos para a fazenda, e após
contarmos o ocorrido e também por falta de melhores condições físicas, deixamos
que os outros companheiros fossem buscar o corpo. Por sorte havia na fazenda um
pequeno avião que estava lá a fim de levar um negociante de gado.Como era um
pequeno monomotor, deixamos um outro companheiro, que é advogado e de nome Luís
Santos, para acompanhar e liberar o corpo junto às autoridades, a fim de translada-lo
para São Paulo.
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